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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Paço Municipal / Paço da Liberdade / SESC Paço da Liberdade, Curitiba, Paraná, Brasil





























Paço Municipal / Paço da Liberdade / SESC Paço da Liberdade, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia


Em 07 de julho de 2006, a história do prédio do Paço da Liberdade começou a ser reescrita, com a assinatura do decreto de permissão de uso do Paço, que consentiu ao Sistema Fecomércio Sesc Senac PR o uso da antiga sede da Prefeitura Municipal, como centro cultural, por 25 anos. Além de, recuperar a arquitetura do século passado, escavações realizadas no prédio revelaram o piso do antigo Mercado Municipal de Curitiba. No andar térreo do prédio, o visitante da Unidade do Sesc pode visualizar este bem arqueológico por meio de quatro vitrines. Texto do SESC.
Nota do blog: Imagens de 2024.

 

segunda-feira, 4 de março de 2024

Um Trecho da Cidade de Curitiba / Vista da Catedral, Curitiba, Paraná, Brasil


 



Um Trecho da Cidade de Curitiba / Vista da Catedral, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Editor Annibal Rocha - Série N. 12
Fotografia - Cartão Postal

A imagem mostra o Mercado Municipal antes do início da construção do que hoje chamamos de "Paço da Liberdade". A frente do Mercado Municipal, embora possa parecer o contrário, não ficava para a praça Tiradentes, e sim no sentido oposto.
Nota do blog 1: Crédito da informação para Paulo José da Costa. Data da imagem não obtida.
Nota do blog 2: Qualidade da imagem ruim. Caso eu encontre o cartão postal com melhor definição, atualizo a postagem.


domingo, 28 de agosto de 2022

Paço da Liberdade, Curitiba, Paraná, Brasil


 


Paço da Liberdade, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia




No dia 24 de fevereiro de 2022, o Paço Municipal (atual Paço da Liberdade) completou 106 anos . O prédio foi sede da prefeitura e da Câmara de Curitiba por quase cinco décadas. Na semana do aniversário de Curitiba, o projeto Nossa Memória conta a história dessa que é uma das construções mais importantes da cidade. Antes dela, entretanto, outras edificações foram erguidas com a finalidade de sediar o poder municipal.
A primeira foi a “Casa de Câmara e Cadeia”.
O livro “História e usos do Paço da Liberdade” (2009) traz dados sobre as construções que sediaram temporariamente a Câmara. “Até então os poderes municiais eram quase itinerantes. Mudavam de sede constantemente. Em 1901 funcionavam na Praça Tiradentes, 490, em prédio ainda hoje existente e de propriedade dos herdeiros de Sofia Wolf. Em 1902, passam para outro prédio, de nº 21 na mesma praça. De acordo com o contrato, o prédio seria alugado por três anos pelo valor de 300 mil réis”. A Fundação Cultural de Curitiba informa que em seu site que entre 1911 e 1912, a Câmara também desenvolveu suas atividades no Palacete Wolf, localizado nas proximidades da Igreja do Rosário. A informação é confirmada pelo livro Impressões do Brazil no Século XX, editado em Londres, em 1913.
Aproximadamente nessa época a Câmara inicia as discussões para a construção de uma nova sede para o Poder Legislativo. É aprovada a lei que possibilita a construção do Paço Municipal (348/1912). Sua inauguração no dia 24 de fevereiro de 1916 foi o último ato de uma sucessão de intervenções urbanas realizadas em Curitiba enquanto o engenheiro Cândido de Abreu esteve à frente da prefeitura (1913-1916).
Os “Melhoramentos de Cândido de Abreu” como foram chamados, mudaram não só a aparência da cidade, mas também muitos outros aspectos como, por exemplo, a relação entre os cidadãos e o poder público. De acordo com Rafael Augustus Sêga, autor de uma pesquisa de 1996 sobre a gestão de Cândido de Abreu, o diferencial entre ele e seus antecessores foi a introdução do conceito de “interesse coletivo”, que além de facilitar as operações, reforçava junto à população a percepção de que a prefeitura era um órgão meramente judicioso, formal, racional, destituído de paixões e ideologias.
Cândido de Abreu:
Carlos Cavalcanti, presidente do Estado, tinha a prerrogativa de escolher o prefeito. Duas opções se colocaram. Uma delas era o coronel João Gualberto, figura popular em Curitiba, comandante do “Tiro de Guerra” Rio Branco, presença obrigatória em todas as comemorações cívicas que aconteciam na cidade. Como não tinha apoio do Partido Republicano, seu nome foi preterido. A escolha do presidente recaiu sobre Cândido Ferreira de Abreu, parnanguara, neto do Visconde de Nácar, engenheiro formado pela Escola Politécnica do Rio, a primeira instituição de ensino de engenharia do Brasil. Em seu currículo acumulava passagens como chefe de seção nas obras da estrada de ferro Madeira-Mamoré, inspetor de colonização no Rio Grande do Sul e engenheiro do Ministério da Agricultura, no Rio de Janeiro.
Uma das novidades trazidas pela república a partir de 1889, lembra Rafael Sêga, foi a eleição para prefeito. Até então a administração municipal no Brasil era exercida de forma exclusiva pelas Câmaras. “Em 1892, Cândido de Abreu venceu a primeira eleição para prefeito da cidade de Curitiba. Sua tendência draconiana frente ao Executivo Municipal teve suas raízes nesse seu primeiro mandato, que por sinal foi muito breve (11 meses); foram desse período a inauguração da luz elétrica e a revisão do Código de Posturas, com o escopo de implantar medidas saneadoras e embelezadoras na cidade, assim como o esquadrinhamento das construções dentro do perímetro urbano. Porém, as limitações impostas pelo Legislativo Municipal irritaram Cândido de Abreu, que encaminhou uma carta renunciando ao cargo”, explica Sêga.
Em 1893, foi convidado por Aarão Reis para fazer parte da Comissão Construtora de Belo Horizonte, nova capital mineira em substituição à cidade de Ouro Preto. Durante a Revolução Federalista (1894), graças ao apoio que deu à legalidade (Floriano Peixoto) foi nomeado tenente-coronel honorário. Foi deputado e senador.
Melhoramentos:
“Com reflexão e commedimento estão sendo delineados os planos de remodelamento da cidade. Mais alguns mezes e os ferros da picareta do progresso, na faina gloriosa da destruição civilisadora, cahirão possantes, como um terremoto benefico e esplendoroso derribando a casaria vetusta. E essa Coritiba de hoje, ‘moça bonita trajando seda, porem calçada de tamancos’, resurgirá victoriosa do pó desses escombros, como Phenix de nova especie, exuberante em perfeição e graça”, diz um cronista em nota publicada pelo jornal Diário da Tarde de 8 de abril de 1913.
De forma essencial, os melhoramentos duraram toda a gestão de Cândido de Abreu (1913-1916) e consistiram em centenas de terraplanagens, aterros, calçamentos, drenagens e outros serviços isolados como a construção de um mercado de madeira na Praça 19 de Dezembro e outro no Batel. Rafael Sêga destaca o espanto da população frente a dois compressores importados da Europa para a realização das obras. “Esses equipamentos importados são signos de uma civilização, e as suas origens acentuam bem esse referencial. Compressores, britadeiras, betoneiras e guindastes, são metáforas da criação de um novo tempo e são fetichizados pela maioria da população”.
Em praticamente todos os dias do seu mandato alguma atividade dos melhoramentos foi realizada. Todo o trabalho foi descrito em relatórios públicos em que se destaca a preocupação com o detalhamento das obras [e dos valores gastos]. “Cândido de Abreu foi além como prefeito da cidade. Tinha experiência conseguida no tempo que trabalhou na construção de Belo Horizonte. E fez o que pode, nos horizontes limitados (tanto culturais quanto econômicos) de Curitiba”, diz Irã Taborda Dudeque, arquiteto, historiador e professor do Instituto Tecnológico de Educação (ITFPR).
Alexandre Fabiano Benvenutti em sua monografia “As Reclamações do Povo na Belle Époque: a cidade em discussão na imprensa curitibana (1909-1916)” menciona alguns números: “(...) As vias públicas que receberam revestimento de paralelepípedos, tanto usados como novos, correspondiam a 101.377 m² no total. Os trabalhos de macadamização totalizavam 145.754 m². No que se refere aos passeios ou calçadas, a área total revestida foi de 31.208,14 m², dos quais cerca de 19.255,16 m² correspondiam a revestimento de cimento, 10.200,55 m² a ladrilhos, 1.158,12 m² a petit pavê, e 594.31 m² a lajes de pedra”.
“Para se ter uma ideia da grandeza dessa operação, numa cidade de sessenta e cinco mil habitantes, aproximadamente, foram assentados quase três milhões e quatrocentos mil paralelepípedos, além das ruas macadamizadas. E mais, vários prédios foram demolidos, praças reformadas (ou criadas) e eletrificadas as linhas dos bondes”, lembra Sêga. Na mesma perspectiva, comenta o pesquisador Sérgio Henrique Schultz, em sua pesquisa “Sapatos de veludo”: “os cortiços, grandes inimigos da circulação, serão atacados, avenidas serão abertas, e as praças, verdadeiros respiratórios da cidade – mesmo que sem árvores – ganharão grande importância, assumindo a função de revitalização-deslumbramento no espaço urbano”.
“Ele era muito atualizado em relação às novidades arquitetônicas”, diz Marcelo Sutil, coordenador de pesquisa histórica da Casa da Memória. “Outras construções de sua autoria, como sua residência na Avenida João Gualberto (conhecida como “Casa das Ferraduras”) e o Belvedere, na praça João Cândido se valeram de ornamentações no estilo art nouveau”.
O emprego das características dessa corrente francesa também marcaria a reforma da praça Eufrásio Correia e as mudanças promovidas no Passeio Público que ganhou um portal de entrada semelhante ao do Cemitério de Cães, em Paris. Mas a obra arquitetônica de maior relevo atribuída a Cândido de Abreu é o Paço Municipal, o último dos “melhoramentos” (entregue dentro do prazo).
Paço:
Para Sutil, a localização do prédio do Paço teve caráter estratégico. “A rua da liberdade – transformada em rua Barão do Rio Branco em 1912 – era conhecida como a rua do Poder, em função da presença do prédio da Assembleia (Palácio Rio Branco) e do Palácio da Liberdade (atual Museu da Imagem e do Som), que durante anos foi a sede do Governo do Estado”. O Paço foi construído já na rua Riachuelo (continuidade da Barão), na mesma área onde ficava o antigo mercado (1874), cujas paredes lhe serviram de tapume.
A pesquisadora Suzelle Rizzi, em sua pesquisa de 2003 sobre Cândido de Abreu, salienta que os trabalhos foram dirigidos pelos construtores Ângelo Bottechia e André Petrelli, sob a fiscalização do engenheiro Eduardo Chaves. A supervisão geral era feita pelo engenheiro-chefe de Obras Municipais Adriano Goulin e pelo próprio prefeito Cândido de Abreu (a quem a obra é genericamente atribuída). A decoração interior do edifício ficou ao encargo do arquiteto Roberto Lacombe, sendo as pinturas incumbidas a João Ortoloni e João Guelffi. Trabalhos em marcenaria foram feitos nas oficinas Maderna & Boni, de Curitiba.
De acordo com o edital referente ao fornecimento de material, a construção do prédio demandou 1.168 m³/390 decâmetros cúbicos de pedra bruta para alvenaria de fundação; 65 m²/502 decâmetros cúbicos de pedra de cantaria, granito para a alvenaria de embasamento; 300.000 tijolos, 400 m³ de areia; e 125 m³ de cal. O mesmo documento abria concorrência para a mão de obra.
Dotado de três pavimentos, o prédio tem 15 metros de altura. Detalhes “art nouveau” se destacam em toda a construção, como por exemplo a estátua feminina conhecida como “Curityba”, localizada abaixo do relógio na torre, ou os peixes que adornam as portas laterais. O edifício também é lembrado por ter sido o primeiro em Curitiba a dispor de um elevador. “Sua presença valorizou o entorno da praça. Some o casario baixo e surgem edificações como o Tigre Royal”, frisa Marcelo Sutil.
Como lembra Alexandre Fabiano Benvenutti em sua pesquisa, o prédio ganhou “os mais modernos e luxuosos equipamentos: elevador Ottis Pifre, sistema de iluminação elétrica interna e externa invisíveis, duas fontes ornamentais bronzeadas, dois mictórios modernos, um artístico lampadário Torchiere, três porta-lâmpadas, um candelabro com figura, um relógio com mostradores transparentes e telefones. Na decoração externa, ricamente ornamentada, havia uma grande preocupação em ostentar a riqueza, o luxo e o poder”.
“As colunas da entrada principal do prédio estão suspensas por dois Hércules, que representam os poderes municipais, o Legislativo e o Executivo. Acima, um nicho contém uma estátua feminina, vestindo uma túnica, o que significa a cidade de Curitiba, e na ornamentação da torre, um escudo com as armas do município e cabeças de leão, símbolos da força”, descreve Marcelo Sutil em “O Espelho e a Miragem”.
E os vereadores?
Entre 1912 e 1920 a Câmara Municipal teve duas legislaturas, mas os nomes não se alteraram de forma substancial. Os integrantes da Casa durante aqueles oito anos foram: João Antônio Xavier, Jayme Ballão, Francisco de Paula Guimarães, Constante de Souza Pinto, Nicolau Mader, Percy Withers, Francisco Simas, Wallace de Mello, Wenceslau Glaser, Joaquim Augusto de Andrade, Antônio Torres e João Faucz.
Não participaram dos melhoramentos – embora recebessem informes sobre os avanços das obras – mas aprovaram uma série de leis importantes para a cidade. Algumas são listadas em uma espécie de balanço de fim de mandato que foi publicado no “Almanach do Paraná”, de 1920.
Um tema que tomou bastante a atenção dos vereadores foi a da regularização dos lotes. Eles aprovaram, por exemplo uma lei que tributou terrenos não edificados e não murados. Também exigiram que os construtores fornecessem a exata localização dos prédios para a verificação dos excessos (medida que rendeu 50 contos de réis para o município). Aprovaram, da mesma forma, a concessão de favores aos proprietários que cedessem as áreas para abertura de ruas e praças.
Dentro dessa temática, entretanto, a lei mais importante aprovada pelos vereadores das legislaturas de 1912-1920 foi a que dividiu a cidade em três zonas organizadas sob a forma de anéis concêntricos. “A 1° zona”, diz Suzelle Rizzi, “constituída pelas áreas centrais de Curitiba, com exceção da av. Batel e João Gualberto consideradas residenciais. A região central sofreu maiores reformas urbanas como pavimentação, onde também as leis e fiscalização eram mais rígidas, com preferência por edificações em alvenarias”.
“A 2° zona e a 3° zona obedeciam o mesmo formato em anel alargando-se cada vez mais para a periferia da cidade. A 2° zona era reservada as indústrias e a 3° zona para moradias de operários e sitiantes”, continua. Portão, Seminário e Juvevê, por exemplo, foram considerados “terceira zona”.
A Câmara Municipal também se ocupou da discussão e aprovação das leis que criaram a Maternidade, o Instituto Pasteur e o programa Gota de Leite. Os camaristas doaram um terreno para a recém-criada universidade e acataram a livre exploração da energia elétrica como força-motriz. Algumas atividades creditadas aos melhoramentos tiveram suas autorias reivindicadas pelos vereadores: o Palácio Municipal (lei nº 348/1912), a remodelação do Passeio Público e a desapropriação da chácara Bittencourt, ação que eles consideravam “necessária para normalizar o regime de aguas e esgotos”.

Paço da Liberdade, 1916, Curitiba, Paraná, Brasil


 



Paço da Liberdade, 1916, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia

À frente está a Casa Edith; no lado direito está a estátua do Barão do Rio Branco (na então Praça Municipal); e atrás da estátua está o Palacete Tigre Royal, existente até hoje.

Paço Municipal / Paço da Liberdade, 1916, Curitiba, Paraná, Brasil





Paço Municipal / Paço da Liberdade, 1916, Curitiba, Paraná, Brasil 
Curitiba - PR
Fotografia

Andar pela Praça Generoso Marques, em Curitiba, é estar diante de construções centenárias que ali floresceram no final do século XIX e até hoje são preservadas. De 1870 em diante, ao redor da praça foram edificados os mais modernos casarios e palacetes, que pertenciam a grandes proprietários de Curitiba. Eles seguiam os padrões da arquitetura neoclássica e, principalmente, da Art Noveau francesa, que foi incorporada pelos arquitetos brasileiros e aplicada nos desenhos das propriedades públicas e das privadas pertencentes à elite.
O estilo da Art Noveau é bem conhecido. Sua arquitetura é de alvenaria, com traços curvos nas estruturas que combinam ferro, vidro e muito concreto. As janelas são grandes; o telhado é ondular; as colunas são proeminentes e o espaço interno é reconhecido não só pela luxuosidade, mas pelos amplos e bem aproveitados ambientes.
Foi esta escola artística, por exemplo, que moldou boa parte do projeto do Paço Municipal de Porto Alegre e outros grandiosos edifícios oficiais, principalmente no início da Primeira República. O motivo da escolha de tal tendência é que nela estavam presentes os ideais de civilização, progresso, industrialização e crescimento, base que fundamentou o regime republicano em seus primeiros anos e representou, principalmente, o modernismo.
A construção do Paço Municipal de Curitiba:
Um outro exemplo de Art Noveau no Brasil foi o edifício que abrigou a prefeitura de Curitiba a partir de 1916: o Paço Municipal. Até essa época, tanto o prefeito como a Câmara de vereadores eram itinerantes pois, apesar de ter algumas sedes, nunca se havia definido um espaço específico para as atividades executivas e legislativas da cidade. A mudança ocorreu após a eleição do governador Carlos Cavalcanti de Albuquerque, que, em 1912, decidiu pela construção definitiva de um Paço para a capital, obra iniciada somente em 1914 e inaugurada 2 anos depois.
Mas o que significa Paço?
Se hoje se utilizam as palavras "Prefeitura" e "Câmara Municipal" ou de Vereadores para fazer referência ao espaço político de um município, naquela época esses âmbitos eram agrupados em um mesmo local, cujo prédio era chamado de Paço Municipal ou simplesmente Paço. Pode-se dizer que Paço era sinônimo de prefeitura, isso pelo menos até a Revolução de 1930.
Entretanto, vale dizer que a palavra Paço não simboliza qualquer prédio de prefeitura. Isso porque Paço vem do latim palatius e significa palácio. Isso evidencia, portanto, que para ser considerado como tal, um Paço deve representar uma construção luxuosa e destacada. É por isso que todos os Paços do Brasil, como o de Porto Alegre, o Imperial, o de Feira de Santana e o de Niterói, seguem esse mesmo estilo de grandiosidade arquitetônica. Com o Paço Municipal de Curitiba, é claro, isso não foi diferente.
E o que havia antes da construção do Paço?
O Paço Municipal foi construído exatamente no mesmo local do antigo Mercado Municipal de Curitiba, que ali permaneceu de 1874 até 1912, quando foi transferido para um barracão de madeira na Praça 19 de Dezembro (então chamada de largo da Nogueira). Da arquitetura original, somente foi mantida a fachada do Mercado, que serviu de tapume até a finalização da obra do Paço, sendo demolida logo na sequência.
Na época, a construção do Mercado foi fundamental para o crescimento de Curitiba. Foi ele que permitiu a essa área, então um descampado considero como um fundo de cadeia (pois logo atrás ficava a Cadeia Pública), atrair comércios e moradores, fato que explica os casarios e palacetes ali existentes desde a década de 1870.
Depois da inauguração desse que foi o maior espaço comercial na época, em sua frente foi mantido um espaço aberto, que servia ao trânsito e sociabilização. Para ele, deu-se o nome de “Praça do Mercado”. Com o tempo, essa região assumiu destaque no cenário curitibano, aspecto que influenciou na mudança do nome para “Praça Municipal”.
O projeto e inauguração do Paço:
Os jornais de época, como o Diário da Tarde, atribuem o projeto arquitetônico do Paço ao então prefeito de Curitiba Cândido de Abreu, escolhido pelo governador Carlos Cavalcanti. Porém, os pesquisadores tendem a concordar que dificilmente ele fez tudo sozinho.
Para a arquiteta Suzelle Rizzi, por exemplo, a obra teve como engenheiro-chefe Adriano Goulin e provavelmente foi construída por Angelo Bottecchia e André Pitrelli. Discute-se, ainda, uma possível influência do arquiteto Roberto Lacombe, bem como de João Guelfi e João Ortolani na confecção das pinturas e ornamentações internas. Seja como for, fato é que o conjunto todo foi assinado por Cândido de Abreu.
Além dessas incertezas quanto à autoria do projeto, a realização dele em si foi muito discutida. Isso porque uma lei de 1912 instituía o terreno na esquina da Rua João Negrão com a Rua Senador Laurindo, ao lado da Praça Santos Andrade, como o local para a futura Prefeitura Municipal. Cândido de Abreu, contudo, ignorou-a e escolheu o centro da Praça Municipal, tendo em vista que a região era mais desenvolvida e reconhecida. Muitos dos jornais da época, então, mostraram-se totalmente contra a construção naquele espaço, pois isso representaria a demolição do Mercado Municipal, ação que logo em seguida se consumou.
Nomeação da Praça e do Paço da Liberdade:
Conforme você, leitor, pode notar, a Praça em que estavam tanto o Mercado Municipal quanto a Paço Municipal ainda não era chamada de Praça Generoso Marques à época. Na verdade, o local só foi receber esse nome em 1928, quando o senador paranaense Generoso Marques faleceu. Antes disso, o espaço era chamado de Praça Municipal (entre 1890 e 1928), Praça do Mercado (1874-1890) e Largo da Cadeia (pelo menos desde o início do século XIX). A escolha desse nome, portanto, foi uma homenagem ao político local, que também havia sido governador e um dos principais jornalistas do estado.
Além dessa mudança, outra significativa ocorreu em 1948. Até então, o Paço era reconhecido como Paço Municipal, justamente por ser a prefeitura. Nessa data, porém, o vereador Roberto Barrozo apresentou um projeto à Câmara que culminou na mudança do nome para Paço da Liberdade, que até hoje é mantido como o oficial.
Uma história que continua:
O ano de 1969 foi o último ano do então Paço da Liberdade como sede da prefeitura de Curitiba. Então, mesmo que tenha servido, em 1970, a políticas educacionais do governo federal, o prédio permaneceu abandonado até 1974, quando foi reformado e escolhido para sediar o Museu Paranaense. Dez anos depois, ele se tornou o primeiro e único edifício história do Paraná a ser tombado em nível nacional, estadual e, daí em diante, nacional, por meio do reconhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Depois de mais um pequeno restauro em 1994, o Paço da Liberdade deixou de ser sede do Museu Paranaense em 2002, quando este se transferiu para o Palácio São Francisco. Novamente, o prédio ficou abandonado por 4 anos, até ser totalmente reformado entre 2006 e 2009, em parceria com a Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio/SESC) e o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). No meio do restauro, inclusive, foram encontrados resquícios do antigo piso do Mercado Municipal de Curitiba, descoberta fundamental para a arqueologia e para a história do Paraná.
Desde então, o Paço da Liberdade se tornou um centro cultural público, que abriga bibliotecas, livraria, café cultural e musical, além de sala de cinema, de música e de exposições. Por isso, embora transformado no tempo e experimentado diferentes circunstâncias, o prédio centenário de Curitiba mantém viva a chama cultural e história que o preserva e nos faz recordar do desenvolvimento história da capital paranaense. Porque ali existiu de tudo um pouco: o efervescente mercado municipal, as tensões políticas, a preservação de memória e, nos dias atuais, o trânsito de pessoas que veem nele uma possibilidade de descobertas.
Nota do blog: Imagem de Arthur Wischral.