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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019
Construção do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, Pacaembu, 1939, São Paulo, Brasil
Construção do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, Pacaembu, 1939, São Paulo, Brasil
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Largo da Memória e Obelisco do Piques, 1930, São Paulo, Brasil
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Apesar do nome pouco amigável de figueira-brava, a árvore localizada no Largo da Memória, região central de São Paulo, tem mais de cem anos e dava sombra e descanso para diversos viajantes que realizavam o transporte de cargas e mercadorias. Esses tropeiros vinham da região oeste do Estado em direção ao vale do Rio Tietê e aproveitavam para relaxar um pouco embaixo da figueira.
A árvore fica ao lado do Obelisco do Piques, primeiro monumento da cidade (datado de 1814), e nem mesmo o conforto que proporcionava aos tropeiros foi suficiente para que estivesse livre do risco de ser derrubada.
Em 1919, o então prefeito Washington Luís encarregou o arquiteto Victor Dubugras de elaborar um projeto para o Largo da Memória, como uma maneira de celebrar o Centenário da Independência do Brasil, que ocorreria três anos depois.
A série de melhorias passou pela construção de escadas em curva e pela colocação de um novo chafariz e de um painel de azulejos, ambos projetados pelo artista José Wasth Rodrigues. No painel constava, pela primeira vez em um monumento público, o brasão da cidade. O símbolo, criado por Wasth e por Guilherme de Almeida, havia sido o vencedor de um concurso organizado pela Prefeitura em 1917.
Nem todos os pontos da reforma, porém, agradaram a todos. Poucos meses após o início, o vereador Amaral Gurgel expôs, na Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), sua preocupação com o cuidado dado às árvores do local.
Em indicação (sugestão feita por um vereador para que um órgão tome medidas), o parlamentar afirmou que a Prefeitura não poderia admitir que as obras de melhoramentos cortassem as “árvores seculares que existem naquele local”. Segundo Gurgel, na semana anterior “o machado inclemente das tradições” havia decepado uma “linda árvore plantada na parte lateral da Rua Quirino de Andrade”. No desabafo, ele completou: “isto dói”.
Semanas depois, o arquiteto João Bertacchi, da Prefeitura, respondeu ao apelo dizendo que o corte da árvore já era previsto devido à posição da nova escadaria, a não ser que fosse modificado o projeto já aprovado pela Câmara. “Ela ficaria com uma boa metade das suas raízes cortadas e o restante a descoberto, resultando igualmente na perda da árvore”, explicou Bertacchi.
O corte de árvores voltou a ser tema de discussões na Câmara em 1921. Na época, o vereador Luciano Gualberto alertava sobre a “necessidade urgente de acabar-se com o aniquilamento” das árvores da cidade, “absurda sob todos os pontos de vista”. O então prefeito, Firmiano Morais Pinto, relatou ter o apoio da Associação Rural Brasileira para os cortes.
Se hoje a arborização é considerada primordial para a vida nas cidades, naquele tempo não era bem assim. Segundo o prefeito, no estudo realizado pela Associação Rural Brasileira, em caso de ruas estreitas a arborização se tornava mais danosa do que benéfica, por “interceptar raios solares e roubar alimento das plantas dos jardins”. Ainda de acordo com ele, todo dia apareciam pedidos particulares para que fossem “sacrificadas as árvores que umedecem as casas e tiram a vista de suas propriedades”. Eximindo-se de responsabilidade, Morais Pinto concluiu que se a Prefeitura errou, “errou com a Câmara, a Sociedade Rural, a imprensa e com o público”.
A centenária figueira-brava do Largo sobreviveu após as discussões na Câmara e segue em pé, fornecendo sombra aos apressados paulistanos que por ela passam.
A ideia de enfeitar a cidade com o Obelisco do Piques foi uma declaração de amor dos moradores a São Paulo, afirma o jornalista Roberto Pompeu de Toledo no livro A capital da solidão. A cidade era vista, no começo do século 19, como mero lugar de passagem, mas com a criação de um monumento as pessoas tentavam deixá-la “nas condições mais agradáveis possíveis”.
A ideia foi proposta pelo engenheiro militar Daniel Pedro Müller, como complemento à construção da Estrada do Piques, que facilitaria a comunicação da cidade com o interior. Müller sugeriu a formação de um largo, a partir da ampliação das Ladeiras do Piques e da Palha, atual Rua 7 de Abril, e a construção de um chafariz e do obelisco, que foi erguido em pedra de cantaria por Vicente Gomes Pereira, o mestre Vicentinho.
Os historiadores não chegam a uma conclusão unânime quanto aos motivos da criação, mas concordam que o monumento foi construído para eternizar algo, e por conta disso o Largo e a Ladeira ganharam nome de Memória. Algumas pessoas também chamam o obelisco de Pirâmide do Piques por conta de seu formato.
A certeza quanto à origem do termo “piques” é outro ponto que deixa dúvidas. Para Pompeu de Toledo, há duas possibilidades: a expressão “a pique” (que significa “a prumo, verticalmente”), por conta do terreno acidentado que formava ladeiras no entorno do monumento. Outra versão relata que o nome seria devido a uma família de mesmo sobrenome moradora do local. Na publicação Largo da Memória, do Instituto Itaú Cultural, ainda há outra hipótese: pique seria usado no sentido de afrontar alguém, já que os tropeiros também resolviam suas rixas no Largo.
O Largo era considerado a porta de entrada do Município porque ficava nos limites da cidade nova, do outro lado do Ribeirão Anhangabaú. As bicas de água e o chafariz do local tinham função dupla: serviam aos moradores dos arredores e eram ponto de parada para os viajantes e seus animais.
O local também foi espaço de uma feira de escravos, que ocorria ao meio-dia. “A elevação da subida, com o patamar (espaço no topo de uma escada) largo, circundado pelo paredão, punha em destaque a corte enfileirada da mercadoria negra”, conta Raimundo de Menezes, em São Paulo dos nossos avós.
Construído na mesma época do Obelisco, o primeiro chafariz do local foi retirado do Largo em 1872, época em que o fluxo de tropas viajantes diminuiu por conta da chegada dos trens, o que fez com que o local não fosse mais considerado a porta de entrada da cidade, apesar de ainda figurar como um ponto importante de São Paulo por sua posição privilegiada.
Em 1908, atendendo ao pedido de “cinquenta e tantos moradores”, o vereador Álvaro Gomes da Rocha Azevedo apresentou na Câmara Municipal o projeto de lei 12/1908 (veja na página 74), que alterava o nome da Ladeira do Piques, ao lado do Obelisco, para Rua Quirino de Andrade, denominação usada atualmente.
O projeto pretendia homenagear o coronel que havia morado por anos nas imediações. “Conheci de perto o saudoso extinto e posso dar testemunho de grande estima pessoal”, discursou Rocha Azevedo. “Parece-me que o seu nome, cercado da benemerência popular, irá honrar aquela via pública sem prejuízo de qualquer tradição histórica”, defendeu o parlamentar. O PL foi aprovado e se tornou a lei 1.081, de 13 de abril de 1908.
Atualmente com 15 metros de altura, a figueira-brava teve que passar por mais alguns apertos para provar que merecia ficar em pé. O fato de a enorme árvore se sustentar em um espaço reduzido de terra fez com que se tornasse causa de temor entre os moradores. Mensagens enviadas à Prefeitura, nos anos 80, questionavam se o espaço seria suficiente para mantê-la sem o risco de cair.
As dúvidas foram suficientes para que um dia aparecesse acorrentada ao muro da Rua Xavier de Toledo. Em entrevista à Apartes, a arquiteta e urbanista Sidnea de Souza declarou que as queixas foram a motivação para que “mesmo sem provas de que a árvore oferecia risco, a amarrassem para tentar tranquilizar os moradores”. A arquiteta faz parte da Ação Local da Ladeira da Memória, associação que reúne moradores e interessados em cuidar da área.
A corrente só foi retirada em janeiro de 2011, quando parte dela já havia sido absorvida pela árvore, que com o tempo se adaptou aos grilhões. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o diagnóstico realizado pela Prefeitura concluía que a árvore estava saudável. No dia da vistoria, os técnicos não souberam explicar o motivo da corrente, nem identificar quem pudesse ter colocado.
Na década de 70, as ampliações das linhas de metrô também ameaçaram a Ladeira da Memória. Para Luís Saia, arquiteto e incentivador do processo de tombamento do local, as obras tinham a intenção de interferir no desenho da praça.
O trâmite para o reconhecimento do valor histórico e proteção do Largo foi iniciado em 1971 e concluído em 1975, abrangendo o espaço ocupado pelo Obelisco, por parte da Rua Xavier de Toledo e pela Ladeira. Com o tombamento, toda reforma no espaço deve ser submetida à aprovação da Secretaria de Cultura do Estado, tornando-o intocável a novas intervenções.
Para Saia, a cidade possuía uma estrutura e um comportamento que não poderia ser alterado pelo sistema viário. “Em todo o mundo, a conservação histórica é de suma importância, só aqui é que metem os pés pelas mãos”, declarou à Folha de S. Paulo em 1975.
Após mais de 200 anos de sua inauguração, milhares de pessoas passam pelo local histórico todos os dias. Como canta o Grupo Rumo: “Olha as pessoas descendo a Ladeira da Memória até o Vale do Anhangabaú. Quanta gente! Vagando pelas ruas sem profissão, namorando as vitrines da cidade”.
Novela Vale Tudo, 1988-1989, Rede Globo, Brasil
Novela Vale Tudo, 1988-1989, Rede Globo, Brasil
204 Capítulos
Novela
A jovem Maria de Fátima não acredita na honestidade. Sem hesitar, ela vende a casa da família, deixando a mãe desamparada, e muda-se para o Rio de Janeiro com o intuito de tentar ganhar a vida como modelo ou com um casamento rico. Envolve-se com César, um mau-caráter, e, para alcançar os seus objetivos, utiliza-se dos meios mais sórdidos. Conhece o milionário Afonso Roitman e, depois de muitas armações, separa-o de sua namorada, Solange, para casar-se com ele.
Raquel, a mãe de Fátima, é o seu oposto: a honestidade em pessoa. Para ela, somente o trabalho é capaz de dar uma situação digna a uma pessoa. Quando foi abandonada pelo marido com uma filha para criar, não hesitou em enfrentar o dia-a-dia. Após ter sido enganada pela filha, Raquel vai atrás dela e estabelece-se no Rio. Conhece Ivan, o homem por quem se apaixona, e, com muita luta, de vendedora de sanduíche na praia, chega a dona de uma rede de restaurantes.
A história tem uma reviravolta quando Raquel encontra uma mala com oitocentos mil dólares, perdida pelo desonesto executivo Marco Aurélio, e não aceita ficar com o dinheiro, como sugeriu Ivan. A mala desaparece através de um plano de Fátima e Raquel acredita que foi Ivan quem a tomou. Os dois acabam rompendo e Ivan casa-se com Heleninha, uma artista plástica frágil e alcoólatra, filha da toda poderosa Odete Roitman, a maior culpada por seus problemas psicológicos.
Odete mantem um caso amoroso com César, comparsa e amante de Fátima – que, à essa altura, tornou-se sua nora, ao casar-se com seu filho Afonso. Odete é uma mulher rica e arrogante, capaz de tudo para defender os seus interesses. Culmina assassinada, ao discutir com Marco Aurélio, executivo de sua empresa, quando descobriu que foi ele quem desviou os oitocentos mil dólares de seu patrimônio. Enquanto Marco Aurélio foge com o dinheiro, a polícia está no encalço do assassino de Odete Roitman e Fátima e César armam um novo golpe, fora do país.
Um dos maiores sucessos da Teledramaturgia nacional. Com uma trama contagiante, o trio de autores conseguiu aliar as nuances dos bons folhetins com uma crítica social ao país a partir de uma pergunta comum a milhões de brasileiros: “Vale a pena ser honesto no Brasil de hoje?”. O ano era 1988 e se refletiam como nunca os nossos principais problemas políticos. Ismael Fernandes em “Memória da Telenovela Brasileira”.
Vale Tudo deu início à trilogia de Gilberto Braga sobre novelas em que o autor se propôs a discutir a ética e moral do brasileiro. Gilberto deu prosseguimento à temática em O Dono do Mundo (1991) e Pátria Minha (1994-1995).
Os personagens Odete Roitman (Beatriz Segall), Maria de Fátima (Glória Pires), César (Carlos Alberto Riccelli) e Marco Aurélio (Reginaldo Faria) retratavam o que havia de ruim e corrupto no país, enquanto Raquel (Regina Duarte) e Ivan (Antônio Fagundes) simbolizavam a vida de milhões de brasileiros.
Vale Tudo foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a melhor novela de 1988. Glória Pires foi premiada como a melhor atriz, Sérgio Mamberti o melhor ator coadjuvante, e Paulo Reis o ator revelação do ano.
Também foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor novela do ano e melhor atriz para Beatriz Segall.
A autoria de Vale Tudo é normalmente atribuída só a Gilberto Braga. Mas a trama também foi assinada por Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. O próprio Gilberto faz questão de salientar a importância dessa parceria. Aguinaldo Silva, por exemplo, era o responsável por fazer as escaletas (estruturas do roteiro). Site Memória Globo.
O título originalmente pensado para a novela era Pátria Amada, o que se tornou inviável por já existir como nome de um filme de Tizuka Yamasaki, de 1985: Patriamada.
Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo, Gilberto Braga narrou como criou a trama sobre honestidade:
“Vale Tudo surgiu de uma discussão familiar. Eu estava jantando com meus parentes mais próximos e alguém chamou meu padrinho de medíocre e babaca. O meu padrinho (…) era delegado de polícia e sempre foi conhecido como um policial não-corrupto.
Disseram: ‘Ah, ele foi delegado em Foz do Iguaçu e Belém e poderia estar rico. Todo mundo que foi delegado nestes lugares tem apartamento na Vieira Souto, e ele não tem nada, é pobre’.
Eu questionei: ‘Mas que critério é esse? Isso não é ser babaca. Ele tem uma vida digna. Tenho muito orgulho de ele não ter se corrompido’.
Vale Tudo nasceu dessa discussão, da figura de meu padrinho e da distorção – presente em praticamente todo o país – dos que acham que quem não é corrupto é babaca (…) A discussão já estava no primeiro capítulo, numa cena de Maria de Fátima, personagem de Gloria Pires, discutindo com o avô.”
Outra inspiração para Vale Tudo foi o filme Almas em Suplício (Mildred Pearce, dirigido por Michael Curtiz em 1945, com Joan Crawford e Ann Blyth), de onde se extraiu a trama da mãe simplória (Raquel) que enriquece mas tem o desprezo da filha (Fátima). Na primeira parte da novela, o autor referencia o filme quando Raquel chama uma senhora de Dona Mildred.
Daniel Filho mencionou em seu livro O Circo Eletrônico:
“Na primeira sinopse, a filha vendia a casa por volta do capítulo 40 ou 50. Lógico que outras histórias paralelas estariam acontecendo. Mas o tema central não deslanchava. Argumentei: ‘Se a filha não vender a casa no primeiro capítulo e a mãe ficar na miséria, a novela não atingirá seu objetivo’. Ou seja, não deixaria claro seu tema. Denis Carvalho – o diretor – concorda. A presença de Aguinaldo e o jeito conciliador de Leonor deixaram Gilberto seguro para adiantar a novela em 40 capítulos.”
O sucesso fez a novela ser espichada e obrigou os autores a mudarem o rumo de algumas tramas. Foi aí que surgiu o “quem matou Odete Roitman?”, que, inicialmente, não estava previsto. Na sinopse original, Fátima (Glória Pires) mataria Marco Aurélio (Reginaldo Faria) e Raquel (Regina Duarte) se entregaria à polícia no lugar da filha. Essa trama acabou não acontecendo. Em substituição, Odete foi morta e o mistério de seu assassino rendeu história para mais algumas semanas de novela. (Heloísa Eterna, jornal O Dia, 11/12/1988, TV Pesquisa PUC-Rio)
O assassinato de Odete, morta com três tiros à queima-roupa, ocorreu no capítulo 193, no ar na véspera do Natal de 1988. O mistério da identidade do assassino durou apenas treze dias, mas dominou todas as conversas pelo país, tornando-se alvo de apostas, rifas e sorteios. O Brasil parou diante da TV – literalmente – na noite do último capítulo da novela (em 06/01/1989) para conhecer o criminoso.
Para segurar o mistério e não deixar vazar a surpresa, a revelação do assassino foi gravada no dia em que o último capítulo foi ao ar, poucas horas antes de sua exibição. Para despistar, os autores escreveram cinco versões diferentes, com cinco diferentes assassinos. Os atores receberam os roteiros, mas não sabiam qual seria gravado. Até o momento em que o diretor Denis Carvalho dispensou o elenco anunciando que era Leila, personagem de Cássia Kiss, a assassina. A primeira reação da “morta” Odete – Beatriz Segall – foi dar-lhe os parabéns. Razão do assassinato: Leila entrou na sala desabaladamente e disparou três tiros contra a pessoa atrás da porta de vidro, sem ao menos identificá-la. Ela pensava que quem estava ali com seu marido Marco Aurélio (Reginaldo Faria) era a amante dele, Fátima (Glória Pires). E, assim, Leila matou Odete por engano.
Nos outros quatro finais escritos, os assassinos eram César (Carlos Alberto Riccelli), Olavo (Paulo Reis), Bruno (Danton Mello) e Queiroz (Paulo Porto):
– César assassina a ex-amante por vingança. Odete não remeteu os dólares prometidos para uma conta na Suíça em seu nome, eles discutem e César atira.
– Olavo tenta chantagear a empresária, eles discutem, brigam, Odete pega a arma, que acaba disparando: a vilã morre acidentalmente.
– Leila e o filho Bruno vão com Marco Aurélio até o apartamento de Odete, mas ficam esperando no carro. Marco Aurélio esquece sua pasta no carro, de onde Bruno pega a arma. O garoto sobe para entregá-la e assiste à discussão de Marco Aurélio e Odete, que fala em denunciá-lo à polícia. Defendendo o padrasto, Bruno aponta para Odete, fecha os olhos e atira.
– Queiroz chega ao apartamento de Odete para salvá-la. Ele interrompe a discussão de Odete e Marco Aurélio com uma inesperada declaração de amor a Odete, que debocha agressivamente dele, a ponto de fazê-lo perder o controle e atirar, enquanto Marco Aurélio dispara contra ele. (Deborah Dumar, jornal O Globo, 07/01/1989, TV Pesquisa PUC-Rio)
Curiosamente, Beatriz Segall não foi a primeira atriz lembrada para o papel de Odete Roitman: Gilberto Braga pensou antes em Tônia Carrero e Odete Lara.
Beatriz Segall ficou tão marcada por sua personagem que é impossível não relacionar a atriz à figura de Odete Roitman, pelo fantasma da vilã ter vivido à sua sombra pelo resto de sua vida. Após a conclusão de Vale Tudo, Beatriz por um bom tempo se negou a falar de Odete. E só aceitava interpretar papeis de mulheres bem diferentes da vilã, na tentativa de afastar o estigma de “atriz de uma personagem só”. Em entrevista ao site da Veja, em 2011, a atriz se queixou:
“Isso é muito chato, fica repetitivo, chega a um ponto que você não aguenta mais. Pô, eu sou muito mais que Odete Roitman. Já fiz tanta coisa, os papéis mais diversos. Eu sou uma atriz de teatro, não sou uma atriz de um papel só.”
No entanto, a vilã tornou-se um ícone da TV brasileira e uma referência de interpretação para este tipo de personagem. Ao projeto Memória Globo, a atriz declarou:
“Sempre me encabulo quando tenho que falar da Odete Roitman, fico com medo de parecer pretensiosa, e tenho certeza de que não sou, mas acho que ninguém na televisão brasileira recebeu um presente tão grande como esse.”
O assassinato de Odete Roitman foi exibido um dia depois do previsto, à revelia dos autores. De acordo com matéria do Jornal da Tarde (de 24/12/1988), no cronograma da novela, a polícia acharia o corpo da vilã no dia 23 de dezembro. Entretanto, por 800 milhões de cruzados (valores na moeda da época), a Globo deixou Odete viva por mais 24 horas por causa de um anúncio de meia página do CODISEG (Comitê de Divulgação Institucional do Seguro) publicado nos jornais O Globo e Jornal do Brasil, com uma foto de Beatriz Segall (o nome Odete Roitman não era citado) e a mensagem “Faça seguro. A gente nunca sabe o dia de amanhã.” E a emissora nem avisou os autores Gilberto, Aguinaldo e Leonor, pegos de surpresa, já que há dias o assassinato vinha sendo anunciado para o dia 23 de dezembro.
Nove anos mais tarde, Beatriz Segall e Glória Pires se reencontraram no remake de Anjo Mau (1997). A primeira só aceitou entrar na novela se fosse para viver uma personagem boazinha. Na cena de Anjo Mau em que Clô (Beatriz) e Nice (Glória) se conhecem, fazendo uma alusão às suas personagens em Vale Tudo, a primeira diz achar conhecer a outra de algum lugar.
Glória Pires e Regina Duarte só voltaram a atuar juntas em uma novela catorze anos depois: Desejos de Mulher (2002), desta vez vivendo irmãs.
A personagem de Regina Duarte foi criticada por ser íntegra e honesta demais, muito certinha, logo, fora da realidade. Gilberto Braga relatou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”:
“Achavam que ela deveria errar também. A própria Regina Duarte tinha grilo com isso. Ela queria errar – estava com ciúme da Maria de Fátima. Todo mundo pedia para a Raquel ter algum deslize. Aguinaldo, Leonor e eu nos reunimos e conversamos seriamente sobre o assunto. Nós três achávamos que a Raquel não podia ter deslizes: se ela tivesse, nós não teríamos novela. Deixamos o público reclamar até o final, porque Vale Tudo se baseava nessa oposição: mãe honesta e filha desonesta.”
Além da questão da ética e honestidade, Vale Tudo discutiu o drama do alcoolismo, por meio de Heleninha, personagem que marcou a carreira de Renata Sorrah e pela qual a atriz é lembrada até hoje. E mostrou, pela primeira vez de forma explícita, a homossexualidade feminina em uma novela, enfrentando, por isso, alguns problemas com a censura.
Vale Tudo foi a última novela a ser censurada pela DCDP, a Divisão de Censura de Diversões Públicas, órgão ligado ao Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, extinto com a aprovação da Constituição de 1988 (em setembro deste ano, quando a novela estava no ar). Vários diálogos entre as personagens Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina Prochaska) tiveram que ser reescritos depois que foi vetada a cena em que as duas contavam a Heleninha (Renata Sorrah) sobre os preconceitos de que eram vítimas por causa de seu relacionamento homossexual. Os censores ficaram de olho no desenvolver da trama das lésbicas e diálogos inteiros foram veementemente vetados.
Diálogos corriqueiros que usavam expressões de baixo calão também era censurados. Nas falas de Marco Aurélio (Reginaldo Faria) e de César (Carlos Alberto Riccelli), dois personagens amorais, os autores sempre colocavam a interjeição “porra!” no início ou fim das frases. A censura cortava, apesar da linguagem vulgar ter a intenção de sublinhar o mau caráter de ambos. “Puta”, “piranha” e “bicha” também não eram toleradas. Os autores então, por pura provocação, apelaram para a cacofonia para driblar a tesoura. Não adiantou. Em um dos laudos, os censores exigem corte das falas de Poliana (Pedro Paulo Rangel) em que ele diz: “Pô… Raquel… Pô… Raquel… Pô… Raciocina…” (James Cimino em uma série de reportagens sobre a censura às novelas durante a Ditadura Militar, para o UOL, 15/01/2013)
Já sobre a morte da personagem Cecília, Gilberto Braga esclareceu em entrevista que não foi por imposição da censura:
“Em Vale Tudo há um folclore. É o caso das lésbicas. A história que eu contei é exatamente igual à que queria contar. Não houve censura. Não houve alterações. Quando criei a personagem de Lala [Deheinzelin], sabia que ela morreria. Isso eu sempre planejei.”
Vale Tudo foi comercializada para mais de 30 países. Exibida em Cuba em 1993, a novela fez um enorme sucesso. Desde Escrava Isaura, produzida pela Globo em 1976 e exibida na ilha em 1985, uma novela não mexia tanto com os cubanos (Folha de São Paulo, 12/07/1993, TV Pesquisa PUC-Rio)
Em 1995, o governo de Fidel Castro resolveu legalizar uma rede de restaurantes privados que funcionava clandestinamente desde 1993, em um arrojado gesto de abrir mão da exploração exclusiva do setor. Esses restaurantes, geridos em âmbito familiar, tinham o nome de “paladares”, assim batizados por causa do nome da empresa de alimentos de Raquel na novela (Paladar).
Muitas foram as cenas marcantes de Vale Tudo que entraram para a história de nossa TV:
– o assassinato de Odete (capítulo 193) e, depois, a elucidação do crime (último capítulo);
– a primeira cena de Odete, em que ela conversa ao telefone com Celina, e só aparecem closes de sua boca e olhos (capítulo 28);
– os discursos de Odete, conservadores, reacionários ou esculhambando o Brasil (como a cena do jantar no capítulo 34);
– a discussão de Fátima com o avô sobre honestidade no Brasil (no capitulo de estreia);
– os tapas na cara que Fátima levou, de vários personagens, ao longo da trama;
– Fátima se jogando do alto da escadaria do Teatro Municipal, para provocar um aborto (capítulo 108);
– o flagrante de adultério de Afonso em Fátima e César: “eu não transo violência!” (capítulo 159);
– Fátima casando com um príncipe italiano (último capítulo);
– Raquel vendendo sanduíche na praia quando se depara com Fátima (capítulo 14);
– Raquel rasgando o vestido de casamento de Fátima (capítulo 80);
– os porres de Heleninha, em especial aquele em que ela dança bêbada em uma boate e pede um “mambo caliente” (capítulo 183);
– Celina impedindo o refeitório de servir maionese estragada (capítulo 132);
– Marco Aurélio fugindo do país em um jatinho e se despedindo com uma “banana”, o gesto com os braços (último capítulo).
Assim como na novela Louco Amor (1983), em que o autor criou uma badalada revista para uma das ambientações da trama – a Stampa -, em Vale Tudo, a fictícia revista Tomorrow englobava um importante núcleo da novela. A Stampa, inclusive, apareceu em Vale Tudo, já que o vilão e ex-modelo César Ribeiro (Carlos Alberto Riccelli) foi capa de uma edição mostrada em algumas cenas. Gilberto Braga voltou com uma revista fictícia em Celebridade (2003-2004): a Fama.
A personagem Solange Duprat, vivida por Lídia Brondi, produtora de moda da Tomorrow, era a mais arrojada e antenada da novela, sempre com os figurinos mais modernos. O corte de cabelo da atriz fez sucesso: de inspiração oriental, em voga na época, era liso, ruivo avermelhado escuro, com uma franja reta.
No acerto de contas entre Solange e Fátima, em que a primeira esbofeteia a segunda, a personagem de Lídia Brondi usa uma frase de Abraham Lincoln que ficou famosa na novela: “A gente pode enganar todo mundo por quase todo tempo. Quase todo mundo por todo tempo. Mas não pode enganar todo mundo por todo tempo!”
A batalhadora Raquel, vivida por Regina Duarte, emplacou dois bordões que caíram na boca do povo: “Te mete!”, dito como uma interjeição, e a frase de efeito “Sangue de Jesus tem poder!”
A indústria de alimentos Nestlé, por meio de seu caldo de galinha Maggi, lançou, em pleno Natal de 1988, um concurso para premiar quem adivinhasse a identidade do assassino de Odete Roitman. O prêmio era de 10 milhões de cruzados (valores na moeda da época), um de 5 milhões e cinco de 1 milhão. Nos intervalos da programação da Globo, o apresentador César Filho anunciava a promoção juntamente com a galinha azul animada (mascote da Maggi). (Deborah Dumar, jornal O Globo, 07/01/1989, TV Pesquisa PUC-Rio)
De acordo com o vídeo do sorteio da Nestlé (disponível no YouTube), apresentado por César Filho, foram recebidas mais de 2 milhões e meio de cartas, das quais apenas 5% acertaram a resposta (Leila é a assassina). O mordomo Eugênio e Marco Aurélio foram os mais citados (24 e 23%). A vencedora dos 5 milhões de cruzados foi Laura B. de Andrade, de Belo Horizonte (MG). Os outros 1 milhão saíram para Campos do Jordão (SP), Mogi das Cruzes (SP), Petrópolis (RJ), Oswaldo Cruz (RJ) e São Paulo capital.
A Nestlé já era anunciante da novela: o caldo Maggi e o creme de leite foram amplamente divulgados nas cenas em que Raquel (Regina Duarte) vence um concurso de culinária usando os produtos. O merchandising rolou solto em Vale Tudo, com vários anunciantes.
A Gradiente divulgou a sua nova linha de áudio – com CD player, uma novidade na época -, por meio de Heleninha (Renata Sorrah) e Thiago (Fábio Vila Verde), nas cenas em que os personagens ouvem música clássica. Ainda o microcomputador Expert MSX, quando Solange (Lídia Brondi) escreve uma reportagem para a revista Tomorrow, e o videogame Atari (também da Gradiente), em cenas com Ivan (Antônio Fagundes) e seu filho Bruno (Danton Mello).
A Du Loren anunciou sua nova coleção de lingerie em uma matéria da Tomorrow, assinada por Solange. O livro História da Camiseta da Hering também teve destaque na Tomorrow.
Ainda: a empresa Etti anunciou o molho de tomate Salsa D’Oro; os personagens bebiam Keep Cooler ou cerveja e guaraná Antarctica; Raquel cozinhava no fogão Semmer; Ivan e Helena compraram um apartamento da Construtora Encol; roupas masculinas eram compradas na Casa José Silva; e pagamentos eram feitos no Banco Real.
E o balneário de Búzios, litoral do Rio de Janeiro, foi amplamente divulgado na novela, já que Laís e Cecília (Cristina Prochaska e Lala Deheinzelin) tinham uma pousada lá. (Elane Maciel, Jornal do Brasil, 09/10/1988, TV Pesquisa PUC-Rio)
A publicidade (fora da novela) surfou na repercussão da trama. A Fotóptica, por exemplo, publicou em jornais e revistas: “Se você conseguiu fotografar o assassino de Odete Roitman, entregue o filme na Fotóptica. Enquanto na novela vale tudo para aumentar a audiência, na Fotóptica vale tudo para diminuir o preço. (…) Esta oferta também vale para fotos de inocentes.” (anúncio de meia página publicado na capa do jornal O Estado de São Paulo, de 25/12/1988).
Vale Tudo marcou a volta de Pedro Paulo Rangel à televisão após um hiato de sete anos. Seu último trabalho havia sido no humorístico Viva o Gordo, em 1981. A última novela, Dinheiro Vivo, na TV Tupi, em 1979.
Primeira novela dos atores Marcello Novaes, Flávia Monteiro, Otávio Müller, João Camargo, Lala Deheinzelin, Paulo Reis e Renata Castro Barbosa.
Primeira aparição em novelas, em pontas ou pequenas participações, de Humberto Martins, Marcos Oliveira, Edson Fieschi e Lu Grimaldi.
Adriana Esteves, aqui vista pela primeira vez em uma novela, fez figuração no capítulo 10 (exibido em 26/05/1988), na sequência em que várias modelos concorrem a uma vaga para um editorial na revista Tomorrow, do qual Fátima participa.
Em 2002, a Globo, em uma parceria com a Rede Telemundo (cadeia de emissoras abertas voltada para a comunidade latina nos Estados Unidos), produziu uma nova versão de Vale Tudo, em espanhol: Vale Todo, com elenco formado por atores latinos. Porém, o reboot não fez sucesso: com previsão de 150 capítulos, terminou no centésimo, com audiência aquém da esperada.
Sobre este remake latino, Gilberto Braga desabafou a André Bernardo e Cíntia Lopes, para o livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”:
“Achei a ideia lamentável e disse isso a eles. O resultado foi a catástrofe que previa. Claro que o tema é universal, mas eles não queriam uma história transgressora. Deviam ter escolhido uma novela mais convencional para o projeto.”
Vale Tudo repetiu o sucesso na reapresentação no Vale a Pena Ver de Novo, entre 11/05 e 06/11/1992, editada em 129 capítulos.
Reprisada também no canal Viva (canal de TV por assinatura pertencente à Rede Globo), em duas ocasiões. Entre 05/10/2010 e 16/07/2011, na íntegra, à 0h45 (com repeteco ao meio-dia do dia seguinte) – reprise que causou um verdadeiro frisson entre os usuários de redes sociais (como o Twitter), saudosos da novela que viram no passado ou curiosos pela obra famosa que não puderam acompanhar antes. E, novamente, a entre 18/06/2018 e 09/02/2019, às 15h30 e, no horário alternativo, à 0h30.
Em 2014, chegou ao mercado o DVD de Vale Tudo, lançado pela Globo Marcas.
Elenco :
REGINA DUARTE – Raquel Acioli
ANTÔNIO FAGUNDES – Ivan Meireles
GLÓRIA PIRES – Maria de Fátima Acioli
CARLOS ALBERTO RICCELLI – César Ribeiro
BEATRIZ SEGALL – Odete Roitman (Odete de Almeida Roitman)
RENATA SORRAH – Heleninha (Helena de Almeida Roitman)
REGINALDO FARIA – Marco Aurélio Catanhede
CÁSSIO GABUS MENDES – Afonso de Almeida Roitman
LÍDIA BRONDI – Solange Duprat
NATHÁLIA TIMBERG – Celina Junqueira
ADRIANO REYS – Renato Filipelli
CÁSSIA KISS – Leila
CLÁUDIO CORRÊA E CASTRO – Bartolomeu Meireles
PEDRO PAULO RANGEL – Poliana (Aldálio Candeias)
LÍLIA CABRAL – Aldeíde Candeias
ROSANE GOFMAN – Consuelo
SÉRGIO MAMBERTI – Eugênio
MARCOS PALMEIRA – Mário Sérgio
OTÁVIO MÜLLER – Sardinha
CRISTINA PROCHASKA – Laís
DENIS CARVALHO – William Nascimento McPherson
FÁBIO VILA VERDE – Thiago Roitman Catanhede
FLÁVIA MONTEIRO – Nanda
MARCELLO NOVAES – André
STEPAN NERCESSIAN – Jarbas
CRISTINA GALVÃO – Íris
ÍRIS BRUZZI – Eunice
MARIA GLADYS – Lucimar
JOÃO CAMARGO – Freitas
PAULO REIS – Olavo Jardim
LOURDES MAYER – Dona Pequenina
PAULA LAVIGNE – Daniela
JAIRO LOURENÇO – Luciano
FERNANDO ALMEIDA – Gildo
ZENI PEREIRA – Zezé (Maria José)
DANTON MELLO – Bruno
PAULO PORTO – Queiroz
NARA DE ABREU – Deise
ANA LÚCIA MONTEIRO – Marina
RITA MALOT – Marieta
MARTHA LINHARES – Suzana
RENATA CASTRO BARBOSA – Flávia
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019
Obelisco do Piques, São Paulo, Brasil
Obelisco do Piques, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
É o
monumento mais antigo da cidade, erguido em 1814 por
“Vicentinho”, vulgo Vicente
Gomes Pereira, um mestre de obras português. No mesmo ano foi construído
o Chafariz do Piques,
localizado ao fundo do mesmo.
A obra foi construída sob a orientação do
marechal Daniel Pedro Müller,
engenheiro militar, e inicialmente ficava dentro da água que ali formava uma
bacia. Foi encomendada pelo Conde de Palma em homenagem ao governador Bernardo José de Lorena. O
marechal também conduziu a construção do chafariz do Pique e da antiga ponte do
Carmo.
A obra esculpida em rocha de granito
cinza-claro foi restaurada no ano de 2005 por
uma empresa privada
Largo da Memória e Obelisco do Piques, 1860, São Paulo, Brasil
Largo da Memória e Obelisco do Piques, 1860, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
Para contar sua história voltaremos na São Paulo de 1814, quando o governo determinou a construção de uma nova estrada para facilitar a comunicação do interior paulista com a cidade. Tão logo foi incumbido desta função, o engenheiro Daniel Pedro Müller propôs não apenas a criação da estrada, mas também a construção de um largo no alargamento das ladeiras da Palha e do Piques.
A ideia era que juntamente deste largo, também fosse construído um chafariz (algo comum na São Paulo daquela época) e de um obelisco dedicado “a memória do zelo do bem público”. Enquanto o monumento seria um marco para a cidade, por ser o primeiro da cidade, o chafariz serviria não apenas para fornecer água aos moradores no entorno do largo, mas também para que burros e cavalos ao adentrar a cidade pela nova estrada pudessem se reestabelecer da longa jornada.
Uma vez aprovado, Müller contratou para erguer o monumento o pedreiro português Vicente Gomes Pereira. Para esculpir o obelisco, Mestre Vicentinho, como era mais conhecido, optou por pedra de cantaria que é a mais usada para a construção de sólidos geométricos, como os populares paralelepípedos.
Já á agua para o chafariz viria do Tanque Reúno, na atual Praça da Bandeira, segundo a Prefeitura de São Paulo. Entretanto, segundo o extinto jornal Correio Paulistano, em 1872 o local era abastecido pelo Tanque do Bexiga, que existe até hoje na rua 13 de Maio.
Durante todo o século 19 é possível encontrar reclamações sobre o funcionamento do chafariz, especialmente em relação aos encanamentos que eram precários e alvos de constante manutenção. Mesmo assim, atendeu a população paulistana e viajantes com seus animais por décadas, até que em 1872 o chafariz foi removido do local e transferido para as proximidades da Estação da Luz.
O fato se devia ao sistema ferroviário mudar o eixo de transporte da cidade. Diminui-se gradativamente o transporte com burros e cavalos à medida que os trens passam a ser os protagonistas do transporte tanto vindo do interior como do litoral. Sem o chafariz, o Largo da Memória perde bastante de sua relevância.
Este ostracismo só seria encerrado no século 20, precisamente em 1917, quando para as comemorações do 1° Centenário da Independência do Brasil, decidiu-se fazer um concurso público para a construção de um novo chafariz e a reforma do Largo da Memória.
Seriam vencedores deste concurso o arquiteto Victor Dubugras e o desenhista José Wasth Rodrigues, cujo projeto de reforma trazia um novo chafariz com pórtico de azulejos onde a ilustração exibia uma cena do antigo largo. Além disso, completavam a obra uma nova escadaria feita em pedra e azulejos decorativos azuis com o brasão da cidade, que também foi escolhido por concurso público, que foi vencido também por Wasth Rodrigues em conjunto com o poeta Guilherme de Almeida, no mesmo ano de 1917.
As obras teriam início em 1919 e seriam concluídas a tempo da celebração do centenário da Independência do Brasil, em 1922. É importante salientar que os estilo arquitetônico do Largo da Memória e seu chafariz é o mesmo encontrado em muitas das obras que foram feitas no Caminho do Mar pelo mesmo Dubugras.
Reinaugurado com bastante pompa o marco voltou a ser um dos principais monumentos da cidade do lado do chamado “centro novo” por muitos anos, até que em meados dos anos 80 iniciou-se um processo de degradação que acompanhou o monumento até os dias atuais.
Por anos a fio o local foi considerado um dos pontos mais perigosos e abandonados da região. Apesar de ser um ponto turístico importante da capital paulista, estava constantemente imundo, cheirando a urina e ocupado por toda a sorte de malandros, além de servir à noite de abrigo para moradores de rua.
Em 2014, ano que no dia 18 de outubro o monumento celebrou 200 anos de existência, a Prefeitura do Município de São Paulo, através de seu Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) decidiu restaurar a obra. Segundo Mariana Falqueiro, chefe da Seção de Monumentos do DPH, a ideia da restauração abrange desde a reativação do chafariz através da captação de águas fluviais até a restauração dos azulejos de 1922, já que muitos deles estão pichados.
Largo da Memória, São Paulo, Brasil
Largo da Memória, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
O Largo da Memória é um logradouro histórico localizado no centro da cidade de São Paulo, no Brasil, no início da Rua 7 de Abril(antiga Rua da Palha). Considerado um símbolo e referência do processo de urbanização da capital do Estado de São Paulo, é delimitado por um "triângulo" criado não intencionalmente (ou seja, de modo natural) que, posteriormente, em função da necessidade de urbanização, se tornou as ruas Coronel Xavier de Toledo (anteriormente conhecida como Rua do Paredão) e Quirino de Andrade (anteriormente Ladeira do Piques) e a Ladeira da Memória, próximo ao Vale do Anhangabaú. Criado no fim do período colonial, o largo abriga o mais antigo monumento de São Paulo, o Obelisco do Piques, inaugurado em 1814.
O local já passou por várias mudanças, teve a colocação de muros, escadarias e um pórtico.
O largo foi construído no local antes conhecido como "Piques", um barranco de forma triangular que servia de entrada e saída da cidade de São Paulo para os tropeiros que transportavam mercadorias. Na época em que foi construído o largo, eram utilizados animais para transporte de cargas e mercadorias, e seus donos costumavam fazer uma parada para encher seus recipientes de água na bica ali presente e para seus animais se revigorarem após longas jornadas, além, também, de ali ser um local para reunião dos moradores. Em 1814, o governo provisório da Capitania de São Paulo constituído pelo bispo D. Mateus de Abreu, o ouvidor D. Nuno Eugênio de Lossio e pelo chefe de esquadra Miguel José de Oliveira Pinto, triunvirato que governou entre 1813 e 1814, encarregou o engenheiro militar Daniel Pedro Müller da construção da Estrada dos Piques, que facilitaria a comunicação entre São Paulo e as cidades do interior, de um muro de arrimo e de um chafariz novo (em formato de casinha acachapada). O patrimônio, que ficou conhecido como Largo da Memória, era localizado na fronteira com a "Cidade Nova", que ficava do lado oposto ao Ribeirão Anhangabaú.
A partir do alargamento das ladeiras do Pique e da Palha, Müller construiu o largo e o chafariz e com a sobra de material de outra obra solicitou ao mestre pedreiro Vicente Gomes Pereira (Mestre Vicentinho) a construção do obelisco "à memória do zelo do bem público" demonstrado pelo governo. O obelisco feito em pedra de cantaria e se localizava dentro de uma bacia de alvenaria com grades de ferro. A obra seria a celebração do encerramento de um dos governos interinos do bispo Dom Mateus ou do fim de uma seca que castigara a região naquele ano. A Pirâmide do Piques é considerada o primeiro monumento de São Paulo ou, como definiu Roberto Pompeu de Toledo em seu livro A Capital da Solidão, a "primeira obra inútil", cuja "função não dizia respeito a nenhum aspecto prático da vida". "A pirâmide era sinal de que São Paulo deixava de ter a função de mero posto avançado para a conversão dos índios", escreveu o autor.
Durante o século XIX, foi uma das "portas de entrada" da cidade, por situar-se no encontro entre os trajetos com destino a Sorocaba, Pinheiros, Anastácio e Água Fria, e um importante ponto de encontro dos moradores da província, viajantes e escravos, atraídos pela água potável fornecida pelo chafariz do largo. A água era captada no Tanque Reúno, próximo à localização da atual Praça da Bandeira, passava pelo Piques e seguia até chegar ao lago central do Jardim Público, atual Parque da Luz.
No final daquele século ganhou uma figueira, Ficus organensis Miquel, que em 1986 era considerada "a árvore mais conhecida de São Paulo". Em 1919, Washington Luís, por ocasião das comemorações do centenário da independência do Brasil, contratou Victor Dubugras e José Wasth Rodrigues para projetar a reforma do Largo que lhe deu as feições atuais. Com estilo neocolonial, o projeto valorizou o obelisco, introduziu um novo chafariz (em um tanque também chamado de "vasca"), um pórtico com azulejos, escadarias e bancos circulares chamados também de êxedras. Os azulejos da obra com o brasão da cidade (escolhido em concurso público vencido por Guilherme de Almeida e Wasth Rodrigues, em 1917) foram produzidos na Inglaterra e pintados e requeimados no Brasil na primeira fábrica brasileira a produzir faiança fina, um tipo de cerâmica utilizado em louças como xícaras, pratos e outros. Localizada em Santa Catarina, a fábrica era de propriedade de Ranzini, um ceramista italiano. O largo foi protegido pelo município no começo da década de 1970 (Z8-200-083). Além disso, o projeto paisagístico manteve a figueira no mesmo lugar. A figueira só teve alguns galhos cortados na construção da Estação Anhangabaú, na década de 1970, alguns metros abaixo. A construção dos acessos à estação do metrô e a instalação do terminal de ônibus na Praça da Bandeira, no final da década de 1960, alterou significativamente o entorno do Largo.
Em 1872, o chafariz foi retirado do Largo da Memória. Nesta época, o papel de "porta de entrada" da cidade, que até então era papel da estrada de ferro, foi transferido para a Estação da Luz; as antigas tropas foram perdendo a sua importância, até serem totalmente substituídas pelo trem.
Devido à importância cultural, histórica e arquitetônica desse logradouro para formação da cidade o Largo da Memória foi tombado como patrimônio histórico estadual (Condephaat) em 1975 e municipal (Conpresp) em 1991.
Em 13 de dezembro de 2005, a Prefeitura de São Paulo entregou à cidade o restauro do obelisco do Largo da Memória. As obras foram patrocinadas pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), em parceria com o Departamento do Patrimônio Histórico do Município (DPH), ligado à Secretaria Municipal de Cultura.
As características originais projetadas pelo engenheiro Daniel Pedro Müller foram preservadas e restauradas. A CBA, do Grupo Votorantim, patrocinou a restauração e a conservação do obelisco, e foi responsável pela conservação nos dois anos seguintes (2006 e 2007).
Segundo a Prefeitura de São Paulo, "o projeto de restauração [fazia] parte de uma parceria entre a CBA e o DPH, por intermédio do programa 'Adote uma Obra Artística', da Secretaria Municipal de Cultura, da Federação de Amigos de Museus do Brasil (Fambra) e da Ação Local - Ladeira da Memória, que [buscava] o apoio da iniciativa privada para a conservação e recuperação física de obras de arte e monumentos de São Paulo".
Devido a falta de cuidado com a área, o local é considerado muito perigoso e encontra-se abandonado, mesmo sendo um dos pontos turísticos mais importantes de São Paulo. Atualmente, o local serve de abrigo para vários moradores de rua. O cheiro de urina e a sujeira são constantes nesta área.
Em 18 de outubro de 2014, o obelisco do Largo da Memória completou duzentos anos de história. A data foi comemorada com um evento organizado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, que incluía 56 apresentações de dança, teatro, música, circo, estátuas vivas e intervenção urbana criadas por duzentos artistas. A programação teve início em 13 de outubro e se estendeu até 2 de novembro. Mustache e os Apaches, Cabaré Três Vinténs, Chaiss na Mala, O Bardo e o Banjo e Emblues Beer Band foram algumas das atrações do evento.
O bicentenário também foi marcado por um projeto de limpeza e proteção química do monumento, por meio de um termo de doação de serviços com as empresas NanoBr, Evonik, Rental Master e Inova. O projeto de restauração do conjunto arquitetônico e de reativação da fonte do monumento foi elaborado pelo escritório Gesto Arquitetura e incluído como prioridade no Programa Adote uma Obra Artística, do Departamento do Patrimônio Histórico da Prefeitura de São Paulo. De acordo com a diretora do Departamento do Patrimônio Histórico, Nádia Somekh, a restauração da obra feita em 2005 se perdeu por falta de conservação.
Largo da Memória, 1847, São Paulo, Brasil - Miguel Dutra
A Pirâmide e o Chafariz do Pique em Aquarela de Miguel Dutra, 1847. O Obelisco da Memória é o Mais Antigo Monumento da Cidade de São Paulo.
São Paulo - SP
Aquarela
O Largo da Memória
abriga o monumento mais antigo de São Paulo, o Obelisco da Memória, ou como era
chamado antigamente, Obelisco do Piques. O monumento foi erguido em 1814 a
pedido do governo provisório de São Paulo constituído pelo bispo D. Mateus de
Abreu, o Ouvidor D. Nuno Eugênio de Lossio e pelo chefe-de-esquadra Miguel José
de Oliveira Pinto. O triunvirato, que governou entre 1813 e 1814, encomendou um
chafariz e um obelisco “à memória do zelo do bem público” para que suas obras
fossem lembradas. Entre as obras realizadas naquele período estava a construção
da estrada do Piques e o alargamento daquele largo.
O local onde está
a Ladeira da Memória sempre teve importância para a cidade. Lá os tropeiros que
seguiam rumo a Santo Amaro ou sentido Pinheiros paravam seus cavalos para que
bebessem água no Tanque Reuno. Desde a inauguração, o largo sofreu várias
mudanças. Uma delas foi a colocação de muros ao redor do largo. Em 1919, o
prefeito Washington Luis determinou a reformulação do local. A cargo do
engenheiro Victor Dubugras, o largo ganhou escadarias e um pórtico. Na parde de
azulejos acima do pórtico há uma cena do antigo largo do Piques. A obra foi
inaugurada no começo de 1921.
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