quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Largo da Memória e Obelisco do Piques, 1860, São Paulo, Brasil


Largo da Memória e Obelisco do Piques, 1860, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia

Para contar sua história voltaremos na São Paulo de 1814, quando o governo determinou a construção de uma nova estrada para facilitar a comunicação do interior paulista com a cidade. Tão logo foi incumbido desta função, o engenheiro Daniel Pedro Müller propôs não apenas a criação da estrada, mas também a construção de um largo no alargamento das ladeiras da Palha e do Piques.
A ideia era que juntamente deste largo, também fosse construído um chafariz (algo comum na São Paulo daquela época) e de um obelisco dedicado “a memória do zelo do bem público”. Enquanto o monumento seria um marco para a cidade, por ser o primeiro da cidade, o chafariz serviria não apenas para fornecer água aos moradores no entorno do largo, mas também para que burros e cavalos ao adentrar a cidade pela nova estrada pudessem se reestabelecer da longa jornada.
Uma vez aprovado, Müller contratou para erguer o monumento o pedreiro português Vicente Gomes Pereira. Para esculpir o obelisco, Mestre Vicentinho, como era mais conhecido, optou por pedra de cantaria que é a mais usada para a construção de sólidos geométricos, como os populares paralelepípedos.
Já á agua para o chafariz viria do Tanque Reúno, na atual Praça da Bandeira, segundo a Prefeitura de São Paulo. Entretanto, segundo o extinto jornal Correio Paulistano, em 1872 o local era abastecido pelo Tanque do Bexiga, que existe até hoje na rua 13 de Maio.
Durante todo o século 19 é possível encontrar reclamações sobre o funcionamento do chafariz, especialmente em relação aos encanamentos que eram precários e alvos de constante manutenção. Mesmo assim, atendeu a população paulistana e viajantes com seus animais por décadas, até que em 1872 o chafariz foi removido do local e transferido para as proximidades da Estação da Luz.
O fato se devia ao sistema ferroviário mudar o eixo de transporte da cidade. Diminui-se gradativamente o transporte com burros e cavalos à medida que os trens passam a ser os protagonistas do transporte tanto vindo do interior como do litoral. Sem o chafariz, o Largo da Memória perde bastante de sua relevância.
Este ostracismo só seria encerrado no século 20, precisamente em 1917, quando para as comemorações do 1° Centenário da Independência do Brasil, decidiu-se fazer um concurso público para a construção de um novo chafariz e a reforma do Largo da Memória.
Seriam vencedores deste concurso o arquiteto Victor Dubugras e o desenhista José Wasth Rodrigues, cujo projeto de reforma trazia um novo chafariz com pórtico de azulejos onde a ilustração exibia uma cena do antigo largo. Além disso, completavam a obra uma nova escadaria feita em pedra e azulejos decorativos azuis com o brasão da cidade, que também foi escolhido por concurso público, que foi vencido também por Wasth Rodrigues em conjunto com o poeta Guilherme de Almeida, no mesmo ano de 1917.
As obras teriam início em 1919 e seriam concluídas a tempo da celebração do centenário da Independência do Brasil, em 1922. É importante salientar que os estilo arquitetônico do Largo da Memória e seu chafariz é o mesmo encontrado em muitas das obras que foram feitas no Caminho do Mar pelo mesmo Dubugras.
Reinaugurado com bastante pompa o marco voltou a ser um dos principais monumentos da cidade do lado do chamado “centro novo” por muitos anos, até que em meados dos anos 80 iniciou-se um processo de degradação que acompanhou o monumento até os dias atuais.
Por anos a fio o local foi considerado um dos pontos mais perigosos e abandonados da região. Apesar de ser um ponto turístico importante da capital paulista, estava constantemente imundo, cheirando a urina e ocupado por toda a sorte de malandros, além de servir à noite de abrigo para moradores de rua.
Em 2014, ano que no dia 18 de outubro o monumento celebrou 200 anos de existência, a Prefeitura do Município de São Paulo, através de seu Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) decidiu restaurar a obra. Segundo Mariana Falqueiro, chefe da Seção de Monumentos do DPH, a ideia da restauração abrange desde a reativação do chafariz através da captação de águas fluviais até a restauração dos azulejos de 1922, já que muitos deles estão pichados.



Largo da Memória, Século XIX



Projeto Vencedor Para o Obelisco da Memória



Largo da Memória, Década de 30


Largo da Memória

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