sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Novela Vale Tudo, 1988-1989, Rede Globo, Brasil


Novela Vale Tudo, 1988-1989, Rede Globo, Brasil
204 Capítulos
Novela


A jovem Maria de Fátima não acredita na honestidade. Sem hesitar, ela vende a casa da família, deixando a mãe desamparada, e muda-se para o Rio de Janeiro com o intuito de tentar ganhar a vida como modelo ou com um casamento rico. Envolve-se com César, um mau-caráter, e, para alcançar os seus objetivos, utiliza-se dos meios mais sórdidos. Conhece o milionário Afonso Roitman e, depois de muitas armações, separa-o de sua namorada, Solange, para casar-se com ele.
Raquel, a mãe de Fátima, é o seu oposto: a honestidade em pessoa. Para ela, somente o trabalho é capaz de dar uma situação digna a uma pessoa. Quando foi abandonada pelo marido com uma filha para criar, não hesitou em enfrentar o dia-a-dia. Após ter sido enganada pela filha, Raquel vai atrás dela e estabelece-se no Rio. Conhece Ivan, o homem por quem se apaixona, e, com muita luta, de vendedora de sanduíche na praia, chega a dona de uma rede de restaurantes.
A história tem uma reviravolta quando Raquel encontra uma mala com oitocentos mil dólares, perdida pelo desonesto executivo Marco Aurélio, e não aceita ficar com o dinheiro, como sugeriu Ivan. A mala desaparece através de um plano de Fátima e Raquel acredita que foi Ivan quem a tomou. Os dois acabam rompendo e Ivan casa-se com Heleninha, uma artista plástica frágil e alcoólatra, filha da toda poderosa Odete Roitman, a maior culpada por seus problemas psicológicos.
Odete mantem um caso amoroso com César, comparsa e amante de Fátima – que, à essa altura, tornou-se sua nora, ao casar-se com seu filho Afonso. Odete é uma mulher rica e arrogante, capaz de tudo para defender os seus interesses. Culmina assassinada, ao discutir com Marco Aurélio, executivo de sua empresa, quando descobriu que foi ele quem desviou os oitocentos mil dólares de seu patrimônio. Enquanto Marco Aurélio foge com o dinheiro, a polícia está no encalço do assassino de Odete Roitman e Fátima e César armam um novo golpe, fora do país.
Um dos maiores sucessos da Teledramaturgia nacional. Com uma trama contagiante, o trio de autores conseguiu aliar as nuances dos bons folhetins com uma crítica social ao país a partir de uma pergunta comum a milhões de brasileiros: “Vale a pena ser honesto no Brasil de hoje?”. O ano era 1988 e se refletiam como nunca os nossos principais problemas políticos. Ismael Fernandes em “Memória da Telenovela Brasileira”.
Vale Tudo deu início à trilogia de Gilberto Braga sobre novelas em que o autor se propôs a discutir a ética e moral do brasileiro. Gilberto deu prosseguimento à temática em O Dono do Mundo (1991) e Pátria Minha (1994-1995).
Os personagens Odete Roitman (Beatriz Segall), Maria de Fátima (Glória Pires), César (Carlos Alberto Riccelli) e Marco Aurélio (Reginaldo Faria) retratavam o que havia de ruim e corrupto no país, enquanto Raquel (Regina Duarte) e Ivan (Antônio Fagundes) simbolizavam a vida de milhões de brasileiros.
Vale Tudo foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a melhor novela de 1988. Glória Pires foi premiada como a melhor atriz, Sérgio Mamberti o melhor ator coadjuvante, e Paulo Reis o ator revelação do ano.
Também foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor novela do ano e melhor atriz para Beatriz Segall.
A autoria de Vale Tudo é normalmente atribuída só a Gilberto Braga. Mas a trama também foi assinada por Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. O próprio Gilberto faz questão de salientar a importância dessa parceria. Aguinaldo Silva, por exemplo, era o responsável por fazer as escaletas (estruturas do roteiro). Site Memória Globo.
O título originalmente pensado para a novela era Pátria Amada, o que se tornou inviável por já existir como nome de um filme de Tizuka Yamasaki, de 1985: Patriamada.
Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo, Gilberto Braga narrou como criou a trama sobre honestidade:
“Vale Tudo surgiu de uma discussão familiar. Eu estava jantando com meus parentes mais próximos e alguém chamou meu padrinho de medíocre e babaca. O meu padrinho (…) era delegado de polícia e sempre foi conhecido como um policial não-corrupto.
Disseram: ‘Ah, ele foi delegado em Foz do Iguaçu e Belém e poderia estar rico. Todo mundo que foi delegado nestes lugares tem apartamento na Vieira Souto, e ele não tem nada, é pobre’.
Eu questionei: ‘Mas que critério é esse? Isso não é ser babaca. Ele tem uma vida digna. Tenho muito orgulho de ele não ter se corrompido’.
Vale Tudo nasceu dessa discussão, da figura de meu padrinho e da distorção – presente em praticamente todo o país – dos que acham que quem não é corrupto é babaca (…) A discussão já estava no primeiro capítulo, numa cena de Maria de Fátima, personagem de Gloria Pires, discutindo com o avô.”
Outra inspiração para Vale Tudo foi o filme Almas em Suplício (Mildred Pearce, dirigido por Michael Curtiz em 1945, com Joan Crawford e Ann Blyth), de onde se extraiu a trama da mãe simplória (Raquel) que enriquece mas tem o desprezo da filha (Fátima). Na primeira parte da novela, o autor referencia o filme quando Raquel chama uma senhora de Dona Mildred.
Daniel Filho mencionou em seu livro O Circo Eletrônico:
“Na primeira sinopse, a filha vendia a casa por volta do capítulo 40 ou 50. Lógico que outras histórias paralelas estariam acontecendo. Mas o tema central não deslanchava. Argumentei: ‘Se a filha não vender a casa no primeiro capítulo e a mãe ficar na miséria, a novela não atingirá seu objetivo’. Ou seja, não deixaria claro seu tema. Denis Carvalho – o diretor – concorda. A presença de Aguinaldo e o jeito conciliador de Leonor deixaram Gilberto seguro para adiantar a novela em 40 capítulos.”
O sucesso fez a novela ser espichada e obrigou os autores a mudarem o rumo de algumas tramas. Foi aí que surgiu o “quem matou Odete Roitman?”, que, inicialmente, não estava previsto. Na sinopse original, Fátima (Glória Pires) mataria Marco Aurélio (Reginaldo Faria) e Raquel (Regina Duarte) se entregaria à polícia no lugar da filha. Essa trama acabou não acontecendo. Em substituição, Odete foi morta e o mistério de seu assassino rendeu história para mais algumas semanas de novela. (Heloísa Eterna, jornal O Dia, 11/12/1988, TV Pesquisa PUC-Rio)
O assassinato de Odete, morta com três tiros à queima-roupa, ocorreu no capítulo 193, no ar na véspera do Natal de 1988. O mistério da identidade do assassino durou apenas treze dias, mas dominou todas as conversas pelo país, tornando-se alvo de apostas, rifas e sorteios. O Brasil parou diante da TV – literalmente – na noite do último capítulo da novela (em 06/01/1989) para conhecer o criminoso.
Para segurar o mistério e não deixar vazar a surpresa, a revelação do assassino foi gravada no dia em que o último capítulo foi ao ar, poucas horas antes de sua exibição. Para despistar, os autores escreveram cinco versões diferentes, com cinco diferentes assassinos. Os atores receberam os roteiros, mas não sabiam qual seria gravado. Até o momento em que o diretor Denis Carvalho dispensou o elenco anunciando que era Leila, personagem de Cássia Kiss, a assassina. A primeira reação da “morta” Odete – Beatriz Segall – foi dar-lhe os parabéns. Razão do assassinato: Leila entrou na sala desabaladamente e disparou três tiros contra a pessoa atrás da porta de vidro, sem ao menos identificá-la. Ela pensava que quem estava ali com seu marido Marco Aurélio (Reginaldo Faria) era a amante dele, Fátima (Glória Pires). E, assim, Leila matou Odete por engano.
Nos outros quatro finais escritos, os assassinos eram César (Carlos Alberto Riccelli), Olavo (Paulo Reis), Bruno (Danton Mello) e Queiroz (Paulo Porto):
– César assassina a ex-amante por vingança. Odete não remeteu os dólares prometidos para uma conta na Suíça em seu nome, eles discutem e César atira.
– Olavo tenta chantagear a empresária, eles discutem, brigam, Odete pega a arma, que acaba disparando: a vilã morre acidentalmente.
– Leila e o filho Bruno vão com Marco Aurélio até o apartamento de Odete, mas ficam esperando no carro. Marco Aurélio esquece sua pasta no carro, de onde Bruno pega a arma. O garoto sobe para entregá-la e assiste à discussão de Marco Aurélio e Odete, que fala em denunciá-lo à polícia. Defendendo o padrasto, Bruno aponta para Odete, fecha os olhos e atira.
– Queiroz chega ao apartamento de Odete para salvá-la. Ele interrompe a discussão de Odete e Marco Aurélio com uma inesperada declaração de amor a Odete, que debocha agressivamente dele, a ponto de fazê-lo perder o controle e atirar, enquanto Marco Aurélio dispara contra ele. (Deborah Dumar, jornal O Globo, 07/01/1989, TV Pesquisa PUC-Rio)
Curiosamente, Beatriz Segall não foi a primeira atriz lembrada para o papel de Odete Roitman: Gilberto Braga pensou antes em Tônia Carrero e Odete Lara.
Beatriz Segall ficou tão marcada por sua personagem que é impossível não relacionar a atriz à figura de Odete Roitman, pelo fantasma da vilã ter vivido à sua sombra pelo resto de sua vida. Após a conclusão de Vale Tudo, Beatriz por um bom tempo se negou a falar de Odete. E só aceitava interpretar papeis de mulheres bem diferentes da vilã, na tentativa de afastar o estigma de “atriz de uma personagem só”. Em entrevista ao site da Veja, em 2011, a atriz se queixou:
“Isso é muito chato, fica repetitivo, chega a um ponto que você não aguenta mais. Pô, eu sou muito mais que Odete Roitman. Já fiz tanta coisa, os papéis mais diversos. Eu sou uma atriz de teatro, não sou uma atriz de um papel só.”
No entanto, a vilã tornou-se um ícone da TV brasileira e uma referência de interpretação para este tipo de personagem. Ao projeto Memória Globo, a atriz declarou:
“Sempre me encabulo quando tenho que falar da Odete Roitman, fico com medo de parecer pretensiosa, e tenho certeza de que não sou, mas acho que ninguém na televisão brasileira recebeu um presente tão grande como esse.”
O assassinato de Odete Roitman foi exibido um dia depois do previsto, à revelia dos autores. De acordo com matéria do Jornal da Tarde (de 24/12/1988), no cronograma da novela, a polícia acharia o corpo da vilã no dia 23 de dezembro. Entretanto, por 800 milhões de cruzados (valores na moeda da época), a Globo deixou Odete viva por mais 24 horas por causa de um anúncio de meia página do CODISEG (Comitê de Divulgação Institucional do Seguro) publicado nos jornais O Globo e Jornal do Brasil, com uma foto de Beatriz Segall (o nome Odete Roitman não era citado) e a mensagem “Faça seguro. A gente nunca sabe o dia de amanhã.” E a emissora nem avisou os autores Gilberto, Aguinaldo e Leonor, pegos de surpresa, já que há dias o assassinato vinha sendo anunciado para o dia 23 de dezembro.
Nove anos mais tarde, Beatriz Segall e Glória Pires se reencontraram no remake de Anjo Mau (1997). A primeira só aceitou entrar na novela se fosse para viver uma personagem boazinha. Na cena de Anjo Mau em que Clô (Beatriz) e Nice (Glória) se conhecem, fazendo uma alusão às suas personagens em Vale Tudo, a primeira diz achar conhecer a outra de algum lugar.
Glória Pires e Regina Duarte só voltaram a atuar juntas em uma novela catorze anos depois: Desejos de Mulher (2002), desta vez vivendo irmãs.
A personagem de Regina Duarte foi criticada por ser íntegra e honesta demais, muito certinha, logo, fora da realidade. Gilberto Braga relatou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”:
“Achavam que ela deveria errar também. A própria Regina Duarte tinha grilo com isso. Ela queria errar – estava com ciúme da Maria de Fátima. Todo mundo pedia para a Raquel ter algum deslize. Aguinaldo, Leonor e eu nos reunimos e conversamos seriamente sobre o assunto. Nós três achávamos que a Raquel não podia ter deslizes: se ela tivesse, nós não teríamos novela. Deixamos o público reclamar até o final, porque Vale Tudo se baseava nessa oposição: mãe honesta e filha desonesta.”
Além da questão da ética e honestidade, Vale Tudo discutiu o drama do alcoolismo, por meio de Heleninha, personagem que marcou a carreira de Renata Sorrah e pela qual a atriz é lembrada até hoje. E mostrou, pela primeira vez de forma explícita, a homossexualidade feminina em uma novela, enfrentando, por isso, alguns problemas com a censura.
Vale Tudo foi a última novela a ser censurada pela DCDP, a Divisão de Censura de Diversões Públicas, órgão ligado ao Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, extinto com a aprovação da Constituição de 1988 (em setembro deste ano, quando a novela estava no ar). Vários diálogos entre as personagens Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina Prochaska) tiveram que ser reescritos depois que foi vetada a cena em que as duas contavam a Heleninha (Renata Sorrah) sobre os preconceitos de que eram vítimas por causa de seu relacionamento homossexual. Os censores ficaram de olho no desenvolver da trama das lésbicas e diálogos inteiros foram veementemente vetados.
Diálogos corriqueiros que usavam expressões de baixo calão também era censurados. Nas falas de Marco Aurélio (Reginaldo Faria) e de César (Carlos Alberto Riccelli), dois personagens amorais, os autores sempre colocavam a interjeição “porra!” no início ou fim das frases. A censura cortava, apesar da linguagem vulgar ter a intenção de sublinhar o mau caráter de ambos. “Puta”, “piranha” e “bicha” também não eram toleradas. Os autores então, por pura provocação, apelaram para a cacofonia para driblar a tesoura. Não adiantou. Em um dos laudos, os censores exigem corte das falas de Poliana (Pedro Paulo Rangel) em que ele diz: “Pô… Raquel… Pô… Raquel… Pô… Raciocina…” (James Cimino em uma série de reportagens sobre a censura às novelas durante a Ditadura Militar, para o UOL, 15/01/2013)
Já sobre a morte da personagem Cecília, Gilberto Braga esclareceu em entrevista que não foi por imposição da censura:
“Em Vale Tudo há um folclore. É o caso das lésbicas. A história que eu contei é exatamente igual à que queria contar. Não houve censura. Não houve alterações. Quando criei a personagem de Lala [Deheinzelin], sabia que ela morreria. Isso eu sempre planejei.”
Vale Tudo foi comercializada para mais de 30 países. Exibida em Cuba em 1993, a novela fez um enorme sucesso. Desde Escrava Isaura, produzida pela Globo em 1976 e exibida na ilha em 1985, uma novela não mexia tanto com os cubanos (Folha de São Paulo, 12/07/1993, TV Pesquisa PUC-Rio)
Em 1995, o governo de Fidel Castro resolveu legalizar uma rede de restaurantes privados que funcionava clandestinamente desde 1993, em um arrojado gesto de abrir mão da exploração exclusiva do setor. Esses restaurantes, geridos em âmbito familiar, tinham o nome de “paladares”, assim batizados por causa do nome da empresa de alimentos de Raquel na novela (Paladar).
Muitas foram as cenas marcantes de Vale Tudo que entraram para a história de nossa TV:
– o assassinato de Odete (capítulo 193) e, depois, a elucidação do crime (último capítulo);
– a primeira cena de Odete, em que ela conversa ao telefone com Celina, e só aparecem closes de sua boca e olhos (capítulo 28);
– os discursos de Odete, conservadores, reacionários ou esculhambando o Brasil (como a cena do jantar no capítulo 34);
– a discussão de Fátima com o avô sobre honestidade no Brasil (no capitulo de estreia);
– os tapas na cara que Fátima levou, de vários personagens, ao longo da trama;
– Fátima se jogando do alto da escadaria do Teatro Municipal, para provocar um aborto (capítulo 108);
– o flagrante de adultério de Afonso em Fátima e César: “eu não transo violência!” (capítulo 159);
– Fátima casando com um príncipe italiano (último capítulo);
– Raquel vendendo sanduíche na praia quando se depara com Fátima (capítulo 14);
– Raquel rasgando o vestido de casamento de Fátima (capítulo 80);
– os porres de Heleninha, em especial aquele em que ela dança bêbada em uma boate e pede um “mambo caliente” (capítulo 183);
– Celina impedindo o refeitório de servir maionese estragada (capítulo 132);
– Marco Aurélio fugindo do país em um jatinho e se despedindo com uma “banana”, o gesto com os braços (último capítulo).
Assim como na novela Louco Amor (1983), em que o autor criou uma badalada revista para uma das ambientações da trama – a Stampa -, em Vale Tudo, a fictícia revista Tomorrow englobava um importante núcleo da novela. A Stampa, inclusive, apareceu em Vale Tudo, já que o vilão e ex-modelo César Ribeiro (Carlos Alberto Riccelli) foi capa de uma edição mostrada em algumas cenas. Gilberto Braga voltou com uma revista fictícia em Celebridade (2003-2004): a Fama.
A personagem Solange Duprat, vivida por Lídia Brondi, produtora de moda da Tomorrow, era a mais arrojada e antenada da novela, sempre com os figurinos mais modernos. O corte de cabelo da atriz fez sucesso: de inspiração oriental, em voga na época, era liso, ruivo avermelhado escuro, com uma franja reta.
No acerto de contas entre Solange e Fátima, em que a primeira esbofeteia a segunda, a personagem de Lídia Brondi usa uma frase de Abraham Lincoln que ficou famosa na novela: “A gente pode enganar todo mundo por quase todo tempo. Quase todo mundo por todo tempo. Mas não pode enganar todo mundo por todo tempo!”
A batalhadora Raquel, vivida por Regina Duarte, emplacou dois bordões que caíram na boca do povo: “Te mete!”, dito como uma interjeição, e a frase de efeito “Sangue de Jesus tem poder!”
A indústria de alimentos Nestlé, por meio de seu caldo de galinha Maggi, lançou, em pleno Natal de 1988, um concurso para premiar quem adivinhasse a identidade do assassino de Odete Roitman. O prêmio era de 10 milhões de cruzados (valores na moeda da época), um de 5 milhões e cinco de 1 milhão. Nos intervalos da programação da Globo, o apresentador César Filho anunciava a promoção juntamente com a galinha azul animada (mascote da Maggi). (Deborah Dumar, jornal O Globo, 07/01/1989, TV Pesquisa PUC-Rio)
De acordo com o vídeo do sorteio da Nestlé (disponível no YouTube), apresentado por César Filho, foram recebidas mais de 2 milhões e meio de cartas, das quais apenas 5% acertaram a resposta (Leila é a assassina). O mordomo Eugênio e Marco Aurélio foram os mais citados (24 e 23%). A vencedora dos 5 milhões de cruzados foi Laura B. de Andrade, de Belo Horizonte (MG). Os outros 1 milhão saíram para Campos do Jordão (SP), Mogi das Cruzes (SP), Petrópolis (RJ), Oswaldo Cruz (RJ) e São Paulo capital.
A Nestlé já era anunciante da novela: o caldo Maggi e o creme de leite foram amplamente divulgados nas cenas em que Raquel (Regina Duarte) vence um concurso de culinária usando os produtos. O merchandising rolou solto em Vale Tudo, com vários anunciantes.
A Gradiente divulgou a sua nova linha de áudio – com CD player, uma novidade na época -, por meio de Heleninha (Renata Sorrah) e Thiago (Fábio Vila Verde), nas cenas em que os personagens ouvem música clássica. Ainda o microcomputador Expert MSX, quando Solange (Lídia Brondi) escreve uma reportagem para a revista Tomorrow, e o videogame Atari (também da Gradiente), em cenas com Ivan (Antônio Fagundes) e seu filho Bruno (Danton Mello).
A Du Loren anunciou sua nova coleção de lingerie em uma matéria da Tomorrow, assinada por Solange. O livro História da Camiseta da Hering também teve destaque na Tomorrow.
Ainda: a empresa Etti anunciou o molho de tomate Salsa D’Oro; os personagens bebiam Keep Cooler ou cerveja e guaraná Antarctica; Raquel cozinhava no fogão Semmer; Ivan e Helena compraram um apartamento da Construtora Encol; roupas masculinas eram compradas na Casa José Silva; e pagamentos eram feitos no Banco Real.
E o balneário de Búzios, litoral do Rio de Janeiro, foi amplamente divulgado na novela, já que Laís e Cecília (Cristina Prochaska e Lala Deheinzelin) tinham uma pousada lá. (Elane Maciel, Jornal do Brasil, 09/10/1988, TV Pesquisa PUC-Rio)
A publicidade (fora da novela) surfou na repercussão da trama. A Fotóptica, por exemplo, publicou em jornais e revistas: “Se você conseguiu fotografar o assassino de Odete Roitman, entregue o filme na Fotóptica. Enquanto na novela vale tudo para aumentar a audiência, na Fotóptica vale tudo para diminuir o preço. (…) Esta oferta também vale para fotos de inocentes.” (anúncio de meia página publicado na capa do jornal O Estado de São Paulo, de 25/12/1988).
Vale Tudo marcou a volta de Pedro Paulo Rangel à televisão após um hiato de sete anos. Seu último trabalho havia sido no humorístico Viva o Gordo, em 1981. A última novela, Dinheiro Vivo, na TV Tupi, em 1979.
Primeira novela dos atores Marcello Novaes, Flávia Monteiro, Otávio Müller, João Camargo, Lala Deheinzelin, Paulo Reis e Renata Castro Barbosa.
Primeira aparição em novelas, em pontas ou pequenas participações, de Humberto Martins, Marcos Oliveira, Edson Fieschi e Lu Grimaldi.
Adriana Esteves, aqui vista pela primeira vez em uma novela, fez figuração no capítulo 10 (exibido em 26/05/1988), na sequência em que várias modelos concorrem a uma vaga para um editorial na revista Tomorrow, do qual Fátima participa.
Em 2002, a Globo, em uma parceria com a Rede Telemundo (cadeia de emissoras abertas voltada para a comunidade latina nos Estados Unidos), produziu uma nova versão de Vale Tudo, em espanhol: Vale Todo, com elenco formado por atores latinos. Porém, o reboot não fez sucesso: com previsão de 150 capítulos, terminou no centésimo, com audiência aquém da esperada.
Sobre este remake latino, Gilberto Braga desabafou a André Bernardo e Cíntia Lopes, para o livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”:
“Achei a ideia lamentável e disse isso a eles. O resultado foi a catástrofe que previa. Claro que o tema é universal, mas eles não queriam uma história transgressora. Deviam ter escolhido uma novela mais convencional para o projeto.”
Vale Tudo repetiu o sucesso na reapresentação no Vale a Pena Ver de Novo, entre 11/05 e 06/11/1992, editada em 129 capítulos.
Reprisada também no canal Viva (canal de TV por assinatura pertencente à Rede Globo), em duas ocasiões. Entre 05/10/2010 e 16/07/2011, na íntegra, à 0h45 (com repeteco ao meio-dia do dia seguinte) – reprise que causou um verdadeiro frisson entre os usuários de redes sociais (como o Twitter), saudosos da novela que viram no passado ou curiosos pela obra famosa que não puderam acompanhar antes. E, novamente, a entre 18/06/2018 e 09/02/2019, às 15h30 e, no horário alternativo, à 0h30.
Em 2014, chegou ao mercado o DVD de Vale Tudo, lançado pela Globo Marcas.
Elenco :
REGINA DUARTE – Raquel Acioli
ANTÔNIO FAGUNDES – Ivan Meireles
GLÓRIA PIRES – Maria de Fátima Acioli
CARLOS ALBERTO RICCELLI – César Ribeiro
BEATRIZ SEGALL – Odete Roitman (Odete de Almeida Roitman)
RENATA SORRAH – Heleninha (Helena de Almeida Roitman)
REGINALDO FARIA – Marco Aurélio Catanhede
CÁSSIO GABUS MENDES – Afonso de Almeida Roitman
LÍDIA BRONDI – Solange Duprat
NATHÁLIA TIMBERG – Celina Junqueira
ADRIANO REYS – Renato Filipelli
CÁSSIA KISS – Leila
CLÁUDIO CORRÊA E CASTRO – Bartolomeu Meireles
PEDRO PAULO RANGEL – Poliana (Aldálio Candeias)
LÍLIA CABRAL – Aldeíde Candeias
ROSANE GOFMAN – Consuelo
SÉRGIO MAMBERTI – Eugênio
MARCOS PALMEIRA – Mário Sérgio
OTÁVIO MÜLLER – Sardinha
CRISTINA PROCHASKA – Laís
DENIS CARVALHO – William Nascimento McPherson
FÁBIO VILA VERDE – Thiago Roitman Catanhede
FLÁVIA MONTEIRO – Nanda
MARCELLO NOVAES – André
STEPAN NERCESSIAN – Jarbas
CRISTINA GALVÃO – Íris
ÍRIS BRUZZI – Eunice
MARIA GLADYS – Lucimar
JOÃO CAMARGO – Freitas
PAULO REIS – Olavo Jardim
LOURDES MAYER – Dona Pequenina
PAULA LAVIGNE – Daniela
JAIRO LOURENÇO – Luciano
FERNANDO ALMEIDA – Gildo
ZENI PEREIRA – Zezé (Maria José)
DANTON MELLO – Bruno
PAULO PORTO – Queiroz
NARA DE ABREU – Deise
ANA LÚCIA MONTEIRO – Marina
RITA MALOT – Marieta
MARTHA LINHARES – Suzana
RENATA CASTRO BARBOSA – Flávia

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