terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Custódia de Belém, Lisboa, Portugal







Custódia de Belém, Lisboa, Portugal
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal
Objeto Histórico - 1506



A Custódia de Belém é um ostensório português de ouro e esmalte datado de 1506 cuja autoria é atribuída a Gil Vicente. Por vezes também denominada Custódia dos Jerônimos é considerada a obra-prima da ourivesaria portuguesa, foi encomendada pelo rei D. Manuel I de Portugal para a Capela Real. D. Manuel deixaria este tesouro em testamento ao Mosteiro dos Jerônimos, em Belém, que fundou e escolheu para seu enterramento, juntamente com uma cruz do mesmo ourives, perdida, e a hoje chamada Bíblia dos Jerônimos. A denominação comum da custódia deriva deste facto. De estilo gótico tardio, na sua manufactura foram utilizadas "1500 miticais de ouro" trazidas por Vasco da Gama no regresso da sua segunda viagem à Índia em 1502, enviadas como tributo pelo régulo de Quíloa (atual Kilwa Kisiwani, na Tanzânia), que assim reconhecia vassalagem ao rei de Portugal. Desde 1925 a Custódia de Belém está exposta no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
A Custódia de Belém foi tomada como saque pelas tropas francesas durante a Guerra Peninsular, sendo levada para França, sendo devolvida após o termo da guerra. Consta que foi enviada para a Casa da Moeda, aparentemente para fusão, destino do qual foi resgatada pela intervenção de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, rei consorte de Portugal pelo seu casamento com a rainha D. Maria II de Portugal.
Custódia em ouro assente numa base oblonga polilobolada sobre a qual se repartem seis reservas molduradas por cordões de esmalte azul e preenchidas em relevo por flores, frutos, moluscos e aves exóticas em diversas tonalidades de esmaltes translúcidos e opacos de exuberante policromia. Contorna inferiormente a base um friso onde se lê a inscrição em caracteres latinos esmaltados a branco opaco: "O muito alto príncipe e poderoso senhor rei D. Manuel I a mandou fazer do ouro das párias de Quíloa. Acabou em 1506". A haste, de secção hexagonal, é revestida por quatro anéis com florões vegetalistas e fenestrações góticas, em torno do qual, ao centro, se define o nó volumoso, composto por seis esferas armilares salientes, a divisa do monarca encomendador. Da parte superior da haste brota uma vegetação luxuriante que se oculta sob a larga plataforma que sustenta o ostensório, apoiada nos extremos por dois troncos de videira graciosamente lançados. Dois pilares rendilhados, com finíssimos colunelos torsos e ao longo dos quais se abrigam em três ordens sobrepostas, nichos com dez figurinhas de anjos músicos, enquadram em surpreendente equilíbrio, o grande corpo arquitetônico central que contem o hostiário cilíndrico destinado a guardar a Sagrada Partícula. Em torno do cilindro de cristal ou viril, encimado por um dossel de serafins, sobre pequenas mísulas com arcarias góticas, ajoelham, em adoração os doze Apóstolos, perfeitamente individualizados, nos rostos, nos cabelos, nas atitudes e nos panejamentos das vestes de esmaltes coloridos de grande efeito cromático. Além dos Apóstolos, podem observar-se sob nichos docelados, junto à face interior dos pilares laterais, de cada lado do viril, as figuras da Virgem e do Anjo da Anunciação. O coroamento da peça é constituído por uma cúpula ou duplo baldaquino finamente rendilhado com figurinhas de profetas (algumas já desaparecidas), que se liga por arcos botantes aos pilares laterais, abrigando no plano inferior, uma pomba oscilante em ouro esmaltado a branco, símbolo do Espírito Santo. No plano superior, Deus Pai, coroado, abençoa com a mão direita e sustenta na esquerda o globo do Universo. No topo, uma cruz latina, em ouro esmaltado a vermelho e branco com pequenos apontamentos de esmalte verde, remata a peça. Uma cruz latina esmaltada a vermelho, verde e branco, remata a peça.
Mandada lavrar pelo rei D. Manuel I para o Mosteiro de Santa Maria de Belém (Jerónimos), a Custódia de Belém é atribuível ao ourives e dramaturgo Gil Vicente. Foi realizada com o ouro do tributo do Régulo de Quíloa (na atual Tanzânia), em sinal de vassalagem à coroa de Portugal, trazido por Vasco da Gama no regresso da sua segunda viagem à Índia, em 1503, é um bom exemplo do gosto por peças concebidas como microarquiteturas no gótico final.
Destinada a guardar e expor à veneração dos fiéis a hóstia consagrada, apresenta, ao centro, os doze apóstolos ajoelhados, sobre eles pairando uma pomba oscilante, em ouro esmaltado a branco, símbolo do Espírito Santo, e, no plano superior, a figura de Deus Pai, que sustenta o globo do Universo, materializando-se deste modo, no sentido ascensional, a representação da Santíssima Trindade.
As esferas armilares, divisas do rei D. Manuel I, que definem o nó, como que a unir dois mundos (o terreno, que se espraia na base, e o sobrenatural, que se eleva na estrutura superior), surgem como a consagração máxima do poder régio nesse momento histórico da expansão oceânica, confirmando o espírito da empresa do Rei Venturoso.

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