domingo, 6 de fevereiro de 2022

A Canção "Lampião de Gás" / Um Símbolo da Cidade de São Paulo, Brasil - Artigo

 




A Canção "Lampião de Gás" / Um Símbolo da Cidade de São Paulo - Artigo
Artigo


"Lampião de gás, lampião de gás,
Quanta saudade, você me traz.
Da sua luzinha, verde azulada,
Que iluminava, minha janela.
Do almofadinha, lá na calçada,
Palheta branca, calça apertada.
Do bilboquê do diávolo,
“Me dá foguinho”, “Vai no vizinho”,
De pular corda, brincar de roda.
De Benjamin, Jagunço e Chiquinho,
Lampião de gás, lampião de gás,
Quanta saudade, você me traz.
Do bonde aberto, do carvoeiro,
Do vassoureiro com seu pregão,
Da vovozinha muito branquinha,
Fazendo roscas, sequilhos e pão.
Da garoinha fria fininha,
Escorregando pela vidraça,
Do sabugueiro grande e cheiroso
Lá no quintal, da rua da Graça.
Lampião de gás, lampião de gás,
Quanta saudade, você me traz.
Minha São Paulo, calma e serena,
Que era pequena, mas grande demais,
Agora cresceu e tudo morreu,
Lampião de gás, que saudade me traz".
Estima-se que haja mais de 3000 músicas fazendo de alguma forma, citações à cidade de São Paulo.
No dia 16/04/2022 serão quase 11 anos desde que se apagou nosso último lampião de gás.
Não soube que algum meio de comunicação, tenha divulgado ou questionado a ingratidão que cometemos com a figura abordada abaixo. Não encontrei uma lauda sequer em quaisquer órgãos da mídia, mencionando o fato, puro passado paulistano...
Tenho gravada a edição do inesquecível "São Paulo de Todos os Tempos", conduzido pelo memorável jornalista Geraldo Nunes, na extinta rádio Eldorado AM. Neste saudoso programa, descreveu a história comovente de Zica Bergami. Compositora, escritora e pintora, foi a doce autora de "Lampião de Gás", que com ela, recebeu o Troféu Zequinha de Abreu em 1959.
Composta por Zica em 1957, a valsinha retratava as recordações de uma São Paulo dos sonhos, com crianças brincando nas calçadas e casas com quintais e bondes circulando tranquilamente. Além, é claro, de lampiões de gás nas ruas; um inocente retrato de sua cidade do coração, posteriormente desfigurada com seu crescimento desordenado, lamentando as consequências do irreversível e selvagem progresso. A singela canção se tornou um sucesso nacional ao ser gravada por Inezita Barroso no ano seguinte. Regravada por diversos artistas, ganhou até versão em japonês. O incentivo para procurar Inezita e gravar a música foi do poeta Guilherme de Almeida.
Em 1984, foi agraciada com a Grande Medalha de Prata no Centro Internacional D'Art Contemporain, em Paris. Apresentou belíssimos trabalhos em salões e mostras de arte, revelando sua inconfundível maneira de desenhar com tinta nanquim. Estava sempre disposta a relatar suas histórias dos bons tempos no interior e do passado fulgurante em São Paulo. Sua primeira exposição individual teve apresentação de Sérgio Milliet. Mais tarde é incentivada pela crítica de arte Ernestina Karmann.
Participou ainda, de inúmeras exposições em salões e galerias no Brasil e no exterior, entre elas a I Mostra Contemporânea Brasileira, a "EXPOFAIR" em Lisboa e "First Art Exposition Brazil-Holland", na Holanda. Em seus desenhos deixou sempre patente, o olhar cândido para as situações humanas, com um resultado que atingiu a universalidade, através de simples traços negros sobre papel.
Nascida em Ibitinga no interior paulista em 10/8/1913, foi batizada como Elisa Campiotti e mudou-se para a capital aos oito meses de idade. A partir dos cinco anos, passou a residir na rua da Graça, no bairro do Bom Retiro — na época um pedaço da Itália, onde construiu sua feliz e iluminada trajetória. No entanto, nossa cidade ficou mais triste, Zica Bergami nos deixou aos 97 anos de idade, apagou-se em 2011, nosso último lampião de gás!
Em 1999, a cantora Zezé Freitas gravou o CD "Zezé Freitas interpreta Zica Bergami", cantando, entre outras, "Gafanhoto chegou", "Mata o pato", "Abana o fogo", "O que é que há", "Briga de santo", 'Quantas flores", "Eu vou pra lua", "Chova chuva, chova", "Na areia", "Pimenta no rock", "Manga", "Maricotinha" e "Lampião de gás". Os desenhos do disco, são de autoria da própria Zica.
Em 2000, a gravadora MCK lançou o CD "Salada de danças", com 13 composições suas, interpretadas por ela mesma no qual cantou a música título, além de "Lampião de gás". As letras traduziam uma época da inocência e pureza de sentimentos, quando havia mais respeito pelo próximo e às instituições. Artista versátil, publicou os livros "Filhos de artistas imigrantes" e "Aonde estão os pirilampos?", com ilustrações suas — um verdadeiro mergulho no mais puro passado paulistano, onde Zica relata suas doces lembranças da São Paulo antiga.
Este preâmbulo justifica minha estranheza ao constatar a ingratidão que comentei no início. Consultando o "Guia de ruas de São Paulo", verifiquei a inexistência de uma merecida homenagem para exaltar esta paulistana de coração que adotou a capital como seu "cantinho do céu". Reparei também que muitas ruas, praças, jardins e avenidas são nomeados com "personalidades" de pouca ou nenhuma expressão para a história de nossa querida cidade.
Nada contra os homenageados, constantes na mencionada publicação e nem tampouco, de uma banal lembrança para nomear/renomear algum logradouro público — tarefa "árdua e comum", da competência dos nossos pouco inspirados vereadores em seus projetos urbanos. Exemplos? No dia 1/5/2017, a poucos metros do túnel homenageando o falecido piloto Ayrton Senna, o prefeito João Dória, inaugurou a praça Ayrton Senna no Ibirapuera. Detalhe: já existe outra praça Ayrton Senna no Morumbi.
Outro caso recente: o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, sancionou a lei que dá o nome de Roberto Bolaños a uma praça localizada na avenida Radial Leste, em frente ao estádio Arena Corinthians, em Itaquera. O ator mexicano, morto em 2014, é famoso pelos personagens Chaves e Chapolin Colorado. Em tempo: foi um projeto do comediante e "laborioso" dublê de vereador Marquito, componente da medíocre Câmara Municipal, na gestão anterior.
Para encerrar, o rumoroso acontecimento que abalou a crônica policial em 1923. O trágico caso de Moacyr de Toledo Piza, renomado advogado, oriundo de uma família abastada e influente na sociedade paulistana da época, que na esquina da avenida Angélica e rua Sergipe, no interior de um taxi, não aceitando a negativa de uma reconciliação, assassinou a tiros a bela cortesã Nenê Romano; ato contínuo, suicidou-se. O assassino foi sepultado com honras, homenagens e com um jazigo monumento no cemitério da Consolação e, inacreditável, também nomeia uma rua bem próxima à cena do crime: a Moacir Piza, situada entre as alamedas Itú e Jaú. Repetindo: nada contra ou a favor dos exemplos citados, mas...
Entretanto, o esquecimento não foi total. Uma comunidade no Jardim da Conquista, na zona leste é constituída de pequenas travessas com títulos de músicas. Ligando a travessa "Somos Todos Iguais" e a "Saudade Passageira", lá está a travessa "Lampião de Gás" — certamente, por sugestão de algum morador saudosista. Embora se trate de uma modestíssima e acanhada homenagem, é o que se tem.
Que tal uma simpática pracinha, florida e arborizada, denominada praça Zica Bergami? Fica lançada a justa reivindicação. Quem a conheceu, certa e indubitávelmente, endossará esta sugestão.
Como curiosidade, eis algumas músicas descrevendo cenas do cotidiano ou lugares de São Paulo:
1 - A briga do Edifício Itália e do Hilton Hotel (Tom Zé)
2 - A cidade SP - Apocalipse 16
3 - Abrigo de Vagabundos (Adoniran Barbosa)
4 - Aclimação (Lauro Miller), na voz de Silvio Caldas
5 - Adeus Cantareira (Frederico Rossi)
6 - Aeroporto de Congonhas (Tico Terpins)
7 - Amanhecendo (Billy Blanco)
8 - Avenida Paulista (Rita Lee - Roberto de Carvalho)
9 - Bandeira Paulista (Tonico e José Russo)
10 - Barra Funda (Lauro Miller)
11 - Bartira (Billy Blanco)
12 - Bom Dia São Paulo (Tico Terpins / Zé Rodrix)
13 - Bonde camarão (Cornélio Pires, Mariano da Silva)
14 - Braz (Lauro Miller)
15 - Capital do Tempo (Billy Blanco)
16 - Carro de Bigode (Thalma de Oliveira / Filhinho)
17 - Casa Verde (Lauro Miller)
18 - Cidade cinza (CPM22)
19 - Coisas da Noite (Billy Blanco)
20 - Coração Paulista (Guilherme Arantes)
21 - Diário de um detento (Racionais MC´s)
22 - Do Lado Direito da Rua Direita (Luiz Carlos / Chiquinho)
23 - Dobrado de Amor a São Paulo (Vinícius de Moraes), na voz de Clara Redig
24 - Ê, São Paulo (Tonico e Tinoco)
25 - Estação da Luz (Herivelto Martins/David Nasser)
26 - Eu Canto São Paulo (Jorginho do Império)
27 - Fim de semana no parque (Racionais MC´s)
28 - Freguesia do Ó (Lauro Miller)
29 - Grande São Paulo (Billy Blanco)
30 - Hino à cidade de São Paulo (ZonAzul)
31 - Hino a São Paulo (Paulo Florence / Fagundes Varella)
32 - Hino do Estado de São Paulo
33 - Hino dos Bandeirantes
34 - I Love Sampa (Bel Meirelles)
35 - Ipiranga (Lauro Miller)
36 - Iracema (Adoniran Barbosa)
37 - Isto é São Paulo (Demônios da Garoa)
38 - Jardim América (Kazinho)
39 - Juca do Braz (Haroldo José / Romeu Tonnelo), na voz de Leila Silva
40 - Lá vou eu (Rita Lee)
41 - Lampião de Gás (Zica Bergami), na voz de Inezita Barroso
42 - Lapa (Lauro Miller)
43 - Luar de Vila Sônia (Paulo Miranda), na voz de Gilberto Alves
44 - Lugar de Pagode (Leci Brandão / Zé Mauricio)
45 - Maria Espingardina (Jorge Costa / Zé da Glória)
46 - Meu Enxoval (Gordurinha / José Gomes)
47 - Monções (Billy Blanco)
48 - Mooca (Miguel Ângelo e Oswaldo Cruz)
49 - Não existe amor em SP (Criolo)
50 - No Morro da Casa Verde (Adoniran Barbosa)
51 - Noturno em São Paulo (Cido Bianchi / Sérgio Lima), na voz de Dick Farney
52 - O Céu de São Paulo (Billy Blanco), na voz de Pery Ribeiro
53 - O Tempo e a Hora (Billy Blanco)
54 - Pânico em SP (Inocentes)
55 - Paulista (Eduardo Gudin/ Costa Netto), na voz de Vânia Bastos
56 - Paulista do Centenário (José Dias / Bruno Gomes / Ayrton Amorim)
57 - Percorrendo São Paulo (Zulmiro / Filisbino Silva)
58 - Perfil de São Paulo (Bezerra de Menezes)
59 - Pinga com limão (Premeditando o Breque)
60 - Poliglota ou Bidú? (Tanio Jairo)
61 - Pobre Paulista (Ira)
62 - Porque Amo São Paulo (Nelson Gonçalves / David Nasser )
63 - Porteira do Braz (Victor Simon / Liz Monteiro)
64 - Praça Clóvis (Paulo Vanzolini), na voz de Chico Buarque
65 - Praça da Sé (Adoniran Barbosa)
66 - Pro Esporte (Billy Blanco), na voz de Elza Soares
67 - Quarto Centenário (Mario Zan / J. M. Alves)
68 - Rapaziada do Braz (Alberto Marino / Alberto Marino Jr.), na voz de Carlos Galhardo
69 - Ronda (Paulo Vanzolini), na voz de Márcia
70 - Roubaram a lagosta - Adoniran Barbosa
71 - Rua Augusta (Billy Blanco)
72 - Rua Augusta (Hervê Cordovil), na voz de Ronnie Cord
73 - Rua do Ouvidor (Newton Teixeira / David Nasser)
74 - Rua dos Gusmões (Adoniran Barbosa)
75 - Samba do Arnesto (Adoniran Barbosa e Alocin)
76 - Sampa (Caetano Veloso)
77 - Sampa Midnight (Itamar Assumpção)
78 - Sampa no Walkman (Ultraje a Rigor)
79 - Samuel (Passo Torto)
80 - São Paulo (Ricardo Galeno)
81 - São Paulo (Thomas Roth / Luiz Guedes)
82 - São Paulo Antigo (Lauro Miller)
83 - São Paulo terra da Garoa (Tonico, Tinoco / B. Trajano)
84 - São Paulo Gigante (Tonico / Ariston de Oliveira)
85 - São Paulo Jovem (Bily Blanco)
86 - São Paulo Quatrocentão (Avaré)
87 - São Paulo Querido (Romeu La Corte)
88 - São Paulo, Conte Comigo (Geraldo Nunes)
89 - São Paulo, Coração do Brasil (David Nasser/Francisco Alves)
90 - São Paulo, Mãe Madrinha (Elzo Augusto)
91 - São Paulo, São Paulo (Premeditando o Breque)
92 - São, São Paulo (Tom Zé)
93 - Saudades de São Paulo (Paraguassú)
94 - Silêncio no Bixiga (Geraldo Filme), na voz de Beth Carvalho
95 - Te amo São Paulo (Tom Jobim)
96 - Tradição (Geraldo Filme)
97 - Trem das Onze (Adoniran Barbosa)
98 - Triste Margarida - Samba do Metrô - (Adoniran Barbosa)
99 - Trombadinha - São Paulo by day (Joelho de Porco)
100 - Um Samba no Bixiga (Adoniran Barbosa e Elis Regina)
101 - Vem Cantar Comigo (Adoniran Barbosa)
102 - Vem Pra Roda Pra Versar (Maurinho da Mazzei), na voz de Beth Carvalho
103 - Viaduto Santa Ifigênia (Adoniran Barbosa e Alocin)
104 - Vide verso meu endereço - Praça da Bandeira e Ermelino (Adoniran Barbosa)
105 - Vila Esperança (Adoniran Barbosa / Marcos Cezar)
106 - Vila Prudente (Lauro Miller)
107 - Viva o Camelô (Billy Blanco), na voz de Miltinho
108 - Voz Unida (Mauricio Tapajós / Paulo Cezar Pinheiro), na voz de Sônia Santos

A Demolição da Igreja e do Convento do Carmo Para a Construção do Novo Palácio do Congresso Paulista, São Paulo, Brasil - Artigo

 


O Convento e a Igreja no final do século XIX.

O antigo Palácio, considerado inadequado para as necessidades dos congressistas.

Imagem de 1929 mostrando o Convento já demolido e parte da estrutura da Igreja destruída.

Imagem de 1930 mostrando o que restou da Igreja.

Ilustração do projeto vencedor do concurso (nunca realizado).

A área do Convento demolido (à direita) ficou sem uso por mais de 10 anos.

O Palácio Clóvis Ribeiro em obras.

Ilustração do projeto da nova Igreja do Carmo, apresentado em 1929.


A atual Paróquia Matriz Nossa Senhora do Carmo de São Paulo.





A Demolição da Igreja e do Convento do Carmo Para a Construção do Novo Palácio do Congresso Paulista, São Paulo, Brasil - Artigo
São Paulo - SP
Fotografia


Era a década de 1920 e São Paulo passava por profundas transformações urbanísticas, fruto do acelerado crescimento que a cidade apresentava, crescimento esse oriundo das riquezas proporcionadas pelo café e pela cada vez maior industrialização.
Essa transformação intensa não poupou os resquícios da São Paulo colonial ou mesmo imperial, onde tudo que parecia antigo vinha abaixo em nome de uma modernidade quase utópica que desproveu a cidade de inúmeros bens históricos. Construções de outros séculos vieram abaixo e junto delas igrejas históricas como a velha Sé.
Essa sanha demolidora por pouco não colocou abaixo por completo aquele que é um dos mais importantes templos católicos da capital paulista: a Igreja da Ordem Terceira do Carmo.
Em outro artigo do blog (História do Congresso Paulista) contei a história do antigo Palácio do Congresso de São Paulo, edificação que abrigou o Poder Legislativo paulista entre o fim do século XIX e o ano de 1937. Esse artigo é o início da história aqui contada (recomenda-se a leitura para um melhor entendimento do presente post).
Dito isso, corria o ano de 1926 e os congressistas de São Paulo reclamavam muito das condições do velho palácio legislativo da Praça Dr. João Mendes. De dimensões modestas o imóvel já não atendia as necessidades de deputados e senadores, que viam como urgente a necessidade de se construir um novo palácio.
Para isso precisavam de uma área ampla na região central que pudesse abrigar a nova estrutura já que mesmo demolindo o palácio antigo não haveria espaço suficiente para o que eles almejavam. Foi assim que em 1927 as atenções dos políticos paulistas se voltaram para o local onde estavam localizados a igreja e o convento da Ordem Carmelitana. A pressão junto ao então governador de São Paulo Júlio Prestes foi tamanha que em 1928 ele determinou a desapropriação da área.
Era o fim da linha para duas das mais antigas construções da cidade de São Paulo, já que o convento surgiu ainda no século XVI. A igreja, por sua vez, era mais recente, tendo sido construída entre 1747 e 1758, sendo reformulada entre 1772 e 1802 pelo famoso Tebas, arquiteto negro que foi responsável por várias obras na São Paulo daquele tempo.
Uma das justificativas para a demolição é que a ordem religiosa já possuía um amplo terreno na Rua Martiniano de Carvalho, bairro da Bela Vista, podendo lá erguer seu novo complexo.
E assim, em 1928, começava a demolição das edificações, inicialmente pelo convento, no que parecia ser o fim da linha da Ordem Terceira do Carmo naquela área do centro da cidade.
O concurso de projetos para a construção do novo palácio:
Para o novo palácio foram criadas grandes expectativas, afinal a ideia dominante entre deputados e senadores paulistas era que o novo edifício fosse grandioso e mostrasse em seus traços arquitetônicos a riqueza e importância de São Paulo.
Com o objetivo de, ao menos teoricamente, fazer da escolha do novo palácio algo democrático, foi decidido em 1928 que seria criado um concurso público onde engenheiros e arquitetos poderiam enviar seus projetos, sendo que um deles seria escolhido e premiado.
O concurso atraiu interessados não somente de São Paulo mas de todos os cantos do país, sendo apresentados vários projetos para o novo palácio. Os quinze melhores projetos foram selecionados para uma segunda fase, sendo expostos para a apreciação dos paulistanos.
"Os ante-projectos do Palácio do Congresso são cópias de estylos antigos".
A nota acima é do extinto jornal paulistano "A Gazeta" e exprime o sentimento de muitos que foram ver os projetos expostos para o público no Palácio da Indústrias. Tal qual no projeto do Theatro Municipal de São Paulo e tantas outras importantes construções, a crítica era a falta de ousadia e inovação dos projetos selecionados, que mais pareciam cópias de outros palácios mundo afora.
O maior crítico dos projetos selecionados talvez tenha sido o arquiteto e escritor Flávio de Carvalho, um dos ícones da geração modernista brasileira. Em entrevista à mesma Gazeta, disse que quase todos os projetos eram oriundos de trabalhos de pura cópia ou de “preguiça de raciocinar“ (palavras do autor). Apesar do tom das críticas o concurso seguiu até o seu final.
De todos os projetos apresentados apenas dois eram considerados realmente contemporâneos e modernos, respectivamente chamados de Anhanguera e Efficacia. Os demais pareciam similares a outros lugares já existentes, um deles inclusive bastante criticado por parecer cópia do congresso da Argentina.
Dos quinze projetos selecionados seriam escolhidos três finalistas, que receberiam prêmios em dinheiro. Respectivamente, do primeiro ao terceiro colocado, as premiações seriam de 30, 15 e 10 contos de Réis.
O projeto vencedor do concurso público foi o denominado Cleon, de autoria de Plínio Botelho do Amaral, na época um jovem arquiteto de 24 anos de idade. Mais tarde ele viria a se tornar bastante conhecido por projetar o Edifício Altino Arantes (atual Farol Santander).
Com o projeto escolhido e a demolição quase completa, restando apenas a igreja da Ordem Terceira do Carmo, parecia que agora era questão de tempo para o novo palácio surgir. Mas não foi isso que aconteceu. Um fato histórico viria a causar a paralização dos trabalhos e o abandono da ideia de construção do novo palácio.
A Revolução de 1930 e a forçada mudança de planos:
Como tudo no Brasil tende a demorar ou a mergulhar em um mar de burocracia, as obras do futuro palácio também sofreram desse mal. E essa demora tanto para o início das obras quanto para a conclusão das demolições colocariam por terra a construção do novo palácio.
A Revolução de 1930 virou a política brasileira do avesso. Foi o fim da República do Café com Leite e o início da longa era Vargas (com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, o Congresso Nacional e os seus respectivos estaduais foram fechados, paralisando totalmente as obras do futuro palácio).
Assim a igreja do Carmo foi poupada e reformada, voltando a ser utilizada normalmente, sobrevivendo até os nossos dias atuais (e tomara que assim continue). 
Quando as atividades parlamentares retornaram em 1935, os trabalhos continuaram a ser realizados no antigo palácio da Praça Dr. João Mendes. Em 1939 o então governador de São Paulo, Adhemar de Barros, determinou que a assembleia paulista mudasse para o Palácio das Indústrias, agora renomeado Palácio 9 de Julho.
Com isso o velho palácio seria demolido em 1940 e o projeto do novo palácio enterrado de vez. 
A Assembleia Legislativa só teria um palácio novo, de fato, em 1968 com a inauguração de sua sede definitiva no Ibirapuera.
Apesar da igreja salva podemos concluir que a demolição do convento havia sido em vão. Mas essa história iria mudar em breve...
Surge um "gigante":
Adhemar de Barros não iria deixar aquele terreno vazio em área tão valorizada da cidade por muito mais tempo. O governo de São Paulo encomendou ao arquiteto Ferrucio Julio Pinotti um projeto de um novo edifício para o local. E assim, em 1941, iniciam-se as obras do Palácio Clóvis Ribeiro, mais conhecido como prédio da Secretaria da Fazenda.
Por fim o que foi construído no lugar do que foi planejado para ser o Congresso Paulista foi algo muito mais grandioso, afinal o Palácio Clóvis Ribeiro é uma estrutura colossal que levou duas décadas para ser concluída. O edifício que abriga a Secretaria da Fazenda e Planejamento do Governo do Estado de São Paulo possui 23 andares e 15 elevadores, numa área de 72 mil metros quadrados.
E a igreja nova?
Você deve estar se perguntando: E a nova igreja do Carmo que seria construída? Foi construída ou não?
Ela foi construída, sendo batizada de Basílica Nossa Senhora do Carmo.
Localizada no número 114 da Rua Martiniano de Carvalho, bairro da Bela Vista, o novo templo foi inaugurado na Páscoa de 1934. A Paróquia Matriz Nossa Senhora do Carmo de São Paulo foi projetada pelo arquiteto polonês Georg Przyrembel. Ele conciliou o projeto da nova igreja com o aproveitamento de materiais oriundos da demolição do antigo convento e de partes da antiga igreja do Carmo que sobreviveu, como os dois altares e os parapeitos das janelões.
Ao lado da igreja encontra-se o centro para crianças e adolescentes Nossa Senhora do Carmo e a Província Carmelitana de Santo Elias, convento que substituiu o antigo demolido em 1928. Texto de Douglas Nascimento adaptado para o blog por mim.

História do Congresso Paulista, São Paulo, Brasil - Artigo

 


Largo de São Gonçalo em 1915, ao fundo, com uma torre de relógio ao centro, o Congresso do Estado de São Paulo.


Comitiva do então Presidente do Estado, Washington Luís, chega ao Palácio do Congresso em 1922. Ao fundo a Igreja de São Gonçalo.


Palácio 9 de Julho em 1953 (posteriormente voltaria ao seu nome original, Palácio das Indústrias).



História do Congresso Paulista, São Paulo, Brasil - Artigo
São Paulo - SP
Artigo


O Poder Legislativo de São Paulo surgiu em 1834 através de um ato adicional à primeira constituição do Brasil, promulgada em 1824. Antes disso, durante os primeiros anos do Brasil independente, existia o chamado Conselho Geral da Província de São Paulo, este composto por 21 membros.
O nome Assembleia Legislativa só seria implementado em 1835. Nesta época o Poder Legislativo passou a funcionar em uma edificação do Pátio do Colégio e tinha 36 membros. Esse sistema unicameral iria permanecer em voga até o ano de 1891, quando a nova constituição – a primeira do Brasil republicano – concedeu aos Estados autonomia para organizar o Poder Legislativo à sua maneira.
Foi através desta “brecha” que a carta magna estadual, promulgada em 14 de julho de 1891, determinou a criação do Congresso Estadual, bicameral, composto por Senado e Câmara dos Deputados Estaduais. Nessa época o Poder Legislativo paulista já ocupava um prédio bem melhor do que aquele no Pátio do Colégio, este por sua vez localizado no Largo de São Gonçalo (atual Praça João Mendes).
O edifício ficava em uma posição privilegiada do velho largo mas apesar disso sempre foi considerado uma construção modesta para os anseios do poder paulista. Medindo 55 metros de frente e 13 metros de fundo, ele foi erguido no local da antiga cadeia pública. Era comum ouvir as reclamações de deputados e senadores acerca das acomodações do palácio, especialmente devido ao ruído dos bondes à partir dos primeiros anos do século XX.
O total de representantes do povo no Senado e na Assembleia variou de acordo com os anos. Inicialmente eram eleitos um deputado estadual para cada 40 mil habitantes sendo que para o Senado Estadual era eleito 1 senador para cada 2 deputados. Esse modelo permaneceu até o ano de 1910 quando o Estado de São Paulo foi divido em 10 distritos, onde cada um deles elegia 5 deputados para um mandato de 3 anos. Os senadores eram eleitos em um total de 24 para um mandato de 9 anos.
O Congresso Estadual permaneceria bicameral até o ano de 1930, quando seria fechado em virtude da Revolução 1930, que conduziu Getúlio Vargas à Presidência da República. O Poder Legislativo só retomaria suas atividades em 1935 após a promulgação da Constituição Federal da Segunda República (1934), porém deste momento em diante novamente no formato unicameral, que permanece até os dias atuais.
As atividades da Assembleia Legislativa permaneceriam até 1937 quando é novamente fechada, desta vez em virtude da implementação do Estado Novo. Esse ano também representava o último de funcionamento do prédio da Praça Dr. João Mendes que seria demolido em 1940. Ao retomar suas atividades em 1947 ocuparia o Palácio das Indústrias que foi rebatizado na ocasião para Palácio 9 de Julho.
No Palácio das Indústrias a Assembleia Legislativa permaneceria até o final do ano de 1967. Em 25 de janeiro de 1968 seria inaugurado o novo Palácio 9 de Julho, projeto do arquiteto Adolpho Rubio Morales, no número 201 da Avenida Pedro Álvares Cabral onde permanece até os dias atuais.
Localização do antigo Palácio no Largo de São Gonçalo:
Você já viu no começo deste artigo duas imagens do antigo palácio legislativo paulista. Conforme explicado ele ficava localizado à direita da Igreja de São Gonçalo no largo homônimo. Posteriormente, em 1898, o local foi rebatizado como Praça Dr. João Mendes cujo nome permanece até os dias atuais.
Com a remodelação da Praça Dr. João Mendes toda a área da antiga edificação foi aberta, interligando a Rua Dr. Rodrigo Silva com a Praça e com a Rua Quintino Bocaiúva que originalmente ficava nos fundos do palácio. O Viaduto Dona Paulina não existia (foi inaugurado em 1948) e ali era o início da Rua da Assembleia que não existe mais. Texto de Douglas Nascimento.
Nota do blog: Abaixo imagem atual com a localização aproximada do antigo palácio sinalizada com asteriscos.




Faculdade de Medicina de São Paulo, 1938, São Paulo, Brasil






Faculdade de Medicina de São Paulo, 1938, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia

O fotógrafo Benedito Junqueira Duarte registrou esta incrível panorâmica onde entre muita vegetação destaca-se o Prédio da Faculdade de Medicina de São Paulo — localizada no bairro paulistano de Cerqueira César. A FMUSP foi fundada em 1912 com o nome de Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo por Arnaldo Vieira de Carvalho.

Campo de Santana, Rio de Janeiro, Brasil










Campo de Santana, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia

Nota do blog: Eu visitei uma única vez e, sinto dizer, não volto nunca mais. Um lugar belo e histórico, porém esquecido pela administração pública (precisa receber cuidados, manutenção e segurança adequada). Não recomendo que ninguém o visite, o entorno é cheio de mendigos, pedintes, drogados, pivetes, bandidos, prostituição e outras coisas ruins (e isso há cerca de 3 anos atrás, hoje com a piora da economia e a impunidade reinante no país, deve estar muito pior). A sensação de insegurança é tremenda, o policiamento é quase inexistente (e para dizer a verdade, não vão fazer nada, você será apenas mais um na estatística). Eles (criminosos) estão do lado de fora, na calçada, esperando você sair. E são muitos, inclusive agem em bandos. Qualquer pessoa que viva no Brasil (especialmente em grandes cidades) já fica imaginando (e com medo) do que vai acontecer quando tiver que sair...

 

Detalhe do Portão de Entrada do Campo de Santana, Rio de Janeiro, Brasil


 

Detalhe do Portão de Entrada do Campo de Santana, Rio de Janeiro, Brasil 
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia

Nota do blog: Um pouco da beleza de um país que não existe mais...

Vista do Campo de Santana / Praça da República, 07/05/1941, Rio de Janeiro, Brasil


 

Vista do Campo de Santana / Praça da República, 07/05/1941, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia


Nota do blog: A imagem também mostra a enorme quantidade de imóveis que existiam no local e que foram desapropriados e demolidos para a abertura da Avenida Presidente Vargas. Muitos desses imóveis tinham grande importância histórica para a cidade. Infelizmente só sobraram as fotos...

Vista Aérea do Campo de Santana / Praça da República, Rio de Janeiro, Brasil


 

Vista Aérea do Campo de Santana / Praça da República, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia


Nota do blog: A imagem também mostra a enorme quantidade de imóveis que existiam no local e que foram desapropriados e demolidos para a abertura da Avenida Presidente Vargas. Muitos desses imóveis tinham grande importância histórica para a cidade. Infelizmente só sobraram as fotos...

Campo de Santana, Circa 1880, Rio de Janeiro, Brasil - Marc Ferrez


 

Campo de Santana, Circa 1880, Rio de Janeiro, Brasil - Marc Ferrez
Rio de Janeiro - RJ
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