sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Vistas Aéreas da Ceagesp, 1973, São Paulo, Brasil

 




Vistas Aéreas da Ceagesp, 1973, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


Com toda pompa e circunstância o governo — estadual e federal — anunciaram que a “Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo”, a popular CEAGESP, vai mudar para uma área seis vezes maior. No lugar do tradicional entreposto, será construído o CITI – Centro Internacional de Tecnologia e Inovação. Mais: em parceria com a iniciativa privada será o implementado o Vale do Silício de São Paulo com uma área total de 650 mil metros quadrados dedicada à tecnologia. Antes que se torne apenas uma saudade veja a CEAGESP e também o Rio Pinheiros.

Orquidário do Estado / Jardim Botânico, 1938, São Paulo, Brasil

 







Orquidário do Estado / Jardim Botânico, 1938, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
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Criado em 1930, o Orquidário do Estado foi o embrião do futuro Jardim Botânico que seria inaugurado em 1938. É parte integrante do Parque da Água Funda — atualmente denominado como Parque Estadual das Fontes do Ipiranga.

A Chegada dos Restos Mortais de Dom Pedro I no Brasil - Artigo

 












A Chegada dos Restos Mortais de Dom Pedro I no Brasil - Artigo
Artigo


Ao se aproximar a data do 150º aniversário da independência, foram trazidos pelo navio Funchal da Marinha Portuguesa em 22 de abril de 1972, os restos mortais de Dom Pedro I. 
Acompanhado pelo presidente da República de Portugal, a entrega oficial dos despojos foi realizada ao presidente do Brasil no Monumento aos Pracinhas no Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro. Daí o ataúde seguiu para a Quinta da Boa Vista, o Palácio São Cristóvão — a antiga residência oficial do imperador onde ficou exposto para a visitação pública durante 3 dias. Em seguida, passou pelas capitais do país sendo recebido com honras militares e civis e ovacionado efusivamente pela população.
Em 3 de setembro de 1972, os despojos chegaram ao Palácio dos Campos Elíseos em São Paulo onde permaneceram até o dia 6 de setembro. Foram então transportado ao Monumento à Independência por um carro de combate escoltado pelos Dragões da Independência. Na chegada estavam presentes autoridades civis e militares. Entre estas, o presidente Médici e o primeiro-ministro Marcelo Caetano de Portugal. Aviões da Força Aérea Brasileira sobrevoaram o monumento e as milhares de pessoas que assistiam ao histórico acontecimento.
Para não fugir à regra, a falta de organização/planejamento "reinou" na Prefeitura Municipal de São Paulo: o ataúde com o corpo do nosso 1º imperador era maior que o sarcófago de granito da cripta imperial. Em 1975 a urna funerária ainda não havia sido depositada no espaço mencionado — o que gerou justificadas críticas até de autoridades lusitanas. Naquela ocasião Dom Pedro I se "revirou" no caixão e, recentemente, ao esculpirem e instalarem sua estátua sem as botas, repetiu o gesto. Parece não ter havido o devido cuidado e respeito à figura e seu significado histórico. 

Oswald de Andrade e a Praça Benedito Calixto, São Paulo, Brasil - Artigo

 


Planta de 1919 mostra local sugerido por Oswald para a futura praça.


Requerimento de Oswald de Andrade.




Oswald de Andrade e a Praça Benedito Calixto, São Paulo, Brasil - Artigo
Artigo

Em 1919, José Oswald de Souza Andrade era apenas um bacharel em Direito recém-formado e amante das artes modernas. Em 30 de agosto daquele ano, o futuro líder do movimento modernista (iniciado em 1922) pagou uma taxa de mil réis e protocolou um requerimento na Câmara Municipal de São Paulo (CMSP). O escritor solicitava que uma praça planejada para a Rua Mourato Coelho, na zona oeste, fosse construída na Rua Lisboa, em frente à Igreja do Calvário, no Bairro Cerqueira César, também na zona oeste. O terreno da Mourato Coelho pertencia a Oswald, e segundo ele a mudança de local era um desejo dos moradores da região.
O pai do modernista, José Oswald Nogueira de Andrade, que morrera em fevereiro de 1919, foi o responsável pela criação do bairro, em 1890. “A Vila Cerqueira César tinha sido aberta pelo esforço do meu pai”, conta o filho orgulhoso em seu livro de memórias, Um homem sem profissão. Na obra, Oswald de Andrade lembra que o pai transformou a Chácara Água Branca dos Pinheiros e o Sítio Rio Verde em um bairro urbano e o nomeou em homenagem a José Alves Cerqueira César, que foi presidente do Estado de São Paulo e um dos políticos mais próximos de Nogueira de Andrade.
Oswald conhecia a burocracia municipal, pois seu pai havia sido vereador de São Paulo quatro vezes, entre 1899 e 1914. “Entre os projetos executados pela iniciativa de meu pai, ficaram o alargamento da Rua Líbero Badaró, que era uma viela de mulheres públicas, e o da construção do Viaduto de Santa Ifigênia”, conta em Um homem sem profissão.
A solicitação seguiu os trâmites legais do Legislativo municipal, mas as decisões não foram favoráveis ao escritor. Um parecer da Comissão de Justiça, de 5 de março de 1920, afirma que o requerimento cita solicitações “alegadas, mas não provadas” dos moradores de Cerqueira César. Os vereadores Rocha Azevedo e Armando Prado, membros da Comissão, informaram que o diretor de Obras da Prefeitura, “após as precisas diligências”, afirmara que o local sugerido “não se presta absolutamente à praça indicada”.
Por sua vez, as Comissões Reunidas de Obras e Finanças declararam, em 31 de janeiro de 1921, que o local era “de todo inconveniente” e que a transferência seria “muito mais dispendiosa”. Assim, o requerimento de Oswald de Andrade foi arquivado.
O pedido de Oswald foi engavetado, mas a ideia de uma praça em frente à Igreja do Calvário continuou a ser analisada. Em 12 de janeiro de 1925, o vereador Júlio Silva apresentou um requerimento ao prefeito pedindo que ele regularizasse o trecho da Rua Lisboa, entre as Ruas Teodoro Sampaio e Cardeal Arcoverde, “a fim de ser mantida a comunicação no local que hoje é feita por uma travessa particular”. Havia o risco de a ligação ser fechada.
Em junho de 1925, o proprietário do terreno, Claudio de Souza, ofereceu à Prefeitura uma faixa de terreno de 30 metros ao longo da Rua Lisboa, para que ali fosse construída a praça. Atendendo a consulta das comissões de Obras e Finanças, a Prefeitura respondeu que a solução proposta por Souza era “interessante e vantajosa” para o Município sob dois aspectos: o bairro teria seu primeiro espaço livre regularizado e a Rua Lisboa ganharia um perfil econômico, evitando que se transformasse em um grande aterro.
As Comissões ressaltaram que, com um pequeno gasto, a Câmara poderia reformar a praça e estabelecer, no novo Santuário que estava sendo construído pela Congregação dos Padres Passionistas, uma saída direta para a Rua Teodoro Sampaio. Assim, no dia 22 de agosto de 1925 a CMSP aprovou a doação dos terrenos e a construção da praça.
Quase 11 anos depois, o Ato nº 1.065, de 16 de abril de 1936, assinado pelo prefeito Fábio da Silva Prado, determinou que a praça na Rua Lisboa iria se chamar Benedito Calixto, “pintor paulista de larga projeção, que se salientou como decorador, principalmente de templos religiosos”.
A Praça Benedito Calixto é bem conhecida dos paulistanos e dos turistas. Aos sábados, das 9h às 19h uma feira de antiguidades atrai grande público, que compra (ou apenas observa) vinis, louças, móveis rústicos, brinquedos, livros e mais uma variedade de objetos. Também há uma praça de alimentação com comidas e bebidas para todos os gostos, além de uma roda de chorinho.
Integra do requerimento de Oswald de Andrade:
Excelentíssimo Senhor Presidente e mais membros da Câmara Municipal de São Paulo.
O abaixo-assinado, atendendo às solicitações dos moradores da Vila Cerqueira César, vem propor que a praça que deve ser aberta na Rua Mourato Coelho, entre as Ruas Teodoro Sampaio e Artur Azevedo, nos termos da Resolução nº 115, de 5 de março de 1918, seja transferida para o local em frente à Igreja do Calvário, também em terrenos de sua propriedade, prontificando-se o requerente a fazer as permutas que para isso forem necessárias.
Por ser de justiça, pede deferimento.
São Paulo 30 de agosto de 1919
José Oswald de Souza Andrade

O Marquês de Barbacena e o Reconhecimento da Independência - Artigo

 


O Marquês de Barbacena e o Reconhecimento da Independência - Artigo
Artigo




"Certas personalidades definem e caracterizam fases históricas. D. Pedro I e o grupo do Rio estão identificados com a Independência. José Bonifácio e seus irmãos presidiram à organização e aos traços diretores do Império nascente. O marquês de Barbacena é o próprio Primeiro Reinado, em sua diplomacia, suas contendas externas e sua economia."
Na definição do militar e historiador João Pandiá Calógeras é visível o lugar central ocupado por Felisberto Caldeira Brant Pontes no panteão dos heróis nacionais. Este era formado por homens públicos que deviam ser celebrados e reverenciados por seus feitos, o que resultou muitas vezes na elaboração de biografias factuais e lineares.
Nesse sentido, fica claro porque o homem se sobrepõe a sua época, ou à sociedade em que se insere. Barbacena é a encarnação do Primeiro Reinado em toda a sua complexidade e espaços: político, diplomático, econômico. Não está longe da caracterização que no final do século XIX saiu da pena de Antônio Augusto da Costa Aguiar, para quem o marechal-de-campo que atuou na Campanha da Cisplatina desdobrou-se em múltiplas facetas:
Parlamentar, estadista, diplomata, general no campo de batalha, resume em sua individualidade diversas fases da história nacional. A história de sua vida abrange a do Império, antes da fundação dele, até aos primeiros anos do Segundo Reinado. Não é, pois, sem interesse estudar uma individualidade, porventura a mais completa e poderosa pela influência que exerceu nos domínios do país.
Como se estabelecesse uma linha de continuidade na "história nacional" entre o período colonial e os anos que antecederam e os que foram necessários à consolidação da Independência de Portugal, Costa Aguiar situou Felisberto Caldeira Brant como um agente histórico privilegiado, uma "individualidade, porventura a mais completa e poderosa" por sua atuação em diversos momentos marcantes da história da pátria, como se esta existisse desde sempre, e não fosse resultado de uma construção empreendida ao longo do século XIX a partir da negação do passado colonial.
Nesse sentido, terá sido Caldeira Brant um entusiasta da ruptura dos laços que uniam o Brasil a Portugal? É possível vincular inequivocamente a sua biografia aos acontecimentos relativos ao 7 de Setembro, a data magna da liberdade política? Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira e Horta nasceu no dia 19 de setembro de 1772, no arraial de São Sebastião, próximo de Mariana, na então capitania de Minas Gerais. Provinha de família ilustre, ligada à atividade mineradora - seu avô paterno, o coronel Felisberto Caldeira Brant, foi contratador dos diamantes nos tempos áureos das Gerais. A família Brant, portanto, fincara raízes na estrutura da exploração colonial, de onde veio seu prestígio, riqueza e redes de relacionamento. A trajetória de Felisberto Caldeira Brant (o futuro marquês de Barbacena) confirma essa vinculação.
Em 1786, após concluir os estudos preliminares, planejou continuar sua formação em Lisboa, para onde seguiu dois anos depois, recomendado pelo vice-rei, Luís de Vasconcelos e Sousa. Na capital do Reino, já com praça de cadete desde a partida da América, ingressou na Academia Real da Marinha sob a supervisão de um seu primo, Manuel José Pires da Silva Pontes, lente da instituição. Felisberto Caldeira Brant realizou missões a serviço da Coroa na Armada e no Exército, até ser nomeado ajudante de ordens de D. Miguel Antônio de Melo, governador de Angola (1797-1802).
Mais tarde, estabeleceu-se na Bahia, onde se casou em 1801 com D. Ana Constança Guilhermina de Castro Cardoso, filha do coronel Antônio Cardoso dos Santos, um rico proprietário de terras. De volta a Portugal, acompanhou o desenrolar dos acontecimentos que precipitaram a transferência da família real, a qual acompanhou na partida para o Brasil. Militar de carreira, em 1811 foi nomeado brigadeiro e inspetor das tropas da Bahia, posição que lhe permitiu organizar efetivos para reprimir a Revolução Pernambucana de 1817. Em recompensa pela lealdade à monarquia portuguesa, recebeu a patente de marechal do Exército e o foro de fidalgo cavaleiro, mercês que lhe trouxeram ascensão social.
Em suma, a trajetória de Felisberto Caldeira Brant demonstra a sua inserção no serviço à monarquia portuguesa, além da contemporaneidade a uma geração de políticos e intelectuais luso-brasileiros, como José Bonifácio de Andrada e Silva, com quem Caldeira Brant conviveu e colaborou estreitamente. Sendo assim, não é pertinente considerá-lo uma espécie de visionário da Independência, alguém que trabalhou desde sempre pela ruptura dos laços políticos entre Brasil e Portugal, como se a emancipação fosse uma conseqüência inequívoca dos acontecimentos políticos do final do século XVIII (leia-se as conjurações), da transferência da Corte em 1807/1808, ou mesmo da Revolução Pernambucana de 1817, a qual, aliás, sofreu a oposição militar de Caldeira Brant a partir da Bahia.
Por isso, é forçoso discutir certos traços da biografia de Caldeira Brant: "Patriota ardente, porém ao mesmo tempo homem de vistas calmas e certeiras, (...) compreendia ele as grandes vantagens da independência". Como foi dito, o futuro marquês de Barbacena foi grande colaborador de José Bonifácio, um dos mais importantes políticos e intelectuais ilustrados luso-brasileiros, e um dos que defendeu o projeto de uma monarquia dual, fórmula política que preservaria a união entre Colônia e Metrópole, salvaguardando a posição do Brasil como centro político, em virtude da presença do príncipe regente D. Pedro no Rio de Janeiro.
Os partidários da união dos Reinos (o Brasil era Reino Unido a Portugal desde 1815) desejavam a permanência do príncipe na América e que a Constituição elaborada em pelas Cortes de Lisboa contemplasse os interesses do Brasil, mantendo-se o pressuposto da união com Portugal, conforme a convocação de uma Assembléia Geral proposta pela Câmara do Rio de Janeiro em 23 de maio de 1822. Em um clássico e alentado ensaio sobre o processo político que culminou na Independência, a historiadora Emília Viotti da Costa mencionou uma carta enviada por José Bonifácio a D. Pedro, em que o então deputado provincial pela Paraíba argumentava acerca da
(...) justa causa da Independência política, integridade e centralização do Reino no Brasil, salvo a devida união com os Reinos irmãos de Portugal e salvos igualmente a obediência e o reconhecimento do Sr. D. João VI (...) como chefe supremo do poder Executivo de toda a Monarquia.
O documento data de meses antes do Sete de Setembro e mostra que ainda se discutia a possibilidade de manutenção dos laços que uniam o Brasil a Portugal. Afinal, como ressaltou Emília Viotti da Costa,
Observando-se os textos de 1822 percebe-se que a palavra Independência nem sempre esteve associada à idéia de separação completa da metrópole (...). A idéia de Independência completa e definitiva só se apresentou no último momento, imposta pelos atos recolonizadores das Cortes portuguesas.
De forma mais esquemática, Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves e Humberto Fernandes Machado demonstraram que os acontecimentos do primeiro semestre de 1822 contribuíram decisivamente para a Independência, embora em alguns momentos ainda se cogitasse a permanência do vínculo entre Portugal e Brasil. Mas, em meados de 1822, pouco antes da data canônica do Sete de Setembro, a emancipação já estaria decidida, embora não ratificada, conforme as palavras de Hipólito da Costa. Para o redator do Correio Braziliense, depois de "convocar o Conselho de Procuradores", formado por "pessoas eleitas pelos povos", o príncipe D. Pedro "expediu um decreto para a convocação de uma Assembléia Constituinte e Legislativa; e finalmente declarou a Independência do Brasil, por um decreto de 1º de agosto deste ano 1822".
De acordo com Oliveira Lima, Felisberto Caldeira Brant foi um defensor da monarquia dual. Nomeado encarregado dos negócios do Brasil na Corte de Londres antes mesmo da Independência formal, teria conferenciado com o marechal Beresford a respeito da manutenção dos vínculos com Portugal a fim de não contrariar a soberania de D. João VI, que deixara D. Pedro como seu representante na América. Mas, nas palavras de Oliveira Lima, "Beresford e Barbacena estavam com a hora política atrasada". Ou seja, a ruptura definitiva não poderia ser evitada. E quando esta se concretizou, apanhou o enviado do Brasil no exercício da função diplomática, encarregado por José Bonifácio, segundo a carta de 12 de agosto de 1822. A correspondência integra o riquíssimo Fundo Marquês de Barbacena, em especial a Série Diplomacia aqui privilegiada, do Arquivo Nacional.
Na mesma data de sua nomeação, foi encaminhado a Caldeira Brant um conjunto de instruções que este o enviado brasileiro deveria seguir no desempenho de suas funções. José Bonifácio destacou a necessidade de convocação de uma Assembléia Geral Constituinte Legislativa no Brasil, advogava a favor do não reconhecimento da autoridade do Congresso de Lisboa e, especialmente, a busca do reconhecimento da Corte de Londres da Independência do Reino do Brasil. Por se tratar de um documento anterior ao Sete de Setembro, as instruções a Caldeira Brant demonstram o que a historiografia afirmou acerca de suas gestões diplomáticas em prol do reconhecimento da emancipação antes mesmo de sua oficialização.
Assiduamente informado por José Bonifácio (ministro dos Negócios do Reino e Estrangeiros) dos acontecimentos recentes, a exemplo da aclamação de D. Pedro I como Imperador Constitucional do Brasil, restava a Caldeira Brant cumprir a difícil missão de obter da Corte de Saint James o reconhecimento da Independência e a legitimidade do Império brasileiro, além de intermediar a manutenção de antigos tratados com a Inglaterra que poderiam beneficiar o Brasil.
Coube também ao embaixador brasileiro esforçar-se em prol da ordem interna e da integridade do país recém-independente. Conforme anotou Oliveira Lima, teria sido o primeiro a indicar a contratação do oficial da Marinha inglesa, Lord Cochrane, para pacificar as províncias que se opunham à nova ordem política. Em 4 de outubro de 1822, recebeu ordens de José Bonifácio, em nome do imperador, para aceitar a oferta do capitão Thompson da sua fragata e dos marinheiros que a tripulavam. Na mesma carta, foi mencionada a resistência das províncias do Pará e do Maranhão em reconhecer a autoridade de D. Pedro I. Um mês depois, diante da delicada situação política do Império nascente, Caldeira Brant foi encarregado de auxiliar nos preparativos para a defesa da costa brasileira, devendo comprar quatro fragatas com 50 a 54 peças de artilharia cada, devidamente preparadas para entrar em combate.
No que diz respeito às gestões para o reconhecimento da Independência e do governo de Pedro I, Caldeira Brant teve que atuar em duas frentes. De um lado, precisava que a Inglaterra intermediasse as negociações para que Portugal reconhecesse o novo estatuto político do Brasil, uma vez que o país recém-independente não desejava o rompimento das relações com a antiga metrópole, mas "unicamente não ser escravo nem pupilo de Portugal". No entanto, o próprio reconhecimento da Inglaterra ao estatuto político do Brasil estava condicionado a um fator de extrema complexidade, que se transformou em um grande dilema: o fim da escravidão.
Em 24 de fevereiro de 1823, o ministro do Reino e Estrangeiros, José Bonifácio, escreveu ao embaixador brasileiro em Londres comunicando-lhe a posição do governo imperial acerca do comércio de escravos. O objetivo era instruir Caldeira Brant sobre o modo como deveria conduzir as negociações com o ministério inglês. Para tanto, Bonifácio forneceu diretrizes segundo as quais D. Pedro ponderava a "iniqüidade" do tráfico, embora não pudesse tomar medidas restritivas a respeito de tal atividade, uma vez que a Assembléia Constituinte estava em vias de ser convocada. Caldeira Brant, no entanto, deveria assegurar aos seus interlocutores que a abolição se daria de maneira "gradual", atendendo à falta de braços no Brasil. Argumentos fundados na necessidade do trabalho escravo para o funcionamento da economia do país.
O fracasso nas negociações com a Inglaterra levou o imperador a decidir pela retirada de Caldeira Brant da Corte de Londres. De volta ao Brasil, tornou-se deputado constituinte pela Bahia, mas o afastamento das gestões diplomáticas durou pouco. Em 3 de novembro de 1823, o ministro do Reino e Estrangeiros, José Joaquim Carneiro de Campos, indicou Felisberto Caldeira Brant para tratar de assuntos importantes para o Império na Corte de Londres, em vista de sua experiência diplomática e da confiança que nele depositava o governo brasileiro. No dia seguinte, o parecer de uma comissão de Constituição integrada pelos deputados Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, Pedro de Araújo Lima, Manuel Ferreira da Câmara, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva e José Egídio Álvares de Almeida (barão de Santo Amaro) aprovou a liberação de Caldeira Brant para exercer novamente a função de embaixador em Londres. Naqueles dias vivia-se o auge dos conflitos entre "brasileiros" e portugueses em torno do governo de Pedro I, embates que culminaram na "Noite da Agonia" (12 de novembro de 1823), quando o imperador dissolveu a Assembléia Constituinte.
A nova missão de Caldeira Brant em Londres consistia em continuar a negociar com a Inglaterra o reconhecimento da Independência, mas previa também a obtenção de empréstimos junto à casa bancária dos Rotschild para saldar despesas do Brasil recém-emancipado. O governo imperial vinha empregando grandes somas na pacificação das províncias recalcitrantes, especialmente do Norte, e precisava de insumos para desenvolver a sua economia, conforme o embaixador mencionou em carta a Luís José de Carvalho e Melo, visconde de Cachoeira, acerca de um empréstimo no valor de três milhões de libras. Dias depois, um decreto de D. Pedro I nomeou Caldeira Brant e Manuel Rodrigues Gameiro Pessoa, visconde de Itabaiana, seus plenipotenciários em Londres. Com isso, estavam autorizados a negociar com qualquer capitalista e banqueiro o citado empréstimo, a fim de pagar as despesas urgentes voltadas para a estabilidade e segurança do país.
As gestões diplomáticas para a obtenção do empréstimo que abasteceria os cofres do Banco do Brasil duraram meses, não sem alguns atropelos, como a negativa do ministro inglês, Mr. Canning, de tratar com o embaixador Gameiro Pessoa. A atitude trouxe problemas a Caldeira Brant. O diplomata sofreu acusações de anunciar ao interlocutor inglês que dispunha de "poderes especiais" para "tratar da extinção do comércio da escravatura", condição inarredável para o reconhecimento formal da Independência. Em sua defesa argumentou que apenas encontrava mais facilidade para ser ouvido em virtude das antigas relações com Mr. Canning.
Restava ainda tratar do reconhecimento de Portugal à Independência, mediante a intervenção da Inglaterra. O encarregado de Londres, Charles Stuart, tinha total apoio de Mr. Canning para a empreitada, pois este já se mostrava publicamente a favor do reconhecimento puro e absoluto da categoria política do Império, conforme relatou caldeira Brant a D. Pedro, em 9 de fevereiro de 1825. Contudo, exatamente uma semana depois, em carta a D. Miguel Antônio de Melo, o embaixador do Brasil comunicou a interrupção das gestões entre a Inglaterra e Portugal. A situação não tardou a se reverter, pois seis meses depois, em 29 de agosto, Portugal e Brasil assinassem o tratado que selou a paz e oficializou o reconhecimento da Independência por parte da antiga metrópole. Não sem que D. João VI recebesse, segundo o acordo, vultosa soma - obtida junto à Corte de Londres - a título de indenização.
O sucesso da missão rendeu ao embaixador não somente as felicitações de praxe pelos relevantes serviços prestados ao nascente Império e a indicação para embaixador em Lisboa, dias depois da assinatura do tratado com Portugal. Em 12 de outubro de 1825, um decreto de D. Pedro I elevou Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira e Horta a visconde de Barbacena, título ao qual foi acrescentado o de marquês precisamente um ano depois.
Os serviços do diplomata ficaram temporariamente suspensos quando retomou a carreira militar no Exército, durante a campanha da Cisplatina, cujos resultados foram desfavoráveis ao Brasil e à imagem do imperador. Entre 1827 e 1829 cresceu a oposição a D. Pedro. Neste último ano, o imperador dissolveu o Ministério e nomeou um substituto liderado pelo marquês de Barbacena. Nas palavras de Lúcia Bastos P. Neves e Humberto Fernandes Machado, houve um "relativo clima de serenidade" em 1830, após o afastamento, por instâncias de Barbacena, do secretário Chalaça e de João da Rocha Pinto da companhia do imperador, a fim de não comprometer a sua já desgastada popularidade. Também foi um período que se seguiu à retirada da Corte da marquesa de Santos, em virtude dos rumores palacianos e do segundo casamento de D. Pedro, com a princesa Amélia de Leuchtemberg, negociado por Barbacena.
Demitido do Ministério pouco antes da abdicação do imperador, em 1831, Barbacena não se retirou da vida pública. No ano seguinte, como senador, atuou na reforma da Constituição de 1824. Tempos depois, doente, viajou à Europa para cuidar da saúde e aproveitou a estadia para atender algumas recomendações do regente Feijó, que se valeu do prestígio que o diplomata possuía em Londres. Entre as incumbências estava a renegociação dos tratados de 1810, assinados por Portugal e Inglaterra, sobretudo no que dizia respeito à extinção do tráfico de escravos. No contexto das pressões inglesas, Barbacena apresentou em 1837 um projeto para o fim do comércio negreiro que, segundo Pandiá Calógeras, foi aproveitado muitos anos depois na elaboração da Lei Eusébio de Queirós (1850).
Falecido em 13 de junho de 1842, Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira e Horta merece, à luz da renovação que nos últimos anos vem sendo promovida nos estudos biográficos, um trabalho sobre a sua trajetória política. Homem que viveu as últimas décadas da dominação portuguesa e o período de consolidação da Independência do Brasil, sua ação deve ser analisada com a devida atenção a fim de que o pesquisador não incorra em generalizações acerca de sua inserção no cenário político a serviço de Portugal e, posteriormente, do Brasil.

Fábricas e Manufaturas no Brasil Joanino - Artigo


 

Fábricas e Manufaturas no Brasil Joanino - Artigo
Artigo

O desembarque da Corte portuguesa no Brasil em 1808 promoveu inúmeras mudanças no campo cultural, político, simbólico e econômico. Podemos citar os novos hábitos, as transformações no espaço da cidade do Rio de Janeiro, a abertura dos portos às nações amigas, o maior afluxo de comércio e produtos importados e uma preocupação em introduzir as fábricas e manufaturas no Brasil, processo anteriormente iniciado, mas precocemente limitado durante o período colonial.
Entre os textos que documentam a gênese da industrialização no Brasil, talvez um dos mais lembrados e comentados seja o Alvará de 1785, que proíbe as manufaturas de tecidos finos no Brasil, transcrito na seção D. João nas escolas. Por um lado, para lembrar sua futura revogação, por outro, e essencialmente, por indicar uma aparente reafirmação do caráter colonial da América portuguesa. Para toda uma linhagem de historiadores, o Alvará representou o caráter repressor da política metropolitana, com graves efeitos para o que seria uma nascente produção local. Cabe aqui um retorno a meados do século XVIII para melhor compreensão do contexto no qual este documento foi produzido.
O reinado de d. Maria I, iniciado em 1777, foi por muitos considerado o período da "viradeira", ou seja, de um retrocesso face à política reformista ilustrada do governo de d. José I e seu célebre ministro, Sebastião Carvalho de Melo, o marquês de Pombal. Neste momento, o alvará apresentou-se como um símbolo desse retrocesso. No entanto, tal como sugere Fernando Novais, devemos analisá-lo à luz das idéias econômicas de cunho mercantilista e de matriz fisiocrata predominantes na época. Ao proibir as manufaturas e insistir que a verdadeira riqueza estava nos frutos da terra, Portugal expressava que não poderia prescindir do mercado colonial, enquanto a colônia ensaiava seus primeiros passos rumo a um desenvolvimento independente:desde o reinado de d. José I, foi uma constante preocupação dos governantes o estímulo aos estudos de botânica e mineralogia, à produção de memórias científicas e à realização de expedições que avaliassem as condições de exploração dos recursos naturais das colônias.
A partir do período joanino, visando ao crescimento da produção e da produtividade, o investimento em estudos científicos para a melhoria de técnicas agrícolas também aumentou. A agricultura passou a ser vista como uma arte, um exemplo da capacidade do homem interagir com seu ambiente e transformá-lo em seu benefício. Deste modo, as atividades agrícolas passaram a ser encaradas como a grande fonte de riqueza do Estado, a verdadeira arte produtiva, para onde deveriam se voltar todos os esforços científicos e práticos.
É nesse contexto que devemos pensar a proibição das manufaturas no Brasil em 1785, expressando o pensamento de inspiração fisiocrata do Estado português, e expressando a preocupação de não ferir os laços mercantilistas, nos quais a colônia é responsável pelo fornecimento dos gêneros agrícolas enquanto a metrópole se encarregava de prover os produtos manufaturados. Para além dessas razões, outra questão que pesava para a proibição das manufaturas no Brasil era a própria tentativa de Portugal de estabelecer e firmar uma indústria manufatureira que pudesse substituir em parte as onerosas importações da Inglaterra, que, depois da Revolução Industrial, detinha o controle do mercado de exportação de gêneros industriais. A colônia representava um importante mercado para as manufaturas nascentes de Portugal, que não sobreviveriam a mais uma concorrência e à falta de consumidores.
Depois da Revolução Industrial, há uma crescente necessidade, por parte da Inglaterra, de mercados consumidores e fornecedores de matérias-primas para sua mais importante indústria, a têxtil, principalmente o algodão, produto de regiões e climas tropicais. Portugal representava nesta complexa teia de relações, um importante papel de aliado, importador dos produtos ingleses, que seriam repassados a suas colônias junto com seus próprios gêneros manufaturados. O Brasil, consecutivamente, cresce de importância, não somente para sua metrópole, tornando-se a mais valorosa colônia do Império português, mas despertando crescente interesse em outras nações atraídas pelo potencial lucrativo de um território tão vasto e fértil, apesar da enorme população destituída de meios de compra - os escravos. Durante as guerras de independência das treze colônias, o Maranhão tornou-se um importante fornecedor de algodão para a indústria têxtil inglesa, retornando manufaturado posteriormente por meio de Portugal.
Cabe aqui avaliar o frágil equilíbrio de forças e a delicada posição de Portugal e da Inglaterra frente ao Brasil em termos comerciais e o papel importante do contrabando. No reinado de d. Maria I verificava-se uma significativa diminuição nos lucros obtidos com o comércio com o Brasil devido a concessões de licenças aos ingleses para comerciarem em alguns portos brasileiros, mas principalmente ao contrabando promovido por outros países europeus, sobretudo pela Inglaterra. Essa diminuição de lucros foi corretamente creditada a um aumento do contrabando nas costas brasileiras, principalmente de origem inglesa, e ao discreto desenvolvimento de oficinas e manufaturas grosseiras de têxteis, sobretudo.
Como reação, tentando restaurar sua parte no equilíbrio com a Inglaterra, que comercializava diretamente com o Brasil e rompia o traço mais importante dos laços coloniais, o exclusivo comercial, Portugal emite dois alvarás em 5 de janeiro de 1785, um proibindo as manufaturas e o outro reprimindo o contrabando no Brasil. Com o comércio ilícito lucravam os ingleses, com um grande mercado fornecedor e consumidor na América do Sul, lucrava o Brasil, onde se dizia ser possível encontrar tecidos de algodão mais baratos do que em Portugal, e perdia a Coroa portuguesa e suas manufaturas, que não conseguiam se desenvolver face à desleal competição com os produtos ingleses, de melhor qualidade, mais baratos (pois chegavam ao Brasil sem pagar os devidos direitos) e abundantes. Cabe assinalar que o alvará que proíbe as manufaturas no Brasil também agradou aos ingleses, que não tinham mais as manufaturas brasileiras para embaraçar o comércio. Novais avalia assim a situação:.
[...] no mais das vezes a aliança inglesa encobria para Portugal uma efetiva tutela. ... O que a côrte de Lisboa tinha em mira era um equilíbrio difícil que, sem comprometer de todo a necessária aliança política, permitisse recobrar uma mais larga faixa de movimentação econômica. [...]
Ao determinar a supressão das manufaturas existentes no Brasil (...), bem como ao intentar coibir a penetração de economias mais desenvolvidas no mercado ultramarino, a política colonial portuguesa reage a uma situação de fato, que deve ser encarada com objetividade, mas é indiscutível que ao fazê-lo procura preservar em moldes tradicionais o funcionamento do sistema, e nesse sentido é justo falar-se em persistência de uma orientação mercantilista.
Voltando nosso olhar para a situação da colônia, percebemos que internamente os baixos níveis de capitalização entre os colonizados (as camadas mais pobres da população da colônia) dificultavam a convivência entre a atividade manufatureira e a produção agrícola, devendo haver uma preponderância em favor da segunda. No entanto, entre os colonos (produtores agrícolas exportadores) podemos verificar a presença de moeda corrente, oriunda do comércio contrabandista. Esse capital era freqüentemente convertido em produtos manufaturados, comprados comumente direto do contrabando inglês, de melhor qualidade e, muitas vezes, mais baratos do que os produzidos pelas manufaturas coloniais, que produziam artesanalmente e em pequena escala.
Desta forma, segundo Novais, não se pode concluir que "o impacto da proibição sobre a economia colonial brasileira tenha assumido dimensões de grande monta", fato esse verificável pelas escassas apreensões de teares que resultaram das buscas empreendidas pelas autoridades coloniais principalmente nos núcleos mais densos como a capital, o Rio de Janeiro e a antiga sede, a cidade de Salvador. Mantinham-se as manufaturas domésticas para a produção de tecidos grossos para vestimentas de escravos e dos grupos mais desfavorecidos, e para a confecção de sacos para transporte de gêneros agrícolas. A função da manufatura na colônia deveria ser de complementar as atividades agrícolas ou suprir as faltas da metrópole, nunca rivalizar com esta. Essa idéia da indústria como complementar da "verdadeira" atividade econômica, a agricultura, ganha força ao longo do oitocentos e é responsável pela demora na industrialização do Brasil.
O desembarque da Corte portuguesa no Brasil trouxe, logo de imediato, a revogação da proibição de 1785 no alvará de 1º de abril de 1808, que extinguia "toda e qualquer proibição, que haja a este respeito no Estado do Brasil, e nos meus domínios ultramarinos, e ordenar, que daqui em diante, seja o país em que habitem, estabelecer todo o gênero de manufaturas, sem excetuar alguma, fazendo os seus trabalhos em pequeno, ou em grande, como entenderem que mais lhes convém, para o que". O alvará de abertura dos portos em 28 de janeiro de 1808 preocupou os comerciantes e fabricantes portugueses que perdiam sua prerrogativa oficial de exclusivos no comércio com o Brasil, ainda que, na prática, soubessem dos contrabandos. Embora reconhecessem que era necessário à Coroa abrir os portos da nova sede do Império para a continuação das transações comerciais, e também tivessem ciência do acordo com a Inglaterra, que previa a abertura dos portos brasileiros aos produtos ingleses em troca de apoio na transmigração da Corte e da burocracia do Estado para o Brasil, os comerciantes e donos de manufaturas portugueses sentiram-se lesados em seus direitos e efetivamente não tinham como competir com um concorrente tão forte quanto a Inglaterra pós-Revolução Industrial.
O alvará de 1º de abril de 1808, reproduzido na seção D. João nas escolas, foi uma tentativa de compensar parte das perdas e acalmar os ânimos, abrindo a possibilidade e promovendo a implementação de manufaturas no Brasil. Essa medida não foi suficiente, pois muitos portugueses haviam perdido seus bens com as guerras napoleônicas e na fuga para o Brasil, e não tinham condições de se restabelecer na nova Corte. Essa situação levou à criação do alvará de 28 de abril de 1809, que representou mais um esforço para favorecer a introdução de fábricas no Brasil e recuperar o frágil equilíbrio de forças, oferecendo privilégios de catorze anos para inventores e introdutores de novas máquinas no Brasil, sobretudo as que auxiliassem na agricultura, e pela criação de uma loteria, cuja arrecadação seria revertida para auxílio das manufaturas que se encontrassem em dificuldade, principalmente as de lã, algodão, seda, ferro e aço. Outra medida, exemplificada em um parecer da Junta do Comércio na seção D. João nas escolas, previa a proteção das manufaturas e tecidos estampados e de cor vindos das colônias portuguesas no Oriente, que chegavam ao Brasil obrigatoriamente via Portugal, e que teriam seus direitos reduzidos e a manutenção do privilégio de comércio para favorecer os comerciantes portugueses responsáveis pelo fornecimento dos gêneros e os que mediariam as transações.
Tais medidas, visando a melhorar as condições dos portugueses, acabavam por ferir os acordos com a Inglaterra, que cobrava sua parte no pacto. O Tratado de Amizade, Comércio e Navegação firmado em 1810, novamente desestabilizou as já precárias relações entre portugueses e ingleses. O acordo firmado revela o frágil equilíbrio de forças e as dependentes relações entre Portugal e Inglaterra, resultando em uma concessão que favorecia diretamente os produtos ingleses em detrimento dos próprios gêneros portugueses, que pagariam 16% de impostos, e dos estrangeiros de outras nações amigas, taxados em 24%, contra os 15% cobrados dos ingleses. Este tratado resultou, praticamente, em um domínio inglês no mercado do Brasil, uma vez que se tornava bastante difícil para as outras nações competir com os preços, a variedade e a qualidade dos produtos oriundos da Inglaterra e suas colônias. Provocou profundo mal-estar e insatisfação entre os produtores e negociantes portugueses, que se sentiam lesados no comércio colonial que controlavam com exclusividade anteriormente, e também desagradou aos ingleses, desejosos de mais benefícios e privilégios em troca de terem ajudado na transmigração da Corte e na manutenção da integridade do Império português.
Outra medida tomada logo depois da chegada da Corte foi a criação da Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação em 23 de agosto de 1808, em decorrência direta da abertura dos portos, para administrar questões relativas a matrículas dos comerciantes nas diversas praças comerciais do Brasil e para funcionar como um órgão regulador da implementação das fábricas e manufaturas no Brasil.
Era função da Junta dar permissão para abertura de fábricas, conceder privilégios, monopólios e isenções de direitos sobre produtos de acordo com o alvará de 28 de abril de 1809, regular disputas entre comerciantes e fabricantes, entre outras, como podemos verificar pelas ementas dos documentos na seção Textos joaninos. O fundo Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação é, portanto, instrumento privilegiado para o estudo deste período em que se pretendeu iniciar a industrialização no Brasil. Segundo Geraldo de Beauclair, podemos falar de uma pré-indústria no Brasil a este tempo, que, no entanto, não evolveu devido às precárias condições para instalação das manufaturas, à falta de mercado consumidor e trabalhadores, e à brutal concorrência com produtos de melhor qualidade e preço. As fábricas que conseguiram ir adiante foram as reais, como a Real Fábrica de Pólvora, cujo alvará de criação também se encontra transcrito na seção D. João nas escolas, e a fábrica de fiação da Lagoa Rodrigo de Freitas, providas com capital da Coroa.
Mas o mais forte argumento que explica o malogro da maioria das fábricas criadas durante as primeiras décadas do século XIX é o mesmo que se apresenta para explicar uma falta de "braços" trabalhadores na indústria em um país cuja mão-de-obra é escrava: as fábricas e manufaturas estariam sempre subordinadas à atividade agrícola, que representavam a maior fonte de riqueza do Brasil. José da Silva Lisboa, visconde de Cairú, deputado da Junta do Comércio, desembargador da relação da Bahia, que escreveu vários livros sobre a questão da indústria, do comércio, do direito e do liberalismo no Brasil, em sua obra Observações sobre a franqueza da Indústria e estabelecimento de Fábricas no Brasil, assim dizia sobre a presença de fábricas na colônia, apresentando um argumento muito semelhante ao já visto no alvará de 1785:
[...] Parece-me impróprio e pernicioso precipitar as épocas dos possíveis melhoramentos do Brasil no que respeita a fábricas; e é evidentemente absurdo pretendermos rivalizar e já competir com os países populosos e adiantados em estabelecimento desta natureza, e até no risco de distrair braços e fundos dos mais convenientes canais da riqueza nacional.
E continua:
[...] enquanto tiver muitas e férteis terras, nenhum emprego pode ser tão lucrativo como o da agricultura, mineração, comércio interior e exterior, e artes mais imediata e proximamente associadas aos exercícios respectivos.
Deste modo, as fábricas que se instalassem no Brasil não deveriam competir com a agricultura, retirando-lhe trabalhadores e capitais, mas auxiliá-la, modernizá-la e complementá-la, um bom exemplo sendo a introdução das máquinas agrícolas, que aceleravam a produção e aumentavam a produtividade. Um outro documento transcrito na seção D. João nas escolas, trata-se de uma consulta feita a Junta do Comércio na qual Louis Lecesne requeria isenção de direitos sobre três máquinas de descascar café que importara da França, sendo ele mesmo um pioneiro na introdução da cultura do café no Rio de Janeiro. Lecesne fora atendido, pois a Junta entendeu que cada uma das máquinas economizava o trabalho de seis pessoas, e afirmava que:em um país aonde a cultura das suas mais preciosas produções, estão ainda tanto na infância a introdução de todos e quaisquer inventos, que tenderem a melhorar a sua agricultura, e indústria devem sic ser assinada com todos os possíveis favores, pois que as decididas vantagens, que delas podem resultar em pública utilidade compensam super abundantemente [sic] a Fazenda Nacional do pequeno prejuízo, que sofre pela falta do pagamento dos respectivos direitos.
Pela Junta de Comércio passaram inúmeras consultas e concessões de incentivos e privilégios, embora, como previsível, as condições para o desenvolvimento dessas iniciativas fossem poucas. Mas o interesse pelo estabelecimento dessas fábricas é expressivo nos papéis da Junta, que concedeu muitas licenças para fábricas e uso de máquinas, como visto anteriormente, e que nos primeiros momentos da transmigração da Corte auxiliou comerciantes e fabricantes que fugiram da ocupação francesa e perderam suas propriedades e outros portugueses que vêm viver no ultramar a tentar aqui uma nova vida.
Podemos ainda citar outros exemplos, como Joaquim José da Silva, proprietário de uma fábrica de estamparia em Portugal, que teve de vir para o Rio de Janeiro devido à invasão francesa. Em consulta à Junta, pedia autorização para transferir de Portugal para o Andaraí a sua fábrica, que funcionaria em sociedade com a já estabelecida firma Carneiro Silva e Pinheiro; Francisco Wallis, mestre no fabrico de lanifícios e proprietário de uma fábrica em Lisboa, pedia para abrir uma do mesmo tipo em São Cristóvão; em Mata-Porcos, então subúrbio da Corte, foi autorizado o funcionamento de uma fábrica de tecidos de algodão, de propriedade de Antônio Xavier de Carvalho Bastos, esta já montada, contendo teares e todos os requisitos necessários; instalados no Maranhão, Antonio José Moreira Guimarães e seu filho Joaquim Antonio Moreira Guimarães, mestres fabricantes de seda, algodão e tinturaria na cidade do Porto, solicitam a abertura de uma fábrica do mesmo porte da que tinham em Portugal e que fora queimada pelos franceses. Viviam eles na "cidade do Maranhão", e foram encarregados de ensinar a alguns índios a arte de tecer.
Verificamos, então, que este período de experimentação, de 1808 a 1821, representou mais uma fase de ajustes à nova situação promovida pela chegada da Corte e significou também uma primeira tentativa real, e com apoio da Coroa, de implementar fábricas e manufaturas no Brasil. Se não foi um momento marcado pela existência de muitas delas, foi um período em que muito se empreendeu e tentou para estabelecê-las, e que também trouxe à baila discussões sobre liberalismo, protecionismo, fisiocracia, o papel das máquinas, que nortearam parte dos debates ao longo do oitocentos. No entanto, e sem desconsiderarmos o esforço que se viria assistir por parte de homens do Estado e de indivíduos como o barão de Mauá, as décadas seguintes foram marcadas pela insistência na escravidão, denotando, além do aviltamento dessa população, uma visão inadequada ao crescimento econômico no século XIX. Manifesta-se também que a despeito da importância crucial da agricultura, a maior parte das práticas agrícolas assentava-se em técnicas algo rudimentares e predatórias, enquanto uma pasta ministerial para essa atividade só foi criada na década de 1860. O setor industrial não se firmou naquele século e o país, que como tal veio a nascer da expansão européia, ingressou no cenário industrializado na ponta do fornecedor de matérias primas e consumidor de manufaturados importados. Embora dispusesse de mão de obra barata e extensos recursos naturais, deixava assim pouco lugar para que as "indústrias manuais" se desenvolvessem no Brasil".

Jogo do Bicho: Processo Criminal - Artigo

 







Jogo do Bicho: Processo Criminal - Artigo
Artigo

Na passagem do Império para a República, uma forma criativa de aumentar as receitas de um negócio privado viraria febre no Rio de janeiro e se espalharia pelo Brasil.
O barão de Drummond, dono do zoológico de Vila Isabel, na Capital Federal da jovem República, iniciou uma forma de sorteio peculiar (embora não exatamente inédita na cidade) com o objetivo de aumentar a visitação: transformou o tíquete de entrada do zoológico em uma rifa em que os números corresponderiam a 25 animais, sendo que a escolha cabia ao visitante. A cada dia, o barão em pessoa sorteava um animal e o colocava em uma caixa na entrada do zoo. Ao final do dia, ele abria a caixa diante do público e o ganhador recebia 20 vezes o valor da entrada.
Em poucos tempo o jogo viraria mania na cidade, e sorteios de bilhetes com animais espalharam-se por outros estabelecimentos. Na alvorada do século XX, a prática já havia sido proscrita, mas continuou a ocorrer, organizada principalmente pelo contingente de pessoas pobres e desempregadas que não tinham de onde tirar seu sustento.
Ao longo de todo o século XX, o jogo do bicho espalhou-se pelo Brasil, embora jamais tenha saído da ilegalidade.
As imagens aqui exibidas são partes integrantes de um processo, com apreensão de bilhetes, bem como de um anúncio de jornal com os resultados do dia. Os processos corriam nas antigas pretorias, criadas pelo decreto nº 1030 de 1890, com as atribuições anteriormente exercidas pelo juiz de paz. O decreto nº 1978, de 1895 reduziu seu número de 21 para 15, e o decreto nº 9263 de 1911 separou o civel do criminal, estabelecendo oito pretorias cíveis e oito criminais. Competia aos pretores do crime, entre outras atribuições: fazer corpo de delito; lavrar auto de prisão em flagrante; conceder fiança; julgar as contravenções processadas pelas autoridades policiais; formar culpa nos crimes de competência do júri. As pretorias criminais foram extintas pelo decreto-lei nº 2035 de 1940, que as substituiu pelas varas criminais.

Jardim de Infância Machado de Assis, 1950, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil

 





Jardim de Infância Machado de Assis, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia



A instalação era construída com bambus. Ficava no atual complexo do Parque Municipal do Morro do São Bento, na área do Bosque Municipal Fábio Barreto, no meio do caminho do viveiro das araras e o Jardim Japonês (atualmente há um recinto de aves no local).
Consta que essa escola, posteriormente, foi transferida para a Praça Santo Antônio e, algum tempo depois, novamente transferida, agora para o Ginásio Apóstolo Paulo (nos Campos Elíseos).
Curiosidade: Será falsa impressão ou os alunos parecem estar usando uniformes de escoteiros?
Nota do blog: Data 1950 / Autoria não obtida.


Trecho do Parque do Anhangabaú, São Paulo, Brasil


 

Trecho do Parque do Anhangabaú, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Foto Postal Colombo N. 15
Fotografia - Cartão Postal

Praça da Liberdade, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil


 

Praça da Liberdade, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
Belo Horizonte - MG
Edição da Livraria e Papelaria Rex
Fotografia - Cartão Postal