Guernica y Luno - Espanha
Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri, Espanha
OST - 349x776 - 1937
Com
349 cm de altura por 776,5 cm de comprimento, Guernica, uma das obras mais famosas
de Pablo Picasso (1881-1973), pintada a
óleo em 1937, é uma “declaração de guerra contra a guerra e um manifesto contra
a violência”. O quadro, além de ser um ícone da Guerra Civil Espanhola, é hoje
um símbolo do antimilitarismo mundial e da luta pela liberdade do homem.
O quadro tem implícito uma mensagem de
resistência contra o autoritarismo e também conta a
ascensão dos governos fascistas na Europa. O quadro estabelece um diálogo
direto com o espectador por enxergar o drama, a morte e a tragédia. O
quadro, ao mesmo tempo, representa as terríveis consequências da guerra sob a
luz de uma lâmpada elétrica, símbolo
da modernidade e do progresso técnico. A obra de Picasso trabalha com uma linguagem paradoxal.
O pintor havia sido escolhido pelo governo
espanhol para representar a Espanha na Exposição Internacional de
Artes e Técnicas, que aconteceria em Paris. Quando o artista recebe
a notícia do massacre ocorrido da cidade basca de Guernica, ele faz do desastre o tema de sua tela. O bombardeio aéreo à
cidade foi feito por caças alemães em apoio ao general Francisco Franco. Atualmente está no Museu Nacional
Centro de Arte Reina Sofia, em Madrid na Espanha.
O governo espanhol queria utilizar o pavilhão
como instrumento de propaganda política que refletiria o drama vivido no país,
em plena Guerra Civil após a revolta do exército contra o Governo da II
República. A participação espanhola se converteu assim em uma oportunidade para
difundir o conflito na busca de apoio internacional.
Com a morte do ditador Franco, iniciaram-se
os trâmites legais para o regresso do quadro para a Espanha, depois de 40 anos em exílio. A obra chegou no país
espanhol apenas em 1981 e, somente em 1992 o
quadro foi levado ao Museu Nacional
Centro de Arte Reina Sofia, onde está até hoje.
Para Frederick Hartt, Guernica é um “memorial
de todos os crimes perpetrados contra a humanidade no século XX”.
A pintura
foi feita com o uso das cores preto e branco e um toque de bege e azul, algo
que demonstrava o sentimento de repúdio do artista ao bombardeio da pequena cidade espanhola. Embora
o quadro apresente uma linguagem de vanguarda, a obra é formada por uma
estrutura piramidal e com uma composição simétrica e, simultaneamente, recupera
o espírito do barroco espanhol, com o
uso de expressões exageradas de dor com uma representação do trágico.
Claramente em estilo modernista, Picasso retrata pessoas, animais e edifícios
atingidos pelo intenso bombardeio da força aérea alemã (Luftwaffe) - oito personagens, entre pessoas e animais,
protagonizam a cena. Em ordem, partindo da esquerda: uma mulher chorando, que
carrega um menino morto nos braços, um touro, um soldado caído de costas, que
segura uma espada e uma flor, acima dele um cavalo, uma mulher que se projeta
de uma janela, carregando uma lamparina, uma outra mulher que está correndo e,
enfim, uma terceira mulher cercada pelas chamas - ela parece gritar e está com
os braços levantados. No dia do bombardeio, a força alemã já estava sob o
controle de Adolf Hitler, aliado de Francisco Franco.
Morando em Paris,
o artista soube dos fatos desumanos e brutais através de jornais, e daí
supõe-se tenha saído a inspiração para a retratação monocromática do fato.
Sua composição retrata as figuras ao estilo
dos frisos dos templos gregos, através de um enquadramento triangular delas. O
posicionamento diagonal da cabeça feminina, olhando para a esquerda, remete o
observador a dirigir também seu olhar da direita para a esquerda, até o lampião trazido ainda aceso sobre um braço decepado e,
finalmente, à representação de uma bomba explodindo.
O quadro Guernica poderia ser considerado
como a sequência culminante [neste caso, e em termos cinematográficos, como um
conjunto de planos de ação que se desenrolam no mesmo local, nosso] de uma
espécie de guião cinematográfico de carácter visual (um storyboard), cujo desenvolvimento
prossegue, depois, nas outras vinhetas. Portanto, depreende-se uma sequência
narrativa na obra.
O cavalo, um dos elementos centrais da obra,
é símbolo da revolta franquista, cujo significado fora empreendido por Juan
Antonio Ramírez em análise à obra "Sonho
e Mentira de Franco". Ramírez afirma que da ferida do cavalo parece
sair a asa que fará voar este animal, tão parecido, aliás, com esse outro
equino, vítima do fascismo, que Picasso pintará, pouco depois, no centro de
Guernica, referindo-se à ferida exibida pelo cavalo em "Sonho e Mentira de
Franco" que transforma-se em asas, simbolizando a liberdade.
As diferenças entre as obras são o fato de
que o cavalo em Guernica representa a vitimização e também não possui asas,
apesar de estar ferido. A depicção é contraditória pois, o cavalo é geralmente
retratado como agressor, indicando uma subversão da natureza agressor/vítima.
Não existem inimigos na imagem, nem bombas. Picasso retrata as vítimas cercadas
pela dor e pelo medo.
A obra foi apresentada pelo diretor cinematográfico Alain Resnais em seu documentário nomeado “Guernica”, de
1950, onde ele retrata o ataque aéreo à cidade usando as imagens de Picasso
somadas ao texto de Paul Éluard.
O mural foi
criado em resposta ao Bombardeio de Guernica, em
abril de 1937. A cidade é localizada na província de Biscaia, no País Basco. Durante a Guerra Civil Espanhola,
eles eram conhecidos como local de resistência da cultura basca, sendo um
grande alvo do governo espanhol.
As forças republicanas eram compostas de
diferentes facções (comunistas, socialistas, anarquistas, entre outros) com
diferentes objetivos, mas unidos em oposição aos nacionalistas. Estes,
entretanto, eram liderados pelo general Francisco Franco, que buscava uma volta à Espanha
pré-republicana, baseada na lei, respeito e valores católicos tradicionais.
Quando eram 16:30 de segunda-feira, dia 26 de
abril de 1937, aviões de guerra alemães, liderados pelo marechal Wolfram von Richthofen,
bombardearam a cidade por cerca de duas horas seguidas. A Alemanha, à época governada
por Hitler, tinha se aliado e emprestado
material de suporte aos nacionalistas.
No dia 30 de abril, Von Richthofen relatou em
seu diário:
“Quando o nosso esquadrão chegou ao local
pela primeira vez, já tinha fumaça por todo lugar; ninguém conseguia
identificar os alvos nas estradas, pontes, subúrbios. Dessa maneira, eles
jogaram todas as bombas no centro. Eles destruíram um grande número de casas,
correntes d’água. Os incendiários agora poderiam se espalhar e se tornarem mais
efetivos. Os materiais das casas como telhas e portões de madeira foram
aniquilados. A maioria dos habitantes estava viajando por conta do feriado; o
restante deixou a cidade imediatamente por conta do começo do bombardeio; um
pequeno número pareceu nos abrigos que foram destruídos.”
Outras fontes dizem que os habitantes da
cidade estavam, na verdade, congregados no centro, pois era dia de feira, e
então o bombardeio começou. Dessa maneira, muitos não conseguiram escapar pois
as rodovias estavam cheias de detritos e as pontes que levavam ao outro lado da
cidade haviam sido destruídas.
A
fotógrafa Dora Maar – que já havia trabalhado
com Picasso desde 1936 ao captar imagens
de seu estúdio e lhe ensinar as técnicas de fotografia – documentou os estágios que a cidade de
Guernica precisou passar para se reconstruir. Mesmo com o valor publicitário
por trás, suas fotografias “ajudaram Picasso a evitar cores e dar à obra tons
brancos e pretos, iguais aos das fotos”, de acordo com o historiador
especializado em arte John Richardson.
O trabalho foi pintando com tintas foscas
encomendadas especialmente por Picasso, que queria ter o menor brilho possível. O
artista americano John Ferren o auxiliou a rascunhar nas telas de pintura. Antes
dessa obra, Picasso quase não deixava estrangeiros entrarem em seu estúdio e
assistirem ele trabalhando, mas ele liberou visitantes influentes no seu
estúdio para que observassem o progresso de sua pintura, acreditando que a
publicidade que ganharia ajudaria na causa antifacista.
Enquanto trabalhava no mural, Picasso disse:
“O problema espanhol é a luta da reação contra as pessoas, contra a liberdade.
Em toda a minha vida de artista, não tenho feito nada além de lutar contra as
reações e a morte da arte. Como qualquer pessoa poderia pensar, por um momento,
que eu teria concordado com a morte?. No painel que eu tenho trabalhado, que eu
devo chamar de Guernica, e em todos os meus trabalhos recentes, eu claramente
expresso o meu aborrecimento com os militares que afundaram a Espanha em um
oceano de tristeza e morte”.
Depois de 35 dias de trabalho, ele terminou a
sua arte em 4 de junho de 1937.
O quadro do
Pablo Picasso veio para o Brasil em 1953 e
foi o principal destaque da Segunda Bienal de Arte de São Paulo, realizada
naquele ano. A exposição da obra ajudou a influenciar a temática, os traços e a
representação das formas dos artistas latino-americanos, que viram o quadro na
exposição.
A história da vinda do quadro ao País começa
antes mesmo da obra existir. Entre 1926 e 1928, auge do primeiro movimento
modernista no Brasil, o pintor Cícero Dias, tomado pelo primitivismo modernista e pelo desejo
de desenvolver grandes obras, mudou-se para Paris,
em 1937. Quando chegou na capital francesa, o pintor brasileiro teve contato
com a obra de Picasso. Ao ver Guernica finalizada, Dias identificou novas
possibilidades estéticas, expressivas e pictóricas para o tipo de pintura em
painel que realizava, desde os anos de 1920. A influência do tema e da forma,
transformaram a obra do artista brasileiro. Simultaneamente com isso, Dias e
Picasso tornaram-se grandes amigos.
Será por meio dessas relações pessoais que
Dias conseguirá a autorização de Picasso para que Guernica e outras gravuras e
pinturas sejam enviadas para a II Bienal de São Paulo, em 1953. À época, as
questões envolvidas na Bienal, como o debate pictórico e outras questões da
arte não tiveram tanta importância. O quadro Guernica fora sucesso de público e
de crítica. Por conta disso, os jornais denominaram exposição como a “Bienal de
Guernica”.
Essa obra também influenciou outros artistas
brasileiros como Cândido Portinari. O
artista brasileiro viu o quadro espanhol pela primeira vez, em 1942, em Nova
York.Portinari estava expondo quatro grandes murais para a Fundação Hispânica
da Biblioteca do Congresso, em Washington, com temas referentes à história
latino-americana. Em 1943, de volta ao Brasil, e sob o impacto da Segunda
Guerra Mundial e da ditadura de Getúlio Vargas, o artista brasileiro realizou
oito painéis que ficariam conhecidos como "Série Bíblica",
influenciada pela temática da dor e das questões sociais advindas da representação
de Guernica. A partir disso, Picasso passaria a retratar os dramas oriundos do
Brasil.
Conta-se
que, em 1940, com Paris ocupada pelos nazis, um oficial alemão, diante de uma
fotografia reproduzindo o painel, perguntou a Picasso se havia sido ele quem
tinha feito aquilo. O pintor, então, teria respondido: "Não, foram
vocês!".
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