Pedra Fundamental de Brasília, Distrito Federal, Brasil
Planaltina, Brasília - DF
Fotografia
A pedra
fundamental de Brasília é um obelisco construído como monumento arquitetônico para lançar a construção
de Brasília.
O obelisco está localizada no Morro do
Centenário a 1033 metros de
altitude e 47º39' de longitude, a exatamente 9 km de Planaltina, onde também se localiza a Igreja de São Sebastião,
que tem aproximadamente 200 anos, contrastando com a idade real da cidade mais
velha do Distrito Federal, a cidade de Planaltina.
Para comemorar o centenário da Independência, em 7 de setembro de 1922, ao meio dia,
o presidente dos Estados
Unidos do Brasil, Epitácio
Pessoa, faz assentar a pedra
fundamental da futura capital do país a dez quilômetros de Planaltina.
Baseada no sonho de Dom Bosco, a pedra fundamental caracteriza o ponto central
do Brasil, "entre os paralelos 15 e 20 graus."
O decreto para o assentamento da pedra fundamental
foi assinado por Epitácio Pessoa em janeiro de 1922, mas o diretor da Estrada
de Ferro Goiás em Araguari (MG), Balduíno Ernesto de Almeida, somente foi informado
pelo Inspetor de Estradas de Ferro, Palhano de Jesus, por telegrama em 27 de
agosto. Ou seja, somente a dez dias do Centenário ele soube que teria que
erguer o monumento no Retângulo
Cruls, a 450 km dali, e
inaugurá-lo de forma solene, exatamente ao meio-dia de 7 de setembro.
O Obelisco tem forma piramidal de base quadrada com 3,75 m de altura, a
contar das fundações. As suas faces estão orientadas pelos pontos cardeais. A
Placa comemorativa está situada na face oeste, na qual está
escrito: "Sendo Presidente da República o Excelentíssimo Senhor Dr.
Epitácio da Silva Pessoa, em cumprimento ao disposto no decreto n.º 4.494 de 18
de janeiro de 1922, foi aqui colocada em 07 de setembro de 1922 ao meio-dia, a
Pedra Fundamental da Futura Capital dos Estados Unidos do Brasil".
O marco
geodésico encontra-se a sete
metros do monumento, a 7,5 km da cidade de Planaltina e a 24 km a NE da
estação rodoviária de Brasília (em linha reta), em concreto, com chapa do IBGE cravada
no topo, numa caixa com tampa móvel e de ferro fundido.
O assentamento da pedra fundamental da futura
capital, no Centenário da Independência, a 7 de setembro de 1922, bem poderia
ter sido — como sugeriu Duque Estrada — o sepultamento definitivo
da ideia, com a colocação de "uma pedra por cima".
O mero relato da expedição
Balduíno, na época, deveria causar no Rio de Janeiro uma péssima impressão
sobre o local escolhido para a futura capital — tantas seriam as dificuldades
encontradas para a realização de uma tarefa aparentemente simples.
Pior do que o relato dessas
dificuldades, só se chegasse ao Rio de Janeiro a notícia de um fracasso em
desempenhá-la na data marcada.
Hoje, esse relato deixa uma
impressão difícil de definir, entre a simples falta de planejamento e a
hipótese mais complicada — mas possível, até provável — de
um tropeço bem planejado e simples, articulado em algum ponto da
"cadeia de comando" do governo.
Assinado o decreto em janeiro
de 1922, somente a 27 de agosto — faltando 10 dias para o Centenário — o
diretor da Estrada de Ferro Goiás, com sede em Araguari (MG), foi informado, por
telegrama, de que o ministro da Viação e Obras Públicas o havia encarregado de
erguer um monumento no Retângulo Cruls, a 450 km dali, e inaugurá-lo de
forma solene, exatamente ao meio-dia de 7 de setembro.
O telegrama do inspetor-geral de Estradas de Ferro,
Palhano de Jesus, informava que uma placa de bronze acabava de ser encomendada,
na véspera (!), ao Liceu de Artes e Ofícios, em São Paulo, que após fazer o
molde e fundi-la, deveria enviá-la a Araguari. Tudo o mais, da construção do
monumento até a organização do evento, ficava por conta do engº Balduíno:
« Faltava-me tempo para pensar; para agir ainda pouco
era o tempo... »
A solução prática e rápida foi projetar uma
pirâmide-obelisco de pedras artificiais, e apenas montar o conjunto no local.
Feitas as fôrmas e vasado o concreto, as “pedras” ficaram prontas em 31 de
agosto.
A ferrovia, porém, chegava só até Ipameri (GO), 150
km além de Araguari, porém ainda a 300 km do Retângulo Cruls. Para transportar
de Ipameri em diante as pedras (5 toneladas), cimento, ferramentas, pessoal,
comitiva e alimentos para 15 dias, fretou 5 automóveis "Ford Bigode"
e 6 caminhões. Esgotada a frota automobilística de Araguari, outros 4
automóveis tiveram de ser fretados em cidades vizinhas.
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A placa encomendada em São Paulo
chegou às 10h30 da manhã de 1º de setembro. Às 11h, partiu de Araguari o trem
especial com toda a comitiva, as "pedras" de concreto, cimento,
ferramentas, alimentos, e os 15 veículos fretados, chegando a Ipameri ao
anoitecer.
A baldeação da carga dos vagões para automóveis e caminhões tomou toda a noite
e parte da madrugada. Quase ninguém dormiu. Às 5h da manhã do dia seguinte, 2
de setembro, a caravana — reforçada por mais 2 "Ford Bigode" —
iniciou a segunda parte da viagem. Nas primeiras 7
horas foram percorridos apenas 20 km, com os caminhões estacando a cada
momento, nas grandes rampas que tinham de vencer [Com sorte, talvez a
estação das chuvas ainda não houvesse começado]. No total, no primeiro dia de
viagem, das 5h às 21h, foram vencidos apenas 76 km.
No segundo dia, 3 de setembro, a caravana avançou mais 84 km até o cair do sol,
quando chegou ao povoado de Cristalina. Segundo as informações locais, a partir
dali a estrada não apresentaria grandes problemas. Balduíno, que vinha à
retaguarda, decidiu, acossado pelo tempo, seguir à frente com os "Ford
Bigode", deixando os caminhões seguirem atrás da caravana. Tarde da noite,
chegou ao arraial de Mestre d'Armas [Planaltina], fixado como referência,
e que seria a base dos trabalhos.
O dia 4 foi empregado — entre outras
coisas — a escolher o local para o monumento. O engenheiro visitou o
córrego Acampamento [acampamento da 2ª Missão
Cruls; atualmente Parque Nacional de Brasília] e o Paranoá.
Esses dois locais delimitavam — a
leste e noroeste — a área preferida por Cruls e Glaziou para a construção da futura
capital [e onde, de fato, veio a ser construída]. Mas estavam a 40 km de
sua base de trabalho, o arraial de Mestre d'Armas [Planaltina], onde
àquela altura os caminhões ainda eram esperados. É possível que essa distância
extra tenha pesado na sua decisão, diante da falta de tempo.
Os caminhões
chegaram na manhã do dia 5, e nessa mesma manhã o engº Balduíno escolheu um
local bem mais próximo: um promontório sobre o vale do rio São Bartolomeu, a
apenas 8 km de Mestre d'Armas. Batizou o local de "serra da
Independência"; e aos dois morros ali existentes atribuiu os nomes de
"Centenário" e "7 de Setembro":
« Pois bem, no
morro do Centenário decidi, bem ou mal, na manhã de 5 de setembro, colocar a
pedra básica da futura capital da República. »
Às 17 horas do dia
5, todo o material dos caminhões já estava descarregado no morro do Centenário.
No dia 7, às 10 horas, estava pronto o monumento que tinha de ser inaugurado
exatamente ao meio-dia — segundo a letra da lei, inscrita em bronze na placa
afixada à face oeste do marco:
« Sendo
Presidente da República o Exmº Sr. Dr. Epitácio da Silva Pessoa, em cumprimento
ao disposto no Decreto 4.494, de 18 de janeiro de 1922, foi aqui colocada em 7
de setembro de 1922, ao meio-dia, a Pedra Fundamental da futura Capital Federal
dos Estados Unidos do Brasil. »
A descrição do
evento e a lista dos participantes dão a dimensão do outro lado do trabalho
necessário ao engº Balduíno Almeida para cumprir à risca a missão recebida em
cima da hora — a organização do “evento”:
« No momento em que
o sol atravessava o meridiano, ao meio-dia de 7 de setembro de 1922, o engº
Balduíno Ernesto de Almeida, responsável pela missão e representante do governo
federal, começa a içar a Bandeira Nacional ao som do Hino Nacional executado
pela bandinha de Planaltina, acompanhada de marcha batida pelos clarins do 6º
Batalhão de Caçadores aquartelado em Ipameri, perante
autoridades [locais] e representantes, e uma centena de outras
pessoas da região que foram ao local, em cavalhada. »
A palavra
"representantes" define bem o status do local e do evento.
Balduíno, diretor da
Estrada de Ferro Goiás, com sede em Araguari (MG), representava o
presidente da República, Epitácio Pessoa, por ordem do ministro da Viação,
transmitida por telegrama do inspetor-geral das Estradas de Ferro, Palhano de
Jesus.
O segundo orador,
Arthur Povoa, discursou em nome do presidente do Estado de Goiás, coronel Eugênio Jardim.
Em seguida, falou o
deputado estadual Evangelino Meirelles, representante "3 em 1" do
Congresso estadual (Camara e Senado de Goiás) e do deputado federal Americano
do Brazil, autor do projeto de lei que determinava o lançamento da pedra
fundamental. Este último fez a delegação por telegrama do Rio de
Janeiro.
De corpo presente,
discursou apenas o intendente municipal de Formosa, Francisco Hugo Lobo; e
compareceram Salviano Monteiro Guimarães e Nicolau Silva, autoridades em Mestre
d'Armas [Planaltina] e Santa Luzia [Luziânia]; além do juiz de
direito Henrique Itiberê, de Formosa.
A Câmara dos
Deputados se fez representar pelo engº Aldo de
Azevedo [possivelmente da Estrada de Ferro Goiás].
O ministro da
Guerra, Pandiá Calógeras, foi representado pelo major Adelino de
Guaycurus Piranema [possivelmente aquartelado em Ipameri (GO)].
O outro autor do
projeto, deputado federal (pelo Maranhão) Rodrigues Machado, pediu por
telegrama que o jornalista Germires Reis [Zelmires Reis,
cf. AH2:27-28], de Santa Luzia [Luziânia],
o representasse na solenidade.
A imprensa do Rio de
Janeiro e de todos os demais Estados foi "representada" unicamente
pelo jornalista Pedroso Pimentel, enviado especial de A Noite, do Rio de
Janeiro. Devido às "dificuldades para a emissão de despachos
telegráficos", só 4 dias mais tarde foi publicada sua primeira matéria.
As imagens foram
feitas pelo « fotógrafo Plínio (que acompanhou o engº Balduíno) ».
A ata do evento
solene foi ditada pelo engº Balduíno e escrita simultaneamente em 3 originais
pelo major Adelino Guaycurus Piranema e pelos engenheiros Alvaro Cardoso de
Mello e Edgard Peixoto Guimarães, auxiliares de Balduíno na Estrada de Ferro
Goyaz.
Ao final, foi
servida uma taça de champanhe.
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