quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Uma das 8 Avenidas na Vila Operária Luiz Tarquínio, Empório Industrial do Norte, Salvador, Bahia, Brasil


Uma das 8 Avenidas na Vila Operária Luiz Tarquínio, Empório Industrial do Norte, Salvador, Bahia, Brasil
Salvador - BA
Fotografia - Cartão Postal


Existiu em Salvador em inícios do século XX um modelo de relações trabalhistas entre patrão e empregado, então revolucionário, sem precedentes no Brasil, iniciativa do empresário Luiz Tarquínio; modelo este implantado na sua fábrica de tecidos “Companhia Empório Industrial do Norte”.
Naquele tempo sequer se cogitava na possibilidade de oferecer qualquer benefício ao trabalhador que não fosse o salário combinado. Predominavam relações de mando e submissão, legado de mais de quatro séculos de escravidão. Luiz Tarquínio, ele próprio filho de uma lavadeira, descendente de escravos, mudou esse quadro estabelecendo uma fábrica modelo que reuniu em torno de 1.500 operários.
Tarquínio foi um visionário na compreensão de que um trabalhador bem tratado e satisfeito revertia numa maior produtividade da fábrica e consequentemente no lucro. E foi com essa convicção que o empresário construiu para seus empregados um bairro denominado Vila Operária com oito avenidas e caprichosa urbanização, incluindo belos jardins. Além da Vila de 258 casas, os trabalhadores gozavam do benefício de assistência médica, escola e creche para seus filhos, salão de esportes e armazém.
Água e luz eram gratuitas e conta Eliana Dumet, bisneta do empreendedor, que no tempo da seca e da farinha pela hora da morte, no armazém da vila o produto podia ser adquirido por preço inferior, franqueando a compra também aos vizinhos.
É claro que essa proposta reformadora provocou reações entre o empresariado e mesmo entre os acionistas da fábrica. Tarquínio não se deixou intimidar, prosseguiu no seu propósito de estabelecer relações trabalhistas diferenciadas e realizou uma obra que o torna uma referência de visão empresarial. Por isso quando você passar por uma das ruas Luiz Tarquínio lembre-se que homenageiam um dos maiores baianos de todos os tempos. Um homem visionário, reformador, para além de seu tempo.
Porém, nem sempre uma história contada muitos anos após os fatos, ainda mais contada por descendentes do empresário, expressa 100% da realidade. Segundo depoimentos de outras pessoas que conheceram os fatos, a história sobre a fábrica, sobre a Vila Operária e sobre Luiz Tarquínio, é bem outra, a que se tem, é uma imagem idealizada e mitificada daquele grande empresário e estrategista, um dos maiores da Bahia e do Brasil, sem dúvida, mas que não corresponde totalmente, à realidade dos fatos históricos documentados.
A Vila não é bairro e sim um conjunto de casas, “abaianado”, do modelo das “tenement houses” inglesas da segunda metade do século XIX, pela inteligência absurda do industrial. A Bahia, infelizmente, onde o Poder Público não sabia honrar a sua própria história, amputou de forma criminosa, essa joia industrial da nossa cidade, desprezando um patrimônio único do empreendedorismo e do operariado negro do país, e que poderia ser transformado em atração turística, com investimento público adequado à realidade local e de comum acordo com a comunidade, como um exemplo da nossa capacidade de realização. Em tempo: o Tombamento da Vila e da fachada da fábrica, foi pedido desde 2009, mas sem avanços neste sentido. A proteção como patrimônio material e imaterial pode representar uma possibilidade enorme de atrair turistas, de gerar renda e trabalho para muitos moradores e pequenos empresários e empreendedores do bairro, além da valorização dos imóveis privados, públicos e históricos da região, no momento em que tanto se fala de requalificação urbanística do largo de Roma, da Ribeira, do Monte Serrat, e da Península de Itapagipe como um todo. O Governo do Estado da Bahia, O IPAC, o IPHAN, o IGHB e a Prefeitura de Salvador, devem isso aos ex-operários da fábrica, à cidade do Salvador e à memória do próprio Luiz Tarquínio.

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