A História dos Dois Chevrolet Omega Com Chassi 0001, Brasil
Artigo
Sim: existem
mesmo dois Chevrolet Omega nacionais 00001. Ainda que matematicamente pareça
impossível, a explicação está ligada à lógica produtiva – e a uma sorte
tremenda dos dois carros e de um deles em especial.
Começando pelo
‘primeiro’ 00001: trata-se de um modelo pré-série, ou seja, montado antes da
produção comercial efetiva, ou em série, para testes não só de produto como dos
sistemas e processos da fábrica. Era o primeiro semestre de 1992.
Em sendo um
pré-série, como geralmente acontece, ele tem características únicas e
particulares. Uma delas é a cor – um azul claro metálico que na época era da
linha Kadett.
Também chamam
atenção a ausência de ar-condicionado e de espelhos e vidros elétricos, com
manivelas nas quatro portas, o interior monocromático azul, emblemas Chevrolet
e Omega na posição invertida na tampa do porta-malas e outras coisinhas.
Trata-se de um
modelo versão GLS, equipado com motor 2.0. E ele tem número de chassi gravado,
terminado em 0001.
O destino
normal deste carro, como é padrão, era o de ser escrapeado, ou seja, destruído,
após as análises e testes de praxe.
Porém quis o
destino que ele fosse salvo das garras de uma prensa por engenheiros da Bosch,
que pediram à GM um carro para desenvolver a injeção eletrônica para o motor
2.0 a álcool, o que, aliás, na época muitos diziam ser impossível.
A fabricante
entregou justamente o 0001 para realização destes testes que, por sinal,
acabaram por representar também o embrião da tecnologia flex fuel.
Agora o
‘segundo’ 00001: esse já um modelo em série, ou seja, realmente o primeiro
produzido para ser vendido, já com todos os testes realizados nos carros
pré-série e na fábrica.
Este também é
um modelo GLS 2.0, porém prata. Orgulhoso, ele aparece naquelas clássicas fotos
com os executivos da montadora típicos de modelos de início de produção.
Uma destas
imagens foi publicada na revista interna da GM, chamada Panorama, de agosto de
1992, que está no acervo do Miau (Museu da Imprensa Automotiva).
Este carro
também não deixou de ter uma certa sorte: foi guardado pela GM para compor o
futuro acervo de um museu da fabricante, que chegou a ser anunciado em 1996,
mas infelizmente nunca foi construído.
Nesta época os
dois 0001 se encontraram e, com a desistência de seu museu próprio, ambos foram
emprestados pela GM para o Museu de Tecnologia da Universidade Luterana do
Brasil, mais conhecido como Museu da Ulbra.
Lá
permaneceram até o começo de 2009, quando diante de uma crise na instituição,
com um cenário de provável leilão dos carros para pagamento de dívidas, a GM
retomou os carros – além dos dois Omega havia vários outros modelos Chevrolet
históricos ali, todos originalmente destinados ao acervo do Museu GM.
A verdade é
que a GM simplesmente não tinha mais o que fazer com esses carros, que foram
então levados para o pátio da fábrica de São José dos Campos.
A fabricante
decidiu então promover um leilão interno, para executivos e concessionários, e
quase todos os carros foram vendidos. Quase todos.
Foi aí que os
dois 0001 se separaram: o azul, que nunca havia sido emplacado e estava um
pouco judiado por descuidos nos anos de Ulbra e com hodômetro apontando cerca
de 80 mil quilômetros, não encontrou interessado.
O prata, com
cerca de 10 mil quilômetros rodados, foi adquirido pelo proprietário da
concessionária Primarca, de São Caetano do Sul, onde enobreceu o showroom por
muitos anos.
Em uma atitude
muito bacana, capitaneada na época por Fabiano Mazzeo, assessor de imprensa da
General Motors, o azul foi então doado ao Omega Clube, que aos poucos trouxe o
carro de volta aos seus melhores dias.
Tudo segue
como fez a história, inclusive com o motor transformado para álcool com injeção
eletrônica. O carro segue nas mãos do clube até hoje.
Já o prata foi
vendido depois de alguns anos pelo concessionário para um colecionador que,
após mantê-lo em seu acervo particular por algum tempo, o revendeu para
Alexandre Badolato, do Museu do Dodge, que está se transformando em uma espécie
de porto seguro para modelos históricos de início e final de produção.
A conclusão: o
Omega é um carro tão especial que tem até mesmo o privilégio de contar não com
apenas uma, mas duas unidades 0001. Ele pode: é, afinal, o Absoluto.
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