Volkswagen 1600 "Zé do Caixão", Brasil
Fotografia
Mesmo
dominando a paisagem brasileira com seus carros, capitaneados pelo Fusca, a
Volkswagen não dormia no ponto.
Enquanto a
Willys – e depois a Ford, que assumiu seu controle acionário -, tocavam o
projeto do futuro Corcel, a Volks já estava trabalhando no seu carro médio com
a intenção de perpetuar a hegemonia no mercado.
Em 1966
começaram os estudos do B-135. Esse código escondia os planos de um modelo
quatro portas que seria o antídoto para o bote da concorrência.
Teria
basicamente a “indestrutível” mecânica do Fusca 1300, com o motor traseiro
refrigerado a ar e uma suspensão dura e resistente.
E sairia com
maior conforto e espaço interno que o irmão mais velho, além de ser equipado
com um motor mais potente, de 1600 cilindradas (exatos 1584 cc, com 60 cv de
potência).
Depois de
aprovado nos testes de túnel de vento da matriz alemã e de vários protótipos
rodarem mais de 300.000 km por aqui, o carro ficou pronto no final de 1968.
Confiante no
seu design, a campanha de lançamento afirmava que não era necessário abrir mão
da tradicional mecânica só por causa de linhas mais bonitas.
Enquanto o
Corcel disparava nas vendas, o sedã 1600 empacou na dificuldade do público de
enxergar a beleza que a fábrica anunciava.
E o que é
pior: ganhou um apelido que enterrou de vez as expectativas nele depositadas
pela VW. Graças às linhas retas, ou às três grandes alças que tinha junto ao
teto, foi chamado de “Zé do Caixão”.
Esse é o nome
artístico de José Mojica Marins, na época um jovem criador de filmes de terror
que ficou internacionalmente conhecido entre os apreciadores do gênero como
“Coffin Joe” e que, infelizmente, morreu na última quarta-feira (19), em São
Paulo, em decorrência de uma broncopneumonia aos 83 anos.
Não é
necessário dizer que a carreira do “Zé” (o carro, não o diretor) teve a duração
de um curta-metragem.
Em 1970 saiu
de linha, rejeitado pelos consumidores mas aclamado pelos taxistas, que viam
nele uma opção ao Fusca com mais portas e capacidade de carga. Mas igualmente
confiável.
É fácil
entender o sucesso que ele fez na “praça”. Basta uma volta no sedã 1600 para
entrar no mundo dos velhos VW refrigerados a ar.
Ao dar a
partida, ouve-se o clássico som do motor de quatro cilindros trabalhando suave.
Com a primeira engatada, uma leve pressão no acelerador é suficiente para o
1.600 sair e ganhar velocidade.
As trocas de
marcha são precisas e o curso da alavanca é curto. O motor, elástico, não pede
frequentes reduções de marcha. Mesmo sem ser assistida, a direção é fácil de
manejar e o acabamento do volante, de empunhadura fina, é uma referência até
hoje.
Em
compensação, o painel é muito simples, com um revestimento plástico imitando
jacarandá. Devido à grande área envidraçada, sua visibilidade é ótima em todas
as direções. E atrás o espaço é bom para dois adultos.
O 1600 quatro
portas avaliado foi comprado por José Olimpio Viani em 1988 e sua quilometragem
atual mal chega aos 30.000 km. Suas portas fecham com a precisão do dia em que
saiu da fábrica.
Não se ouvem
ruídos de suspensão, mesmo rodando em ruas de paralelepípedos como as de São
Sebastião do Paraíso, onde o José e o “Zé” desfrutam da mesma popularidade na
pequena cidade do Sul de Minas.
São poucos os
VW 1600 sobreviventes. Em sua breve existência, o sedã deixou filhotes: a perua
Variant e o TL, modelo hatch de duas e quatro portas. E dessa linhagem nasceu
em 1973 a Brasília, o mais famoso representante da dinastia 1600.
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