segunda-feira, 25 de maio de 2020

Guaraná Douradinha, Gino Alpes, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil












Guaraná Douradinha, Gino Alpes, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia





A fábrica Santo Antônio, onde era produzida a Douradinha entre as décadas de 50 a 90, foi fundada oficialmente no dia 13 de junho de 1953, mas já se fabricava a bebida havia um bom tempo. Gino Alpes comprou as marcas e patentes da Comandos Douradinha e passou a produzir a Douradinha, além de outros refrigerantes, cervejas e conhaques (embora a Douradinha sempre tenha sido o carro-chefe). A produção durou até 1994, ano em que encerrou as atividades.
Quando ela começou a ser fabricada haviam apenas quatro fábricas de refrigerantes em Ribeirão Preto: a Cervejaria Paulista, que fabricava o Guaraná Paulista e que posteriormente foi adquirida pela Antarctica, a Cervejaria Antarctica, que fabricava o Guaraná Champanhe, a Refrescos Ipiranga, que envasava a Coca-Cola e a Comandos, que fabricava a Douradinha.
A diferença da Douradinha para os outros refrigerantes era a forma de produção. A base do xarope da Douradinha era feita de açúcar queimado com água. As outras empresas usavam xaropes industrializados e gludex, um adoçante sintético, no lugar do açúcar.
No início, toda a produção era manual e o trabalho feito dia e noite, principalmente na época das festas, gerando cerca de cem empregos diretos e um número ainda maior de empregos informais, como por exemplo, os fornecedores de insumos para a linha de produção. Além disso, haviam ainda os trabalhadores da distribuição e comercialização, espalhados pelos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Rondônia.
Outro fato interessante é que a Douradinha, além de refrigerante, era também procurada por suas propriedades medicinais. A fábrica produziu para os primeiros transplantados renais do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Muitas pessoas com doenças nos rins procuravam a família Alpes que doava as folhas da Douradinha. Ainda hoje o extrato e o chá da folha são encontrados em farmácias de manipulação.
A essência do refresco era retirada da folha da Douradinha, planta típica do cerrado paulista e mineiro. O cozimento do xarope era feito em grandes tachos aquecidos com lenha, onde eram queimados, a vapor, açúcar e água. A essência e o xarope eram colocados inicialmente na garrafa, depois vindo a água, já misturada com gás carbônico.
As garrafas, fabricadas exclusivamente para a Douradinha pela fábrica Santa Marina, eram lavadas cuidadosamente. Depois de fervidas, caíam em pé numa esteira onde passavam por inspeção, sendo após esse procedimento, remetidas para a linha de produção.
Eram duas máquinas, uma usada para fazer a Douradinha, e a outra, o Guaraná. Uma mangueira conduzia o xarope para a garrafa; em outra mangueira vinha a água, já misturada ao gás carbônico. Colocava-se a tampinha e, em seguida, nova vistoria.
Uma vez conferido e tudo certo, a Douradinha seguia para encaixotamento. No caso do Guaraná, antes do encaixotamento, passava pelo processo de rotulação.
A produção da Douradinha, depois de mais de 40 anos de sucesso, encerrou-se em 1994.
A indústria de refrigerantes passava por um momento de modernização, modernização essa que necessitaria grande investimento, o que acabou inviabilizando a continuação do negócio. Naquele momento, os refrigerantes passaram a ser vendidos em garrafas plásticas, as chamadas “pet” (e é assim até hoje, perdendo o charme e prazer de beber na garrafa de vidro). 

Pouco antes de parar de produzir, Gino Alpes vendeu suas marcas e patentes para a Refrescos Ipiranga, mas o negócio acabou desfeito.
Atualmente o antigo maquinário encontra-se preservado.
Auta, uma das filhas de Gino Alpes, afirmou que ainda hoje é grande o número de pessoas que procuram a família com propostas para comprar os maquinários, as marcas e patentes ou fazer parcerias, mas a maior procura é pela fórmula da Douradinha, que encantou milhares de pessoas por mais de 40 anos, fórmula essa guardada a sete chaves.
Auta admite a possibilidade de fazer um museu com a fábrica, que é um patrimônio da história da cidade, mas não quer doar para o município.
Talvez com a criação da “Fundação Gino Alpes”, possamos visitar novamente a fábrica da Douradinha, no final da rua Municipal, na curva do ribeirão Preto, na Vila Tibério.
O empresário que ficou conhecido por produzir a famosa Douradinha, lembrada até hoje, sempre ajudou pessoas e entidades carentes, sem nunca esquecer dos funcionários.
O grande responsável pela fabricação da Douradinha foi o tiberense, descendente de italianos, Gino Baldoni Alpes. Ele nasceu na rua Bartolomeu de Gusmão em 16 de agosto de 1909. Começou a trabalhar com apenas oito anos. Foi pasteleiro, encadernador e estudou com muita dificuldade. Casou-se com Maria Sardinha, aos 23 anos. Tiveram quatro filhos: a Elza Darcy; o José Antônio (falecido), que ajudava muito o pai na fábrica, e tinha uma loja de produtos animais no Ipiranga (deixou viúva Solange e 2 filhos); a Mariza Aparecida (que mora em Florença, na Itália); e a filha caçula Auta Maria.
Formou-se como guarda-livros, depois de casado, trabalhando em várias empresas de Ribeirão Preto, até que conseguiu emprego na fábrica de bebidas Comandos.
Gino era tratado como um membro da família pelo proprietário, e acabou virando "compadre do dono”. Comprou as marcas e patentes da Comandos Douradinha e passou a produzir a bebida e mais uma enorme variedade de produtos, como refrigerantes, cervejas, licores e conhaques. Mas tendo a Douradinha sempre como seu principal produto.
O empresário, muito lembrado por ajudar as pessoas, todas às sextas-feiras doava refrigerantes a uma entidade carente da cidade, além de oferecer a bebida aos voluntários que iam à fábrica prestar algum serviço.
A filha de Gino, Auta Maria, conta que os pais ajudavam muito os empregados.
"Eles quase foram os inventores da cesta básica e do vale refeição”, diz ela. Dona Maria Sardinha fazia grande quantidade de comida para os empregados da fábrica, que ainda levavam o restante para seus familiares.
Auta conta que o pai era um “gentleman”, que sempre se vestia bem e tratava todo mundo com respeito.
- Nunca vi meu pai maltratar ninguém, afirma Auta.
E Gino Alpes tinha orgulho de ser do tempo em que as bebidas eram seladas, uma a uma, com o selo do tributo federal.
Auta lembra que foi um ciclo produtivo muito grande para um empresário sozinho.
Gino também tinha muito apreço pela memória e ficou lúcido até seus últimos momentos, quando ainda lia três jornais diários. Para ele, a morte era a "irmã da vida".
O empresário faleceu em 26 de dezembro de 2000, com 91 anos. Dona Maria morreu em 1998, com 90 anos. Texto do Jornal da Vila revisado e adaptado por mim.

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