Volkswagen T-Cross, Alemanha - Jeremy Clarkson
Artigo
Eu tenho oito empregos.
Sei disso porque é o que sempre digo às pessoas. Mas a coisa engraçada é que
sou tão ocupado que, na verdade, não consigo lembrar qual é o oitavo.
Eu sou um garoto de programa à noite? Faço parte de uma gangue?
Sou o secretário do Exterior? Não tenho a menor ideia.
O que eu sei é que estou aqui em pânico
para descobrir o que vou colocar nas outras duas colunas que escrevo, sabendo
que ainda tenho de me concentrar no próximo programa do The Grand Tour e
apresentrar Who Wants to Be a Millionaire?
E também tem uma operação do site
DriveTribe que precisa ser alimentada. E estou construindo uma casa, escrevendo
um livro e ainda há meu novo papel de fazendeiro, que ocupa meu tempo sete dias
por semana, do nascer até depois do pôr do sol.
Isso pode explicar por que eu me esqueci
de dirigir o último carro que me mandaram. Espera. Isso não é totalmente
verdade.
Eu o dirigi, mas só foi uma marcha a ré do
lugar onde ele foi deixado até um pequeno espaço entre dois celeiros, para que
dois caminhões gigantes pudessem entregar 46 toneladas de herbicida.
O problema é que o local em que coloquei o
carro não é muito visível, e, como eu precisava correr para um jantar de
caridade em Londres, esqueci que ele estava estacionado ali e pulei no meu
Range Rover.
Quando voltei no dia seguinte, o
Volkswagen tinha ido embora.
E agora aqui estou, pensando de que jeito
posso avaliar um carro que só dirigi uma vez, de marcha a ré, por uns 5 metros.
O que posso adiantar é que, ao longo de todo o “test-drive”, houve uma vibração
terrível.
Ele faz isso quando você vai para a
frente? Não tenho a menor ideia. Nunca descobri. Ah, também posso dizer que o
carro era da Volkswagen.
Então, antes de começar este artigo,
entrei no site da VW para descobrir o máximo que podia. Descobri que o nome do
carro é T-Cross.
Fui convidado a clicar em um link que me
daria mais detalhes, mas tudo o que consegui foram algumas fotos da atriz
britânica Cara Delevingne, que estrela sua campanha.
Também fui convidado a assistir a um vídeo
dela – e assisti. Várias vezes. E não achei uma menção ao carro.
Então eu rolei página abaixo para
descobrir, por exemplo, quanto ele custa, e tive de passar por fotos de um
homem ruivo com rabo de cavalo e outra modelo usando uma saia roxa até,
finalmente, descobrir que as versões começam a partir de apenas 17.395 libras
(R$ 92.700), muito menos do que eu estava esperando.
Mas gostaria de dar ao pessoal de
marketing da VW um pequeno conselho. A Cara é adorável. E todos aqui no Reino
Unido gostamos de assisti-la na internet.
Mas se eu estivesse no lugar deles, teria
focado minha estratégia no preço, surpreendentemente baixo.
Por baixo da pele ele é um Polo, e não há
nada de errado com isso. O Polo é um bom carro. Dirigi um deles – para a frente
– e gostei muito. É o modelo que eu compraria se estivesse atrás de um carro
desse tipo. Mas estou saindo do assunto.
O resto do mundo quer ter um carro sobre
estacas, por isso eles estarão mais interessados na posição de dirigir elevada
de um SUV como o T-Cross.
O que eu posso dizer é que ele é muito
bonito. Eu sei disso porque, quando os caminhões chegaram e os motoristas me
pediram para tirá-lo, pensei: “Ele é muito bonito”.
Ele também tem um interior muito bom,
cheio de bons acabamentos. Eu sei disso porque, quando entrei na cabine,
pensei: “Este acabamento é muito bom”. E essa é uma das razões pelas quais
estou tão surpreso com o preço.
Ele também não fez sons de carros baratos.
Quando fechei a porta, ela fez exatamente o mesmo som de um faisão atingido em
cheio pousando em um campo bem arado.
O som que ele faz na partida também é
legal, porque o minúsculo motor de 1 litro turbo só tem três cilindros.
Isso significa que ele é inerentemente desbalanceado,
como um V8, o que quer dizer que
o som que ele faz é mais imperfeito e, portanto, mais humano.
Há duas versões a gasolina sendo
oferecidas [na Europa], uma com 95 cv e outra com 115 cv – 115 cv de um motor
de 1 litro é algo notável. Talvez seja por isso que ele vibre tanto.
Mas, levando-se tudo em conta, o mais
interessante é poupar seu dinheiro e comprar a versão mais barata.
Se quiser um carro para sair cantando pneu
sempre que for para o trabalho, provavelmente é melhor você buscar outra
alternativa. Como um Lamborghini Aventador.
Também posso dizer (depois de navegar por
mais e mais fotos de coisas que nada tinham a ver com o carro) que ele é cheio
de porta-objetos e que o banco traseiro desliza para a frente e para trás [só
na Europa]. Mas, infelizmente, isso é tudo.
Então, minhas conclusões. Sim, este é o
único carro que testei que apresentou uma falha séria durante toda a duração do
meu test-drive.
Mas eu não posso depreciá-lo por causa
disso, pois “toda a duração” foram cerca de 15 segundos. E eu só andei de
marcha a ré.
Outras coisas? Bem, supondo que o problema
na marcha a ré seja pontual e não intencional (o que seria uma loucura), o
T-Cross tem um bom custo/benefício, é barato de manter, é carismático e
prático.
E, se você quer um SUV pequeno, isso é
provavelmente o suficiente.
Eu gostaria de dizer, nesse ponto, que
estou contente em ter completado uma análise de um carro que dirigi por uma distância
tão curta.
Só que não, porque na próxima semana
enfrentarei um problema ainda maior. Tenho três viagens a Londres marcadas e
não posso usar o Mercedes que estava testando, porque ele é elétrico.
Não posso recarregá-lo na fazenda, porque
já tentei isso com outro carro elétrico antes e ele mandou minha caixa de
fusíveis para o espaço. E também não posso recarregá-lo em Londres, porque toda
a sua rede elétrica foi inundada por idiotas hipócritas em seus Teslas.
E não posso levá-lo a um ponto de recarga
no meu restaurante local, porque precisaria ficar esperando uma ou duas horas,
e não tenho tempo para isso.
Essa é a coisa estranha sobre veículos
elétricos: você precisa ter oito empregos para ganhar o suficiente para bancar
um. O que significa que você não tem tempo na sua vida para recarregar um carro
elétrico.
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