Ford Mustang, Estados Unidos - Jeremy Clarkson
Fotografia
Para
as férias da família deste ano, aluguei uma casa na Dordonha (França) e
decidimos todos ir de carro. Não foi tão mau para meu filho, que tem um Fiat
124 Spider, nem para minha filha mais velha, cujo carro é um Ford Fiesta ST.
Mas a caçula tem um VW Polo básico, de 9
cv. Sua passageira ligou quando elas estavam a meia hora de Calais.
“Esse limite de 150 milhas por hora (210
km/h) é ridículo”, reclamou ela. “Estamos tentando desde que entramos na
rodovia e simplesmente não conseguimos ir tão rápido.”
Depois que
expliquei que a França usa o método Católico Romano de medir velocidade e que
os policiais rodoviários locais não têm mais senso de humor em relação aos
britânicos que resolvem ultrapassar seus limites de velocidade de 150 km/h,
todos decidimos respeitá-los durante a jornada de 850 km.
As pessoas que escrevem para aquelas
revistas de automóveis que costumam existir nas salas de visitas de dentistas
frequentemente se referem à “habilidade de devorar continentes” de um carro
potente.
Todos têm na cabeça que as pessoas compram
um Bentley Continental GT ou uma Ferrari GTC4Lusso porque precisam de alguma
coisa que as leve de Londres a Milão da maneira mais rápida e confortável
possível.
Eu mesmo tenho minha culpa nisso. Na TV,
várias vezes organizei corridas entre carros e aviões, para mostrar que os
carros são mais rápidos.
Mas a verdade é que, quando as pessoas que
têm Bentley e Ferrari querem ir à Toscana, Cannes ou Gstaad, elas vão de avião.
Frequentemente, em um jato particular. E se quiserem ir a Paris, tomam o trem.
As pessoas que de fato cruzam o continente de carro para ir ao
seu destino de férias têm todas elas desanimadores Hyundai com bagageiros de
teto e desnecessários adesivos GB (Grã-Bretanha).
Um cara até pintou seus faróis de amarelo, como se ainda fosse
1968.
E nenhuma delas tem a menor ideia sobre o que significa se
manter na faixa. Sim, eu sei que a faixa da direita de uma autoestrada francesa
no verão é uma esteira transportadora de holandeses com seus trailers, mas só
os britânicos veem isso como desculpa para dirigir no baixo limite de
velocidade usado no Reino Unido pela faixa da esquerda. Para sempre.
Não existe mais muito romantismo em dirigir através da França.
Eu ouso dizer que nunca houve. Eu me lembro com afeição daquelas longas viagens
com meus pais, mas aposto que o meu pai, ao volante do seu Austin 1100 nos dias
de mapas rodoviários e termostatos vacilantes, nunca pensou “Oooooh, eu me
sinto como o ator David Niven”.
No entanto, você pode levar brinquedos de praia infláveis em um
carro. Em um avião, é mais difícil. Ninguém toca no seu pênis na fronteira. E
você pode parar sempre que quiser.
Passamos a noite em Orleans, que é uma daquelas cidades que
fazem você parar e pensar: “Por que diabos eu nunca estive aqui antes?” Ela é
es-pe-ta-cu-lar.
Também é bom ter seu carro nas férias. Porque, desse modo, você
não precisa entregar metade do seu orçamento para taxistas ou perder metade do
tempo no balcão de uma empresa de aluguel de carros observando aquela mulher do
filme Antes Só do que Mal Acompanhado escrever Guerra e Paz no
computador dela. “Você tem o carro e eu tenho o dinheiro, então entregue as
chaves.”
O único problema é que você sabe que,
quando voltar à Grã-Bretanha, terá que rastejar pela rodovia a 80 km/h, porque
estão instalando um sistema que tornará o limite de 80 km/h permanente.
Você sabe quantos trechos de rodovia
fechados com cones eu vi na minha viagem de 1.800 km pela França? Nenhum!
Eu faria essa viagem de novo. Sem dúvida.
Mas eu faria de novo no carro que eu usei da última vez? A encarnação mais
recente do Ford Mustang V8 de 5 litros conversível?
Meu Deus, ele é infantil. Tem um
desnecessário câmbio de dez marchas, ventilação interna com sete velocidades e
um sistema que permite escolher se você quer que o escapamento acorde os
vizinhos quando você dá a partida no motor.
Você pode até travar as rodas dianteiras
para girar as traseiras em falso. Isso é brilhante, se você tiver 10 anos de
idade ou tiver banda de rodagem de sobra nos seus pneus Bridgestone.
Mas não há como fugir ao fato de que este
verdadeiro muscle car conversível V8 grande e bonito, com todos os
penduricalhos com que você sonhava – e mais uma centena que nem imaginava –
custa só 46.545 libras (R$ 240.000) na versão de seis marchas. É um
custo/benefício extraordinário.
Sim, você pode ver onde o dinheiro não foi
gasto. A carroceria apresenta uma significativa torção quando a capota está
aberta, mas como ele não é vendido como um esportivo puro, não importa.
Além disso, algum tipo de fluido
frequentemente gotejava nos meus pés, mas no calor do verão francês, fiquei
grato por isso.
Ah, e ele tem um diâmetro de giro de
uns 2 km e, por isso, em uma cidade antiga como Bergerac, foi um
pouco incômodo. Mas você não vive em uma cidade antiga. Então relaxe.
Você provavelmente está tendo a impressão
de que eu perdoaria qualquer coisa no Mustang. E em certa medida sim, porque –
caramba! – ele tem um grande coração. Esse é um automóvel que você trata como
um cachorro de estimação.
Eu quero fazer cócegas atrás dos seus
espelhos retrovisores e sentar junto ao fogo com ele em noites frias. E, quando
ele desenvolver uma oscilação na marcha lenta, você não fica irritado com ele:
fica preocupado.
E, no entanto, ele realmente funciona como
um carro também. Depois
de uma viagem de volta de 11 horas até Londres, saí dele sem nenhuma dor.
Eu ouvi música em um sistema de som
brilhante, gastei muito menos do que esperava em combustível, tinha vento nos
meus cabelos quando estava ensolarado e um ar-condicionado gelado quando não
estava.
Eu não quero um muscle car americano – eu
me sentiria um traidor da causa da boa engenharia – e não preciso de um
Mustang. Mas eu sinto tantas saudades do carro que me levou pela França que
chega a doer um pouquinho.
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