Parque Residencial Savoia, 1940, Rua Vitorino Carmilo, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
“O meu avô, Salvador Markowicz, era polonês, engenheiro
mecânico, foi morar primeiro em Buenos Aires nos anos 20, onde casou com a
minha avó, italiana de Turim, berço da casa real italiana Savoia, que regeu a
Itália até o referendum favorável à república, logo depois da Segunda Guerra.
Em seguida se mudaram para São Paulo, onde ele fundou e mantinha uma retifica
de motores, muito conhecida na época, a Retifica Modelo, na rua Vitorino
Carmilo.
Na mesma rua, no bairro da Barra Funda, foi construído, em 1939,
o Parque Residencial Savoia, ao qual ele deu este nome em homenagem à casa real
italiana; o estilo arquitetônico é o “Fiorentino”, e o brasão que aparece nas paredes
externas das casas é o “Lirio” de Florença; o arquiteto que meu avô escolheu
para realizar o projeto foi o Arnaldo Maia Lello; a minha mãe, Beatriz
Markowicz, herdeira da propriedade, casou-se com meu pai, Gaetano Iungano , médico,
italiano de Napoli, onde eu também nasci, de onde vem meu sobrenome e meu nome,
Salvatore (em homenagem ao meu avô materno).
A finalidade da construção era residencial, e meus pais moraram
lá por um período, e eu mesmo, na época do meu casamento, morei em uma das
casas da vila; meus filhos passaram a infância lá, e tem ainda hoje uma
lembrança muito boa daqueles tempos, e da amizade que tinham com as outras
crianças que moravam na vila.
Algumas destas amizades continuam até hoje!
Algumas destas amizades continuam até hoje!
Eu resolvi mudar a finalidade residencial da vila para
comercial, por volta de 1994, avaliei vários fatores mas o que mais pesou foi
garantir a melhor conservação da propriedade, que estava na época em péssimo
estado.
Isso se devia à continua degradação do bairro que gerava consequentemente uma piora em termos de segurança; fatores esses que não mais permitiam uma vida tranquila, para as crianças e os moradores, no interior da vila.
Isso se devia à continua degradação do bairro que gerava consequentemente uma piora em termos de segurança; fatores esses que não mais permitiam uma vida tranquila, para as crianças e os moradores, no interior da vila.
Para terem uma ideia, antigamente, não havia o portão de
entrada, nem as grades que hoje são indispensáveis por questão de segurança.
Graças a esta minha resolução, consegui recuperar as casas e
restaurar a vila, com seus enfeites originais, brasões, grifos, vasos, colunas,
etc, e ainda acrescentei algumas melhoras, a meu critério, como a pintura dos
azulejos do chafariz, realizada em 2000, idealizada com inspiração em um quadro
da Renascença, que achei adequado ao estilo da vila. Outra melhoria foram os
lampiões que iluminam a vila à noite.
Gosto de escolher pessoalmente os inquilinos, selecionando
pessoas que compreendam e respeitem o valor histórico e arquitetônico da
propriedade, e cuja atividade profissional, mesmo sem ser necessariamente no
ramo da arquitetura, seja compatível. A proibição da entrada de veículos,
também tomada por mim na época destas mudanças, é claramente imprescindível.
Tenho um afeto e um respeito especial pelo Parque Savoia, por
respeito ao trabalho do meu avô e da vontade da minha mãe, que também sentia
isso em relação a ele, fora o respeito que todos deveriam ter pela cidade e sua
história, e que tanto faz falta.
Mesmo assim, com relação ao tombamento, processo que começou há
cerca de 25 anos atrás e foi concluído recentemente, tenho algumas
considerações a fazer:
Não sou contrário, a princípio, ao tombamento, mas as
autoridades estadual e municipal que o promoveram, CONDEPHAAT e COMPRESP,
deveriam se responsabilizar por esta decisão, e não apenas impor restrições.
Por exemplo, elas deveriam cuidar da segurança e da iluminação,
coisas que não fazem absolutamente, e que são de competência delas, e não
minha; ajudar na conservação da propriedade, coisas que eu sempre faço e fiz às
minhas custas, e com enormes dificuldades em algumas épocas e circunstancias;
precisa considerar que o prejuízo financeiro para uma família cujo patrimônio
foi tombado, é enorme, devido à imediata desvalorização comercial.
Aqui, em São Paulo, muitas propriedades, sobretudo na Avenida
Paulista, foram demolidas pelos próprios donos, assim que eles souberam do
começo do processo de tombamento; então, as intenções das autoridades,
começando um processo destes, podem até ser boas, mas as consequências
desastrosas, na maioria dos casos.
No caso do Parque Savoia, eu quero frisar que, contrariamente
ao que algumas pessoas pensam, a minha família e eu, pessoalmente, nunca
quisemos demolir nem incorporar a propriedade, nunca foi esta nossa intenção, e
foi por isso que ela se encontra ainda de pé, em ótimas condições de
conservação e abrigando uma atividade que a torna possível de existir e se
manter.
Isso não foi nenhum mérito do Estado nem do Munícipio, mas sim
da minha família, notadamente a minha mãe e eu, que nos preocupamos e
preservamos com muito amor, e de forma alguma pela obrigação imposta.
Por exemplo, o CONDEPHAAT autorizou a construção, bem na frente
do Parque Savoia, e a 15 metros de distância, de um prédio enorme, de muitos
andares, que terá fundações profundas, a serem escavadas com maquinarias, “bate-estacas”,
que, com toda probabilidade, poderão prejudicar a propriedade tombada por eles
mesmos; eu fui conversar e reclamar a este respeito com o CONDEPHAAT, e a
resposta que eles me deram foi que a conservação é sempre por minha conta, e
que eles não vão se responsabilizar se a construção do prédio que eles
autorizaram prejudicar a minha propriedade; que incoerência é essa, que falta
de responsabilidade deles!
Recentemente houveram vários problemas de roubos nas casas
externas do Parque, e com a continua presença de pessoas que usam drogas e
dormem na frente da vila, fazendo todo tipo de sujeira e assustando e até
ameaçando os inquilinos, mas nenhuma das autoridades envolvidas no tombamento
se preocupou com isso, a despeito das minhas reclamações.
Então, o princípio do tombamento e as responsabilidades do
poder público a este respeito, realmente precisam ser reconsiderados.
Pessoalmente, acho que o Estado deveria desapropriar as propriedades que acha
oportuno tombar, pagar o que é justo, conforme os valores comerciais
atualizados dos terrenos, e depois sim, utiliza-las para abrigar museus,
repartições, bibliotecas, e conserva-las na melhor maneira possível em prol da
cidade, e sem prejudicar os proprietários.
Gostaria de saber que, mesmo depois de mim, este marco da história
da minha família e da cidade, continuasse existindo, bonito como foi imaginado,
construído e conservado, e como merece.
Quem sabe, tornar-se espaço para atividades artísticas e
culturais.”
Texto de Salvatore Iungano.



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