Parque Residencial Savoia, Rua Vitorino Carmilo, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
O Parque Residencial Savoia é um conjunto residencial
de 14 sobrados no bairro dos Campos Elísios, na região central da cidade de São Paulo. Está localizado na Rua Vitorino
Carmilo, ocupando os números 453 a 473. Foi construído na década de 1930 pelo
engenheiro Arnaldo Maia Lello para
abrigar a família do imigrante polonês Salvador Markowicz e
servir como complemento de renda, uma vez que as habitações excedentes eram
alugadas por famílias de classe média.
Passou por um processo de degradação até a década de 1980,
mas foi restaurado e chegou a ser cenário de novelas, comerciais e programas de
TV nas décadas de 1990 e 2000.
Atualmente, os sobrados são alugados apenas por escritórios, mas a construção
preserva suas características originais, inclusive proibindo a circulação de
carros, animais e pessoas estranhas nas dependências da vila residencial.
É um patrimônio histórico tombado em 2009 pelo Condephaat,
devido a excepcionalidade do conjunto, características arquitetônicas,
qualificado material de construção e perfeita integração ao ambiente urbano.
Em plena Metrópole do Café, por volta de 1900, a
população paulista crescia de forma exponencial, onde
a indústria nascente carecia de braços especializados e operantes, em busca de
riqueza e inserção social. E era na capital paulista que concentrava-se o
grande empório comercial da América
Latina, para onde convergiam as safras de cafeeiras e também
empreendimentos comerciais e financeiros em busca das novas oportunidades
comerciais.
Beirando as ferrovias, se instalava o mais intenso fluxo
populacional e a fixação de indústrias estimulava ainda mais o loteamento de
áreas próximas. Surgiam os primeiros bairros próximos, tais como Barra Funda, Brás, Mooca, Lapa, Luz. A crescente insalubridade,
os riscos epidêmicos provinham dos cortiços e estruturas formadas pela
população operaria espoliada, que começou a se tornar uma ameaça constante
trazendo à tona a questão da moradia com urgência, e para alguns casos as Vilas
se mostraram como solução ideal, incentivada e apoiada pelo governo.
Construído e projetado em 1939 pelo
engenheiro Arnaldo Maia Lello, mesmo autor do edifício do antigo Teatro
Paramount, atualmente Teatro
Renault, o Parque Residencial Savoia foi pensado para abrigar a família do
proprietário, o engenheiro mecânico polonês Salvador Markowicz. As
unidades residenciais excedentes serviam como complemento de renda e eram
alugadas por famílias de classe média. O nome é uma referência à cidade natal
da esposa de Markowicz, Turim, na Itália, berço
dos Savoia.
É uma das vilas residenciais que se tornaram bastante comuns
entre as décadas de 1920 e 1950 na
cidade de São Paulo. Esse grupo inclui também a Vila
dos Ingleses, conjunto de 28 casas erguido em 1918 no bairro
da Luz, voltado para engenheiros
estrangeiros, principalmente ingleses,
que trabalhavam na construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. Outra
construção semelhante é a Vila Economizadora, tombada pelo Condephaat em 1980, que abrigava
pessoas que trabalhavam na cidade em função dos lucros gerados pelo café, da
construção das estradas de ferro, da presença da mão de obra dos imigrantes e
da industrialização no início do século XX.
As vilas residenciais da época se caracterizavam por uma rua
particular com acesso a um pátio rodeado de habitações unifamiliares. Por serem
destinadas a funcionários de nível mais alto, tinham padrão de conforto
superior ao encontrado nas moradias operárias.
Passou por um processo de degradação, quase chegando a
virar cortiço na
década de 1980, mas foi restaurado e utilizado como cenário de
novelas, comerciais e programas de TV nos anos seguintes.
O filme curta-metragem Amigo Secreto (2004),
dirigido por Marcio Salem, se passa no Parque
Residencial Savoia. O episódio de abertura do programa infantil Castelo Rá-Tim-Bum, da TV Cultura,
apresenta a vila em primeiro plano, com o castelo fictício da série ao fundo em
uma das cenas. O conjunto residencial também foi palco de capítulos de
novelas da TV Record e TV
Bandeirantes, bem como de comerciais da marca de cosméticos Avon e
da fabricante brasileira de chocolates Cacau Show.
O conjunto residencial é formado por 14 sobrados de arquitetura eclética, projetados pela
Sociedade Arnaldo Maia Lello Ltda de acordo com as exigências de Salvador
Markowicz. Assim como outras vilas de classe média construídas entre as décadas
de 1920 e 1950,
dispõe de uma rua particular, uma área comum espaçosa com arborização e estilos
arquitetônicos inspirados no pitoresco e
no ecletismo,
que atraíam mais clientela.
As unidades habitacionais do Parque Residencial Savoia são
unifamiliares, possuem tijolos aparentes e são decoradas com elementos de
inspiração florentina. Também é possível notar ornamentos como gárgulas e colunas em estilo grego, além de jardins com roseiras, palmeiras e
uma grande figueira.
Cinco habitações podem ser acessadas diretamente por meio de
portões na Rua Vitorino Carmilo, as casas 453, 459, 463, 465 e 473. Já as casas
453-1, 453-2, 453-3, 453-4, 453-5, 453-6, 453-7, 453-8 e 453-9 estão
localizadas dentro da vila residencial, com entrada apenas por meio da rua
particular do conjunto.
No átrio do parque residencial, há quatro inscrições em latim que demonstram
a influência romana na construção da vila:
Pro aris et focis (Para casa e lareira);
Caeli enarrant gloriam Dei, et opera manuum ejus annuntiat
firmamentum (Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a
obra das suas mãos);
Juris praecepta sunt haec: honeste vivere, alterum non laedere
sum cuique tribuere (Os preceitos do direito são estes: viver
honestamente, não prejudicar o outro, dar a cada um o que é seu);
Angulus ridet (Um ângulo que sorri).
O Parque Residencial Savoia é patrimônio histórico do estado
de São Paulo desde 2009, depois de passar por
um processo de tombamento que levou 15 anos para ser concluído. O parecer
favorável ao tombamento foi publicado no Diário Oficial do Estado no dia 16 de julho de 2009 pelo Condephaat.
O processo de tombamento destaca a vila residencial pelo
“caráter original de sua implantação urbanística e distinção na paisagem local,
seja pela excepcionalidade do conjunto, por suas características
arquitetônicas, pelo qualificado material de construção e pela sua perfeita
integração ao ambiente urbano”.
O conjunto residencial foi construído na época em que o
município de São Paulo passava por um processo de industrialização acelerado,
com destaque para a fundação das Indústrias Reunidas Fábricas
Matarazzo, no bairro vizinho da Barra Funda, que foram o maior complexo
industrial da América Latina. A construção de novas
habitações era necessária para atender à explosão demográfica no início
do século XX,
quando a cidade passou de 239.820 habitantes em 1900 para 579.033
habitantes em 1920 e
1.326.261 habitantes em 1940.
Atualmente, o conjunto é administrado pelo herdeiro Salvatore
Iungano, neto de Salvador Markowicz. As unidades habitacionais são alugadas
apenas por escritórios, embora mantenham suas características residenciais. Uma
placa na entrada avisa sobre a proibição de pessoas estranhas no local. O
acesso a carros, bicicletas e cachorros é proibido.
Um de seus ocupantes foi a Casa da Cultura Digital,
coletivo formado por dez pequenas empresas com cerca de 40 pessoas, a maioria
voltada para produção de conteúdo digital. Os gastos com aluguel e despesas
fixas, bem como a cozinha, sala de reuniões e espaço de eventos, eram
compartilhados entre o grupo.
O bairro dos Campos Elísios, que chegou
a abrigar o Palácio dos Campos Elísios, antiga
residência do governador do estado de São Paulo, passou por um processo de degradação
ao longo das últimas décadas, com o surgimento de uma área conhecida como Cracolândia,
onde se desenvolveu tráfico de drogas e prostituição.
Paralelamente, houve problemas de roubo nas casas externas da vila residencial,
e a calçada em frente ao conjunto passou a ser ocupada por pessoas em situação
de rua.

























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