Trem Húngaro Ganz-Mavag, Estação da Luz, 1992, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
Os trens húngaros foram anunciados pelo governo federal no
final de outubro de 1973. Ficaram com esse nome por terem sido importados da
Hungria (fabricante: Ganz-Mavag) em troca de café brasileiro. Uma reportagem
sobre eles no jornal "O Estado de S. Paulo" em 1973 descrevia-os como
"aviões sobre rodas". Porém, depois de seu afastamento do trecho
Rio-São Paulo, onde ele tinha de subir a serra do Mar, segundo o pessoal da
SR-4, o seu grande problema estava na tração, feita apenas em um eixo de cada
truque dos carros motores, como nos RDC BUDD da Central. Tais trens não
conseguiam vencer trechos íngremes por si só por excesso de patinagem; já em
trechos mais favoráveis (planos ou com aclives e declives suaves) eles provaram
ser excelentes, esbanjando conforto e segurança. Os Ganz Mavag operaram por
apenas 4 anos entre o Rio e São Paulo pelo motivo descrito acima, passando a
circular entre São Paulo e Rio Claro, onde, de certa forma, sofreram menos por
causa da linha mais suave, e também circularam entre São Paulo e Santos onde
deixaram de operar comercialmente nos anos 80 (lembrando que ali se usava
cremalheira na serra, e não livre aderência, como na serra do Mar no Rio de
Janeiro). "Qual era o itinerário do trem expresso que circulava duas vezes
por dia (manhã e tarde) na EFSJ indo para o litoral? Sei que ele parava em
Piaçaguera pois meu pai trabalhou alguns anos na Cosipa e utilizava o trem
diariamente para trabalhar. Lembro-me dela, pois quando trabalhei um período em
Ribeirão Pires (1983), cheguei a pegá-la na estação ao invés do subúrbio, umas
duas ou três vezes, quando eu conseguia vê-lo pela janela (claro que
"free" - nessa altura, papai já conhecia até o bilheteiro e o mesmo
fez vistas grossas!). Pois bem, o estofado dos bancos era marrom claro e giravam
90º permitindo que 4 pessoas conversassem de frente. muito legal. Já os Budd
suburbanos tinham bancos de fibra, gelados e duros" (Renato Gigliotti,
2002). "Em 1979 e 1980, quando fui várias vezes de trem para Santos, havia
3 horários. Em 1974, o trem que fazia aquele trecho era um subúrbio de aço
carbono, ex-EFCB da série 100 (aqueles Metropolitan Vickers, que devem ter
vindo do Rio), lembro disso claramente, depois parece que vieram outros, menos
velhos. Soube que nos idos de 1979/80, havia um trem húngaro que fazia esse
serviço, aliás ele ficava parado lá na estação do Valongo em dias de semana"
(Paulo Filomeno, 2005). "No final dos tempos, o Húngaro só ia até
Campinas, vou ver se acho a última passagem, para tentar estabelecer alguma
data para o seu final. Me lembro que em uma determinada época, o trem para
Araguari saia às 9h29 de Campinas, assim eu precisava do Húngaro (que partia às
7h15 da Luz) para poder chegar a tempo em Campinas para a baldeação. Aí, um
belo dia, ele parou de circular e a Fepasa demorou um bom tempo para mudar o
horário do trem de Araguari para as 11h02. Uma coisa que chamava a atenção era
a velocidade média dele, pois com o Húngaro, eu fiz a viagem mais rápida entre
São Paulo e Campinas, 1h18 (deve-se considerar o tempo que não perdia com a
troca de locomotivas), mas de qualquer forma era uma boa velocidade para o
trecho. Os outros trens gastavam no mínimo 1h40" (Paulo Cury, 09/2006).
"De fato, fui usuário do Húngaro durante algum tempo e o tempo de viagem
entre SP e Campinas era por volta de 1h20. Mas no final de sua carreira,
cheguei a tomá-lo na Luz às 18h20, e só fui chegar em Campinas às 21h30, no
mínimo. Foi em 17 de junho de 1980 que ele deixou de circular até Rio Claro,
passando a ter em Campinas seu ponto terminal" (Ayrton Camargo da Silva,
09/2006). Já as unidades de bitola métrica que rodaram no Sul encontraram
sempre trechos favoráveis para circulação, bem como encontram hoje no Piauí,
onde ainda rodam os últimos trens húngaros (2006). "De fato, são razões bem
plausíveis. Às vezes me surpreendo com G-12s prestes a atingir 50 anos de
idade, quando outras locomotivas mal conseguiram ultrapassar 15. Outros
problemas do Húngaro citados na imprensa e que me lembro agora eram
incompatibilidade com o óleo diesel nacional, muito grosso, e truques com apoio
em quatro pontos, ao invés de apenas um ponto central, citado no artigo como
prática nacional. De toda forma, durante a década de 1970 vi vários
laboratórios nacionais com equipamentos científicos do Leste Europeu que haviam
sido adquiridos mediante troca por café. A maioria deles estava encostada pelos
mais variados motivos" (Antonio Gorni, 09/2006). "Oficialmente, essa
é a história deles que seria idêntica em qualquer trem diesel-hidráulico. Já
outros afirmam que o fracasso dos húngaros deu-se por questões políticas:
desinteresse dos engenheiros, por preguiça ou (pior) por conivência; influência
e pressão da indústria americana contra os trens europeus; falta de manutenção
por não existirem peças (de propósito). A mesma história se repetiu com as
Krupp, as LEW, as Krauss etc.etc" (Coaraci Camargo). "O Húngaro tinha
problemas sérios de manutenção, justamente pela salada de peças multinacionais,
além de problemas de projeto, como o ar condicionado, que ou congelava ou não
funcionava. Não podia haver mesmo boa vontade com ele, numa época onde os trens
de passageiro "atrapalhavam" o tráfego de carga. Sobre a falta de
peças ser proposital, seria até possível, mas lembro que comprar peças na
Europa era muito mais difícil do que nos EUA. Para começar, eram mais caras e a
burocracia com o câmbio era especialmente infernal para as estatais
brasileiras. A própria CVRD não conseguiu viabilizar a recuperação das suas
locomotivas Krauss-Maffei e durante a época mais dura da crise do petróleo (por
volta de 1974-75) sequer conseguia receber peças já encomendadas do fabricante,
cuja fatura era postergada propositadamente pela Cacex (quem se lembra?) para
tentar controlar a balança de pagamentos. Se para a CVRD era difícil, imaginem
para RFFSA e a Fepasa. O Trem Húngaro ainda era um caso a parte: A Ganz-Mavag
era "integradora" de componentes fora do COMECON (O Mercado do Leste
Europeu comunista), assim como a LEW fez nas diesel vendidas para a Paulista e
Mogiana. Com isso, muitas peças tinham que ser compradas de vários fornecedores
ao mesmo tempo, que nem sempre as mantinham em estoque. Mesmo as peças húngaras
ou da Alemanha Oriental (caso das LEW) ainda tinham uma burocracia à parte, já
que a relação comercial com estes países ainda passava pelo SNI e outras tantas
siglas do regime político de então" (Eduardo Coelho, 09/2006). "Em
2005, a última unidade dos Ganz Mavag de bitola larga foi cortada em Manoel
Feio, em decorrência dos leilões de sucata da RFFSA, restando apenas as
unidades de bitola métrica que rodam em Teresina, que diga-se de passagem só
circulam ainda por conta das peças dos de bitola larga que foram enviadas para
lá antes da privatização da RFFSA" (Ricardo Koracsony, 09/2006). Texto da Internet.
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