Volkswagen Fusca "Pé de Boi", Brasil
Fotografia
A indústria automobilística brasileira não tinha nem uma década
de vida quando o governo federal criou pela primeira vez um incentivo para
tornar o carro um produto mais acessível.
Era 1965 quando foi criada uma linha de crédito para automóveis
zero-quilômetro. O principal requisito era um teto de preço muito baixo, o que
obrigou fabricantes a cortar itens de série de alguns modelos.
Surgiram DKW Pracinha, Simca Profissional e Willys Teimoso. A
opção da Volks, que teve origem no Fusca, seu carro mais barato, ganhou o nome “Pé
de Boi”. Casou tão bem com o projeto que até hoje é usado como apelido para
versões básicas bem despojadas de equipamentos.
A melhor maneira de descrever o Pé de Boi é listar o que lhe
faltava. Abdicava de tudo que não fosse essencial a um carro pela legislação de
trânsito. Por fora, nada de frisos, retrovisores ou piscas na parte superior
dos para-lamas dianteiros. Não havia sequer o emblema VW no capô dianteiro.
Entre as cores, só duas opções: cinza claro e azul pastel. Em
vez de cromados, aros dos faróis, calotas e para-choques exibiam pintura
branca. Os tubos superiores e as garras dos para-choques também foram
eliminados.
Por dentro, faltava-lhe tudo: grade do alto-falante do rádio,
tampa do porta-luvas, alça de apoio, cinzeiro e marcador de combustível – no
lugar, usava-se uma vareta imersa no tanque. Tampouco havia aquecedor,
iluminação, porta-objetos na porta, apoio de braço, para-sol e borracha no
acelerador.
A forração dos bancos era mais simples e o encosto não oferecia
regulagem. Os vidros traseiros eram fixos, limitando a ventilação, e o macaco
vinha solto no porta-malas, onde ficavam as ferramentas, que foram poupadas da
sanha economista, mas foram simplificadas.
Em junho de 1966, QUATRO RODAS publicou seu único teste com o
mais simples dos Fusca. Expedito Marazzi notava que o que sobrou no carro era
de boa qualidade e bem pintado. “Sua direção bem pouco reduzida atende rápida
às solicitações”, ele escreveu.
O motor, de 1200 cm³, trabalhava redondo em qualquer rotação e
acelerava bem até 80 km/h. “O carro chega a saltar, quando sai da imobilidade.”
Engates fáceis de marcha, embreagem e freios mereceram outros elogios. Porém a
falta de forração completa na traseira implicava em nível de ruído maior.
O exemplar 1965 das fotos pertence desde 2007 a um colecionador
paulista. Era de uma mulher que ganhou o carro já velho numa rifa. “Ele
conservava boa parte das características originais, como forro de teto só no
centro”, conta o dono. Foi preciso dois anos de restauro para deixar como
original um dos raros remanescentes dessa versão no Brasil.
Muitos VW Pé de Boi eram equipados depois com o que faltava,
descaracterizando sua simplicidade de fábrica. Como carro ainda era um símbolo
forte de status na época, a ideia dos primeiros populares nacionais não vingou.
Os últimos Pé de Boi deixaram a fábrica de São Bernardo do
Campo em 1966. O carro popular só voltaria, dessa vez com maior força, desde a
chegada do Fiat Uno Mille, em 1990.
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