A Relação de Amor, Ódio e Conformismo das Crianças dos Anos 70 e 80 com o Sucrilhos, o Corn Flakes e o Cereal da Superbom - Artigo
Artigo
Se você foi criança nos anos 70 ou 80, vai lembrar e sentir saudades dos fatos narrados a seguir, que certamente também aconteceram com você!
Nos anos 80 (e por informações que tive, nos anos 70 era do mesmo jeito) a propaganda de televisão, de rádio, de revistas, etc, alardeava as vantagens de um café da manhã "nutritivo e saudável", e os cereais matinais se tornaram uma verdadeira febre na época, objeto de desejo de 10 entre 10 crianças da época.
Mas elas não queriam qualquer cereal, não. As crianças queriam o da americana Kellogg's, o Sucrilhos, o "rei" da propaganda, o da caixa azul do tigre Tony, aquele que vinha com uma enorme quantidade de açúcar dentro de um saco plástico grosso na cor branca, e que, na maioria das vezes, a embalagem ou algo no seu interior se transformava num brinquedo (bastavam tesoura, cola e pronto).
Se os pais daquele tempo fossem no mercado com seus filhos, a pressão pela compra era enorme, quase impossível sair de lá sem levar ao menos uma caixa.
Dito isso, cumpre relembrar que o Sucrilhos tinha um problema (não estou falando dos quilos de açúcar, isso adorávamos, podiamos escolher como morrer e aquele parecia um bom modo): era caro! Demasiado caro para o padrão de poder de compra da maioria dos brasileiros. A empresa investia muito em propaganda, distribuição, melhores lugares nas gôndolas dos supermercados, etc, e isso tinha um custo, que era plenamente repassado ao preço do produto. Some-se a isso a enorme inflação do período, e vocês já podem ter uma ideia da dificuldade que era comprar o Sucrilhos da Kellogg's. E quando os pais compravam, não pensem que podia-se consumir a vontade. Era algo "regulado", para ser consumido no café da manhã ou quando a mãe achasse que era o horário adequado (mas, claro, a gente "burlava" a regra e comia escondido). E quando chegava esse aguardado momento, colocávamos o Sucrilhos em um prato fundo (sem exageros) e cobríamos com leite (leite era "sem dó"). No meu caso, ainda "temperava" com mais açúcar...rs. Era bom demais!
Com o passar dos tempos, a Kellogg's percebeu que essa questão do preço estava prejudicando e diminuindo as vendas do seu carro-chefe, o Sucrilhos. Muitas empresas concorrentes estavam lançando produtos similares para tentar abocanhar parte do mercado de cereais.
Assim, tentando resolver a questão do preço alto, a Kellogg's lançou no mercado o Corn Flakes, um cereal que vinha numa caixa branca com um galo verde desenhado, com um preço bem inferior ao do Sucrilhos.
Quem não viveu naquela época pode pensar: mas não era o que vocês queriam, um cereal da Kellogg's com o preço mais barato?
E respondo: era, mas não foi isso que aconteceu...rs.
O Corn Flakes não podia ser igual ao Sucrilhos, um produto que já tinha participação, preço e valor de mercado alto, até porque, se fosse igual e mais barato, ninguém mais compraria o Sucrilhos.
Portanto, a Kellogg's direcionou a propaganda do Corn Flakes ao público adulto, diferente do que fazia com o Sucrilhos, cuja propaganda era (super) direcionada as crianças.
Ele era um cereal similar mas com uma diferença básica: não tinha as "toneladas" de açúcar que vinham incrustadas no Sucrilhos.
Aquilo foi uma "alegria" para os bolsos dos pais, mas uma tragédia para nós crianças. Até hoje tenho "bronca" daquele galo verde...rs. Um cereal sem açúcar, horrível...rs. E como se a falta de açúcar não fosse problema suficiente, por ser um produto direcionado ao café da manhã dos adultos, a caixa também não se transformava em brinquedo e nem vinha alguma "surpresa" em seu interior.
Assim, quando nossos pais iam ao mercado e voltavam com Corn Flakes ao invés do esperado Sucrilhos, era uma decepção. E ainda tinhámos que escutar que "era igual, só precisava colocar açúcar"...rs.
Ao menos para nós, crianças da época, não era não...rs.
E se vocês pensam que esse "sofrimento" parou por aí, estão redondamente enganados, tenham em mente que as coisas sempre podem piorar...rs.
Lembram que eu falei acima que os concorrentes estavam se mexendo para também entrar nesse mercado?
Estavam mesmo e com isso surgiu a "tragédia das tragédias", a "decepção das decepções", "aquele alimento que você não queria de jeito nenhum", o malfadado cereal da Superbom!
Eu sofro só de lembrar, peguei pirraça da marca, não compro produto deles desde aquele época...rs.
O cereal da Superbom era o "genérico" do Corn Flakes, nem caixa tinha, vinha em um saco de plástico grosso. Víamos aquela porcaria toda amassada dentro, parecia que estávamos comprando farinha de milho ou mandioca em flocos...rs. E, como acontecia com o Corn Flakes, também não vinha com brinquedo, os caras acabavam com nossas ilusões...rs.
Os pais adoravam, custava menos da metade do preço do Corn Flakes, escutávamos "que era um produto tão bom quanto o da Kellogg's, mais barato porque não pagava a marca", o argumento preço acabava com qualquer possibilidade de comermos o Sucrilhos da Kellogg's, não tinhámos como contestar...rs.
Assim, o efeito dessa "economia", ao menos no meu caso, foi que deixei de gostar de comer cereal, fui largando mão até não consumir mais. Não lembro a última vez que consumi (comprar eu lembro, comprei Sucrilhos da Kellogg's esses dias para minha esposa, e, reforçando, comprei "Sucrilhos", não cometeria o "erro" dos meus pais comprando outro...rs).
Bom, por enquanto é isso, acho que já escrevi bobagens suficientes por hoje. Só queria "imortalizar" a relação de amor (Sucrilhos), ódio (Corn Flakes) e conformismo (Superbom) que tinhámos com os cereais do café da manhã...rs.
P.S.: Não há nenhum rigor cientifico nesse texto, são apenas impressões e lembranças. As fotografias são só ilustrativas, na época as embalagens eram diferentes.
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