Ribeirão Preto - SP
Artigo
Poucos se recordam, afinal, já se vão mais de cinco décadas, mas no final dos anos 50 e início da década seguinte proliferou pelo Brasil um modelo de cobrança de dívidas que durou pouco tempo, porém o suficiente para provocar confusão por todos os cantos.
Ninguém sabe ao certo onde que surgiu essa ideia estapafúrdia, mas a verdade é que em pouco tempo, grupos semelhantes se formaram em dezenas de cidades, incluindo Ribeirão Preto.
Os cobradores integravam uma “banda” que se intitulava “Os Vermelhinhos”, cor do uniforme que vestiam. A ideia era bastante simples: constranger em público, na frente da família, dos vizinhos, um devedor que não honrasse seu compromisso.
O “trabalho de cobrança” ocorria geralmente nas manhãs dos domingos, quando as famílias costumam ficar em casas pessoas circulam pelas ruas, vão às feiras-livres (estamos falando dos anos 50, em bairros residenciais como a Vila Tibério).
Assim, nas manhãs dominicais, a “banda” se dirigia a pé para o destino, a casa de um devedor. Na medida em que a banda caminhava, um séquito se formava atrás, afinal, todos sabiam o que vinha pela frente, uma situação vexatória para algum morador (quem sabe, inclusive, se não seria um conhecido deles...).
Chegando em frente da casa-alvo, a “banda” simplesmente começava a tocar, principalmente marchinhas de Carnaval.
Não importava a qualidade da música, a competência dos músicos, o que valia era fazer o máximo de barulho, para atrair o máximo de atenção, e constranger ao máximo o coitado que não havia saldado sua dívida.
Todos ficavam sabendo que ali morava um caloteiro, e o próprio sabia que, se não saldasse sua dívida, a bandinha continuaria a tocar na sua porta todo domingo até que ele “limpasse” o seu nome.
É lógico que não demorou muito para que o governo proibisse aquele tipo de cobrança. Há relatos de confusões em vários locais, como Porto Alegre e Belo Horizonte. Era um tal de morador enfezado sair na porrada com os músicos, sem contar na possibilidade de que uma desavença em um negócio qualquer, onde alguém se sentisse prejudicado, motivar o envio da “banda” por simples ressentimento…
Antes, porém, da proibição, uma banda “Os Vermelhinhos” existiu na Vila Tibério, e sua atuação rendeu cenas constrangedoras e algumas engraçadas.
Talvez a melhor delas seja a que teve por palco um ícone da Vila Tibério (hoje desativado): O Luiz Pereira, casa original do Botafogo Futebol Clube.
Um belo dia, a “banda” se dirigiu ao estádio, na rua Paraíso. O alvo era o zelador, que morava numa casinha nos fundos. Os músicos (sanfona, bumbo, etc) chegam e começam a tocar, muita gente que seguiu os “Vermelhinhos” observa de longe.
De repente, a porta abre de supetão, o zelador aparece, arrasta a esposa e sai rodopiando com ela ao som da banda…
Tomados de surpresa, afinal, nunca ninguém tinha reagido daquela forma, os “Vermelhinhos” enfiam a viola, quer dizer, os instrumentos no saco e vão embora sem graça.
Conhecem aquele ditado sobre “o tiro que sai pela culatra”? Pois é, aconteceu...rs. Texto de Nicola Tornatore publicado no Jornal da Vila em Janeiro de 2021.
Nota do blog: Eu sei que tem devedores que são sem-vergonha, que não pagam por pilantragem, etc. Mas, convenhamos, essa não é a maneira correta de cobrar, até porque, não afetava só o devedor, afetava sua família também, que passava por um constrangimento monstruoso.
Essa é uma história que escuto desde pequeno, mas nunca vi uma fotografia.
Tinha até uma marchinha que os ribeirãopretanos cantavam nas ruas: "Ei/ lá vem os Vermelhinhos/ não é lá em casa/é na casa do vizinho"...rs.
Sigo na busca...rs.

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