Primeira Viagem São Paulo-Ribeirão Preto em Veículo Motorizado, 07/06/1916, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia
No dia 07 de junho de 1916, chegaram a Ribeirão Preto dois veículos motorizados, que, pela primeira vez, cumpriram o trajeto São Paulo-Ribeirão Preto.
O objetivo da viagem foi o de demarcar o trajeto e incentivar os competidores da Taça Ribeirão Preto, nome oficial do Raid, que teria inicio no dia 12 de junho, com um prêmio de 1 conto de réis ao vencedor. A prova entre as duas cidades foi uma criação de Antônio Prado Jr, através do Automóvel Club de São Paulo. A ideia era que as mais diversas marcas colocassem seus veículos à prova em uma corrida que testasse a resistência dos veículos. Assim, o próprio Antônio Prado Jr percorreu o trajeto da disputa dias antes do início da corrida oficial. A saída desse veículo precursor foi um concorrido acontecimento, com um grande público no Jardim da Luz e o carro, um automóvel Fiat ano 1915, vermelho, levou além do próprio Antônio Prado Jr, que o dirigia, o Conde Silvio Alvares Penteado e nada mais nada menos que o pai da aviação Alberto Santos Dumont. Acompanharam-nos em um outro veículo "Vauxhall" Armando Alvares Penteado, que o conduzia, e o Major Luiz Fonseca. Saíram de São Paulo no dia 20 de maio e chegaram a Ribeirão Preto no dia 07 de junho, às 16 horas. Sobre o trajeto, sabe-se que, de São Paulo passaram por Juquery, Atibaia, Bragança, Itatiba e Campinas. Ao depois, através de carreadores de cafezais, atingiram Limeira, Araras, Pirassununga, Santa Rita do Passa Quatro, São Simão. Cravinhos, Bonfim e, finalmente, Ribeirão. A maior dificuldade com que se depararam foi a Serra de Santa Rita do Passa Quatro. Veja o depoimento de Sylvio Alvares Penteado a esse respeito: "Tivemos que por mãos à obra durante horas inteiras, ao sol e à chuva. Providos naturalmente de enxadões e picaretas, aplainamos quilómetros de facões, entupimos um sem número de buracos, além do que tivemos frequentes encalhes, vencidos graças a juntas de bois e ao uso de cordas e talhas". Sobre a participação de Santos Dumont nesse árduo trabalho, acrescentou Sylvio: "nada era mais tocante do que presenciar a faina infatigável do próprio Santos Dumont, que em nenhum momento hesitava em pegar o enxadão ou de auxiliar o desencalhe dos veículos". Realmente praticamente não havia estrada, se lembrarmos que, a rigor, Washington Luís inaugurou a Rodovia São Paulo-Ribeirão Preto em 02 de julho de 1922. Considerando ter a viagem demorado cerca de 18 dias, hipótese aventada é a de terem eles aproveitado a ocasião para descansarem em fazendas dos Prado e dos Álvares Penteado existentes no trajeto, como as “Santa Cruz” e "Campo Alto", em Araras-SP, e “Palmares”, e “Santa Veridiana” em Santa Cruz das Palmeiras-SP. No que diz respeito ao veículo, ao que tudo indica, seria um Fiat Zero, conhecido também como o Fiat 12/15 hp, produzido de 1912 a 1915, equipado com um motor de 1.8 litros, 18 cv (13 kW), que alcançava cerca de 19,6 milhas por galão e podia chegar a cerca de 50 mph (80 kmh ). Em 1915, a produção chegou ao fim quando a fábrica foi convertida para a produção de guerra. Sobre os passageiros, eram todos muito amigos e estavam acostumados com tais desafios. Alberto Santos Dumont, o “O pai da aviação”, dispensa comentários. Até essa ocasião, como é sabido, já enfrentara aventuras muito maiores nas plagas francesas. Antônio Prado Júnior, da poderosa família Silva Prado (fazendas São Martinho e Guatapará, por aqui) era casado com Eglantina, irmã de Silvio e Armando, e um entusiasta do automobilismo. Entre 16 e 17 de abril de 1908, protagonizara, junto com outros companheiros (Clóvis Glicério, Bento Canavarro e Mário Cardim) a primeira travessia automobilística de São Paulo, numa viagem de 37 horas entre a capital paulista e a cidade de Santos. Eles utilizaram um veículo francês Motobloc, de 36 cavalos vapor. O conde Silvio Álvares Penteado, um milionário, era um “ás” do automobilismo brasileiro. Em 1908, vencera a primeira corrida de automóveis do Brasil, conhecida como “Circuito de Itapecerica”, embora o maior trecho fora na Capital. A largada e chegada aconteceram no Parque Antarctica, onde hoje fica a sede do Palmeiras. Ele competiu com um Fiat, e percorreu os 75 km em 1h30min05s, média de 50 km/h, sendo o melhor dos 12 automóveis que largaram na prova. O seu irmão Armando Alvares Penteado foi aquele que, não tendo deixado descendentes, doou parte do seu patrimônio para a formação da Fundação Armando Álvares Penteado, que leva o seu nome, FAAP. De acordo com os jornais da época o destino final da jornada deste veículo foi um pouco diferente da competição oficial. Enquanto os competidores do RAID terminariam a corrida no centro de Ribeirão Preto, Antônio Prado e seus amigos foram para a Fazenda São Martinho, da Família Silva Prado, com passagem na antiga fazenda da família Dumont. Ainda é da história de Ribeirão Preto que, no dia 07 de junho de 1936, o diretor da Cia. Cervejaria Antarctica, Max Bartsch, e o jornalista Antônio Machado Sant´Anna, em comemoração aos 20 anos dessa jornada histórica, homenagearam o Conde Sylvio Alvares Penteado e a memória de Alberto Santos Dumont, falecido em 1932. Foi descerrada uma placa nas dependências da Antarctica e realizado um concorrido banquete, no qual Sylvio Alvares Penteado, em discurso, agradeceu a homenagem e discorreu sobre a pessoa e os feitos de Alberto Santos Dumont.
Crédito da imagem para Aristides Motta / Texto da Plataforma Verri.

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