Inauguração do Viaduto do Chá, 06/11/1892, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
Pintor e desenhista talentoso Jules Martin era formado na Escola de Belas Artes de Marselha. Chegou em São Paulo por volta de 1870 e abriu uma oficina litográfica. Republicano fervoroso, foi fundador e presidente da Sociedade Francesa de Beneficência 14 de Julho. Todo ano saia às ruas paulistanas com compatriotas para comemorar a queda da Bastilha. Ainda assim batizou sua oficina como Imperial Litografia, homenageando um encontro que teve com Dom Pedro II.
Como professor do Liceu de Artes e Ofícios, Jules Martin publicou o primeiro mapa da província de São Paulo e plantas da cidade que ele mesmo desenhou. Seu talento como arquiteto foi reconhecido ao vencer dois concursos importantes: um para a construção de um Teatro Municipal na Praça da República e outro para o prédio da Estação da Luz. No entanto, na hora de realizar estas obras, seus projetos foram preteridos.
Em 1886 fundou a “Companhia Paulista do Viaducto do Chá” e começou a vender ações da empresa. Substituiu o projeto original — mal recebido pela população — e desenhou um viaduto feito em estruturas metálicas com 180 metros de comprimento e 14 de largura. Mas, faltava ao empreendedor, superar um grande obstáculo: seria necessário derrubar parte do casarão localizado na esquina das ruas Direita com a São José (atual Líbero Badaró) que estava exatamente no caminho onde seu viaduto iria passar. O sobrado pertencia à Baronesa de Tatuí, viúva do Barão de Itapetininga o antigo proprietário das plantações de chá que ocupavam o vale. A baronesa agora casada com com o Barão de Tatuí, recorreu à justiça contra a derrubada o casarão.
No início de maio de 1888, o jornal “A Província de São Paulo” deu finalmente a notícia ansiosamente aguardada pela população: “Começaram ontem, as obras de demolição parcial do prédio do senhor Barão de Tatuí. A banda de música dos Permanentes postada em frente ao imóvel, executou diversas peças de seu variado repertório. As portas foram arrombadas por ordem do juiz competente sob o estrugir de muitos foguetes”. O caminho estava aberto mas Jules Martin não conseguiu levantar o capital suficiente e quase foi à falência. Acabou transferindo seus direitos para a Companhia de Ferro Carril de São Paulo — uma das empresas de bondes puxados a burros na capital que mais de uma década depois de anunciada (em 1877 por Martin), concluiu a obra.
Inaugurado em 6 de novembro de 1892, o Viaduto do Chá ficou conhecido como o “viaduto dos três vinténs”, o preço cobrado a quem quisesse atravessá-lo. Em cada extremo foi instalada uma guarita de madeira para a cobrança. À noite, os portões eram fechados. Passados 5 anos da inauguração, o viaduto foi encampado pela prefeitura atendendo a um abaixo-assinado contra o pedágio, encabeçado por assinaturas de representantes da elite paulistana como a de Júlio Mesquita do jornal “O Estado de São Paulo”, nova denominação do “A Província”. O pedágio foi suprimido pelo Ato 16 de 1/5/1897 — em consequência da Lei nº27 de 30/9/1896 que favoreceu o município.
O tempo e o irreversível progresso pesaram sobre o velho e saudoso viaduto: a antiga estrutura foi substituída por vigas de concreto e refeito foi entregue em 18/4/1938. Nas imagens, a inauguração do viaduto original com a população em festa no dia 6/11/1892 e a litografia de Jules Martin feita para a comemoração. Por fim, a rara foto, autoria de H. Vargas, registrando uma parada cívica em 1903. Em 1º plano, a guarita do pedágio e sob o viaduto o casario na Rua Formosa. Ao fundo à esquerda é possível visualizar as obras iniciais para a construção do Teatro São José (inaugurado em 28/12/1909) e à direita, as do Teatro Municipal (em 12/9/1911).
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