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terça-feira, 24 de agosto de 2021

Inauguração do Viaduto do Chá, 06/11/1892, São Paulo, Brasil






 



Inauguração do Viaduto do Chá, 06/11/1892, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


Pintor e desenhista talentoso Jules Martin era formado na Escola de Belas Artes de Marselha. Chegou em São Paulo por volta de 1870 e abriu uma oficina litográfica. Republicano fervoroso, foi fundador e presidente da Sociedade Francesa de Beneficência 14 de Julho. Todo ano saia às ruas paulistanas com compatriotas para comemorar a queda da Bastilha. Ainda assim batizou sua oficina como Imperial Litografia, homenageando um encontro que teve com Dom Pedro II.
Como professor do Liceu de Artes e Ofícios, Jules Martin publicou o primeiro mapa da província de São Paulo e plantas da cidade que ele mesmo desenhou. Seu talento como arquiteto foi reconhecido ao vencer dois concursos importantes: um para a construção de um Teatro Municipal na Praça da República e outro para o prédio da Estação da Luz. No entanto, na hora de realizar estas obras, seus projetos foram preteridos.
Em 1886 fundou a “Companhia Paulista do Viaducto do Chá” e começou a vender ações da empresa. Substituiu o projeto original — mal recebido pela população — e desenhou um viaduto feito em estruturas metálicas com 180 metros de comprimento e 14 de largura. Mas, faltava ao empreendedor, superar um grande obstáculo: seria necessário derrubar parte do casarão localizado na esquina das ruas Direita com a São José (atual Líbero Badaró) que estava exatamente no caminho onde seu viaduto iria passar. O sobrado pertencia à Baronesa de Tatuí, viúva do Barão de Itapetininga o antigo proprietário das plantações de chá que ocupavam o vale. A baronesa agora casada com com o Barão de Tatuí, recorreu à justiça contra a derrubada o casarão.
No início de maio de 1888, o jornal “A Província de São Paulo” deu finalmente a notícia ansiosamente aguardada pela população: “Começaram ontem, as obras de demolição parcial do prédio do senhor Barão de Tatuí. A banda de música dos Permanentes postada em frente ao imóvel, executou diversas peças de seu variado repertório. As portas foram arrombadas por ordem do juiz competente sob o estrugir de muitos foguetes”. O caminho estava aberto mas Jules Martin não conseguiu levantar o capital suficiente e quase foi à falência. Acabou transferindo seus direitos para a Companhia de Ferro Carril de São Paulo — uma das empresas de bondes puxados a burros na capital que mais de uma década depois de anunciada (em 1877 por Martin), concluiu a obra.
Inaugurado em 6 de novembro de 1892, o Viaduto do Chá ficou conhecido como o “viaduto dos três vinténs”, o preço cobrado a quem quisesse atravessá-lo. Em cada extremo foi instalada uma guarita de madeira para a cobrança. À noite, os portões eram fechados. Passados 5 anos da inauguração, o viaduto foi encampado pela prefeitura atendendo a um abaixo-assinado contra o pedágio, encabeçado por assinaturas de representantes da elite paulistana como a de Júlio Mesquita do jornal “O Estado de São Paulo”, nova denominação do “A Província”. O pedágio foi suprimido pelo Ato 16 de 01/05/1897, em consequência da Lei nº 27 de 30/09/1896 que favoreceu o município.
O tempo e o irreversível progresso pesaram sobre o velho e saudoso viaduto: a antiga estrutura foi substituída por vigas de concreto e refeito foi entregue em 18/04/1938. Nas imagens, litografia de Jules Martin feita para a comemoração e a inauguração do viaduto original com a população em festa no dia 06/11/1892 (imagens 1 e 2 do post). Por fim, a rara foto, autoria de H. Vargas (imagem 3 do post), registrando uma parada cívica em 1903. Em 1º plano, a guarita do pedágio e sob o viaduto o casario na rua Formosa. Ao fundo, à esquerda, é possível visualizar as obras iniciais para a construção do Theatro São José (inaugurado em 28/12/1909) e à direita, as do Theatro Municipal (em 12/09/1911).
Nota do blog: Imagem 1, data e autoria não obtidas / Imagem 2, data 06/11/1892, autoria não obtida / Imagem 3, data 1903, crédito para H. Vargas.

sábado, 2 de março de 2019

Pedra Encontrada no Dia 16 de Setembro 1881 Nas Últimas Escavações do Novo Palácio do Governo, em S. Paulo, Brasil (Pedra Encontrada no Dia 16 de Setembro 1881 Nas Últimas Escavações do Novo Palácio do Governo, em S. Paulo) - Jules Martin


Pedra Encontrada no Dia 16 de Setembro 1881 Nas Últimas Escavações do Novo Palácio do Governo, em S. Paulo, Brasil (Pedra Encontrada no Dia 16 de Setembro 1881 Nas Últimas Escavações do Novo Palácio do Governo, em S. Paulo) - Jules Martin
São Paulo - SP
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Brasil
Gravura


Na pedra gravada a inscrição: Sª DAFCºSA/DINHA/EDSMMªGR" que segundo citação do CEHB de artigo publicado na "Provincia de S. Paulo" em 20 de setembro de 1881 significaria "Sepultura de Affonso Sardinha e de sua mulher Maria Gonçalves Rodrigues".
Afonso Sardinha, o Velho, português que chegou ao Brasil na Capitania de São Vicente na segunda metade do século XVI foi casado com Maria Gonçalves e morreu nas primeiras décadas do séc. XVII.
Afonso Sardinha , o Velho, foi um sertanistas do Brasil. Em 1589 ele e seu filho (Afonso Sardinha, o Moço) descobriram, em uma de suas excursões, minério de ferro, urânio e o sopé do Morro de Araçoiaba - próximo à atual cidade de Iperó, estado de São Paulo. Afonso Sardinha, o Velho, morreu depois do filho, em 1616.
No século XVI, a região de Sorocaba, era o ponto para onde convergiam e a que se limitavam os índios Tupi do rio Tietê, os Tupiniquins e os Guaianazes de Piratininga, os Carijós dos campos de Curitiba, os Guaranis de Paranapanema e outros das nascentes desse rio, sendo lugar muito percorrido e conhecido por diversas tribos, o que facilitou ao colonizador suas empreitadas. Por volta de 1589, numa entrada liderada por Afonso Sardinha, descobriu-se minério de ferro no Morro Araçoiaba.
Não se pode afirmar quando Afonso Sardinha, português,chegou à Capitania de São Vicente, no Brasil. Tampouco se sabe onde nasceu nem a data. Deve porém ter sido dos mais velhos moradores da Capitania. Ao chegar, foi morar na Capitania de Santos. Em seu testamento, fala em papéis de crédito que um pirata inglês lhe havia levado, em várias transações próprias de quem negocia com navios e cargas. Ao chegar a São Paulo, em data ignorada, mas anterior a 1570, montou depósitos de açúcar e adquiriu casas que alugava aos vigários. Finalmente adquiriu uma grande fazenda pelo que se diz que em 1580 seriam homem de posses. Fazia, no fim do século XVI, vir negros da África como escravos. Enviava mercadorias à Metrópole ao menos uma vez por ano. Analfabeto como quase todos, assinava o nome com uma cruz com três hastes. Em seu Testamento, de 13 de novembro de 1592, descreve seus bens, especialmente uma grande Fazenda que, segundo vários autores, seria na região de Parnaíba. Foi casado com Maria Gonçalves. Não tinha filhos com ela mas um, ilegítimo e mameluco, de alguma índia. No seu testamento, declara expressamente "o que faço por não ter herdeiro forçado (herança legítima) a quem de direito deva deixar a minha fazenda (bens) porque Afonso Sardinha, o Moço, é havido depois de eu ter casado com minha mulher e por eu já ter dado a ele o que devia lhe ter já dado de minha fazenda até 500 cruzados, nos quais entram as terras onde está no Amboaçava…" Era uma grande soma o que prova a sua riqueza.
Aparece pela primeira vez em Livros de Atas e de Registro da Câmara de São Paulo, em 1575, ao tomar posse como Almotacel. Depois, em 1576 e 1577, seu nome aparece como vereador. Entre 1578 e 1586, não há menção. Em 1587, foi eleito Juiz e se manteve vereador. Tomou posse em 27 de Janeiro. Teria vivido na Vila nos dois anos seguintes, pois, em 1592, foi nomeado para comandar um grupo (uma verdadeira bandeira) que avançou pelo sertão para acabar com as invasões dos índios. Aliás, em 1585 (fato que pode explicar sua ausência da Vila de São Paulo), tomou parte na expedição de Jerônimo Leitão para os lados de Paranaguá, para combater os índios Carijós.
Em 9 de julho de 1615 ainda, com sua mulher Maria Gonçalves, fez doação ao altar de Nossa Senhora da Graça do Colégio de Santo Inácio, da vila de São Paulo, de todos os seus bens móveis e de raiz, com terras de Carapicuiba, por serem casados há 60 anos sem herdeiros. Afonso Sardinha o Moço era bastardo e mesmo assim já morrera.
Diversas vezes comandou expedições militares contra os índios. Não foi, até 1593, membro de qualquer entrada para preagem de índios ou procura de ouro. Dedicava-se mais a negócios comerciais e residia na Vila de Santos (depois da de São Paulo), mas foi um bandeirante, sendo inclusive nomeado "Capitão da Gente de São Paulo" para cuidar da defesa da Vila contra as incursões e dar fim ao gentio invasor.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Planta da Capital do Estado de São Paulo e Seus Arrabaldes, 1890, São Paulo, Brasil - Jules Martin


Planta da Capital do Estado de São Paulo e Seus Arrabaldes, 1890, São Paulo, Brasil - Jules Martin
São Paulo - SP
Mapa

Temos agora sob os olhos a primeira carta paulistana executada após a Proclamação da República. Atesta o acelerado processo de urbanização então em marcha, resultante da situação geral de prosperidade que, graças à economia agro-exportadora, envolvia o agora Estado de São Paulo. Ao longo dos últimos anos, a Câmara Municipal estivera às voltas com o extraordinário incremento populacional ocasionado pela imigração e isso se refletia na rápida expansão da área urbana da cidade. Os proprietários das chácaras mais próximas arruavam-nas conforme seus interesses particulares e a Câmara encarregava-se de estabelecer a comunicação viária entre os vários loteamentos criados pela iniciativa privada.
Em decorrência desses fatos, os limites da planta de 1890 mostram avanço com relação aos da planta de 1881 (Planta n.9). Ao norte, a Ponte Grande ainda permanecia como ponto extremo, mas, ao sul, novas ruas cortavam os bairros da Liberdade, Glória e Cambuci. A Rua de São Joaquim, por exemplo, aberta em 1879 nas terras de Joaquim Eugênio de Lima, por iniciativa do proprietário, punha a Rua da Liberdade em comunicação com a Rua da Glória. A Rua Tamandaré, aberta em 1880 pelo Dr. Manuel Batista da Cruz Tamandaré, em seguimento à antiga Rua do Conde d’Eu (atual Francisco Glicério), interligava a Rua da Liberdade e a Várzea do Tamanduateí. Do bairro da Mooca ia-se ao Brás pelas Ruas Carneiro Leão (1881-1882) e Monsenhor Anacleto (1883) e da Mooca ia-se ao Cambuci pela futura Rua Luís Gama (1882). Oferecida à Câmara por Francisco Antônio Pedroso, em 1887, a Rua Pedroso partia da Rua de Santo Amaro (atual Avenida Brigadeiro Luís Antônio) e, atravessando a Rua da Liberdade, ia ter na Rua Tamandaré. A leste, os limites haviam-se expandido grandemente com o arruamento surgido em torno da Estação do Norte (1877) e da Hospedaria dos Imigrantes (1885-1886). No Brás e no Pari – bairro em que se instalava a atividade fabril segundo depoimentos da época –, haviam surgido ruas que se comunicavam com a Luz: a Monsenhor Andrade era de 1880, a São Caetano, de 1881-1885, e a Paula Sousa, de 1890. A oeste, os limites iam agora adiante do Hospital da Misericórdia (1881-1884) e da Capela de Santa Cecília (1861). Muitas vias públicas haviam sido abertas em 1883 nos arredores imediatos do hospital, entre elas a denominada Martim Francisco, criada por iniciativa do proprietário desse nome, enquanto, não longe dali, a antiga Chácara do Arouche, nas mãos do Dr. Antônio Pinto do Rego Freitas, começou a ser arruada em 1881 com a Rua D. Maria Teresa (hoje trecho inicial da Avenida Duque de Caxias) e, mais tarde, em 1887, com a rua à qual se atribuiu o nome do dono, falecido um ano antes.
Ainda com relação aos limites da cidade, deve-se atentar para o fato de não estar incluído nesta planta o nascente bairro de Vila Mariana, onde fora inaugurado recentemente o novo matadouro municipal (1886-1887). Esse arrabalde foi oficialmente incorporado à área urbana da cidade em 1887 e desde então os moradores do lugar se viram obrigados a solicitar alinhamento quando quisessem edificar.
Durante os anos 1880, fatos relativos à expansão urbana da cidade de São Paulo e ao adensamento de sua trama viária sucediam-se de modo quase vertiginoso. Assim é que desde 1881, por exemplo, a Câmara paulistana se mostrava preocupada com a comunicação dos Campos Elísios com os bairros do Bom Retiro, Luz e Brás. Aproveitando o oferecimento de terras feito naquele ano por Manfred Meyer, proprietário que ia lotear a Chácara do Bom Retiro, a Câmara cogitou mandar abrir o prolongamento da Rua Helvetia até essa via se encontrar com a Rua João Teodoro, fazendo em nível o cruzamento da linha férrea de Santos a Jundiaí (do lado do Bom Retiro esse prolongamento seria representado pela futura Ribeiro de Lima). A decisão da Câmara desencadeou uma longa pendência judicial com a companhia ferroviária inglesa (1882-1889), só solucionada com o compromisso da San Paulo Railway de construir um viaduto de ferro para que a referida passagem se efetuasse a partir do final da Alameda Nothmann.
Observando a planta de 1890, podemos notar que o bairro do Bom Retiro se achava então em processo inicial de formação. O arruamento assinalado no documento, sobretudo nas proximidades das linhas férreas, não corresponde nem ao que existia, nem ao que seria feito depois.
A Fábrica de Tecidos de Anhaia e Cia., por exemplo, propriedade de um ituano, Coronel Luís Antônio Anhaia, uma das primeiras indústrias do bairro, construída em 1885 na Rua Alta (hoje Anhaia), na altura da Rua Silva Pinto (rua sem nome, na planta), nas proximidades da linha férrea, passou a impedir com sua presença que fosse prolongada a Rua Alta, melhoramento que estava sendo reivindicado à Câmara pelos moradores da região. Segundo os vereadores, não havia nenhuma necessidade de encompridar essa via pública, já que a passagem entre os Campos Elísios e o Bom Retiro se dava pela Alameda Nothmann. No entanto, a reivindicação denegada em 1885 aos moradores do Bom Retiro aparece impressa na planta de 1890.
Também a identificação das ruas nessa parte da cidade se apresenta de modo confuso. A Rua dos Imigrantes, por exemplo, para a qual Manfred Meyer solicitava consertos à Câmara em 1883, está assinalada erradamente. Corresponde de fato à atual Rua dos Italianos (na planta n. 11, de 1897, ela aparece sob o nome de Caiapós). É a primeira paralela à direita, sem nome no documento cartográfico, que é a verdadeira Rua dos Imigrantes, hoje José Paulino. O trecho inicial desta última, nas proximidades do Jardim da Luz, foi aberto somente em 1890 às custas da estrada de ferro inglesa, provavelmente seguindo o traçado de um antigo caminho que passava no local.
O nome da Rua dos Imigrantes é devido à hospedaria construída nessa via, em 1882, pelo governo provincial, para receber a mão-de-obra estrangeira que chegava em grande número à Capital. Anos depois ela se transferiria para o Brás, onde hoje funciona o Memorial do Imigrante. Quanto ao nome de José Paulino, adotado ao que parece no início do século XX, refere-se a um personagem importante de Campinas, onde assumiu o cargo de presidente da Câmara em 1892. Fazendeiro, investidor em estrada de ferro, seguradora e banco, José Paulino Nogueira deu o nome à cidade de Paulínia, a ruas em Campinas e São Paulo e está na origem da cidade de Cosmópolis.
A Rua do Jardim vista em planta é atual Ribeiro de Lima, aberta por Manfred Meyer com consentimento da Câmara para interligar a Rua João Teodoro com a Helvetia, comunicação que acabou não sendo realizada. A Rua Marquês de Três Rios, na parte correspondente à atual Praça Fernando Prestes, aparecia na planta de 1890 sob o nome de Rua do Dulley, porque terminava no portão da chácara então nas mãos da viúva do engenheiro norte-americano Charles D. Dulley, engenheiro chefe da ferrovia de São Paulo ao Rio de Janeiro, inaugurada em 1877. E, em 1888, o Marquês de Três Rios abria ruas em sua “Vila Marquês de Três Rios”, propriedade situada entre a Luz e o Bom Retiro, logradouros que ainda não aparecem em planta.
Na parte oeste da cidade ocorria fenômeno fundiário semelhante. Em 1882, a Baronesa da Limeira anunciou a intenção de arruar suas terras, o que permitiria a interligação dos bairros de Santa Cecília, Campos Elísios e Bom Retiro (entre as vias que seriam abertas se achava a Rua Barão da Limeira). Em 1884, moradores das imediações solicitaram o prolongamento da Rua São João até a das Palmeiras, pedido atendido em 1887, mas com a extensão viária sendo levada apenas até a Alameda Glette.
Enquanto isso, na parte ao sul da Capital, D. Ana Maria de Almeida Lorena Machado, bisneta de D. Bernardo de Lorena, comunicava à Câmara, em 1885, sua decisão de retalhar a chácara que lhe pertencia localizada na Rua Tabatinguera (o que ocorreria cinco anos mais tarde). E, no ano seguinte, começava finalmente a ser arruada a Chácara da Glória, propriedade nacional estabelecida na estrada que seguia para o arrabalde do Ipiranga.
Como o objetivo que presidiu a criação do presente documento cartográfico era orientar os forasteiros, que pouco ou nada conheciam de uma cidade em constante crescimento e transformação, a trama viária mostrada nele foi simplificada, com todas as vias se apresentando com a mesma largura, bastante exagerada na parte relativa ao Centro. Também foram assinalados os principais edifícios da Capital, sem, porém, ter sido feita por vezes a necessária identificação. Além de igrejas, conventos e edifícios públicos, aparece no mapa algo importantíssimo para os visitantes da época: os pontos de parada dos bondes da Companhia Ferro Carril de São Paulo, em atividade desde 1872.
Podemos identificar quase todas as construções assinaladas nesta planta, obras em sua maioria recém-construídas ou em fase de conclusão. Seu número elevado e sua grande diversidade eram indicativos da vida agitada, e economicamente bem sucedida, que agora animava a Capital: o novo quartel da Luz, chamado Quartel dos Permanentes, projetado e construído por Ramos de Azevedo entre 1887 e 1892; o conjunto dos salesianos, formado por colégio e basílica, edificado nos Campos Elísios entre 1881 e 1901; a Igreja de Santa Cecília, reconstruída, entre 1882 e 1884, no bairro de mesmo nome; a Igreja dos Protestantes, inaugurada em 1873, na Rua do Bom Retiro, atual Couto de Magalhães; a linha da Estrada de Ferro Sorocabana (1870-1875), que partia da Luz em direção a noroeste, paralelamente à linha da Inglesa; a sede da Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais (1886-1888), erguida no Largo São Bento; o Mercado de Verduras (1889-1890), cuja estrutura metálica importada da Bélgica estava sendo instalada na Rua de São João; o Viaduto do Chá, apenas iniciado, que, a partir de 1892, melhoraria a comunicação do Centro com a parte ocidental da cidade; a Secretaria de Fazenda (1886-1891), obra de Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928), sita no Largo de Palácio, atual Pátio do Colégio; a estação da Estrada de Ferro do Norte (1876-1877), localizada no Brás; a Hospedaria dos Imigrantes (1886-1888), projeto de Mateus Häussler, levantada nesse mesmo bairro; o Teatro São José, reformado entre 1875 e 1876, e o Paço da Assembleia Provincial e Câmara Municipal (1877-1879), ambos situados no antigo Largo de São Gonçalo, na época chamado Largo Municipal; a Escola de Primeiras Letras da Rua de Santo Amaro, humilde prédio construído no Bexiga entre 1877 e 1878, e o Hospital da Santa Casa de Misericórdia (1879-1884), vistosamente estabelecido nos altos do bairro de Santa Cecília (atual Vila Buarque).
Na parte nova da cidade, na recém-nomeada Praça da República, podemos observar a delimitação de uma área com linha pontilhada. Aí, nos últimos momentos do Império, pretenderam as autoridades erigir a nova catedral, mas o advento do dia 15 de novembro de 1889, e a consequente separação entre Estado e Igreja, fariam com que o terreno fosse reservado, de modo altamente simbólico, para a futura Escola Normal (1892-1894), instituição de ensino dedicada à formação de professores primários, considerada essencial, na ótica dos republicanos positivistas, para o bom alicerçamento da nova sociedade que surgia.
Distinguimos também os três largos paulistanos então transformados em jardins arborizados e gradeados, iguais aos que existiam no Exterior: o Largo Municipal, de 1879, o Largo São Bento e o Largo do Palácio, ambos de 1886. E na Mooca podemos ver a projetada Avenida do Ipiranga (1885), que o governo provincial intentava abrir em linha reta ligando o monumento em construção (1885-1894) ao ponto mais próximo da cidade, o bairro do Brás (projeto do engenheiro francês Eusébio Stevaux, não realizado).
Na frente da já reformada Faculdade de Direito foi inaugurada, em 1890, a estátua de um político recentemente falecido, José Bonifácio, o Moço, seguramente o primeiro monumento em memória de um ilustre personagem erguido no espaço público paulistano.
E, por fim, no detalhe, o autor Jules Martin reproduziu a planta de 1810, na versão atualizada de 1841. Esse expediente permitia ao público da época estabelecer uma rápida comparação entre as duas plantas e assim constatar, maravilhado, o veloz e o pujante desenvolvimento da capital paulista, sobretudo a partir dos últimos quinze anos.