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segunda-feira, 22 de julho de 2024

Desenhos Técnicos do Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil


Planta do primeiro pavimento.


Planta do segundo e terceiro pavimentos.


Planta do quarto, quinto e sexto pavimentos.


Seções longitudinal e transversal do edifício Diederichsen.


Fachada frontal (principal) do edifício Diederichsen, voltada para a rua Álvares Cabral.


Fachada lateral do edifício Diederichsen, voltada para a rua General Osório.


Fachada lateral do edifício Diederichsen, voltada para a rua São Sebastião.




Desenhos Técnicos do Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia

Processo Nº 95 de 1934.
Nota do blog: Crédito para APHRP.


 

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Planta da Cidade de Botucatu, 1948, São Paulo, Brasil


 

Planta da Cidade de Botucatu, 1948, São Paulo, Brasil
Fotografia


A cidade de Botucatu está localizada no centro sul do estado e a cerca de 235 km da capital paulista. Hoje, a população do município gira em torno de 149 mil habitantes. Em 1830, fazendeiros da região resolveram ocupar as terras ainda sem habitantes, no topo da Cuesta, e estes foram os principais responsáveis por dar início ao povoamento da cidade.
Em 14 de abril de 1855, foi elevada à categoria vila, devido à população já existente na região. Nesta mesma data, passou a se comemorar o aniversário da cidade. Em março de 1876 a vila de Botucatu se elevou à categoria Cidade.
Conhecida como a cidade dos Bons Ares, em Botucatu existem mais de 70 cachoeiras que estão localizadas no topo da Cuesta, que além de serem atrativos turísticos, são palcos de grandes competições de esportes radicais, como por exemplo, o famoso Festival Brasil Ride.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Planta da Cidade de São Paulo, 1807-1810, São Paulo, Brasil - Rufino José Felizardo e Costa




Planta da Cidade de São Paulo, 1807-1810, São Paulo, Brasil - Rufino José Felizardo e Costa
São Paulo - SP
Mapa


Segundo o historiador Afonso d’Escragnole Taunay, foi em 1807 que o engenheiro militar Rufino Felizardo e Costa levantou uma planta da cidade de São Paulo, por ordem do sargento-mor engenheiro João da Costa Ferreira (1750-1822). É bem possível que a carta iniciada nesse ano de 1807 seja a que no momento nos prende a atenção. Nesse caso, a tradicional data de 1810 a ela atribuída seria relativa, muito provavelmente, ao ano de conclusão da peça gráfica, ou, antes, uma datação aproximada feita em época posterior, já que se trata de acréscimo a lápis aposto no documento original.
A respeito do paradeiro desta planta declarou recentemente o Prof. Nestor Goulart Reis Filho:
O original desse desenho não foi encontrado. Um dos primeiros números da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo menciona sua presença na biblioteca daquela entidade, em 1898, como parte de seu acervo. Procurado por mais de dez anos, sem resultados positivos, fomos obrigados a utilizar a cópia publicada pela Comissão do IV Centenário [na publicação de sua autoria São Paulo Vila Cidade Metrópole, 2004].
Em contraposição, em obra intitulada Velho São Paulo (v.1, 1953), Afonso Taunay, ex-diretor do Museu Paulista (1917-1939), afirmava categórico:
O original deste mapa pertence ao Museu Paulista, em virtude de generosa dádiva do Coronel José Carlos da Silva Teles, neto do autor, oficial superior de grande mérito, do Exercito Nacional e Comandante da Força Pública do Estado.
Sobre o autor da planta, Rufino Felizardo e Costa, sabemos que era de nacionalidade portuguesa. Nascido em 1784, servia como porta-bandeira em 1802 num dos regimentos de linha da guarnição paulista. Auxiliar de João da Costa Ferreira, executou o levantamento do Caminho do Mar, na época em que era segundo-tenente do Real Corpo de Engenheiros. Casou-se em 1813 com Ana, filha de Jaime da Silva Teles, e continuou, com o tenente-coronel Daniel Pedro Müller, a prestar valiosos serviços em diversas comissões, o que lhe valeu a promoção a primeiro-tenente. Exerceu também o cargo de diretor da primeira grande indústria brasileira, a Fábrica de Ferro do Ipanema, de 1821 a 1824, ano em que veio a falecer prematuramente.
Na planta por ele elaborada entre 1807 e 1810, deparamo-nos com uma cidadezinha acaipirada que deixava o século XVIII ensaiando os primeiros passos em direção à intensificação da vida urbana. Graças à florescente economia do açúcar, pôde São Paulo ir desenvolvendo, aos poucos, um comércio de crescente importância regional. Além disso, desde o restabelecimento da Capitania de São Paulo em 1769, vinham os capitães-generais, por razões políticas, administrativas e militares, tentando impor a presença da coroa lusitana na pequena cidade, até então esquecida pelos interesses metropolitanos.
De fato, provinham desses dias muitas das obras públicas que estariam ainda em pleno uso durante a era imperial. Mesmo exibindo aparência grosseira, essas obras – fruto da dedicação dos engenheiros militares portugueses chegados na cidade em fins do Setecentos ou nos começos da centúria seguinte – continuaram úteis até a segunda metade do século XIX. A Casa de Câmara e Cadeia (1783-c.1791), o Quartel dos Voluntários Reais (1790-1791), as quatro pontes de pedra – do Lorena (1795), do Carmo (1805-1808) – esta última, de fato, de pedra, mas com uma importante abóbada de tijolos, – e as duas do Marechal (a primeira remontando ao tempo do marechal frei José Raimundo Chichorro, 1786-1788; a segunda, construída por Daniel Pedro Müller em 1809) –, o Chafariz da Misericórdia (1790-1792) e a Pirâmide do Piques (1814), erguida pouco depois de ter sido completada a planta que estamos analisando, tornaram-se símbolos de uma época bastante positiva da administração colonial. E não há dúvida de que devemos incluir nesse rol a execução desta carta da Capital, de autoria do engenheiro Rufino, pois foi ela mais um benéfico produto de caráter técnico resultante desse período cheio de realizações.
No tempo em que foi levantada esta que já foi considerada a primeira planta da cidade de São Paulo (recentemente publicaram-se uma planta, sumária, datada do século XVII e outra, muito precisa, do século XVIII), a área urbanizada paulopolitana concentrava-se praticamente no alto da colina histórica, conhecida na época da conquista portuguesa sob o nome indígena de Inhapuambuçu. A população das duas freguesias que formavam o centro urbano, Sé e Santa Ifigênia (criada em 1809), estava longe de atingir 10.000 habitantes. O casario modesto, pouco adensado, perdia-se em meio à densa vegetação dos quintais e as ruas existentes caracterizavam-se por serem extremamente estreitas e tortuosas.
Do pequeno núcleo irradiavam-se caminhos que funcionaram como elementos estruturadores da exígua trama viária paulistana. Para o norte, o caminho de Bragança e sul de Minas seguia pelas atuais Ruas do Seminário, Brigadeiro Tobias e Avenida Tiradentes. (A Rua Florêncio de Abreu, antiga trilha indígena que seguia na mesma direção, reaberta pelos beneditinos em 1784 sob a forma de via pública, era então muito pouco frequentada). Para o noroeste, conforme se vê na planta, partia o caminho de Nossa Senhora do Ó, mas na verdade essa antiga vereda, que no século XVI e XVII conduzia, como demonstrou o historiador Afonso de Freitas, à misteriosa região de Piratininga, já havia sido interrompida em 1809 pela Câmara Municipal, a pedido do governador Franca e Horta. Desde então, esse caminho (formado pelas Ruas do Seminário e General Couto de Magalhães) terminava em frente da propriedade do governador, conhecida pelo nome de Chácara do Bom Retiro. Para oeste, rumavam o caminho de Jundiaí e Goiás (composto pela Rua Sete de Abril, Rua e Largo do Arouche e Rua das Palmeiras e não pela Avenida São João, como assinalou um renomado pesquisador numa planta reconstituída de 1775 publicada em obra recente – História da Cidade de São Paulo, v.1, 2004) e a trilha pré-cabralina proveniente do Paraguai – ramal do antiquíssimo Peabiru, que interligava as terras guaranis e o litoral do Sudeste brasileiro. Conhecida como caminho dos Pinheiros ou de Sorocaba, levava a partir do século XVIII às regiões meridionais do Brasil, produtoras de gado vacum e muar (Rua da Consolação, Avenida Rebouças, Ruas dos Pinheiros e Butantã). Ao sul, havia os dois caminhos de Santo Amaro (um deles formado pela Rua Santo Amaro e Avenida Brigadeiro Luís Antônio, aberto por volta de 1639, e o outro, de fato uma velha trilha de índios, representado pela Avenida da Liberdade) e ainda a saída de Santos (Ruas da Glória e Lavapés). A sudeste, saía o caminho da Mooca, mas de início, no século XVI, por aí ia o Caminho do Mar – outro trecho do velho Peabiru –, acompanhando o traçado da Rua Tabatinguera, da Rua da Mooca, da Rua do Oratório, etc. E, finalmente, a leste, em direção ao incipiente arrabalde do Brás, conduzindo à Penha e ao Rio de Janeiro, viam-se a antiga Ladeira do Carmo (Avenida Rangel Pestana), fundamente cavada na encosta do morro, e o longo aterrado que atravessava a ampla Várzea do Tamanduateí, caminho esse aberto, segundo documentos datados do século XVIII, no tempo do governador Francisco da Cunha Meneses (1782-1786), mas que decerto é anterior a esse período em algumas poucas décadas.
As possibilidades de expansão urbana da Capital eram naquela altura muito limitadas. O Brás encontrava-se irremediavelmente afastado do Centro pela várzea alagadiça do Tamanduateí e, ao sul, concentravam-se praticamente todos os equipamentos poluidores e de desprestígio – senão perigosos – da cidade, dos quais as pessoas de posses procuravam a todo custo se afastar: a forca (desde os fins do século XVI no local hoje ocupado pela Praça da Liberdade); o Cemitério dos Aflitos, criado pela Mitra em 1775 para o enterro de escravos, indigentes e enforcados, na atual Rua dos Estudantes; a Casa da Pólvora(1785), erguida no local onde hoje existe o largo do mesmo nome, e nas proximidades da qual não podia haver assentamento permanente por razões de segurança.
Preocupado com as poucas chances de expansão da cidade, o governador Lorena (1782-1797) propôs à Câmara Municipal o arruamento da margem esquerda do Ribeirão Anhangabaú. Estando São Paulo implantada numa península, entre o Tamanduateí e o Anhangabaú, cogitava Lorena criar um novo assentamento a oeste, em “terreno montuoso e desigual”. Provavelmente foi baseado num projeto de hipotética autoria do engenheiro militar Costa Ferreira, feito em 1792, que o futuro marechal Toledo Rendon, arruou, por ordem da Câmara, entre 1807 e 1808, a chamada Cidade Nova, em suas terras caídas em comisso situadas no Morro do Chá. Separada do núcleo original da cidade pela presença do profundo Vale do Anhangabaú e de várias propriedades rurais, entre elas a do tio do futuro Barão de Itapetininga (depois herdada por este), a parte oeste da cidade permaneceria por muitas décadas mero arrabalde chacareiro, com ar bastante desolado.
Pela planta confeccionada por Rufino confirmamos os exíguos limites da área urbanizada da cidade no início do dezenove. Ao norte, ia pouco além do Jardim Botânico (atual Jardim da Luz); ao sul, não se estendia muito abaixo do Cemitério do Aflitos; a leste, tinha por limite o Rio Tamanduateí e sua várzea, e a oeste, mal atingia o Largo do Arouche e a Igreja da Consolação.
No documento cartográfico que estamos examinando, podemos observar as ruas mandadas abrir pela Câmara no Morro do Chá. Retilíneas, mas sem formarem ângulos retos nas esquinas, interligavam o caminho da Luz (Avenida Tiradentes), o obstruído caminho do Ó (Rua General Couto de Magalhães), o caminho de Jundiaí (Rua do Arouche) e o caminho dos Pinheiros (Rua da Consolação). Dois logradouros se distinguiam da trama então criada: a Praça da Legião (Largo do Arouche), demarcada por Rendon, na saída da cidade em direção a Jundiaí, para servir aos exercícios militares executados pelos Voluntários Reais, e a Praça da Alegria, futuro Largo dos Curros (Praça da República), onde a partir de 1817 começaram a ser realizadas corridas de touros durante os festejos oficiais.
Pela leitura das Cartas de datas daquele tempo (anos de 1808 a 1830), publicadas pelo Arquivo Municipal ao longo do século XX, percebemos que foi grande o interesse inicial por terrenos situados na Cidade Nova, principalmente por aqueles que desejavam formar chácaras de recreio. Por outro lado, é difícil identificar hoje, por meio da documentação escrita, as ruas demarcadas por Rendon, pois a elas foram atribuídos nomes que não permaneceram. A planta da cidade executada por Rufino mostra claramente as ruas então abertas, destituídas porém da denominação correspondente.
Assim, sem tentar reconhecê-las, é possível agrupar algumas dessas vias em torno de certos pontos, de fácil identificação. Nas imediações do atual Largo do Arouche (à época também chamado Praça da Legião, Praça dos Voluntários Reais ou simplesmente Campo do Arouche) estavam situadas as Ruas da Artilharia e do Alambari, além da que excepcionalmente manteve a denominação inalterada até hoje, a do Arouche. Próximas da margem direita da estrada de Pinheiros, na altura mais ou menos da Capela de Nossa Senhora da Consolação, haviam sido abertas as Ruas Franca (atual Rua Sete de Abril ou, talvez, o antigo Beco de São Luís), do Gabriel (esta talvez fosse a Rua Maria Antônia, que conduzia à propriedade de Gabriel Antunes da Fonseca, tabelião em São Paulo por volta de 1766 e que, em 1779, arrematara a parte do meio da Chácara do Pacaembu, antes pertencente aos extintos jesuítas), do Córrego Seco e do Pacaembu (mencionada em 1825, pode ser a mesma acima chamada do Gabriel), quase todas elas travessas da Rua da Alegria, cujo nome seria alterado mais tarde para do Ipiranga, e que terminava daquele lado num logradouro chamado Campo Alegre, Campo da Alegria ou Praça da Alegria. Atrás da Igreja de Santa Ifigênia, delineavam-se as Ruas de Santa Cruz, de São Pedro, do Azevedo e Formosa (que nada tem a ver com a atual rua desse nome). De fato, essas últimas vias retalhavam uma área delimitada pelas Chácaras do Bom Retiro e do Campo Redondo, junto do velho caminho do Ó. Ainda nessas proximidades, encontravam-se as Ruas do Carvalho, ou do Tanque do Carvalho, e Curta. O mencionado Carvalho era, provavelmente, o Dr. José da Costa Carvalho (casado com a viúva do brigadeiro Luís Antônio de Sousa), futuro Marquês de Monte Alegre, que havia adquirido o grande sítio do coronel José Antônio Silva Valente em 1825. Essa propriedade ia da estrada de Campinas (Rua das Palmeiras) até à margem esquerda do Tietê, na altura do atual bairro da Barra Funda, e mais tarde seria vendida ao Barão de Iguape. Uma pequena parcela dessa propriedade foi herdada pelo conselheiro Antônio Prado, neto do barão, e denominada Chácara do Carvalho. Aí o conselheiro construiu uma luxuosa residência no final do século XIX, edifício até hoje existente (atual Colégio Boni Consilii).
Na Cidade Nova, algumas das ruas atravessavam o arruamento de ponta a ponta, pondo em comunicação lugares opostos. Uma delas era a Rua Torta, que unia Igreja de Santa Ifigênia à da Consolação; talvez não fosse outra senão a já citada Rua da Alegria, cujo trajeto devia abranger as atuais Avenida Ipiranga e Rua Araújo. A Rua do Alambari parece que estava em situação semelhante, pois era mencionada ora próxima da Praça da Legião, ora atrás da Igreja de Santa Ifigênia. Havia ainda a rua que saia do Campo Redondo e “ia terminar no Campo da Alagoa de Gabriel Antunes” e “a travessa do Campo de Arouche para a praça de Sandi” (situada para os lados do Campo Redondo). Há, contudo, outras que dificilmente podem ser reconhecidas: Ruas das Oliveiras, do Governador (seria a depois chamada do Bom Retiro?) e de Sande. A Praça da República, que, como vimos, teve origem nessa ocasião, é descrita nos documentos como “a Praça nova defronte dos fundos das terras do Coronel Luiz Antonio de Souza”. Morto em 1819, as terras deste foram essas herdadas por um de seus filhos, o futuro Barão de Sousa Queirós, e divididas em duas partes pelo Beco Comprido, mais tarde denominado Beco, depois Rua São Luís, hoje avenida desse nome.
Verificando a planta de Rufino Felizardo e Costa, confirmamos afinal quais ruas então mandadas abrir pela Câmara na Cidade Nova. Reconhecemos as atuais Avenida Ipiranga e Ruas dos Timbiras, Aurora e Vitória; no sentido transversal, identificamos as Avenidas Vieira de Carvalho, São João e Rio Branco e a Rua Santa Ifigênia. A São João e a Santa Ifigênia preexistiam ao arruamento criado por Rendon (um pequeno trecho da São João que seguia além-Anhangabaú teria surgido por ocasião da construção da ponte do Marechal, de 1786-1788) e provavelmente foram apenas encompridadas e realinhadas em 1808. Interligando o ex-caminho do Ó com a estrada da Luz, já havia, ao menos em parte, a Avenida Senador Queirós e as futuras Ruas Washington Luís e Mauá; nas imediações da Capela de Nossa Senhora da Consolação observamos a Rua Araújo e um trecho da Bento Freitas, e, mais aquém, a atual Avenida São Luís.
Chama atenção na planta de Rufino o fato de ela, com o tempo, ter sofrido atualizações e retificações, “enxertos” como dizia Taunay. Provavelmente por não dispor de instrumentos adequados, o engenheiro militar acabou por cometer erros na orientação de algumas ruas e na localização de certos equipamentos. Assim, vemos a correção na localização do Cemitério dos Aflitos, ao sul, e do Convento da Luz, ao norte. Também o traçado da Rua da Consolação sofreu correção posterior, o mesmo acontecendo com a depois chamada Rua Episcopal (atual Washington Luís). Quanto às atualizações, podemos surpreendê-las nos traços a lápis feitos na esquina da antiga Rua do Rosário (atual 15 de Novembro) com Largo da Sé. Aí seria criado um dos primeiros cantos quebrados da cidade (o mais antigo teria surgido na casa do futuro brigadeiro Luís Antônio por volta de 1810, na esquina das atuais São Bento e José Bonifácio), ao ser concedido o alinhamento para a construção do sobrado do alferes Joaquim Ribeiro dos Santos em 1823. Essa medida foi tomada pela Câmara em razão de a construção estar situada num ponto extremamente estrangulado do arruamento colonial. O prolongamento da Rua da Esperança, situada no lado direito da catedral, até o Largo da Sé foi uma obra só realizada em 1825 e na Rua da Casa Santa (Rua Riachuelo) podemos observar a retificação de seu traçado, que também é posterior à confecção da planta que aqui retém nossa atenção.
No letreiro Explicação, nota-se que g é um acréscimo posterior, pois só em 1825 é que o Hospital de Caridade foi instalado na sede da Chácara dos Ingleses, na saída de Santos. Por outro lado, constata-se que não se assinalou na planta a derrubada do quintal dos franciscanos. Ocorrida em 1829, a intervenção urbana teve como propósito aumentar o Largo de São Francisco, em função da criação da Academia de Direito ocorrida um ano antes.
Ainda na Explicação, aparece em P a “Ponte da [sic] Franca”, que na realidade era a “Ponte do Franca [e Horta]”, nome do governador que mandou erigi-la, também conhecida como Ponte do Carmo, construída entre 1805 e 1808, e temos em T o “projeto de outro Hospital”, que se refere ao projeto não realizado do Hospital Militar, de autoria de Costa Ferreira, idealizado por volta de 1799 e destinado ao terreno hoje ocupado pela Pinacoteca do Estado. Em d lemos ainda “Chacara do Secret.º Velho”, alusão a Luís Antônio Neves de Carvalho, antigo secretário do governo da capitania, que havia construído em fins do século XVIII (c.1798) a casa que depois iria tornar-se a residência do brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar e, já no início do século XX, seria ocupada pela Escola de Medicina.
Antes, porém, de concluirmos a análise desta planta, devemos chamar a atenção para um curioso detalhe. Na cartela do título, faz-se menção à Ilha do Ferro, tomada como referência para o cálculo da longitude da cidade de São Paulo. Trata-se da ilha mais ocidental do arquipélago das Canárias, usada como origem das longitudes em cartas internacionais até 1884. Na época áurea do imperialismo britânico foi substituída por Greenwich, tal como nos conta o Professor Irineu Idoeta em seu livro São Paulo vista do alto, 75 anos de aerofotogrametria (2004).

Planta da Capital do Estado de São Paulo e Seus Arrabaldes, 1890, São Paulo, Brasil - Jules Martin


Planta da Capital do Estado de São Paulo e Seus Arrabaldes, 1890, São Paulo, Brasil - Jules Martin
São Paulo - SP
Mapa

Temos agora sob os olhos a primeira carta paulistana executada após a Proclamação da República. Atesta o acelerado processo de urbanização então em marcha, resultante da situação geral de prosperidade que, graças à economia agro-exportadora, envolvia o agora Estado de São Paulo. Ao longo dos últimos anos, a Câmara Municipal estivera às voltas com o extraordinário incremento populacional ocasionado pela imigração e isso se refletia na rápida expansão da área urbana da cidade. Os proprietários das chácaras mais próximas arruavam-nas conforme seus interesses particulares e a Câmara encarregava-se de estabelecer a comunicação viária entre os vários loteamentos criados pela iniciativa privada.
Em decorrência desses fatos, os limites da planta de 1890 mostram avanço com relação aos da planta de 1881 (Planta n.9). Ao norte, a Ponte Grande ainda permanecia como ponto extremo, mas, ao sul, novas ruas cortavam os bairros da Liberdade, Glória e Cambuci. A Rua de São Joaquim, por exemplo, aberta em 1879 nas terras de Joaquim Eugênio de Lima, por iniciativa do proprietário, punha a Rua da Liberdade em comunicação com a Rua da Glória. A Rua Tamandaré, aberta em 1880 pelo Dr. Manuel Batista da Cruz Tamandaré, em seguimento à antiga Rua do Conde d’Eu (atual Francisco Glicério), interligava a Rua da Liberdade e a Várzea do Tamanduateí. Do bairro da Mooca ia-se ao Brás pelas Ruas Carneiro Leão (1881-1882) e Monsenhor Anacleto (1883) e da Mooca ia-se ao Cambuci pela futura Rua Luís Gama (1882). Oferecida à Câmara por Francisco Antônio Pedroso, em 1887, a Rua Pedroso partia da Rua de Santo Amaro (atual Avenida Brigadeiro Luís Antônio) e, atravessando a Rua da Liberdade, ia ter na Rua Tamandaré. A leste, os limites haviam-se expandido grandemente com o arruamento surgido em torno da Estação do Norte (1877) e da Hospedaria dos Imigrantes (1885-1886). No Brás e no Pari – bairro em que se instalava a atividade fabril segundo depoimentos da época –, haviam surgido ruas que se comunicavam com a Luz: a Monsenhor Andrade era de 1880, a São Caetano, de 1881-1885, e a Paula Sousa, de 1890. A oeste, os limites iam agora adiante do Hospital da Misericórdia (1881-1884) e da Capela de Santa Cecília (1861). Muitas vias públicas haviam sido abertas em 1883 nos arredores imediatos do hospital, entre elas a denominada Martim Francisco, criada por iniciativa do proprietário desse nome, enquanto, não longe dali, a antiga Chácara do Arouche, nas mãos do Dr. Antônio Pinto do Rego Freitas, começou a ser arruada em 1881 com a Rua D. Maria Teresa (hoje trecho inicial da Avenida Duque de Caxias) e, mais tarde, em 1887, com a rua à qual se atribuiu o nome do dono, falecido um ano antes.
Ainda com relação aos limites da cidade, deve-se atentar para o fato de não estar incluído nesta planta o nascente bairro de Vila Mariana, onde fora inaugurado recentemente o novo matadouro municipal (1886-1887). Esse arrabalde foi oficialmente incorporado à área urbana da cidade em 1887 e desde então os moradores do lugar se viram obrigados a solicitar alinhamento quando quisessem edificar.
Durante os anos 1880, fatos relativos à expansão urbana da cidade de São Paulo e ao adensamento de sua trama viária sucediam-se de modo quase vertiginoso. Assim é que desde 1881, por exemplo, a Câmara paulistana se mostrava preocupada com a comunicação dos Campos Elísios com os bairros do Bom Retiro, Luz e Brás. Aproveitando o oferecimento de terras feito naquele ano por Manfred Meyer, proprietário que ia lotear a Chácara do Bom Retiro, a Câmara cogitou mandar abrir o prolongamento da Rua Helvetia até essa via se encontrar com a Rua João Teodoro, fazendo em nível o cruzamento da linha férrea de Santos a Jundiaí (do lado do Bom Retiro esse prolongamento seria representado pela futura Ribeiro de Lima). A decisão da Câmara desencadeou uma longa pendência judicial com a companhia ferroviária inglesa (1882-1889), só solucionada com o compromisso da San Paulo Railway de construir um viaduto de ferro para que a referida passagem se efetuasse a partir do final da Alameda Nothmann.
Observando a planta de 1890, podemos notar que o bairro do Bom Retiro se achava então em processo inicial de formação. O arruamento assinalado no documento, sobretudo nas proximidades das linhas férreas, não corresponde nem ao que existia, nem ao que seria feito depois.
A Fábrica de Tecidos de Anhaia e Cia., por exemplo, propriedade de um ituano, Coronel Luís Antônio Anhaia, uma das primeiras indústrias do bairro, construída em 1885 na Rua Alta (hoje Anhaia), na altura da Rua Silva Pinto (rua sem nome, na planta), nas proximidades da linha férrea, passou a impedir com sua presença que fosse prolongada a Rua Alta, melhoramento que estava sendo reivindicado à Câmara pelos moradores da região. Segundo os vereadores, não havia nenhuma necessidade de encompridar essa via pública, já que a passagem entre os Campos Elísios e o Bom Retiro se dava pela Alameda Nothmann. No entanto, a reivindicação denegada em 1885 aos moradores do Bom Retiro aparece impressa na planta de 1890.
Também a identificação das ruas nessa parte da cidade se apresenta de modo confuso. A Rua dos Imigrantes, por exemplo, para a qual Manfred Meyer solicitava consertos à Câmara em 1883, está assinalada erradamente. Corresponde de fato à atual Rua dos Italianos (na planta n. 11, de 1897, ela aparece sob o nome de Caiapós). É a primeira paralela à direita, sem nome no documento cartográfico, que é a verdadeira Rua dos Imigrantes, hoje José Paulino. O trecho inicial desta última, nas proximidades do Jardim da Luz, foi aberto somente em 1890 às custas da estrada de ferro inglesa, provavelmente seguindo o traçado de um antigo caminho que passava no local.
O nome da Rua dos Imigrantes é devido à hospedaria construída nessa via, em 1882, pelo governo provincial, para receber a mão-de-obra estrangeira que chegava em grande número à Capital. Anos depois ela se transferiria para o Brás, onde hoje funciona o Memorial do Imigrante. Quanto ao nome de José Paulino, adotado ao que parece no início do século XX, refere-se a um personagem importante de Campinas, onde assumiu o cargo de presidente da Câmara em 1892. Fazendeiro, investidor em estrada de ferro, seguradora e banco, José Paulino Nogueira deu o nome à cidade de Paulínia, a ruas em Campinas e São Paulo e está na origem da cidade de Cosmópolis.
A Rua do Jardim vista em planta é atual Ribeiro de Lima, aberta por Manfred Meyer com consentimento da Câmara para interligar a Rua João Teodoro com a Helvetia, comunicação que acabou não sendo realizada. A Rua Marquês de Três Rios, na parte correspondente à atual Praça Fernando Prestes, aparecia na planta de 1890 sob o nome de Rua do Dulley, porque terminava no portão da chácara então nas mãos da viúva do engenheiro norte-americano Charles D. Dulley, engenheiro chefe da ferrovia de São Paulo ao Rio de Janeiro, inaugurada em 1877. E, em 1888, o Marquês de Três Rios abria ruas em sua “Vila Marquês de Três Rios”, propriedade situada entre a Luz e o Bom Retiro, logradouros que ainda não aparecem em planta.
Na parte oeste da cidade ocorria fenômeno fundiário semelhante. Em 1882, a Baronesa da Limeira anunciou a intenção de arruar suas terras, o que permitiria a interligação dos bairros de Santa Cecília, Campos Elísios e Bom Retiro (entre as vias que seriam abertas se achava a Rua Barão da Limeira). Em 1884, moradores das imediações solicitaram o prolongamento da Rua São João até a das Palmeiras, pedido atendido em 1887, mas com a extensão viária sendo levada apenas até a Alameda Glette.
Enquanto isso, na parte ao sul da Capital, D. Ana Maria de Almeida Lorena Machado, bisneta de D. Bernardo de Lorena, comunicava à Câmara, em 1885, sua decisão de retalhar a chácara que lhe pertencia localizada na Rua Tabatinguera (o que ocorreria cinco anos mais tarde). E, no ano seguinte, começava finalmente a ser arruada a Chácara da Glória, propriedade nacional estabelecida na estrada que seguia para o arrabalde do Ipiranga.
Como o objetivo que presidiu a criação do presente documento cartográfico era orientar os forasteiros, que pouco ou nada conheciam de uma cidade em constante crescimento e transformação, a trama viária mostrada nele foi simplificada, com todas as vias se apresentando com a mesma largura, bastante exagerada na parte relativa ao Centro. Também foram assinalados os principais edifícios da Capital, sem, porém, ter sido feita por vezes a necessária identificação. Além de igrejas, conventos e edifícios públicos, aparece no mapa algo importantíssimo para os visitantes da época: os pontos de parada dos bondes da Companhia Ferro Carril de São Paulo, em atividade desde 1872.
Podemos identificar quase todas as construções assinaladas nesta planta, obras em sua maioria recém-construídas ou em fase de conclusão. Seu número elevado e sua grande diversidade eram indicativos da vida agitada, e economicamente bem sucedida, que agora animava a Capital: o novo quartel da Luz, chamado Quartel dos Permanentes, projetado e construído por Ramos de Azevedo entre 1887 e 1892; o conjunto dos salesianos, formado por colégio e basílica, edificado nos Campos Elísios entre 1881 e 1901; a Igreja de Santa Cecília, reconstruída, entre 1882 e 1884, no bairro de mesmo nome; a Igreja dos Protestantes, inaugurada em 1873, na Rua do Bom Retiro, atual Couto de Magalhães; a linha da Estrada de Ferro Sorocabana (1870-1875), que partia da Luz em direção a noroeste, paralelamente à linha da Inglesa; a sede da Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais (1886-1888), erguida no Largo São Bento; o Mercado de Verduras (1889-1890), cuja estrutura metálica importada da Bélgica estava sendo instalada na Rua de São João; o Viaduto do Chá, apenas iniciado, que, a partir de 1892, melhoraria a comunicação do Centro com a parte ocidental da cidade; a Secretaria de Fazenda (1886-1891), obra de Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928), sita no Largo de Palácio, atual Pátio do Colégio; a estação da Estrada de Ferro do Norte (1876-1877), localizada no Brás; a Hospedaria dos Imigrantes (1886-1888), projeto de Mateus Häussler, levantada nesse mesmo bairro; o Teatro São José, reformado entre 1875 e 1876, e o Paço da Assembleia Provincial e Câmara Municipal (1877-1879), ambos situados no antigo Largo de São Gonçalo, na época chamado Largo Municipal; a Escola de Primeiras Letras da Rua de Santo Amaro, humilde prédio construído no Bexiga entre 1877 e 1878, e o Hospital da Santa Casa de Misericórdia (1879-1884), vistosamente estabelecido nos altos do bairro de Santa Cecília (atual Vila Buarque).
Na parte nova da cidade, na recém-nomeada Praça da República, podemos observar a delimitação de uma área com linha pontilhada. Aí, nos últimos momentos do Império, pretenderam as autoridades erigir a nova catedral, mas o advento do dia 15 de novembro de 1889, e a consequente separação entre Estado e Igreja, fariam com que o terreno fosse reservado, de modo altamente simbólico, para a futura Escola Normal (1892-1894), instituição de ensino dedicada à formação de professores primários, considerada essencial, na ótica dos republicanos positivistas, para o bom alicerçamento da nova sociedade que surgia.
Distinguimos também os três largos paulistanos então transformados em jardins arborizados e gradeados, iguais aos que existiam no Exterior: o Largo Municipal, de 1879, o Largo São Bento e o Largo do Palácio, ambos de 1886. E na Mooca podemos ver a projetada Avenida do Ipiranga (1885), que o governo provincial intentava abrir em linha reta ligando o monumento em construção (1885-1894) ao ponto mais próximo da cidade, o bairro do Brás (projeto do engenheiro francês Eusébio Stevaux, não realizado).
Na frente da já reformada Faculdade de Direito foi inaugurada, em 1890, a estátua de um político recentemente falecido, José Bonifácio, o Moço, seguramente o primeiro monumento em memória de um ilustre personagem erguido no espaço público paulistano.
E, por fim, no detalhe, o autor Jules Martin reproduziu a planta de 1810, na versão atualizada de 1841. Esse expediente permitia ao público da época estabelecer uma rápida comparação entre as duas plantas e assim constatar, maravilhado, o veloz e o pujante desenvolvimento da capital paulista, sobretudo a partir dos últimos quinze anos.