Land Rover Defender, Inglaterra - Jeremy Clarkson
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Depois de uma intervenção de Carrie Johnson e sua boneca de pavio curto Boris, o governo anunciou que em breve não poderemos continuar com o hábito de colocar lagostas vivas direto na panela de água fervente.
“Oh, não,” lamentaram, com ombros caídos, as seis pessoas afetadas por essa inadmissível proposição legislativa. É um bom ponto, pois como pode qualquer coisa ser morta humanamente?
Os americanos têm matado criminosos por centenas de anos e ainda não acharam maneira de fazer isso direito. Alguns estados acham que o prisioneiro deveria ser ligado à rede elétrica até seus olhos pegarem fogo, outros deixam os caras maus na fila da morte interminavelmente enquanto procuram desenvolver um coquetel de remédios que funcione.
Em outra ocasião, fizeram trapalhadas no enforcamento de Saddam Hussein, levaram o Coronel Kadafi para o Céu à força, e foram 11 machadadas para decapitar a Condessa de Salisbury. Logo, se não podemos executar uma pessoa decentemente, qual a possibilidade de o fazermos com uma lagosta?
Um bom manual no The Times sugeriu colocar a criatura deitada de costas antes de cortá-la pela metade, da cabeça à cauda, com uma faca. Mas não estou certo a respeito disso porque qual você preferiria? Ter sua cabeça e corpo separados pela metade ou ser mergulhado em água fervendo? A única resposta, seguramente, é “nenhum dos dois”.
E além disso, como a lagosta tem um dos menores cérebros entre qualquer criatura na Terra, seria muito fácil errar o golpe. Desse modo, ela restaria deitada lá, com uma garra e um olho, pensando: “E isto é mesmo humano?”
Com os caranguejos, entendidos dizem que você deve introduzir um espigão pela parte de trás e depois através dos olhos, mas para minimizar a dor isso esse procedimento deve ser feito em menos de dez segundos. Dez segundos? Se a expectativa de vida de um caranguejo Dungeness é de dez anos, seria como levar um minuto e meio para matar seu avô.
Dizem que por o polvo ser inteligente o bastante para entrar numa caixa e sair, não deveríamos matá-lo. Mas eu não entendo isso, porque se formos comer apenas coisas burras, então eu ficaria sentado esta noite e avançaria sobre um nativo de Birmingham trajando malha de ginástica que vi andando num dos meus trigais.
O único problema é que ele parecia ter comido alguns kebabes e isso o faz inelegível para o prato. O fato é que só podemos comer não mais do que dois que venham do sol. O sol alimenta as plantas, assim podemos comê-las. Mas não as criaturas que comem as vacas, porque seriam três do sol. Essa é a razão de não comermos cães. Ou leões.
Mas isso me dá uma ideia. Se só podemos comer carne que só comeu plantas, por que não comemos vegetarianos? Certamente eles gostariam, porque se pudéssemos tê-los no almoço, então não estaríamos comendo as lagostas pelas quais eles se preocupam tão profundamente. Uma solução, vegetarianos: quando vocês morrerem deixem seus corpos no balcão de carne da Morrisons.
Bem, nesse ponto você pode ser desculpado por pensar que peguei meu calendário errado e por acidente ter escrito uma coluna sobre agricultura. Mas não se preocupe. Sei que esta semana é de carros. Deixe-me então ir para o Hard Top, a versão comercial do novo Land Rover Defender.
Ele pode parecer um carro normal de cinco portas e entre-eixos longo, embora com rodas de aço, mas ao abrir as portas traseiras vê-se que não há bancos ali. E saberá também que não há janelas atrás. Isso mesmo, parece um furgão. Possivelmente o melhor furgão desde que Mr. T tirou seu distintivo de integrante do A-Team da série “Esquadrão Classe A”.
E o Land Rover que peguei era especialmente atraente porque quando chegou em casa tinha belos decalques da Fazenda Diddly Squat nas portas. Seria meu novo carro para a fazenda?
Testei o Defender normal de entre-eixos curto no ano passado e fiquei impressionado. Sim, ele era destinado aos endinheirados de Shoredicht, mas não era só bonitinho, tinha verdadeira capacidade off-road mesmo com pneus ‘comuns’, e engenharia mais que suficiente para garantir que pudesse ficar submerso durante uma hora e os equipamentos elétricos continuarem funcionando. Ele pode até atravessar cursos d’água de cerca de um metro de profundidade.
Era a perfeita ferramenta de trabalho. Mas infelizmente não veio com o preço adequado aos que trabalham. O que dirigi, que tinha motor pequeno, custa nada muito longe de 60 mil libras (R$ 440 mil), e vi que para mais potência e alguns extras pode-se considerar chegar a 100.000 libras (R$ 735 mil). É de dar risada.
Assim, eu estava esperando a versão comercial de teto rígido porque obviamente custaria menos. E custa. Especialmente quando se considera os vários benefícios fiscais potenciais. Mas não tanto quanto eu imaginava. Os preços da versão 110 que dirigi começam em 43,7 mil libras (R$ 320 mil) — sem o IVA, Imposto sobre Valor Agregado — e se você quiser alguns brinquedos poderá disparar para mais de 80 mil libras (R$ 588 mil). O que, para um furgão, é muito dinheiro.
Nem é um furgão tão bom assim. A porta traseira abre lateralmente e por isso é um problema em espaços apertados, deixa um vão de abertura muito pequeno. E mais à frente há uma partição para reter qualquer coisa que se ponha lá atrás bata na sua cabeça atrás cada vez que você frear. É ótima, mas, meu Deus, como rouba espaço.
Sob o assoalho, há compartimentos acessados via tampas planas que quase certamente quebrarão em uma semana e há ganchos escamoteáveis que são tão frágeis que dão a impressão que irão se despedaçar com o frio e o gelo.
E se você é um fabricante de cortinas ou produz pão artesanal não será problema, mas se você precisar levar ovelhas para o matadouro para serem ninadas até à morte por uma canção dos Carpenters, você terá o que parece a cena de um acidente de Fórmula Um de alta velocidade.
Mais à frente há outros problemas também. Nas confluências oblíquas o ponto cego é horrendo — por não haver janelas traseiras — e enquanto há um banco central opcional que pode ser criado levantando o descansa-braço, você não conseguirá acomodar nele os personagens Gaz ou Baz, do seriado “The Worst Witch”, por muito tempo. E haverá homens se roçando.
Fico surpreso com o que temos nele ser um arremedo de carro. É como se tivessem feito a versão normal e depois juntado as pedras numa versão de trabalho rude e barata para calar a boca dos que acharam o carro normal muito luxento e caro.
A questão é que ele não é rude nem barato. Sim, é um ótimo veículo off-road e vai muito bem na autoestrada também. Mas a suspensão traseira parece ter sido feita com as mesmas tolerâncias de uma caixa de cassete BASF. E a dianteira não é lá essas coisas também.
Elas incomodam. Eu quis desejar este carro, e o nativo de Yorkshire em mim estava realmente tentado pelos benefícios fiscais. Mas acho que se tivesse comprado um gostaria de me livrar dele assim que possível e ter meu velho Range Rover de volta.
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