Toyota Mirai, Japão - Jeremy Clarkson
Fotografia
O problema de enfrentar problemas ambientais é que políticos querem manchetes de noticiários já, não elogios nos livros de história. Por isso eles nunca pensam a longo prazo, só o que pode ser resolvido imediatamente.
É o motivo de estarem com pressa de se livrarem dos motores de combustão interna. Políticos, que se tornaram hipnotizados por Musk, estão sabendo que nesse momento há uma alternativa elétrica para isso, e sabem que ela pode ser carregada com energia renovável.
Desse modo já há duas soluções, e agora, numa manobra para agradar ao exército verde, eles querem passar para a próxima fase — forçando-nos a morar em casas com sistemas de aquecimento central que funcionam com combustíveis vegetais.
Tudo parece muito bonito, e aos olhos do observador casual é. Só que há muitos problemas. Aquelas graciosas turbinas eólicas, por exemplo, podem precisar de geradores a diesel para a energia elétrica fluindo. E aquecimento por fontes vegetais não funciona muito bem a curto prazo, e absolutamente nada após alguns anos.
E tem os carros elétricos. Testei um carro esporte elétrico recentemente e por incrível que pareça era maravilhoso — lindo, delicioso de guiar e inacreditavelmente rápido. Num trecho pequeno cheguei a 218 km/h. Isso é 55 km/h mais do que certa vez atingi com um grande e antigo Newport Pagnell Vantage.
Mas não se pode ignorar o fato de que trabalho escravo infantil é usado para extrair alguns dos ingredientes para as baterias dos carros elétricos. E pense no que fazer quando a bateria do seu celular começar a não pegar carga. Você o joga fora e compra outro. Só que não demorará muito para você fazer o mesmo com um carro de 1 milhão de reais.
Não sou só eu que estou preocupado. Carlos Tavares, o executivo-chefe da Stellantis (Peugeot, Citroën, Fiat, Jeep) se pergunta “quem tem a visão de 360 graus”.
Ele explica que os governos europeus estão atualmente estão arrecadando 448 bilhões de euros por ano de carros a gasolina e a diesel e pergunta que reporá esse montante quando tudo passar a elétrico. Diz também que mesmo no futuro os carros elétricos serão caros — da mesma forma que alimento orgânico é mais caro do que o “convencional” — o que significa que pessoas de baixa renda não terão como comprar mobilidade pessoal.
E isso é só o começo. Isso porque ele reconhece que a mudança sísmica na maneira como nos deslocamos causará severa inflação, e que nenhum país europeu é remotamente capaz de prover infraestrutura de recarga satisfatória. O resultado disso é não podermos mais largar tudo e dar uma escapada ao litoral num domingo de sol.
Mais importante de tudo, contudo, ele diz que se entrarmos de cabeça num novo futuro elétrico, estaremos ferrados se, em 10 ou 20 anos, surgir uma alternativa melhor.
O que me leva lindamente à porta do carro que você vê nas fotos. É o Toyota Mirai a célula de combustível a hidrogênio. Parece um automóvel, mas na verdade é uma usina de eletricidade num embrulho parecido com um.
Você enche o tanque de hidrogênio da mesma maneira que você completa o tanque com gasolina e sai rodando em seguida, em silêncio e com nada além de água pura saindo do cano de escapamento.
Olhando mais adiante, um dia você poderá usar seu carro para prover energia elétrica para a sua casa. Mesmo que você more no Palácio Blenheim, basta ligá-lo numa tomada e ele lhe dará toda a energia elétrica necessária, enquanto continua a soltar nada mais umas gotas de água pelo seu escapamento.
A ciência é simples. O hidrogênio é o elemento mais abundante do universo. Mas ele não gosta de ficar sozinho. Ele gosta de companhia, principalmente de oxigênio.
Eis o que é preciso. Faz passar hidrogênio num tubo e no outro lado de uma membrana existe ar. O hidrogênio é capaz de sentir o oxigênio, pode sentir seu odor. E fica tão desesperado quanto um adolescente depois de 18 meses trancado em casa por causa da pandemia. Ele que se juntar. Quer companhia. E nesse desespero cria eletricidade. E então, quando isso acontecer, e o carro anda, o hidrogênio e o oxigênio têm permissão para se tornarem íntimos e produzirem eletricidade e H2O.
Brilhante. E elegante. E maravilhoso. Mas infelizmente há apenas meia-dúzia de postos de hidrogênio na Inglaterra, geralmente a maioria fechados por uma razão qualquer. Resulta que que você não pode ir onde quiser com um Mirai, mesmo que antes de mais nada você tenha o pouco juízo de gastar 63 mil libras em um (R$ 457,2 mil em conversão direta).
Você pode imaginar que se ele pegasse no mercado o preço cairia, mas como será que isso pode acontecer? E como teremos mais postos de hidrogênio se todo mundo está partindo para a rota dos elétricos a bateria? É como estarmos todos comprando discos a laser por desconhecer que a internet está chegando. E quem está nos levando a isso? Isso, o governo, a mesma organização que nos disse, não há muito tempo, para comprar carros a diesel.
Durante anos me convenci de que a tecnologia da célula a combustível era o caminho óbvio a seguir, e fiquei feliz com a Toyota remando contra a correnteza com o Mirai. Mas procurei alguns engenheiros da JCB, fabricante de máquinas de construção, e já não tenho tanta certeza.
Eles me explicaram que o Toyota Mirai precisa de uma bateria recarregável para agir como um turbocompressor, tapando os buracos onde a célula a combustível não está rendendo o máximo. Por isso ele não é tão elegante como eu imaginava, fiquei decepcionado.
Há um elenco de outros problemas também, especialmente no que diz respeito à pressão necessária para encher o tanque, e que não havia ninguém trabalhando para resolver isso. Foi quando me explicaram que fizeram um motor de combustão interna normal funcionar com hidrogênio.
Fui até uma escavação onde eles testem seus novos desenvolvimentos. Havia pequenas escavadeiras elétricas que poderiam ser usadas em ambientes fechados por serem silenciosas e não produziam emissões. E havia uma gigantesca escavadeira de 20 toneladas que funcionava com célula a combustível. E lá, no meio de tudo, havia uma retroescavadeira com o motor de que falavam.
Experimentei-a e achei-a normal. Tinha som normal. Funciona pobre, realmente pobre. Mais do que Mrs. Thatcher queria que os motores funcionassem antes que viessem os catalisadores de instalação rápida — aliás, um desastre para o meio ambiente. Mas apesar da aparente normalidade, só saía vapor d’água pelo escapamento. Muito intrigante.
O motor de combustão interna está entre nós há mais de 100 anos. Estamos todos familiarizados com ele e hoje somos bons em fazê-lo durável e barato. O custo para a Ford de um motor 1,4-litro de Fiesta é em torno de 600 libras. Desse modo agora me vejo tomado pela ideia de usar tecnologia habitual, mas alterada para funcionar com hidrogênio em vez de gasolina, em que o único produto jogado fora é água.
Sim, o hidrogênio é difícil e caro de produzir — ele não gosta de se separar do oxigênio e faz de tudo quando alguém tenta separá-los. Mas isso é possível, e utilizando energia solar ou geotérmica para fazer isso tem impacto zero no clima.
E parece que não sou o único a ficar intrigado. Porque devido a no começo deste ano Akio Toyoda, o executivo-chefe da Toyota participou de uma corrida de 24 horas num Corolla de motor de combustão interna alimentado com hidrogênio. Esta é uma fabricante que está gastando bilhões no desenvolvimento da célula a combustível, mas seu chefe supremo diz simplesmente, “Hum, aguenta um pouco, pessoal.”
E isso é realmente que todos nós precisamos fazer. Há centenas de milhares de engenheiros trabalhando na indústria automobilística e eles simplesmente não estão sendo consultados sobre qual caminho devemos tomar. Em vez disso, governos estão reagindo ao barulho causado por uma estudante primária sueca.
Temos que fazer algo. Todo mundo concorda. Mas antes de adotarmos o carro elétrico recarregável, o qual é extremamente arriscado, devemos parar e procurar o conselho daqueles que sabem o que estão fazendo. E deveríamos começar pelo Tavares, uma vez que me parece ser um homem que prova estar faltando um anjo no céu.
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