terça-feira, 24 de agosto de 2021

Maserati MC20, Itália

 













Maserati MC20, Itália
Fotografia


À primeira vista, o MC20 é apenas um superesportivo de linhas arrebatadoras. Mas sua história completa é maior. Por trás do supercarro de 630 cv, há um plano de recuperação da marca, que inclui a renovação da linha e passa pela eletrificação. Com o MC20, o primeiro capítulo desse trabalho estratégico começa em alta rotação.
Depois dele, virão outros sete modelos até 2025. É o caso das versões elétricas dos SUVs Levante e Grecale, do cupê GranTurismo, do conversível GranCabrio, do sedã Quattroporte e também das versões elétrica e conversível do próprio MC20.
As letras MC são um tributo à divisão de competição da casa: Maserati Corse. O “20” faz referência ao ano de lançamento do modelo. A propósito, o MC20 já está confirmado no Campeonato do Mundo de FIA GT. A missão é continuar a saga de seu antecessor, o MC12, campeão na categoria de 2005 a 2009.
O novo superesportivo estreia a plataforma e o motor. O V6 3.0 biturbo Nettuno é o primeiro feito pela própria Maserati em mais de 20 anos. Com 630 cv e 74,4 kgfm, ele passa a ser o propulsor de seis cilindros de produção em série com a maior potência específica: 210 cv/litro. Trata-se do primogênito de uma família chamada Nettuno. Como o carro, ele também é montado em Modena, na histórica fábrica que é berço dos Maserati há 80 anos.
Entre os avanços do motor, Federico Landini, diretor de desenvolvimento, destaca a pré-câmara. Colocada entre as velas de ignição (duas por cilindro) e a câmara principal, a novidade resultou em acréscimo de potência na ordem de 120 a 130 cv, além de 13 kgfm extras.
A sétima e a oitava marchas do câmbio automatizado de dupla embreagem e oito velocidades são overdrive. Isso possibilita redução de giro, consumo e poluição. Segundo a marca do tridente, além de ser mais potente que seus principais concorrentes, o MC20 é também mais econômico.
São 8,6 km/l de média entre cidade e estrada, ante 7,2 km/l do Lamborghini Huracán (610 cv), 8,4 km/l do McLaren GT (620 cv) e 8,3 km/l do Porsche 911 Turbo S (650 cv). O MC20 também é mais leve: são 1.470 kg, contra 1.750 kg do Porsche 911 Turbo S, 1.645 kg da Ferrari Roma e 1.605 kg do McLaren GT (1605 kg).
Graças à combinação de alta potência e baixo peso, que resulta em relação peso/potência de 2,3 kg/cv, o Maserati dispara até os 100 km/h em menos de 2,9 segundos, chega a 200 km/h em menos de 8,8 s e ultrapassa os 325 km/h.
Boa parte do segredo para o baixo peso está no monocoque de fibra de carbono e materiais compostos, feito em parceria com a Dallara. Os amortecedores são variáveis, condição para que o MC20 consiga ser estável na pista e confortável nas ruas.
A carroceria de linhas sinuosas tem frente marcante e portas do tipo tesoura. Não há apêndices aerodinâmicos. No espaço generoso, qualquer ocupante com até 1,90 metro e de ombros largos não sentirá grandes limitações a seus movimentos. O painel é forrado de Alcântara (um tipo de material sintético que imita camurça)e couro, e ainda exibe fibra de carbono, formando um ambiente que respira genes de corrida por todos os poros.
Se o objetivo era garantir que o ato de dirigir fosse o mais próximo possível da sensação de pilotar, conseguiram. O volante de aro grosso combina boa aderência do Alcantara com o visual técnico da fibra de carbono exposta. Ele acomoda o botão de partida e as borboletas do câmbio (de fibra de carbono, na unidade testada, mas o padrão é alumínio).
São duas telas digitais de 10,25”, uma (configurável) para os instrumentos e outra para a central multimídia (tátil e ligeiramente voltada para o motorista. O retrovisor interno projeta as imagens capturadas por uma câmera traseira.
No túnel central está o comando rotativo que permite escolher o modo de condução: Wet (piso molhado), GT (normal), Sport, Corsa (corrida) e ESC-Off (que desliga o controle de estabilidade). Independentemente da opção, é possível ajustar separadamente a suspensão, mesmo quando os outros parâmetros variáveis (direção, mapeamento do acelerador, resposta do câmbio, som do motor) são mantidos no modo “zangado” (Sport e Corsa).
Segundo Landini, “o MC20 será capaz de poupar o esqueleto dos ocupantes de tremores excessivos, porque cada modo tem duas configurações de amortecimento, uma mais confortável e a outra mais esportiva”.
A versatilidade do MC20 pode ser comprovada em estradas e no autódromo de Modena. No roteiro que a marca escolheu, os modos Wet ou GT são os mais indicados. A suspensão fica relativamente confortável, mesmo passando por buracos e solavancos. Em um desses dois ajustes, basta apertar o botão no centro do controle rotativo que a suspensão fica mais firme.
Se estiver em Corsa e ESC-Off, o mesmo procedimento deixa o carro mais suave. Há também um comando para subir o nariz do carro (5 centímetros até uma velocidade de 40 km/h), para não tocar com a parte da frente no chão, principalmente em entradas e saídas de garagens.
Na pista, troco os modos Wet e GT pelas opções Sport e Corsa (este, o mais agressivo). O motor V6 3.0 de cárter seco (sistema que garante melhor lubrificação em curvas) ativa os sentidos com um trovão promissor, e o câmbio da Tremec passa a fazer trocas com um sentimento de urgência que ainda não havia se manifestado.
Na seção sinuosa do traçado, dá para sentir que a configuração do motor central traseiro tem grande parte do mérito no excelente equilíbrio (a distribuição de peso é de 50-50). A tração é traseira. A 240 km/h, você sente o MC20 preso ao solo, como resultado dos 100 kg de força descendente sobre a carroceria.
O diferencial traseiro com autoblocante (opcionalmente eletrônico) ajuda a garantir excepcional estabilidade. O eletrônico é mais confortável e, portanto, indicado para uso em ruas e estradas. Já o mecânico é mais brusco, mas também mais leve, o que é importante na pista.
No final do dia, não é difícil admitir que a Maserati está de volta com um esportivo de primeira linha. O MC20 é o melhor da sua exigente classe em mais de um aspecto, proeza que a fabricante italiana não era capaz de alcançar havia muito tempo. A previsão da Via Italia, representante da marca no Brasil, é de que o modelo chegue ao país no ano que vem. O preço deverá ficar próximo ao da Ferrari F8 Tributo, que hoje custa R$ 3,8 milhões.
MC20 tem tudo para resgatar a fama gloriosa da fabricante de superesportivos.

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