quinta-feira, 29 de setembro de 2022

A História do Xeque que Invadiu o Campo e Anulou um Gol na Copa do Mundo de 1982 - Artigo

 





A História do Xeque que Invadiu o Campo e Anulou um Gol na Copa do Mundo de 1982 - Artigo
Artigo


Era uma vez um homem muito poderoso, respeitado em seu país e dirigente de um time de futebol. Indignado com a validação de um gol sofrido por seus jogadores, que, na sua avaliação, parecia ser irregular, ele simplesmente deixou as tribunas do estádio e invadiu o gramado para discutir o lance com o juiz. Sua atuação como uma espécie de "VAR humano" deu certo, e o lance acabou invalidado.
Histórias semelhantes a essa já rolaram aos montes em campeonatos amadores e eventualmente acontecem também em torneios profissionais de países com regimes ditatoriais. Mas a cena descrita acima faz parte da história da Copa do Mundo.
O responsável por esse feito foi Fahad Al-Ahmad Al-Sabah, irmão do então emir (um cargo semelhante ao de rei) do país, presidente da federação nacional de futebol e, consequentemente, principal dirigente da seleção que estreava no Mundial.
No dia 21 de junho de 1982, o Kuwait fez sua segunda partida na competição. O confronto contra a França, que contava com o astro Michel Platini e era uma das favoritas ao título, era essencial para as pretensões árabes de avançar de fase.
Mas o que rolou no estádio José Zorilla, em Valladolid, não agradou nem um pouco o xeque. Os europeus foram marcando um gol atrás do outro e já venciam por 3 a 1 quando, aos 35 minutos do segundo tempo, Alain Giresse anotou o quarto.
A estranheza do lance é que, antes mesmo da finalização do francês, os defensores árabes já estavam todos parados. A alegação é que haviam ouvido um apito sinalizando um possível impedimento. Só que o som não veio da arbitragem, mas sim das arquibancadas.
Indignado com a validação do lance, Al-Sabah começou a gesticular das tribunas em direção ao campo. Como a movimentação enfática de nada adiantou, desceu até o gramado e, sem ser incomodado pela polícia espanhola, invadiu o campo.
De lá, conversou com o técnico da seleção do Kuwait, o brasileiro Carlos Alberto Parreira (que oito anos depois levaria seu país-natal ao tetracampeonato mundial), e o orientou que os jogadores deveriam abandonar a partida caso a decisão do árbitro não fosse revertida.
Só que o W.O. não foi "necessário". Afinal, o xeque conseguiu convencer o árbitro soviético Miroslav Stupar de que o gol precisava ser anulado. Seus argumentos, no entanto, jamais foram revelados ao público.
Após o reinício da partida, a França ainda marcou o quarto gol que Al-Sabah havia lhe tirado, venceu por 4 a 1 e acabou se classificando para a segunda fase da Copa. Na última rodada do Grupo 4, o Kuwait foi novamente derrotado, pela Inglaterra, e deu adeus à competição para qual nunca mais conseguiu se classificar.
Pelo comportamento inadequado do xeque, a entidade que administra o futebol na nação árabe foi multada em US$ 11.800 (R$ 63 mil). Quem se deu mal mesmo foi o árbitro da partida, que perdeu o escudo da Fifa e o direito de apitar jogos fora da URSS.
Al-Sabah, por outro lado, pôde continuar tranquilamente sua carreira como dirigente esportivo. Ele morreu oito anos depois da partida que o tornou conhecimento mundialmente, vítima de um ataque feito pelo exército do Iraque, durante a Guerra do Golfo.

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