terça-feira, 24 de outubro de 2023

Vista Aérea, Companhia Eletro Metalúrgica Brasileira, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil



 



Vista Aérea, Companhia Eletro Metalúrgica Brasileira, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia




Texto 1:
Em 1922, Ribeirão Preto já somava mais de 70 mil habitantes e era então a terceira cidade mais populosa do estado e a maior do interior paulista. Ao mesmo tempo em que despontava como importante centro logístico, comercial e de prestação serviços, o município dava naquele ano o passo mais arrojado de sua trajetória industrial.
Em 27 de agosto, investidores ligados ao setor cafeeiro, liderados pelo engenheiro Flávio Uchoa, inauguravam a Companhia Eletro-Metalúrgica Brasileira, com a presença ilustre do presidente da república à época, Epitácio Pessoa.
O grandioso projeto siderúrgico traria minério de ferro de São Sebastião do Paraíso (MG) por meio de um ramal ferroviário próprio para produzir ferro gusa no bairro Tanquinho.
Integrado à Empresa Força e Luz de Ribeirão Preto, o empreendimento operou por cerca de sete anos, até ser desativado como reflexo da crise de 1929.
Durante o período de atividade, os fornos importados da Suécia bateram recorde de produção nacional, tendo fornecido, por exemplo, todo o material utilizado na construção do Edifício Martinelli, na capital paulista.
Texto 2:
A Companhia Eletro Metalúrgica Brasileira foi instalada em 1922 no antigo bairro Tanquinho em Ribeirão Preto. Idealizada por Flavio de Mendonça Uchoa, o seu primeiro presidente foi o Dr. João Alves de Meira Júnior; para a formação do capital da empresa houve significativa participação de ricos fazendeiros produtores de café, evidenciando a estreita relação entre o capital gerado pelo "ouro verde" e o processo de industrialização no Estado de São Paulo.
Existem poucos trabalhos sobre o contexto e os significados da instalação desta metalúrgica no interior do Estado, bem como estudos detalhados sobre a influencia do capital gerado pelo café para o processo de industrialização do município de Ribeirão Preto. O que apresentamos a seguir trata-se de um levantamento preliminar sobre alguns dados referentes a Cia. Metalúrgica.
Conforme as escrituras de organização da empresa, datadas de 9 e 15 de abril de 1920 (Empresa de Força e Luz de Ribeirão Preto, vol II, São Paulo: Casa Ghaphica, 1921, p. 93-127), a Cia. Electro-Metalúrgica Brasileira Sociedade Anônima foi constituída por 90 acionistas tendo por fim a exploração da indústria de ferro em todas as suas modalidades: fabricar ferro gusa do minério das jazidas situadas no município de Jacuhy-MG, pelo processo de altos fornos elétricos e transformar essa gusa em aço; instalar serviço de laminação para transformar o aço fabricado em bitolas comerciais; instalar fornos para transformação da madeira em carvão; montar e explorar fábrica de cimento para aproveitamento das escórias dos altos fornos; adquirir ou construir estrada de ferro para transporte de matéria prima; adquirir terras marginais da estrada de ferro para plantação de eucaliptos, etc. A sociedade foi formada com um capital de seis mil contos de réis (6.000:000$000), dividido em ações de duzentos mil réis (200$000), para a duração de 50 anos. Para a formação do capital da empresa os maiores acionistas eram: 12 mil ações da Empresa Força e Luz de Ribeirão Preto; 12 mil e 500 ações da Cia. Intermediária Paulista; 1 mil ações de Flávio de Mendonça Uchoa; 905 de Osório da Cunha Junqueira; 750 de Sylvio Alvares Penteado; Caio da Silva Prado, Martinho da Silva Prado, Manuel Maximiano Junqueira, Joaquim da Cunha Diniz Junqiueira, Theodomiro de Mendonça Uchoa, Francisca Silveira do Val, entre outros, possuíam 500 ações cada; o restante dos acionistas possuíam cotas de 300 ou menos que 300 ações.
Ainda segundo artigo de Assis Chateuubriand, publicado no Jornal do Comércio, no Rio de Janeiro, n. 96, de 15 de abril de 1922, o edifício construído pela empresa The Corning Incorporated Company Lmid. New York, media 250 metros de extensão. O empreendimento iniciou-se em 1920 com a Usina Epitácio Pessoa; a Cia. Electro Metalúrgica Brasileira foi uma das primeiras da América do Sul. A empresa adquiriu jazidas ferro próximo a cidade de São Sebastião do Paraíso em Minas Gerais e, para transportar a matéria prima até Ribeirão Preto fez a incorporação da Estrada de Ferro São Paulo-Minas.
A produção de ferro de boa qualidade propiciou que a Cia. Metalúrgica tenha sido a fornecedora de toda a ferragem usada na construção do Edifício Martinelli na cidade de São Paulo, em 1924.
Em 1926 Flávio Uchoa vendeu a Empresa de Força e Luz para o grupo americano-canadense Eletric Bond Share, aplicando todo o dinheiro da venda na Cia. Metalúrgica.
Em 1929 com o "crack" da bolsa de valores de Nova Iorque iniciou-se um período de crise para a economia nacional baseada na produção de café. Durante o ano de 1930 as vendas da Cia. Metalúrgica começaram a cair até que no final de 1931 pediu concordata e em seguida a falência. Sobre as causas da falência, alguns autores apontam além da quebra da bolsa, que o Morro do Ferro não possuía o manancial de matéria prima esperado, obrigando a Cia. Metalúrgica a comprar ferro para alimentar os seus altos fornos e que isso teria encarecido muito a sua manutenção; apontam ainda que as duplicatas emitidas em 1929 não foram pagas e que o Banco do Brasil e o Governo Federal não prestaram socorro financeiro a Cia. Metalúrgica.
Com a tramitação do processo de falência os bens da empresa foram sendo vendidos e arrematados. Em 1935 a empresa Moinho Santista com o Engº. Eugenio Belloti adquiriu o acervo da Cia. Metalúrgica que foi posteriormente vendido para a SANBRA para industrialização de algodão e, depois para a Industria Penha.
Outros dados sobre a Metalúrgica são citados no livro História de Ribeirão Preto, vol II, de Rubem Cione:
Em 1919 foi construída uma Usina Hidroelétrica na confluência dos córregos Ribeirão Preto e Retiro pela Cia. Força e Luz, Água e Esgotos de Ribeirão Preto, de propriedade do Eng. Flávio de Mendonça Uchoa. Em seguida idealizou a criação de uma Metalúrgica, teve apoio para este projeto da Família Prado, principalmente seu cunhado Antônio Prado Júnior e de Dr. João Alves Meira Júnior.
Flávio Uchoa comprou uma área de 600.000 metros quadrados no bairro Tanquinho e iniciou a construção de 2 altos fornos elétricos (um alto forno Bressemer), almoxarifado, um complexo de transformadores de 90 mil volts e escritórios (toda a siderúrgica era movida à eletricidade). As obras foram realizadas por engenheiros especialistas oriundos da Suécia e ao lado dos brasileiros: Engº. Joaquim Desidério de Mattos, Almiro Pedreira, Martinico Prado Uchoa. Os engenheiros da Empresa de Força e Luz Azevedo Queriga e J.H. Hodge também auxiliaram nas obras.
A matéria prima vinha do Morro do Ferro no município de São Sebastião do Paraíso-MG. Para o transporte do minério até a Metalurgica, Flávio Uchoa adquiriu a Estrada de Ferro São Paulo-Minas, que ligava Bento Quirino a São Sebastião; construiu então o ramal Ribeirão Preto-Serrinha, fazendo chegar os trilhos até os fornos da usina.
A Metalúrgica foi inaugurada oficialmente em 27 de agosto de 1922. A solenidade contou com a presença do Presidente da República Epitácio Pessoa (ficou hospedado no Palacete do Cel. Joaquim Firmino - sogro de Veiga Miranda, da rua Tibiriçá esquina com Florêncio de Abreu); Ministro da Indústria e Comércio José Pires do Rio; Presidente do Estado de São Paulo Washington Luiz, Ministro da Marinha e ex-prefeito Veiga Miranda e, do Prefeito Municipal João Rodrigues Guião.
Texto 3:
Esta crônica focaliza momentos iniciais da industrialização da região de Ribeirão Preto, São Paulo, com implicações no sudoeste mineiro e particularmente no município de São Sebastião do Paraíso. O importante polo cafeeiro, fortalecido pelas relações entre mineiros e paulistas, estava dando os primeiros passos rumo à diversificação das fontes de riqueza econômica. A expressiva produção de café, abençoada pela ótica da velha política dos coronéis, financiou parte das primeiras indústrias do interior paulista. Este é o caso da Companhia Eletro Metalúrgica Brasileira, inaugurada em 1922, em Ribeirão Preto, cujos principais acionistas eram grandes cafeicultores.
Organizada na forma de sociedade anônima, por uma centena de acionistas, o projeto consistia em implantar uma grande indústria siderúrgica, prevendo o funcionamento integrado de três etapas especializadas, incluindo a fabricação de ferro gusa, a sua transformação em aço e a produção de lâminas para fornecer a outras indústrias. Entre os principais acionistas estavam a Empresa Força e Luz de Ribeirão Preto, outras empesas paulistas e mais abastados fazendeiros cafeicultores, que após a conquista honrada da riqueza com o famoso “ouro verde”, pretendiam ascender vôo mais alto no campo industrial. Foi uma época de grande entusiasmo gestada ainda no início da última década da República Velha. Sinal desse momento ficou registrado, para sua inserção na história, em um artigo escrito por Assis Chateaubriand, publicado no Jornal do Comércio, no Rio de Janeiro, em de 15 de abril de 1922.
Para abastecer os fornos de transformação do ferro gusa em aço, estava previsto que a matéria-prima viria de jazidas dos municípios de Jacuí, Passos e São Sebastião do Paraíso. Houve então valorização especulativa no preço de propriedades agrícolas, existentes no entorno do Morro do Ferro e atual município de Itaú de Minas. Antigos proprietários foram enganados com falsas promessas de atravessadores. A memória coletiva regional confirma esse momento de euforia, em que as terras no entorno do Morro do Ferro foram valorizadas, no mesmo ritmo em que apareceram especuladores e propositores de negócios nada republicanos. Os novos industriais, com raízes profundas na cultura agrícola, compraram várias glebas ao longo da estrada de ferro da Mogiana, destinadas ao plantio de eucaliptos, cuja produção seria usada na fabricação de carvão e escórias de madeira para abastecer os altos fornos da grande indústria.
Para construir o prédio industrial, com 250 metros de comprimento, em Ribeirão Preto, foi contratada uma empresa internacional. Todas as estimativas foram sonhadas com excessiva euforia e certo desprezo ou mesmo desconhecimento da importância das bases mais objetivas das áreas científicas e tecnológicas. Não foram realizados estudos mais aprofundados para estimar, com maior rigor e precisão, o efetivo potencial das jazidas supostamente existentes nas cercanias do importante polo cafeeiro. Na fase inicial de produção, tudo aconteceu como os diretores tinham planejado.
Mas, em 1929, com a grande crise financeira mundial, os problemas começaram a surgir. Máquinas e equipamentos importados tiveram o custo elevado. A produção das jazidas não estava alcançando o volume esperado. Transportar a matéria-prima de Goiás ou de outras regiões do País, era inviável em termos econômicos. Vieram os momentos mais difíceis e inesperados. Em 1930, com o início da longa Era Vargas, a política dos coronéis sofreu o primeiro grande golpe. As vendas da empresa entraram em retração. Veio o pedido de concordata e, depois, a falência. Ficou a história.

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