domingo, 12 de novembro de 2023

"É Pro Corote", Rua Felipe Camarão, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil


 

"É Pro Corote", Rua Felipe Camarão, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Ribeirão Preto - SP
Fotografia


Ribeirão Preto teve no passado moradores de rua, pedintes, andarilhos e assemelhados que ficaram famosos, muitos se tornando queridos por parte da população. 
Podemos facilmente lembrar de alguns, como o Quinzinho, o Bé, o Peru, o Orelhinha e mais uma infinidade de outros.
Infelizmente, característica comum a todos, possuiam algum tipo de problema, quer fosse econômico, familiar, mental, psicológico, alcoolismo, desilusões amorosas, etc.
E esses problemas despertavam sentimentos diversos na população: uns davam apoio, outros sentiam medo, uns faziam gozação, outros os achavam vagabundos, etc.
Fato é que o tempo foi passando e esses personagens foram desaparecendo, ficando apenas na memória de parte da população que os conheceu.
Atualmente, com o advento da internet, redes sociais, modernidade da vida, além de um aumento gigante da quantidade de moradores de rua e pedintes em virtude da situação econômica do Brasil, não me lembro de nenhum que tenha tido o destaque dos do passado. Eu diria que, de certa forma, são "invisíveis", para parte da população e poder público, embora sabemos que estão na maioria das esquinas e semáforos.
Dito isso, vou relembrar do último que lembro ter tido algum destaque na cidade. E relembrar é um eufemismo, porque nem sei o seu nome. Apenas o conheço como o pedinte da placa "É pro Corote".
Ele tinha ou tem seu ponto na rua Felipe Camarão, perto do semáforo com a avenida Elpídio Gomes.
Obteve certa fama, sendo destaque em portais de notícias e redes sociais da cidade, devido ser considerado "sincero", pois dizia querer ajuda financeira para comprar bebida alcoolica, o conhecido "Corote".
Ele não se enquadrava no padrão desse tipo de atividade, normalmente pessoas em tais condições, pedem dinheiro para comer, cuidar dos filhos, pagar contas, ajudar parentes, comprar remédios, conseguir sair das ruas e problemas parecidos. E mesmo que, em muitos casos não fosse para nada disso, ninguém falaria que não era, com medo de não conseguirem obter a ajuda.
Mas esse pedinte não, ele deixava claro que queria dinheiro para beber. E parecia ficar mais feliz quando ganhava um "Corote" dos que lá passavam (e ganhou muitos, existem vários vídeos pela internet que mostram ele recebendo o produto) do que ajuda em dinheiro.
De certa forma, podemos dizer que ele "inovou" em Ribeirão Preto (embora essa ideia já existisse e estivesse sendo utilizada em capitais, aqui foi novidade).
Seu método de ação era simples: ficava na rua e mostrava uma placa com os dizeres "É pro Corote".
Confesso que quando vi pela primeira vez, achei engraçado. Parecia deboche. 
Também achei uma bela ideia de marketing. O ser humano, mesmo nas piores situações e com problemas graves (no caso dele o alcoolismo e uma certa demência eram claros), é capaz de se movimentar, buscar algo para melhorar sua vida.
Não dei dinheiro, mas durante o caminho pensei várias vezes em voltar e dar uma graninha para ele, não sei dizer se por achar engraçado, pela sinceridade ou outro motivo.
Hoje, ao escrever esse texto, não me arrependo de não ter dado, embora também não me sinta feliz.
De qualquer forma, o tempo foi passando e não o vi mais, ou não calhou dele estar na rua Felipe Camarão quando passava por lá.
Na sexta passada, fui comprar uns produtos em uma loja lá perto e, para minha surpresa, encontrei sua placa no chão. Olhei ao redor para ver se ele estava nas proximidades e não havia ninguém.
A placa, que eu já conhecia, recebeu um adendo, agora era "É pro Corote original", o que deixava claro que outras pessoas em situação parecida também estavam utilizando de sua ideia, o que diminuia seus resultados, fazendo com que ele procurasse se "diferenciar" daqueles.
Não sei dizer se ele ainda está na ativa por lá, se largou a placa porque estava embriagado, se foi embora, se foi para alguma instituição ou outra coisa. 
Fica a torcida para que ele encontre dias melhores...




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