Carlos Imperial - Artigo
Artigo
"O Imperial era um bom mentiroso e usava uma base de verdade para construir a mentira em cima". Assim o diretor Ricardo Calil descreve o personagem central de seu documentário "Eu Sou Carlos Imperial", em cartaz nos cinemas. Descobridor de artistas como Roberto e Erasmo Carlos, Elis Regina, Toni Tornado, Tim Maia e Wilson Simonal, entre outros, Imperial teve uma vida marcada por aventuras e polêmicas. Muitas delas foram cercadas por mentiras que ele mesmo contava e que criaram em torno dele a imagem de um devasso, que muitas vezes incomodou o regime militar.
Para Calil, Imperial era inclassificável. "Ele tendia a ser visto como um cara de direita pela proximidade com o rock and roll, mas, ao mesmo tempo, tinha amizade com pessoas de esquerda, a turma do teatro, Aderbal Freire Filho e Paulo Pontes. Era uma figura anárquica e gostava de provocar todo mundo. Mas ele não foi uma vítima da ditadura, perseguido pela censura e nem torturado. Isso é parte das cascatas dele que sobrevivem até hoje", analisa o diretor sobre o compositor, ator, produtor de teatro, diretor de cinema, apresentador de televisão, produtor artístico, dirigente de futebol, político e até apresentador da apuração do Carnaval do Rio de Janeiro.
Já o biógrafo Denílson Monteiro conta que Imperial esteve muitas vezes na mira da ditadura. "Em vários momentos, ele teve problemas, os quais precisou contornar, indo a Brasília, onde morava o irmão dele, um procurador. Então fazia aquela penitência que todo mundo tinha que fazer quando era censurado. Era comum. Ninguém estava livre. Qualquer coisa você caía na mão de um censor que cismava ou interpretava de uma maneira errada e achava subversivo ou imoral. Mas, felizmente, não foi torturado. Como o Chico Buarque diz, era um cadáver caro demais".
Imperial teve músicas censuradas: "Lindo Sonho Delirante - LSD"; "Tropicalhorda", uma crítica ao movimento tropicalista; e "Cabo Frio Devagar", parceria com Adolfo Bloch, por conta do verso "muito sarro no meu carro" e da referência a um delegado truculento do Rio. Seus filmes não se safaram da censura, como "Banana Mecânica", uma pornochanchada de 1974. As aparições públicas dele incomodavam muito. Uma das participações em um programa comandado por Ronald Golias ficou marcada por ele falar que desfilaria como veado real - para a época, um verdadeiro atentado ao pudor.
O Dops (Departamento de Ordem Política e Social da Polícia) também invadiu o apartamento dele e encontrou lá um macaco empalhado com um capacete do exército - vacilo cometido pela empregada e que foi considerado um deboche com o exército. Mas um pôster do Che Guevara, que também estava ali, foi queimado antes de os agentes chegarem. Em 1975, Imperial foi indiciado na Lei de Segurança Nacional por ter criticado, na coluna que mantinha em um jornal, o juiz que condenou o cantor Wilson Simonal à prisão. Mas bastou um pedido de desculpas para a história ser encerrada.
O ápice foi em 1968, quando enviou, inclusive para alguns desafetos, um cartão de Natal com a imagem dele sentado numa privada e com os dizeres: "Espero que Papai Noel não faça no seu sapato o que eu estou fazendo neste cartão". A brincadeira foi parar nas mãos de um militar, que considerou aquilo um atentado à moral e aos bons costumes, e Imperial foi preso e enviado para Ilha Grande.
A fim de se vangloriar, ele declarou que havia sido torturado e levado um tiro no joelho. Mentira. A marca era de uma cirurgia para retirar varizes e ele havia passado um mês no local tocando violão e passeando no barco do bicheiro Castor de Andrade, com quem até compôs uma música - o episódio é um dos destaques do documentário.
Carlos Imperial teve papel-chave na inserção do rock brasileiro jovem no Brasil, através de pelo menos dois programas que comandou na televisão: "Clube do Rock", na Tupi, e "Os Brotos Comandam", na Continental. "Era um momento muito incipiente do rock nacional e não tinha muito para onde extravasar. Tinha um cara chamado Jair de Taumaturgo com um programa de rádio e TV, mas foi o Imperial quem abriu espaço e ajudou a inventar um pouco uma série de artistas desse momento. Por isso, pode ser chamado de pioneiro do rock brasileiro e da juventude transviada no país, e um dos responsáveis pela explosão da Jovem Guarda anos depois", garante Calil, que frisa o fato de que não sobraram quaisquer imagens desses programas.
Utilizando o mesmo nome de um espaço de música e dança comandado por Imperial em Copacabana, no Rio de Janeiro, o "Clube do Rock" começou como um quadro de 15 minutos do programa de variedades "Meio-dia", de Jaci Campos. Logo ganhou autonomia, tornando-se o espaço para a aparição de jovens talentos que, em pouco tempo, estariam fazendo sucesso pelo país, caso de Roberto e Erasmo Carlos, Tim Maia, Wilson Simonal e Eduardo Araújo. "O formato era ele começando sempre com: 'Alô, amigos! Eu sou Carlos Imperial. Estou aqui para apresentar o meu, o seu, o nosso programa, porque nós gostamos de música jovem. Nós gostamos de rock and roll'. E ele tinha a frase: 'Te torno um ídolo em uma semana'", descreve Denílson Monteiro.
Quando a Jovem Guarda começou a entrar em declínio de popularidade, Imperial passou a se aproximar de artistas que faziam o que ele chamou de samba-jovem, inspirado no rock e no soul norte-americanos. O principal representante era Wilson Simonal e reunia músicos como Cesar Camargo Mariano e Nonato Buzar, que criou o grupo Turma da Pilantragem.
"O Imperial fez a primeira canção, 'O Carango', com Nonato Buzar, e apresentou-a para o Wilson Simonal, que a levou para o Cesar Camargo Mariano, que, com uma genialidade fora do comum com os arranjos dele, começou a fazer uma tapeçaria em cima daquela música simples. Isso foi crescendo. O Simonal se tornou o grande nome desse gênero. O Imperial gostou e fez o disco 'A Turma da Pesada', que tem vocais do pessoal do Trio Esperança e piano do Wagner Tiso. Ele juntou o que tinha de melhor na Odeon e botou para gravar naquele ritmo", conta Monteiro.
"A pilantragem era a ideia de fazer uma espécie de samba rock ou um pop brasileiro mais suingado, que estourou com o Simonal, o qual foi, de certa forma, lançado por Imperial. Só que, assim como na Jovem Guarda, ele lançou artistas que explodiram e começaram uma carreira mais autônoma. Mas a pilantragem durou entre 1967 e 1969. Quando ela começou a decair, ele passou para a história seguinte, pois queria estar sempre na crista onda", reflete Calil.
Para o diretor, a figura de Imperial, já no final da vida, nos anos 1990, é menos aceita do que na década de 1970. Quando morreu, em 4 de novembro de 1992 por complicações pós-cirúrgicas, a importância dele já estava obscurecida. "Ele pagou por ser o cara que estava sempre comprando as brigas. Mas agora estamos num momento em que ele está voltando em vários produtos, mesmo sendo difícil de engolir nos tempos do politicamente correto", avalia Calil.
Texto 2:
Se estivesse vivo, Carlos Imperial estaria completando 85 anos em 24 de novembro de 2020. Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, Carlos Eduardo da Corte Imperial é uma daquelas figuras que precisa de muitas vírgulas para ser descrito: produtor musical, diretor de cinema, ator de pronochanchada, radialista, apresentador de TV, compositor, agitador cultural, caça-talentos, político, colunista, narrador dos resultados do Carnaval da Sapucaí, cafajeste profissional e por aí vai… Esse foi Carlos Imperial, imponente e exagerado até no sobrenome.
Embora muitas vezes seja lembrado simplesmente como um pitoresco personagem do folclore pop brasileiro, Carlos Imperial teve mais importância na música nacional do que se supõe. Em primeiro lugar, foi ele um dos maiores responsáveis pela consolidação do rock no Brasil. Como espécie de militante da “música jovem”, os programas de rádio e TV liderados por ele, como o "Clube do Rock” na TV Tupi, abriram as portas e os ouvidos do público para a popularização do gênero no Brasil. Nos tempos da Jovem Guarda, quando o rock explodiu de vez por aqui, ele contribuiu tanto como o revelador dos talentos de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Eduardo Araújo, quanto como compositor de clássicos do movimento, como “O Bom”, “Vem quente que eu estou fervendo”, “Pra nunca mais chorar” e outros tantos.
Além disso, ele escreveu seu nome nas páginas iniciais das biografias de artistas que se tornaram ídolos imortais da música brasileira. Foi ele o autor, por exemplo, do primeiro sucesso de Clara Nunes. Depois de um tempo cantando no estilo romântico do “iê iê iê”, ela ganhou de Imperial a música “Você passa, eu acho graça”, uma inusitada parceria com Ataulfo Alves, que catapultou o sucesso da portelense.
Mais surpreendente ainda foi sua relação com Elis Regina. Muito antes de ela se consagrar como a grande voz feminina do Brasil, Imperial produziu seu primeiríssimo álbum, “Viva a Brotolândia”, uma curiosa coletânea de versões à la Celly Campello lançada em 1961, bem antes de sua virada jazzística no Beco das Garrafas.
Mas a relação mais profunda foi com Roberto Carlos, bem antes de este se tornar Rei. O futuro ídolo da Jovem Guarda era ainda um menino tímido e melancólico apaixonado por Elvis Presley e João Gilberto quando Imperial viu nele a aura de um ídolo popular, na qual apostou incansavelmente. De gravadora em gravadora, engolindo uma série de recusas, conseguiu os primeiros contratos de Roberto e produziu seus primeiros discos: o 78 rotações pela Polydor, em 1959, e depois o seu LP de estreia, “Louco Por Você”, de 1961.
Isso sem contar outros tantos que começaram a trilhar seu caminho na música com a ajuda de Imperial, como Erasmo Carlos, Tim Maia, Gerson King Combo, Tony Tornado, Dudu França e Wilson Simonal. Foi Simonal, inclusive, quem mais tarde encabeçou o movimento da “pilantragem”, uma mistura de samba e rock com acento jazzístico que servia também como filosofia de vida para Imperial.
Dono de uma imaginação incontrolável e obcecado em fabricar ídolos, ele não hesitava em utilizar meios, digamos, “questionáveis” para promover um pupilo ou uma música que não ia bem nas rádios.
Quando Erasmo estava pra lançar “Vem quente que eu estou fervendo”, sua parceria com Eduardo Araújo, Imperial encenou um quebra-pau (com direito a agressões físicas e verbais) com o Tremendão durante um programa de rádio. Saiu em todas as revistas de fofoca e a música estourou logo depois.
Quando “A Praça”, lançada na voz de Ronnie Von, não emplacou nas rádios, Imperial contratou o músico Edson Silva e pediu que ele fosse aos jornais reclamando que a tal canção era um plágio. A acusação ganhou as manchetes, Imperial deu entrevistas rebatendo o sujeito e… “A Praça” se tornou um hit lembrado até hoje.
Isso sem contar a “omissão” de parceiros no crédito das composições e no roubo da autoria de músicas de domínio público. “Meu limão, meu limoeiro”, por exemplo, gravada com sucesso por Simonal, é até hoje citada como “uma das grandes composições de Carlos Imperial”.
Essa imaginação frenética, que ele colocava a serviço do sucesso de seus protegidos, também poderia ser usada para o infortúnio das muitas inimizades que cultivou (“amigo meu não tem defeito. Inimigo, se não tiver, eu ponho”, ele costumava dizer) ou simplesmente para criar lorotas que se tornavam lendas populares.
A mais conhecida de todas foi quando disse a um repórter, na falta de novidades, que os Beatles estavam prestes a gravar uma versão de “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. É claro que isso não aconteceu, mas até hoje existem pesquisadores que enchem o peito para dizer que possuem um disco com essa gravação raríssima e muita gente jura que foi a Londres na época e ouviu o cover dos Fab Four tocando nas rádios.
Outra foi uma espécie de autopromoção política. Em dezembro de 1968, logo após a instauração do AI-5, Imperial entrou no espírito natalino e enviou aos amigos (e alguns inimigos) um cartão de Natal que o retratava sentado no vaso com os seguintes dizeres: “Espero que Papai Noel não faça no seu sapato o que eu estou fazendo neste cartão.”
Um desses mimos foi parar nas mãos dos militares, que acharam se tratar de uma provocação à ditadura. Imperial foi preso e passou um tempo para se explicar. Até o fim da vida, ele contava - comovido - como foi torturado e como levou um tiro no joelho. Diziam que ele até chorava ao narrar o episódio. Mas não houve nenhuma agressão física na prisão e a tal marca no joelho era um problema de varizes, como contou o seu biógrafo Denilson Monteiro.
Carlos Imperial faleceu no Rio em 1992, aos 56 anos, em decorrência de complicações após uma cirurgia. Auto intitulado o “Rei da Pilantragem”, incorporou um personagem complexo e tipicamente brasileiro. O charmoso anti-herói, ou anti-vilão, que conquista a (quase) todos por viver sempre na corda bamba do que é permitido socialmente. Cunhador da frase “só a vaia consagra o artista”, tentou ser vaiado a vida inteira, e talvez tenha conseguido. Mas foi muito querido também.
Por baixo do personagem, das lendas e mitos, Carlos Imperial foi um homem no mínimo curioso, que entre vaias, aplausos, mentiras e escândalos, deixou seu nome escrito na história da música brasileira.
Texto 3:
Carlos Eduardo Côrte Imperial nasceu na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, interior do Espírito Santo, em 24 de novembro de 1935.
Carlos Imperial foi ator, cineasta, diretor, radialista, jornalista, apresentador, compositor e produtor musical.
Entrou para o ambiente artístico e foi ser produtor musical. Um dos seus pupilos foi Roberto Carlos, cujo primeiro disco, “Louco por Você“, foi totalmente produzido por Imperial. Acusado de ter, nesse disco, copiado o estilo de João Gilberto, Roberto Carlos não fez sucesso com essa gravação.
Imperial criou o Clube do Rock nos anos 1960, um espaço para se dançar e ouvir música no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro. Ele fez parte do conjunto Os Terríveis e se aproximou dos cantores que criaram a Bossa Nova. Revelou Elis Regina e Jorge Benjor e, em 1965, aderiu ao Movimento Jovem Guarda e foi autor de grandes sucessos da época como “O Bom”; “Mamãe Passou Açúcar em Mim” e “A Praça”, entre muitas outras. Ele também compôs “Você Passa e eu Acho Graça”, que foi o primeiro sucesso de Clara Nunes.
No fim dos anos 1960, Imperial desenvolveu o estilo musical pilantragem, inspirado no rock e no soul americanos, e formou um conjunto que recebeu o nome de A Turma da Pesada. Foi também o produtor musical da trilha sonora do filme “Sábado Alucinante” no final da década de 1970.
Carlos Imperial Produções foi sua empresa de produções cinematográficas, que começou em 197 com o filme “Um Edificio Chamado 200” e produziu mais cinco filmes, todos eles voltados ao público adulto, como “Banana Mecânica”; “O Sexo das Bonecas”; “O Sexomaníaco” e “Mulheres, Mulheres”. Como ator se destacou na comédia “A Viúva Virgem“, em 1972.
Na Televisão, como apresentador, ele esteve a frente do programa “Carlos Imperial Viva” em 1968 na TV Tupi; “Os Sete Homens de Ouro” na TV Rio, em 1969 e o “Programa Carlos Imperial” na TV Tupi, em 1978. Foi também jurado nos programas de Flávio Cavalcanti na Tupi e Silvio Santos na TV Globo, nos anos 1970.
Carlos Imperial foi casado várias vezes e faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 4 de novembro de 1992, aos 57 anos de idade, Ele sofria de miastenia grave, uma doença neuromuscular, e teve um processo de septicemia após uma cirurgia.
Texto 4:
“Compositor, cantor, jornalista, dono de agência de promoções, carnavalesco e, principalmente, pilantra profissional”. Foi assim que O GLOBO, em 13 de abril de 1972, definiu em uma reportagem Carlos Imperial, personalidade importante e controversa na cultura brasileira dos anos 50 aos 80. Entre seus muitos feitos, ajudou a difundir o rock no país, lançou Roberto Carlos, Elis Regina e Wilson Simonal e é o nome por trás de sucessos como “Mamãe passou açúcar em mim”, “O bom” e “Vem quente que eu estou fervendo”. Também envolveu-se com política e criou muitas polêmicas, tornando-se amado e odiado com a mesma intensidade.
Carlos Eduardo Corte Imperial nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, em 24 de novembro de 1935. Segundo filho de Maria José e do banqueiro e ex-prefeito da cidade, Gabriel Corte Imperial, Carlos desembarcou com a família no Rio em 1942, aos 7 anos. Mas sua aparência “engomadinha” foi motivo de chacota entre os colegas. Numa espécie de autodefesa, tornou-se brincalhão e debochado, disposto a fazer piada com quem quer que fosse. Não demorou para que ele ganhasse a amizade dos colegas e a fama de “boa-praça”.
O contato com a música veio na adolescência. Como muitos outros jovens, Imperial se sentia atraído pelo rock’n’roll. Investia as mesadas que ganhava em discos de Bill Haley, Little Richard, Chuck Berry e Elvis Presley, transformando-se em dono de uma enorme coleção. Aos domingos, se reunia com amigos para ouvir e dançar o ritmo. Dessas reuniões nasceu o Clube do Rock, um espaço que servia como ponto de convergência para artistas iniciantes que se apresentavam em clubes, na rádio e na TV. O Clube do Rock acabou virando um programa na TV Tupi, no final dos anos 1950, apresentado pelo próprio Imperial.
Dono de faro apurado, tornou-se especialista em descobrir talentos. Acreditando no trabalho de Roberto Carlos, Imperial percorreu gravadoras até conseguir um contrato com a CBS (hoje Sony-BMG) para o conterrâneo. Além disso, compôs quase todo o repertório do primeiro álbum do futuro rei da Jovem Guarda, “Louco por você”, lançado em 1960. No ano seguinte, contrariando os chefes da gravadora Continental, apostou no talento de uma jovem cantora gaúcha, de 16 anos, e produziu seu primeiro disco. A cantora chamava-se Elis Regina e seu disco de estreia, “Viva a brotolândia”. Imperial lançou ainda Jorge Ben, Erasmo Carlos e Wilson Simonal e rebatizou um certo cantor tijucano que dava seus primeiros passos na música: ele disse ao novato que Tião não era nome de cantor e que, dali em diante, ele se chamaria Tim Maia.
A carreira de descobridor de talentos caminhava lado a lado com a de compositor, e são de sua autoria “Vem quente que eu estou fervendo” (em parceria com Eduardo Araújo), “O bom”, “A praça” (tema do humorístico "A praça é nossa") e “Nem vem que não tem”. Esta última ganhou uma versão em francês, “Tu veux ou tu veux pas”, cantada pela atriz Brigitte Bardot. Os sucessos o transformaram em recordista em arrecadação de direitos autorais no final da década de 1960. Dos 40 discos nas paradas mundiais de sucesso, em 1968, nove foram produzidos por Imperial, número que representava a metade dos discos brasileiros citados no ranking. No entanto, talvez a maior glória de Carlos Imperial como compositor foi ter sido o último parceiro de Ataulfo Alves, morto em 1969. Juntos, compuseram o samba “Você passa e eu acho graça”, música responsável pela ascensão de Clara Nunes ao estrelato.
Ao mesmo tempo em que se dedicava à música, Carlos Imperial fez carreira no cinema e na TV. Estreou como figurante no filme “O petróleo é nosso”, de Watson Macedo, em 1954. Três anos depois, trabalhou como ator em “De vento em popa”, de Carlos Manga, além de compor a música tema do filme, "Calypso rock", e organizar as cenas de rock, inclusive uma que se tornaria antológica: Oscarito, vestido de Elvis Presley, dançando rock com Sonia Mamede. Foi nos anos 1970 que Imperial trabalhou mais intensamente no cinema, como ator e produtor. Imperial atuou em pornochanchadas como “A viúva virgem” (em 1972) e cuja crítica foi publicada no GLOBO em 13 de abril, “Banana mecânica” (1973) e “O sexo das bonecas” (1974).
Além de ter trabalhado na TV Tupi, onde começou em 1958 como faxineiro e carregador de cabos e apresentou o seu Clube do Rock, atuou na TV Continental, foi jurado do programa de Flávio Cavalcanti na Tupi e do Programa Silvio Santos, na TV Globo. Seu maior sucesso foi o "Programa Carlos Imperial", entre 1978 e 1979, que ia ao ar nas noites de sábado da Tupi.
Para promover seus artistas, projetos, ou se manter na mídia, Carlos Imperial era capaz de muita coisa. E isso incluía mentir, difamar desafetos e inventar boatos. Certa vez, para ajudar Luiz Gonzaga a recuperar o prestígio, inventou que os Beatles haviam regravado “Asa branca”, sucesso do Rei do Baião. Também passou meses trocando farpas com Chacrinha, mas o conflito entre eles era apenas promoção. Uma de suas polêmicas mais famosas foi em 1974, quando plantou uma nota na imprensa a respeito de um suposto acidente envolvendo o ator Mário Gomes e uma cenoura, comprometendo a carreira do galã em ascensão. Conforme publicado no GLOBO em 12 de abril de 2015, a nota dizia: “O másculo galã deu entrada na Maternidade Fernando de Magalhães para medicar-se de uma insólita ocorrência. Ele estava entalado com uma cenoura em um local absolutamente sensível”.
Outra lendária polêmica em que Carlos Imperial se envolveu foi em 1968, quando distribuiu um cartão de boas-festas para alguns amigos e outras pessoas nem tão amigas assim. No lugar do Papai Noel, uma foto sua de calças arriadas, sentado no vaso sanitário, numa alusão à escultura “O Pensador”, de Auguste Rodin. Acompanhando a foto, os dizeres: “Espero que Papai Noel não faça no seu sapato o que estou fazendo nesse cartão”. A mensagem, enviada logo após a promulgação do AI-5 (em 13 de dezembro de 1968), foi parar nas mãos de um militar. Por causa da brincadeira, considerada uma ofensa à moral e aos bons costumes, Imperial foi preso, no dia 2 de janeiro de 1969, e fichado pelo Dops.
Em 1982, Imperial resolveu se aventurar na política. Candidatou-se a vereador pelo PDT de Leonel Brizola e foi eleito com mais de 40 mil votos dos cariocas. Durante seu mandato, não se afastou das polêmicas: em protesto contra uma peça do diretor Aderbal Freire-Filho, que julgava ter sido superfaturada, carregou uma cruz de madeira pelas ruas do Centro do Rio. O portelense também esteve à frente da comissão de carnaval que organizou os primeiros desfiles das escolas de samba no recém-criado Sambódromo. Em 1984 e 1985, comandou a apuração dos desfiles e, para anunciar as notas, criou o bordão: “Dez! Nota dez!”, repetido até hoje. Nos anos 80, foi ainda dirigente do seu time do coração, o Botafogo.
Carlos Imperial morreu em 4 de novembro de 1992, aos 56 anos, devido a uma infecção generalizada após uma cirurgia para a extração do timo. Sua vida foi contada na biografia “Dez! Nota dez! Eu sou Carlos Imperial” , de Denílson Monteiro, lançado em 2008, e no documentário “Eu sou Carlos Imperial” (2016), baseado no livro. Carlos Imperial deixou dois filhos, Maria Luiza e Marco Antônio, 110 cachorros e a certeza de que a cultura brasileira não seria a mesma sem ele.
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