quarta-feira, 17 de julho de 2024

Monjolo - Artigo

 


Monjolo - Artigo
Artigo


Monjolo é uma máquina hidráulica rústica, destinada ao beneficiamento e moagem de grãos. 
A ferramenta foi importante pois dispensava o uso de mão-de-obra escrava, que antes utilizava um pilão que triturava os grãos de milho ou de arroz.
Pode ser usado para descascar e triturar grãos secos, resultando numa farinha mais espessa. Diversos alimentos, como o fubá e a farinha de milho, eram produzidos por meio de esmagamento nos monjolos. A ferramenta tinha capacidade de socar até trinta litros de milho em uma hora e meia. A expressão popular "trabalhar de graça, só monjolo" surgiu daí.
Com o efeito gangorra, a água impulsiona a ferramenta fazendo-a ter movimento. Em uma extremidade, uma concha é enchida com água, fazendo com que a outra parte, equipada com uma estaca, se levante. Ao esvaziar a cuba, o movimento se inverte. Com esse movimento, os grãos vão sendo socados e moídos dentro de um pilão. Obviamente, a tarefa é mais demorada quando comparada com os equipamentos elétricos atuais, mas há considerável economia de energia.
Além da função primária do monjolo de descascar e moer grãos, nas fazendas pelo interior do Brasil também tem outra importante função: espantar pacas e lontras que vinham do rio para se alimentarem e acabavam por estragar a plantação. A cada batida da mão do monjolo no fundo do cocho, respeitando a periodicidade que a água lhe implicava, um som de madeira ecoa pela mata, assustando e afastando os referidos animais.
História:
De acordo com os inventários que datam do século XIX, foi possível realizar a descrição dos monjolos e o nível de desenvolvimento técnico envolvido na ferramenta. Os estudiosos dizem ter sido Brás Cubas, um fidalgo português que esteve na Ásia com Martim Afonso de Sousa, que trouxe da China para o Brasil o primeiro monjolo, que foi instalado na capitania de São Vicente. Os indígenas brasileiros denominaram o utensílio de guaguaçu, que significa o grande pilão. A palavra monjolo tem, provavelmente, origem no sânscrito, vindo de mucala, que significa pilão para descascar arroz.
O monjolo é popularmente associado à cultura indígena, mas o historiador Sérgio Buarque de Holanda ressalta que a ferramenta era antes desconhecida por aquela cultura. Segundo ele, a máquina chegou ao país oriunda do Japão, China e Indochina, onde era utilizada para descascar arroz.
O monjolo é mais rápido que o pilão, ferramenta que antes realizava o trabalho que o monjolo foi capaz de modernizar, e não necessita da presença e esforço físico humano para seu funcionamento. Trabalha com a força da água, que desce pelo rego, fazendo socar alternadamente a mão de pilão, descascando o arroz, o milho e o café.
A utilização do monjolo é até hoje presente na toponímia de toda uma extensa região brasileira. 
A região que abriga o centro-norte de Minas Gerais até o norte do Rio Grande do Sul, passando por parte de Goiás e Mato Grosso, assinala ao menos 62 localidades que tiram o nome do rústico instrumento. 31 em Minas Gerais, 16 em São Paulo, 6 no Paraná, 3 no Mato Grosso, 3 no Rio de Janeiro, 2 no Rio Grande do Sul e 1 em Goiás. O total seria maior se contássemos os nomes de rios ou riachos que correm pela região.
Água, elemento fundamental:
Há dois métodos de beneficiamento do café. O primeiro é dado em fazendas onde não se dispunha de água abundante para fazer mover os moinhos. Este método, simples e primitivo, consiste em deixar as bagas no terreiro até que sequem; em seguida, levar os grãos ao monjolo, onde ocorrerá a descascagem do grão; e por último vai para a peneira, que é onde se conclui a limpeza.
Porém, em fazendas com água em abundância, o processo era implementado e gerava mais produtividade:
As sementes são colocadas em tinas cheias d'água para se tornarem mais moles e passam por cilindros que acabam por retirar a polpa quase que em sua totalidade; em seguida, o resto da polpa que sobra é colocado em um reservatório com água e a polpa fica facilmente retirável após alguma horas; Depois, lavam-se os grãos e deixam no terreiro para secar; Uma vez secos, são colocados no monjolo para que a ferramenta remova a casca de pergaminho, de onde seguem posteriormente para o processo de peneiração.
Por ser a força motriz por trás do funcionamento do monjolo, a água tornou-se elemento fundamental para a instalação das fazendas no interior do Brasil nos séculos XVIII e XIX.
Os monjolos, além de ecologicamente corretos, foram fundamentais para o desenvolvimento das atividades rurais nos séculos XVIII, XIX e XX.
Para o habitante do meio rural, é comum procurar morar nas proximidades de um rio ou riacho, um lugar onde haja água. Se ele for plantador de arroz ou milho terá uma das mais prestativas máquinas para essa atividade, o monjolo.
Necessidade de modernização:
A falta de padronização nos rústicos equipamentos responsáveis pelo beneficiamento do café, fazia com que o grão perdesse sua qualidade e tornaram- se incompatíveis com os graus de consumo da época. Pilões manuais, monjolos ou carros puxados por bois não realizavam a produção necessária para competir com novos produtos como o chá, o chocolate, a chicória e outros itens de consumo popular.
Com isso, enxergou-se a necessidade de ampliar o beneficiamento e a modernização do processo de produção do café. Assim, alguns mecanismos novos surgiram, como a inserção de máquinas a vapor para aumentar a produtividade das ferramentas existentes. As máquinas a vapor movimentavam, de acordo com a necessidade, por vezes uma prensa de açúcar, por vezes um monjolo de café, por vezes um moinho de milho.
Von Tschudi foi um importante observador do Brasil no período e suas anotações são importantes para caracterizar a conjugação das máquinas a vapor com equipamentos agrícolas como o monjolo.
Vale ressaltar que é um erro pensar que o monjolo era a única forma de beneficiamento do café nos anos 1860. Diferentes máquinas já eram instaladas nas fazendas, embora o monjolo fosse o de maior impacto e melhor produtividade, daí ser o mais adotado.
Além dos produtos alimentícios citados, a abertura de estradas, o beneficiamento em monjolos e pilões ajudaram a dinamizar a produção ervateira no oeste catarinense no final do século XIX e início do século XX.
Princípios físicos para o funcionamento:
O funcionamento do monjolo é dado por basicamente dois princípios físicos: o torque e o centro de massa. O monjolo iniciará seu movimento quando o torque do peso da água for igual ao torque do peso do pilão do monjolo, em relação ao apoio.
O torque, ou momento da força, é o que define a força com que o pilão do monjolo baterá no fundo do cocho. Quanto mais distante estiver a mão do monjolo do eixo de rotação, menos água será necessária para realizar o movimento de gangorra.
O centro de massa é um ponto que se comporta como se toda a massa de um corpo estivesse posicionada sobre ele. O cálculo dessa grandeza é dado de acordo com a distribuição da massa pelo corpo. No caso do monjolo, a distribuição da massa sobre a ferramenta é variável à medida que a água enche a extremidade do tronco. Essa variação no centro de massa é o que causa o movimento do utensílio quando, ao encher constantemente uma extremidade, acaba deslocando o centro de massa para próximo da ponta, fazendo cair tal extremidade e, ao se esvaziar, o centro de massa voltando para a ponta na qual está localizado o pilão, que desce com força.
Literatura:
O escritor Rubem Alves criou uma narração fazendo alusão à forma como os materiais tecnológicos são concebidos e utilizou o monjolo como base para seu texto:
"Era uma vez um povo que morava numa montanha onde havia muitas quedas-d'água. O trabalho era árduo e o grão era moído em pilões. As mãos ficavam duras e as costas doloridas. Um dia, quando um jovem suava ao pilão, seus olhos bateram na queda-d'água onde se banhavam diariamente. Já a havia visto milhares de vezes. E também os seus antepassados. Conhecia a força da água, mais poderosa que o braço de muitos homens. Eterna e incansável, dia e noite. Uma faísca lhe iluminou a mente: não seria possível domesticá-la, ligando ao pilão? Substituir os braços, libertar os corpos, domá-la, pô-la a trabalhar? Assim foi inventado o monjolo."
"O monjolo, que também se chama preguiça, foi descrito por alguns viajantes: todavia, não acho inútil dar aqui, em poucas palavras, uma ideia desse aparelho notável pela simplicidade. Sobre uma peça de madeira vertical e imóvel, é colocada, à maneira duma gangorra, outra peça de madeira móvel e horizontal: esta última é escavada numa das extremidades como uma larga colher, e na outra, é armada de um soquete bem resistente. A máquina está sempre colocada como já disse, debaixo de uma pequena queda d'água. O líquido, caindo de uma espécie de colher que, de um lado termina a viga oscilante, faz inclinar-se esta para o mesmo lado, enquanto a extremidade oposta, armada na parte inferior como o soquete que eu descrevi, se ergue descrevendo um arco de circunferência, mas enquanto a extremidade escavada se inclina, a água escorre, o peso do pilão sobrepuja o da colher, a máquina range, e o pilão cai pesadamente num cocho destinado a receber o grão." - Arredores de Juiz de Fora, MG, 1816.
Auguste Saint-Hilaire, Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Texto da Wikipédia.

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