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sábado, 7 de outubro de 2023

Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", 1979, São Paulo, Brasil


 

Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", 1979, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
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Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", 1967, Largo de São Francisco, São Paulo, Brasil


 

Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", 1967, Largo de São Francisco, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
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Nota do blog: Mulheres observando a escultura já no Largo de São Francisco em 1967. Talvez essa seja a escultura que mais trocou de lugar na cidade de São Paulo, acusada de ser "contra a moral e os bons costumes".


Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", Década de 60, Depósito da Prefeitura Municipal, São Paulo, Brasil



 

Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", Década de 60, Depósito da Prefeitura Municipal, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
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Nota do blog: Na época das fotos a escultura estava no depósito da Prefeitura de São Paulo acusada de ser ofensiva a "moral e os bons costumes".

Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", São Paulo, Brasil


 



Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
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Durante décadas a Prefeitura de São Paulo viu frustrada sua tentativa de esconder estátuas polêmicas na Avenida 9 de Julho. Usando o isolamento como forma de ocultar as obras dos olhares críticos, a administração usava a seguinte técnica: colocava as peças em pontos mais distantes do público e vedados aos pedestres, como no canteiro central ou na entrada do túnel. Quatro obras, em diferentes décadas, foram colocadas na avenida: Laocoonte e seus filhos; Beijo Eterno ou Idílio; O Menino e O Catavento e São Paulo Apóstolo. Nenhuma permaceu. A impossibilidade da Prefeitura colocar um monumento ali que não fosse criticado rendeu ao local o apelido, de "lugar maldito".
Duas esculturas que retratam figuras humanas nuas causaram um rebuliço. A colocação das obras Beijo Eterno (1922), e O Menino e O Catavento (1914) na avenida fez chover reclamações da patrulha defensora da moral e dos bons costumes. Mesmo distante das calçadas, as esculturas ainda perturbavam aqueles que “não admitem nudez, seminudez mesmo numa obra de arte”, como contou o jornal "Estado de S. Paulo" de 30/11/1966. Após os protestos, Idílio e O Menino e O Catavento acabaram sendo removidas por estudantes da Faculdade de Direito, que decidiram levá-las para o Largo São Francisco onde estão até hoje. Antes delas, a obra Laocoonte e seus filhos (1938) - uma réplica de uma estátua grega criada pelo Liceu de Artes e Ofícios - também foi retirada dali. Hoje ela está no Parque do Ibirapuera.
Originalmente parte do Monumento a Olavo Bilac, a obra "Idílio ou Beijo Eterno" foi criada pelo escultor sueco William Zadig, à pedido dos alunos do Centro Acadêmico Onze de Agosto da Faculdade de Direito Largo São Francisco.
Cercada por polêmica, a estátua só encontrou morada certa em 1966, quando foi levada o Largo São Francisco. Antes disso, ela perambulou pela cidade, como mostra o projeto Memória da Amnésia de Giselle Beiguelman, artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). A peça seguiu um roteiro de reclamações, protestos e abaixo-assinados para sua remoção. Sobre as críticas à obra, Beiguelman disse que ela chocou "não tanto pela nudez", mas por ter outro ingrediente considerado "ultrajante" pelos reclamantes. A escultura mostra "um branco beijando uma índia", algo "muito forte para um determinado contexto conservador", explicou. A perambulação do Beijo Eterno começou quando ela foi removida do monumento ao qual pertencia e levada para o depósito da Prefeitura em 1936. Lá ficou até ser levada para o bairro de Pinheiros, onde foi colocada em frente ao Colégio Fernão Dias Paes. Os pais dos alunos consideraram a estátua imoral e pediram sua retirada. De lá foi para o depósito da Prefeitura, onde ficou até 1965, quando foi levada para o Largo do Cambuci. Um abaixo-assinado dos moradores do bairro fez com que ela retornasse ao depósito. Até que o prefeito Faria Lima decidiu colocá-la próxima à entrada do Túnel Nove de Julho. Dias depois, o vereador Antônio Sampaio pedia a palavra na Câmara para protestar sobre a obra, chamou-a de obscena e disse que era um atentado aos bons costumes. Foi então que, em 18 de outubro de 1966, os estudantes do Centro Acadêmico XI de Agosto decidiram resgatá-la e levá-la para o "Território Livre" da Faculdade de Direito. A ação dos jovens não terminou por aí. Em carta eles ameaçaram reagir caso a obra fosse removida: “se a estátua Idílio for retirada do Largo São Francisco, vestiremos todas as outras estátuas nuas da cidade e colocaremos aliança nas que representam pessoas abraçadas”.

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", São Paulo, Brasil









Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
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Ela tem uma história de vida inusitada para uma estátua:
Mas é difícil saber o motivo olhando para ela agora, em uma tarde ensolarada de quinta-feira no centro de São Paulo. Não existe qualquer placa explicativa sobre aquele beijo. Ou o que ela enfrentou para estar ali: a censura, o discurso de um político indignado, abaixo-assinado de moradores, fúria e preconceito de parte da imprensa paulistana.
Enquanto os alunos da tradicional Faculdade de Direito da USP, conhecida como Largo São Francisco, entram no prédio para assistir às aulas, o monumento O Beijo Eterno na entrada parece apenas o que é de fato: uma estátua de bronze com um homem e uma mulher, nus, beijando-se.
Considerada "imoral" nos anos 1960, ela chegou a ser retirada do espaço público algumas vezes, porque representava um "acinte ao decoro e aos bons costumes do paulistano".
A história de um beijo:
A estátua foi criada em 1922 como parte de um grande monumento em homenagem a Olavo Bilac (1865–1918), poeta parnasiano bastante popular no início do século 20.
Antes de morrer, o escritor havia se tornado um ídolo dos estudantes do Largo São Francisco. Embora nunca tenha se matriculado no curso de Direito, chegou a frequentar algumas aulas na faculdade por dois ou três anos.
Além da literatura, ele ganhou fama entre universitários por um motivo político, segundo Heloisa Barbuy, professora de museologia da USP e autora do livro As Estátuas da Faculdade de Direito (Ateliê Editorial).
"Na faculdade, ele ficou famoso por ser um dos principais líderes do movimento nacionalista, que, na época da Primeira Guerra Mundial, teve bastante importância no país", explica Barbuy. "Em 1915, Bilac chegou a fazer um discurso na faculdade que ficou muito famoso, emocionando as pessoas. Décadas depois, os estudantes ainda citavam de cor parte desse texto."
Quando Bilac morreu, em 1918, um grupo de estudantes quis homenagear o poeta com um monumento público. Para isso, fizeram um financiamento coletivo para bancar o projeto, um conjunto de oito figuras: entre elas, Pátria e Família e O Caçador de Esmeraldas. Já O Beijo Eterno é uma representação de um poema homônimo de Bilac.
O trabalho foi dado ao escultor sueco William Zadig. Na última hora, entretanto, faltou dinheiro para completar as estátuas, mas os alunos da Faculdade de Direito foram socorridos pelo então presidente da Liga Nacionalista, Frederico Vergueiro Steidel. A entidade "passou o chapéu" no comércio paulistano e em redações de jornais para arrecadar o valor que faltava.
O enorme monumento foi inaugurado na confluência das avenidas Paulista, Consolação e Angélica em 7 de setembro de 1922, para coincidir com o centenário da Independência do Brasil.
"Inicialmente, a obra foi muito elogiada nos jornais. Mas, depois de alguns meses, começaram as críticas", diz Heloisa Barbuy. "Uma das publicações da época, A Gazeta, criou uma campanha contra o monumento e pediu inclusive sua demolição, dizendo que ele não tinha qualidades estéticas."
Havia também reclamações pelo fato de o escultor ser estrangeiro, embora Zadig já morasse no Brasil havia anos e fosse casado com uma brasileira. "Era um momento em que o nacionalismo estava em todas as discussões, inclusive na arte. Havia um sentimento de valorização de aspectos nacionais. A Semana de Arte Moderna de 1922 tinha acontecido havia poucos meses, reafirmando essa característica, mesmo que na época ela não tenha tido a importância que se dá hoje", diz Barbuy.
Por outro lado, o jornal A Gazeta afirmou que O Beijo Eterno não tinha qualquer relação com o famoso poema de Bilac, porque a estátua representava um encontro amoroso entre uma índia e um português, cena que não é citada em nenhum dos 59 versos da poesia.
Essa foi a primeira vez que alguém interpretou a personagem feminina do monumento como uma índia — talvez pelo formato de seu cabelo e por uma faixa ao redor da cabeça. O homem tinha característica caucasiana e, por isso, talvez tenha ganhado a alcunha de europeu.
"Não se tem informação de que o artista queria retratar um beijo inter-racial entre uma índia e um branco, mas foi assim que a obra ficou conhecida. E isso foi tratado de maneira preconceituosa na imprensa. A Gazeta chamou a personagem de 'bugre', uma palavra pejorativa para se referir aos indígenas", diz Barbuy.
Não há registros de que, na década de 1920, alguém tenha se escandalizado com o fato de a dupla estar nua. Reclamações contra o "conteúdo sexual" só viriam décadas depois.
A historiadora Heloisa Barbuy acredita que a campanha contra o monumento a Bilac, nessa fase, tinha mais a ver com motivações políticas, que são muito difíceis de compreender agora, quase um século depois. "Era um momento conturbado, com a convergência de muitos grupos políticos. Talvez, essa campanha tenha ocorrido para atacar Frederico Vergueiro Steidel, presidente da Liga Nacionalista, que participou ativamente da confecção da obra".
O monumento foi finalmente desmontado em 1935, quando a prefeitura mudou o trânsito na região. Algumas das peças foram levadas para outros pontos da cidade.
Por sua vez, O Beijo Eterno foi parar em um depósito da prefeitura, onde permaneceu por muitos anos.
Até que apareceu Jânio Quadros.
Os bons costumes dos moradores do Cambuci:
Provavelmente, quando assumiu o cargo de prefeito de São Paulo em 1953, Jânio Quadros conhecia a história de O Beijo Eterno, pois ele também havia se formado em Direito no Largo São Francisco, onde a estátua era célebre.
"Em 1956, ao ver a obra parada em um depósito, Jânio decidiu levá-la para o Cambuci, bairro onde ele morava", conta Giselle Beiguelman, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e autora do livro Memória da amnésia: Políticas de esquecimento (Edições Sesc), lançado na semana passada.
Segundo uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo na época, a prefeitura tinha instalado, anos antes, a imagem na entrada do colégio estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros. Mas ela ficou na escola por um brevíssimo período, porque os pais dos estudantes se mobilizaram para retirá-la. Eles diziam que a figura era "imoral".
Já no Cambuci, boa parte dos moradores também não ficou nada contente com a presença da escultura. Foi organizado um longo abaixo-assinado para que a obra fosse removida imediatamente do bairro, alegando que ela atentava contra os bons costumes.
O então prefeito, que depois viraria presidente da República, não resistiu à pressão e retirou o monumento das ruas do Cambuci. Censurado, O Beijo Eterno voltou ao depósito da prefeitura, onde não podia ser visto pelo grande público.
Mas, de fato, a estátua mostra muita coisa?
A resposta depende da época em que você vive.
O personagem masculino está ligeiramente curvado sobre a moça, com uma das mãos nas costas dela e outra mais abaixo, na cintura. Já a mulher se estica para alcançar a boca do amante, colocando o braço direito ao redor da cabeça dele, que, aliás, parece desproporcionalmente grande em relação ao resto do corpo. Ambos estão nus, com seios, nádegas e pênis (não ereto) à mostra. A cena congelada em bronze poderia representar o momento anterior ao início de uma relação sexual.
Hoje em dia, nossa exposição a conteúdos eróticos e pornográficos é muito mais frequente, então a estátua não parece "nada demais", tanto que ela passa quase despercebida no calçadão que se estende à entrada da Faculdade de Direito da USP. Ninguém para na sua frente e diz, escandalizado: "que absurdo, temos aqui uma cena de sexo".
Mas nos anos 1950, década anterior à chamada revolução sexual, a pornografia ou cenas eróticas não eram tão acessíveis, menos ainda no espaço público. Então, para um morador do Cambuci daquela época, talvez O Beijo Eterno fosse "um pouco demais". Não que a história da arte não tenha há séculos milhares de quadros e monumentos com personagens nus, diga-se, mas é possível que eles chocassem menos estando dentro de um museu.
Para Beiguelman, não apenas a cena sexual causou rebuliço, mas o contexto dos personagens. "Na minha concepção, além dos corpos nus, tinha essa situação de ser um homem branco com uma indígena. Isso era um problema para os padrões morais da época, as pessoas consideravam um relacionamento como esse ofensivo e censurável. A cidade era mais preconceituosa, e as questões de gênero e raça eram mais veladas", diz.
A professora cita outras estátuas que passaram por processo semelhante, de perseguição e censura, em São Paulo, mas nenhuma foi "tão polêmica" quanto O Beijo Eterno.
"Bem ao lado dela, no Largo Francisco, há o O Menino e o Catavento, que também foi removido uma vez porque ele está nu. Há também O Fauno, do (artista modernista) Victor Brecheret, que foi retirado de uma praça no Centro depois que algumas pessoas começaram a fazer um culto noturno em frente à obra", explica.
"O Monumento a Garcia Lorca virou alvo do Comando de Caça aos Comunistas, durante a ditadura militar, porque ele homenageava o poeta espanhol, que era comunista e homossexual".
O incrível retorno de O Beijo Eterno:
Dez anos depois da censura no Cambuci, em 1966, o então prefeito José Vicente Faria Lima decidiu instalar O Beijo Eterno na entrada do túnel da avenida 9 de Julho, no centro da cidade. Mas houve nova resistência.
"Dizendo-se portador de memorial assinado por senhoras residentes da 9 de Julho, o sr. Antonio Sampaio, membro da Arena (partido da ditadura), solicitou a retirada da estátua. A solicitação foi feita por meio de um discurso na Câmara", escreveu o O Estado de S.Paulo em 8 de outubro de 1966. "Segundo o vereador, a estátua constitui um 'verdadeiro acinte ao decoro e aos bons costumes do paulistano'"
O Beijo Eterno então voltou a ser escondido no depósito, segundo o jornal. Mas, dessa vez, uma reviravolta selaria o destino da escultura: os estudantes da Faculdade de Direito decidiram agir. Os jovens fretaram um caminhão, invadiram o espaço da prefeitura e furtaram a figura de bronze de 400 quilos.
Já o jornal Folha de S.Paulo contou a história de uma maneira um pouco diferente: segundo a publicação, a estátua não chegou a sair da entrada do túnel. Antes de ir para o depósito municipal, ela foi resgatada pelos universitários.
Seja como for, momentos depois, ela foi instalada em frente ao campus. Os alunos ainda fizeram uma ameaça: se a estátua fosse retirada do Largo São Francisco, iriam cobrir com panos todas as outras representações de pessoas nuas que houvesse na cidade.
"Os estudantes se sentiram no direito de pegar a estátua, porque ela é um patrimônio da faculdade. Foi o Largo São Francisco que financiou sua construção", diz José Carlos Madia de Souza, presidente da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito da USP.
Último verso:
Depois do furto, O Beijo Eterno não saiu mais do calçadão em frente à faculdade: passou incólume até pela ditadura militar, que tinha uma máquina ativa de censura à liberdade de expressão e artística.
Hoje, ela é só mais uma estátua no centro de São Paulo, e sua história ficou nos livros e nos arquivos de jornais. "Os estudantes passam por ela e nem sabem o que aconteceu. Mas isso é normal, o tempo passa e as pessoas se esquecem", diz Madia de Souza.
Ao menos que haja outra reviravolta ou uma nova onda de censura, os dois amantes ficarão expostos por ali, paralisados em um beijo moldado em bronze para ser eterno, como queria o último verso do poema de Olavo Bilac:
"Quero um beijo sem fim
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para minha vida,
Só para o meu amor!"

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

O "Sequestro" da Estátua "Idílio ou Beijo Eterno", 1966, São Paulo, Brasil






O "Sequestro" da Estátua "Idílio ou Beijo Eterno", 1966, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
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O "Idílio, ou Beijo Eterno", é um fragmento escultórico, integrante do extinto "Monumento a Olavo Bilac". Composto pela figura de um casal nu se abraçando, composto por um homem branco e uma indígena, o fragmento é um dos monumentos que mais foi instalado e reinstalado por São Paulo, perambulando por um período de 31 anos e colocado em mais de 5 locais distintos.
Em 1915, Bilac discursou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, defendendo um programa de reforma das práticas políticas nacionais. O episódio inspirou a criação de associações patrióticas, entre elas, a Liga Nacionalista, fundada em 1916, e fez com que o poeta se tornasse uma figura importante para alunos da instituição. Essa relação entre Bilac, a criação da Liga e a Faculdade de Direito explica, em parte, a proeminência do Centro Acadêmico XI de Agosto, organização estudantil da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, no financiamento da obra.
Após um breve período no qual o monumento foi elogiado após sua instalação em 1922, iniciou-se uma campanha contra a obra e a favor de sua demolição. A campanha contra o monumento a Bilac, nessa fase, tinha mais a ver com motivações políticas e estéticas. Não existem registros de que, na década de 1920, alguém tenha se escandalizado com o fato de a dupla, que era apenas parte do conjunto maior do monumento, estar nua. Em fevereiro de 1935, o jornal a Gazeta anunciou a retirada do monumento da Avenida Paulista em virtude de obras urbanas: “O gesto do prefeito Fábio Prado somente merece aplausos (…)”. Na época, a previsão era de que ele fosse reinstalado no parque D. Pedro II. No entanto, ele foi fragmentado em diversos pedaços que foram levados para o Depósito Municipal da Várzea do Carmo.
Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo na época, os fragmentos Beijo Eterno e Caçador de Esmeraldas foram instalados na entrada do colégio estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros. No entanto, pouco tempo depois, o Beijo Eterno voltaria para o depósito, após mobilização de pais de estudantes que consideraram a figura como “imoral”. Em 1953, quando Jânio Quadros, ex-aluno da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, assumiu o cargo de prefeito de São Paulo, resolveu reinstalar alguns fragmentos do monumento e levou o Beijo Eterno para o Largo do Cambuci, um de seus redutos eleitorais. Neste local, mais uma vez, o monumento gerou uma mobilização de moradores do bairro, que organizaram um abaixo-assinado para sua retirada alegando que o fragmento atentava contra os bons costumes. Dez anos depois, em 1966, o então prefeito José Vicente Faria Lima decidiu instalar o Beijo Eterno na entrada do túnel da Avenida Nove de Julho, chamado pelo jornal "O Estado de S. Paulo" como “o lugar das estátuas malditas”, por agregar um longo histórico de monumentos rejeitados pelo público. Novamente não foi diferente, o vereador Antônio Sampaio, membro da Arena, de posse de um abaixo-assinado organizado por senhoras residentes da Avenida Nove de Julho, realizou um inflamado discurso na Câmara, clamando pela retirada da obra vista como “obra do demônio, um verdadeiro escândalo”.
A rejeição recorrente da obra, e as reações suscitadas nos diferentes locais nos quais foi instalada, nos leva a questionar o que compõe esses bons costumes postos em risco pelo monumento, sempre em relação ao seu “teor sexual”. O monumento, inclusive, se tornou um exemplo costumeiro do docente de Medicina Legal da Faculdade de Direito do Largo São Francisco como indicativo de impotência sexual, “já que o homem (europeu) resistia às provocações da sensual mulher sem qualquer reação”. Para alguns pesquisadores, esta rejeição revela uma outra camada de preconceitos presentes na sociedade da época, pelo fato da escultura ser lida popularmente como o retrato de um relacionamento entre uma indígena e um europeu. “Não se tem informação de que o artista queria retratar um beijo inter-racial entre uma índia e um branco, mas foi assim que a obra ficou conhecida. E isso foi tratado de maneira preconceituosa na imprensa. A Gazeta chamou a personagem de bugre, uma palavra pejorativa para se referir aos indígenas” relata a historiadora Helena Barbuy.
No entanto, pouco antes da obra ser removida da entrada do túnel da Avenida Nove de Julho, em 18 de outubro de 1966, para adentrar os depósitos mais uma vez, ela foi sequestrada por estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e transportada para o "território livre" da Faculdade. 
Em uma reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo", publicada no dia seguinte à ação, os alunos acrescentam uma ameaça: “se a estátua “Idílio” for retirada do Largo São Francisco, vestiremos todas as outras estátuas nuas da cidade e colocaremos aliança nas que representam pessoas abraçadas”. 
Para estes, o monumento remetia à própria história da instituição da qual faziam parte, com seu papel na implantação original do monumento, representando também uma atitude de resistência a um discurso moralista presente na sociedade da época, poucos anos após o golpe militar de 1964. 
Ali, no "território livre" da Faculdade de Direito, a escultura estaria protegida, e é onde ela se encontra desde então. Segundo o jornal universitário dos mesmos, a ação é “um marco histórico para os estudantes da Faculdade de Direito, para lembrarmo-nos do que somos, e do que devemos ser.”
Nota do blog 1: Na imagem N. 1 do post, de 18/10/1966, os estudantes "sequestram" a estátua que estava no Túnel Nove de Julho, colocando-a em um caminhão.
Nota do blog 2: Na imagem N. 2 do post, também de 18/10/1966, a estátua já descarregada e colocada no Largo de São Francisco, em frente a Faculdade de Direito.

terça-feira, 3 de outubro de 2023

Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", São Paulo, Brasil












Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
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Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", 1966, Túnel Nove de Julho, São Paulo, Brasil


 

Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", 1966, Túnel Nove de Julho, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
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Nota do blog 1: A escultura, de autoria de William Zadig (um fragmento do antigo "Monumento a Olavo Bilac"), na época (1966) ficava na entrada do túnel da Avenida Nove de Julho. Atualmente está no Largo de São Francisco, centro de São Paulo.
Nota do blog 2: É conhecida pelos nomes "Idílio" ou "O Beijo Eterno".