sábado, 7 de outubro de 2023

Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", São Paulo, Brasil


 



Escultura "Idílio" / "O Beijo Eterno", São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


Durante décadas a Prefeitura de São Paulo viu frustrada sua tentativa de esconder estátuas polêmicas na Avenida 9 de Julho. Usando o isolamento como forma de ocultar as obras dos olhares críticos, a administração usava a seguinte técnica: colocava as peças em pontos mais distantes do público e vedados aos pedestres, como no canteiro central ou na entrada do túnel. Quatro obras, em diferentes décadas, foram colocadas na avenida: Laocoonte e seus filhos; Beijo Eterno ou Idílio; O Menino e O Catavento e São Paulo Apóstolo. Nenhuma permaceu. A impossibilidade da Prefeitura colocar um monumento ali que não fosse criticado rendeu ao local o apelido, de "lugar maldito".
Duas esculturas que retratam figuras humanas nuas causaram um rebuliço. A colocação das obras Beijo Eterno (1922), e O Menino e O Catavento (1914) na avenida fez chover reclamações da patrulha defensora da moral e dos bons costumes. Mesmo distante das calçadas, as esculturas ainda perturbavam aqueles que “não admitem nudez, seminudez mesmo numa obra de arte”, como contou o jornal "Estado de S. Paulo" de 30/11/1966. Após os protestos, Idílio e O Menino e O Catavento acabaram sendo removidas por estudantes da Faculdade de Direito, que decidiram levá-las para o Largo São Francisco onde estão até hoje. Antes delas, a obra Laocoonte e seus filhos (1938) - uma réplica de uma estátua grega criada pelo Liceu de Artes e Ofícios - também foi retirada dali. Hoje ela está no Parque do Ibirapuera.
Originalmente parte do Monumento a Olavo Bilac, a obra "Idílio ou Beijo Eterno" foi criada pelo escultor sueco William Zadig, à pedido dos alunos do Centro Acadêmico Onze de Agosto da Faculdade de Direito Largo São Francisco.
Cercada por polêmica, a estátua só encontrou morada certa em 1966, quando foi levada o Largo São Francisco. Antes disso, ela perambulou pela cidade, como mostra o projeto Memória da Amnésia de Giselle Beiguelman, artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). A peça seguiu um roteiro de reclamações, protestos e abaixo-assinados para sua remoção. Sobre as críticas à obra, Beiguelman disse que ela chocou "não tanto pela nudez", mas por ter outro ingrediente considerado "ultrajante" pelos reclamantes. A escultura mostra "um branco beijando uma índia", algo "muito forte para um determinado contexto conservador", explicou. A perambulação do Beijo Eterno começou quando ela foi removida do monumento ao qual pertencia e levada para o depósito da Prefeitura em 1936. Lá ficou até ser levada para o bairro de Pinheiros, onde foi colocada em frente ao Colégio Fernão Dias Paes. Os pais dos alunos consideraram a estátua imoral e pediram sua retirada. De lá foi para o depósito da Prefeitura, onde ficou até 1965, quando foi levada para o Largo do Cambuci. Um abaixo-assinado dos moradores do bairro fez com que ela retornasse ao depósito. Até que o prefeito Faria Lima decidiu colocá-la próxima à entrada do Túnel Nove de Julho. Dias depois, o vereador Antônio Sampaio pedia a palavra na Câmara para protestar sobre a obra, chamou-a de obscena e disse que era um atentado aos bons costumes. Foi então que, em 18 de outubro de 1966, os estudantes do Centro Acadêmico XI de Agosto decidiram resgatá-la e levá-la para o "Território Livre" da Faculdade de Direito. A ação dos jovens não terminou por aí. Em carta eles ameaçaram reagir caso a obra fosse removida: “se a estátua Idílio for retirada do Largo São Francisco, vestiremos todas as outras estátuas nuas da cidade e colocaremos aliança nas que representam pessoas abraçadas”.

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