sexta-feira, 1 de abril de 2022

Filosofia de Internet - Humor


 



Filosofia de Internet - Humor
Humor

Nota do blog: Brincadeira de "Primeiro de Abril" da Prefeitura de Curitiba sobre o hábito dos locais de chamar salsicha de "vina".

Nu (Nude) - Pierre Auguste Renoir

 




Nu (Nude) - Pierre Auguste Renoir
Pushkin Museum of Fine Arts, Moscou, Rússia
OST - 92x73 - 1876


Renoir's Nude painted in 1876 undoubtedly ranks among the masterpieces in the Museum's collection. In addressing the eternal theme of female beauty, the artist treats it primarily as pictorial beauty. The well-known Paris model "la belle Anne", a modern Venus, is set in a halo of cold grey-blue shades. By renouncing traditional modelling and precise contours and replacing them with small mobile brushstrokes and subtle scumbling, the artist stresses the femininity of his model and produces a remarkable sensation of a real live body. The picture is like a gem, so it is not surprising that it is also known as The Pearl.

Meninas de Preto (Girls in Black) - Pierre Auguste Renoir


 



Meninas de Preto (Girls in Black) - Pierre Auguste Renoir
Pushkin Museum of Fine Arts, Moscou, Rússia
OST - 81x65 - 1880-1882




The 1880s saw a new stage in Renoir's work. Under the influence of scientific theories about the interaction of spectral colours, which stated that it was necessary to paint in tones of the pure spectrum only, the colouring in his pictures changed radically. The artist renounced black completely, replacing it by a complex mixture of blue ultramarine and red madder. Although the heroines in his pictures remained the same as ever, young Parisiennes and women of Montmartre, at the beginning of the 1880s the artist's pictorial manner lost its former Impressionist "atmospherics" and became more austere and graphic. "I have come to the end of Impressionism," Renoir acknowledged.

Banhos no Rio Sena, Croissy-sur-Seine, França (Bathing on the Seine / La Grenouillere) - Pierre Auguste Renoir



Banhos no Rio Sena, Croissy-sur-Seine, França (Bathing on the Seine / La Grenouillere) - Pierre Auguste Renoir
Croissy-sur-Seine - França
Pushkin Museum of Fine Arts, Moscou, Rússia
OST - 59x80 - 1869


The artist's earliest work in the Museum collection shows one of the Parisians' favourite haunts for enjoying their leisure, the island of Croissy. Well-known for its bathing hunts and small restaurants, the island is described in stories by Guy de Maupassant. Parisians referred to the place ironically as the "froggery" ("grenouille" being French from "frog"). In the late 1860s Renoir often went there with Claude Monet to paint plein-air studies. The artist shows Parisians strolling along the bank, bathers, and sailing boats gliding over the water. His small vibrating brushstrokes merely intimate the figures of people, the green of the trees and the glinting sunlight in the water. The patches of colour merge to form a single light and transparent gamma.

quinta-feira, 31 de março de 2022

No Jardim, Debaixo das Árvores do Moulin de la Galette, Paris, França (In the Garden, Under the Trees of Moulin de la Galette) - Pierre Auguste Renoir


 

No Jardim, Debaixo das Árvores do Moulin de la Galette, Paris, França (In the Garden, Under the Trees of Moulin de la Galette) - Pierre Auguste Renoir
Paris - França
Pushkin Museum of Fine Arts, Moscou, Rússia
OST - 81x65 - 1876

Avenida Borges de Medeiros, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil


 



Avenida Borges de Medeiros, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Porto Alegre - RS
Fotografia



Avenida Borges de Medeiros. Déc. 20 / 30.
No final do século XIX, com o nome de General Paranhos, a Borges era um estreito beco que subia da Andrade Neves até a Rua Duque de Caxias e descia em outra fortíssima ladeira até a rua Coronel Genuíno.Por muitos anos, a General Paranhos conviveu com três apelidos populares: Travessa do Poço, entre a Duque e a Riachuelo, Beco do Freitas, entre a Riachuelo e a Andrade Neves e Beco do Meireles, da Duque para o sul.
Para resolver o problema da topografia, que transformara a via em foco de crime e prostituição, houve muitos planos de urbanização e melhorias, prevendo o seu alargamento. No governo de Otávio Rocha que a Borges de Medeiros foi pensada como obra de viação:
(...) "As rampas de acesso à Rua Duque de Caxias, que atualmente têm 9% e 12%, ficarão reduzidas, respectivamente, a 1% e 5%, para o que se vai fazer o rebaixo de 13 metros no ponto culminante. Ai será construído um viaduto de cimento armado, em arco abatido, por onde se fará a passagem da Rua Duque de Caxias (...) É uma obra de viação de grande relevo, porque vai encurtar o trajeto para todas as linhas de comunicação dos arrebaldes Menino Deus, Glória, Teresópolis e Partenon".
Em 1932 foi inaugurado o Viaduto Otávio Rocha, que permitiu unir o porto à zona sul, mudando consideravelmente o perfil urbano do centro da cidade. O Viaduto foi uma obra conjugada com o aumento do trajeto da avenida, indo primeiro até a Praça Montevidéu e depois com sua extensão até a Praia de Belas, em 1943.
No início dos anos quarenta do século passado, começaram a surgir grandes espigões na Borges de Medeiros, fruto de incentivos fiscais concedidos pelas autoridades que queriam pressa na mudança da arquitetura da cidade. A resposta foi rápida e logo brotaram prédios com 10, 15 ou 20 andares, como o Sulacap, o Sul América, o União e o Vera Cruz, este último considerado, na época, um marco da arquitetura modernista.
Com o aterro na região do Praia de Belas, a Borges é ampliada até a Avenida Padre Cacique tendo como área limítrofe de lazer, o Parque Marinha do Brasil.
Este logradouro já possuiu outro nome e apelidos populares, como Rua General Paranhos, Travessa do Poço, Beco do Freitas e Beco do Meireles. O atual nome é uma homenagem ao gaúcho Borges de Medeiros, presidente do estado entre 1898 e 1908 e no período de 1913 a 1928.

Obras de Construção da Avenida Borges de Medeiros, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil


 

Obras de Construção da Avenida Borges de Medeiros, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Porto Alegre - RS
Fotografia

Ressaca na Avenida Beira Mar, 1906, Rio de Janeiro, Brasil


 

Ressaca na Avenida Beira Mar, 1906, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia

A Desconhecida História de Julio Lobo, o Homem Mais Rico de Cuba que Teve Fortuna Tomada por Che Guevara - Artigo





A Desconhecida História de Julio Lobo, o Homem Mais Rico de Cuba que Teve Fortuna Tomada por Che Guevara - Artigo
Artigo




Em 11 de outubro de 1960, Julio Lobo, o homem mais rico de Cuba, foi chamado às pressas em plena madrugada.
Lobo era conhecido como o "rei do açúcar", tendo feito fortuna vendendo o produto.
O local do encontro era o Banco Nacional de Cuba. Seu interlocutor, o recém-nomeado "presidente-ministro" da instituição financeira, Ernesto "Che" Guevara.
Lobo e Guevara sentaram-se frente à frente. Ao redor deles, pilhas de papeis. A nuvem formada pelas baforadas de tabaco ajudavam a dar um tom de suspense ao que estava por vir.
"Foi um momento único: o encontro entre a Cuba pré-1959 e pós-1959 (ano da Revolução Cubana) e um deles já sabia que seu destino estava traçado", diz o jornalista John Paul Rathbone à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC. Editor de América Latina no jornal britânico Financial Times, Rathbone acaba de publicar o livro The Sugar King of Havana: The Rise and Fall of Julio Lobo, Cuba's Last Tycoon (O rei do açúcar de Havana: ascensão e queda de Julio Lobo, o último magnata de Cuba, em tradução livre).
Guevara foi breve.
Ele disse a Lobo que não havia espaço para o capitalismo na nova sociedade; mas o convidou para integrar o governo.
A proposta soaria indecorosa para muitos: o empresário abdicaria de todos os seus bens e passaria de patrão a empregado, passando a chefiar a estatal que controlaria o comércio do açúcar de Cuba.
Em contrapartida, poderia manter a mansão onde vivia e Tinguaro, um de seus 14 engenhos de açúcar, seu favorito.
Naquele momento, seu império incluía armazéns, refinarias, agência de radiocomunicações, banco, empresa de transporte, companhia aérea, seguradora e petroleira.
Tudo passaria para as mãos do povo.
Lobo engoliu tudo a seco. Não respondeu imediatamente e pediu alguns dias para pensar.
Na manhã seguinte, quando chegou a seu escritório, chamou sua secretária para ajudá-lo a juntar alguns papeis importantes, que até hoje constituem o arquivo preservado por seus descendentes na Flórida.
"É o fim", disse ele.
Dois dias depois, quando o avião onde estava decolou do aeroporto a leste de Havana, Lobo olhou pela última vez "a ilha que ele mais amava".
O empresário havia chegado a Cuba aos dois anos de idade, vindo de Caracas, onde nasceu em 1898. Sua família, de judeus sefarditas, se instalou ali por um tempo depois de uma longa viagem, que passou por Holanda, Espanha, Portugal e Curação.
"Seu pai faz fortuna em Cuba e Julio, como quase todos os filhos dos ricos, vai estudar nos Estados Unidos. Em seguida, volta ao país e começa a construir seu império de açúcar", diz Rathbone.
O historiador britânico Hugh Thomas, morto no ano passado, calculou que Lobo chegou a possuir 405 mil hectares de terra em Cuba, uma ilha onde área plantada não ultrapassa 700 mil hoje em dia.
Quase 4 dos 6 milhões de toneladas de açúcar produzidos pela ilha todos os anos vinham de suas usinas.
"O açúcar de Cuba naquela época equivalia ao petróleo da Arábia Saudita atualmente. Isso porque Havana controlava os preços do açúcar no mercado mundial, e por trás de tudo isso estava Julio Lobo", acrescenta Rathbone.
Com as receitas do produto, o "império" de Lobo se estendeu ao setor bancário, naval e aeronáutico.
Curiosamente, de acordo com seu biógrafo, um de seus objetivos era tentar tirar o capital americano da ilha.
"Lobo fez sua fortuna em Cuba e investiu em Cuba. Ele comprou muitos moinhos que pertenciam a americanos, pois acreditava que os cubanos deveriam ter o controle de seu país", conta Rathbone.
"Há passagens de sua vida que mostram que havia um orgulho nacional entre vários integrantes da burguesia cubana. Ou seja, um grande patriotismo. Isso contradiz muitos dos clichês que se proliferaram sobre o que era a burguesia cubana antes da revolução", acrescenta.
Cinco anos depois de fugir de Cuba e se estabelecer em Nova York, atuar na bolsa de valores, fazer uma nova fortuna e perdê-la praticamente por completo, Lobo entendeu que era hora de um novo exílio.
"Especular nos mercados financeiros era algo que ele sabia fazer muito bem. Quando deixou Cuba, se tornou por um tempo rei de Wall Street", diz Rathbone, em referência ao distrito financeiro de Nova York. "Mas ele perde tudo e decide se mudar para a Espanha", acrescenta.
Anos antes, Lobo havia remetido uma grande doação ao ditador espanhol Francisco Franco, quem admirava, para ajudá-lo a expulsar os republicanos.
Algum tempo depois, também colaborou financeiramente com os rebeldes liderados por Fidel Castro.
Em meados do século 20, Lobo detinha a maior fortuna de Cuba (alguns estimam que hoje seu patrimônio valeria cerca de US$ 4 bilhões - ou R$ 15 bilhões). E sua vida era motivo de curiosidade popular.
Apesar de ser um homem austero e cuidadoso com sua vida privada, suas viagens ao exterior, suas novas aquisições ou seus casos amorosos com estrelas de Hollywood (de Esther Williams a Joan Fontaine) sempre permaneceram na boca do povo.
Ao longo dos anos, montou uma das maiores bibliotecas de Cuba. Também formou a mais completa coleção de arte napoleônica fora da França, que inclui um molar, uma mecha de cabelo e até um penico de Napoleão.
De acordo com vários historiadores, sua galeria incluiu quadros de Rafael, Michelangelo, Da Vinci e dezenas de pinturas a óleo e gravuras de Goya.
Em 1946, foi atingido por três tiros disparados por gângsteres em circunstâncias nunca esclarecidas: um o deixou coxo, os outros dois levantaram parte de seus ossos do crânio.
Ainda faltavam 17 anos para que ele perdesse toda a sua fortuna e 40 anos para que seu corpo fosse enterrado em uma cripta discreta na catedral de La Almudena, em Madri.
Mas, segundo aqueles que o conheciam, Lobo costumava dizer que não foi naquela noite que recebeu os verdadeiros disparos, mas vários anos depois: na madrugada do dia 11 de outubro de 1960.
Na manhã seguinte à sua partida, em 14 de outubro de 1960, o império de Julio Lobo começou a se desmembrar, peça por peça, como um nebuloso castelo de cartas.
O governo cubano, que lhe havia dado, no dia anterior, o salvo-conduto sem o qual ele não viajaria a Nova Iorque, tomou controle de seus bens em nome da "Revolução".
Seus artigos sobre o açúcar - a coleção mais completa de Cuba, junto com o resto de suas centenas de livros, foram enviados à Biblioteca Nacional.
Já as relíquias e os objetos que tinha do general francês também foram confiscados, e muitos deles ainda estão em exibição no Museu Napoleônico de Havana, uma antiga mansão que permaneceu fechada durante anos por causa de vazamentos e deslizamentos de terra e que muitos cubanos desconhecem e quase nenhum visita.
Pinturas e esculturas de sua coleção particular compõem atualmente a maior parte da coleção do Museo Nacional de Bellas Artes, em Havana. As mais valiosas, no entanto, como as obras de Michelangelo, Da Vinci, Rafael e de outros pintores famosos, ninguém sabe onde foram parar.
Suas casas e propriedades são atualmente quartéis ou ministérios. Já a maioria das usinas que foram confiscadas acabaram demolidas quando o preço do açúcar no mercado mundial sofreu forte queda - as que sobraram, estão em ruínas.
Cuba, que liderou o comércio mundial de açúcar durante décadas, agora luta para produzir 1 milhão de toneladas por ano e, por mais de uma década, precisou importar o produto do Brasil, da Colômbia e até mesmo da França.
Em Havana, e em quase qualquer outra província, só os mais velhos lembram-se a essa altura de Julio Lobo. Sua memória desapareceu no tempo, como sua fortuna, suas pinturas e o passado antigo da "ilha do açúcar".

Fatos e Mitos Sobre Primeira República (1889-1930), Brasil - Artigo

 


Fatos e Mitos Sobre Primeira República (1889-1930), Brasil - Artigo
Artigo


Você certamente já ouviu muito falar sobre a Primeira República. “Coronelismo”, “Voto de Cabresto”, “República do Café com leite”, são termos que por muito tempo foram usuais nas aulas de história para se referir a este período, também conhecido como “República Oligárquica” – afinal, era uma oligarquia, uma elite restrita, que estava no poder – ou “República Velha”.
Logo de cara vale destacar que o termo “República Velha” cada vez mais cai em desuso. Afinal, chamar um período histórico de velho ou ultrapassado não faz sentido. “República Velha” é um termo criado no governo Vargas para desvalorizar o passado e se colocar como o “novo”. Não por acaso a ditadura varguista recebeu o apelido de “Estado Novo”.
Mas é fato que a República brasileira, inaugurada em 15 de novembro de 1889, iniciou com uma série de crises em seus primeiros anos. Já nosso primeiro presidente, Deodoro da Fonseca, conviveu num ambiente de disputas políticas pelo poder, com militares, elites estaduais e republicanos históricos debatendo como seria o Brasil sem o imperador. Para piorar, uma grave crise econômica piorou as condições para Deodoro, que tentou fechar o Congresso e, diante de uma situação política incontornável, acabou tendo que aceitar a renúncia em 23 de novembro de 1891.
Em seu lugar, outro militar: Floriano Peixoto, apelidado de “Marechal de Ferro”. Com um governo forte e repressor, enfrentou a Revolta da Armada e a Revolução Federalista. Floriano, com um presidencialismo centralizador, derrotou ambas e ficou conhecido como o “consolidador da República”. Em 1894, após cinco anos e dois governos militares, acabava o período conhecido como “República da Espada” e o poder era, finalmente, passado para as mãos dos civis.
O “boom” cultural no país:
A Primeira República marca o crescimento do teatro de revista, em especial nos grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro – que era, à época, a capital do Brasil – e São Paulo. Artur Azevedo, Raul Pederneiras, entre outros, criavam espetáculo que reuniam multidões. Empresários como Paschoal Segretto eram investidores que contribuíam para a realização dos espetáculos.
Também foi nas primeiras décadas da República que o carnaval paulatinamente foi crescendo em todo o país. Em Pernambuco, surge o frevo no final do século XIX; no Rio, aparecia o samba no início do século XX, se espalhando na Praça XI, tomando os morros, mas ainda sofrendo muito preconceito e perseguição por ser relacionada aos negros e à cultura dos excluídos. Práticas populares que eram rejeitadas por uma elite brasileira que queria ser cópia fiel da europeia. Acrescenta-se ainda o fato que mesmo as sociedades carnavalescas, que ainda tinham certo ar aristocrata, precisavam da permissão do chefe de política para realizarem suas festividades.
O “boom” cultural na Primeira República tem relação também com as transformações urbanas, que foram muitas. Em Minas Gerais, uma nova capital foi construída, uma cidade planejada: era Belo Horizonte, inaugurada em 12 de dezembro de 1897, 201 anos depois da criação de Mariana, primeira vila mineira (1696, alçada à condição de cidade, e com o nome atual, em 1745).
A elite festejava a República com a visão de que eram necessárias reformas urbanas. No Rio, já no início da década de 1890, o prefeito Barata Ribeiro destruiu centenas de cortiços no centro da cidade. Logo depois, no intuito de copiar o que aconteceu em Paris, nos primeiros anos do século XX o prefeito Pereira Passos, aliado ao presidente Rodrigues Alves, iniciou o chamado “bota-abaixo”, destruindo centenas de habitações, expulsando os pobres das áreas centrais da cidade e pavimentando a nova Avenida Central – atual Avenida Rio Branco –, via ampla e arejada, nos moldes europeus.
O momento de autoritarismo e violência contra a população levou à Revolta da Vacina – iniciada no Largo de São Francisco de Paula. A rebelião foi resultado não apenas da obrigatoriedade da vacina contra a varíola, mas de um momento conturbado de imposição, pelas autoridades, de uma nova ordem urbana onde os mais necessitados estavam excluídos.
As reformas criaram na capital da República uma região ampla ao final da Avenida Central, que abriga até hoje, por exemplo, a Biblioteca Nacional e o Teatro Municipal. Se hoje os cinemas de rua estão praticamente com os dias contados, na época havia tantos que foi em razão deles que a área recebeu o nome de Cinelândia.
Essa visão sanitarista sobre o espaço físico das cidades também se estendeu para o corpo social. Nesse sentido, o período da Primeira República marca o crescimento da eugenia: tentava-se melhorar geneticamente a população brasileira através do branqueamento, uma perspectiva racista que enxergava as populações negras e indígenas como responsáveis pelo atraso civilizatório brasileiro. Esse discurso alcançou os círculos da intelectualidade, como os institutos históricos e geográficos (IHG) que eram criados em vários estados.
Mas logo surgiram vozes que contestavam essa ideia. Manoel Bonfim, por exemplo, defendia que o colonialismo e o imperialismo eram os verdadeiros culpados pelo “atraso” do Brasil e da América Latina. O escritor Lima Barreto foi outro a defender que os problemas brasileiros não tinham nenhuma relação com a população negra ou indígena e denunciou a eugenia como uma visão racista de nossas elites políticas e econômicas.
Porém, esse mito de que “raça pura branca” ajudaria no desenvolvimento do país ainda perdurou muito tempo, tendo presença significativa até mesmo no meio científico até meados da década de 1930 e, até hoje, possui influência sobre grupos racistas que não devem ser tolerados em uma sociedade democrática e igualitária.
Revoltas urbanas e rurais:
A Primeira República foi um momento tão importante e transformador da realidade brasileira que nela podemos ver fatos históricos dos mais relevantes para nossa história.
Além da já citada Revolta da Vacina, outro evento que sacudiu a capital da República nesse período foi a Revolta da Chibata. Em 1910, apenas vinte e dois anos depois da abolição da escravidão, via-se ainda a continuidade do racismo e da violência contra os negros. E, num grito contra essa repressão, surgiu a incrível ação de João Cândido e seus mais de mil companheiros, que ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro caso o simbólico castigo da chibata não fosse abolido de vez da Marinha brasileira.
E não apenas nas cidades o povo brasileiro se rebelou. No campo, temos o episódio de Canudos, marcante para nossa sociedade. Menos falado, mas igualmente importante, a Guerra do Contestado mostra toda a complexidade de um conflito que envolve moradores de vilas e cidades que se insurgiram contra a construção de uma ferrovia que passaria por cima de suas moradias. Um confronto que durou longos quatro anos, envolvendo messianismo, problemas sociais, disputas políticas.
Aliás, a ferrovia que alimentou o conflito do Contestado não foi a única prevista no período. De 1889 a 1930 o trem ganhou força com a construção de diversas linhas férreas que conectavam o território nacional e facilitavam o escoamento do café, principal produto de exportação do Brasil, do interior até os portos do litoral. De 1907 a 1912, temos o exemplo da construção da Madeira-Mamoré, conhecida como “ferrovia do diabo”, onde centenas de trabalhadores foram morreram vítimas de doenças, entre outros problemas durante as obras em Rondônia.
Logo, é possível afirmar que, embora com menos investimento do que na capital da República – cuja transformação visava tê-la como vitrine do Brasil – outros estados passaram por mudanças importantes. Além das ferrovias, era comum a construção de pontes, de praças e mudanças urbanísticas em geral. Veja, nas imagens, os exemplos de Santa Catarina, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Não só de café vivia o Brasil:
Atividade econômica importante, em especial na região norte, a fronteira extrativista se ampliou cada vez mais com o advento da república. O Ciclo da Borracha viveu um dos seus auges. Cada vez mais os territórios indígenas eram invadidos por causa do chamado “progresso”. Era o início de uma agressão que perpassa todo o período republicano, chegando até os dias atuais.
Além da borracha no norte, merece destaque a agricultura, que se desenvolveu pelas diversas regiões do país. Plantações de algodão, trigo e outros gêneros alimentícios. No Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e no interior de São Paulo, a criação de gado foi outra atividade econômica em crescimento – com o passar dos anos, se estenderia também a outras áreas da região sul e se ampliaria no centro-oeste.
No Acre, populações ribeirinhas viviam da pesca, extrativismo e agricultura de subsistência. Aliás, os rios eram grande fonte de sustento para moradores do interior do Brasil, como o Parnaíba, divisor geográfico dos estados do Maranhão e do Piauí.
Além disso, cabe ainda lembrar outro ponto que torna fundamental o estudo desse período de nossa história: foi na Primeira República que cresceu e se consolidou o movimento operário brasileiro. Inicialmente sob a égide do anarquismo, que começou com o mutualismo e depois contribuiu com a criação de inúmeros sindicatos com outros fins, a ponto da repressão do Estado aumentar cada vez mais a prática de expulsar trabalhadores estrangeiros [link texto], em especial italianos, vistos como responsáveis por trazer tal ideologia para o Brasil. O italiano Oreste Ristori, por exemplo, com o jornal “La Battaglia” (1904) em São Paulo e o português Tércio Miranda, com o periódico “A Lucta Social” (1914) no Amazonas, tiveram contribuição importante na organização da luta operária.
A Revolução Russa de 1917 incentivou o crescimento do comunismo, que pouco a pouco foi substituindo o anarquismo como ideologia principal dos trabalhadores brasileiros, tendo como momento-chave a fundação do Partido Comunista do Brasil (PCB), em 1922. Logo, o anticomunismo cresceu na mesma medida, a ponto de serem criadas fake news sobre as condições de vida na Rússia socialista, que diz que naquele país as mulheres eram socializadas pelos homens.
O final da década de 1910 e início dos anos 1920 foi um momento de grande transformação ideológica no mundo, acabando por se refletir também no Brasil. Logo após a Primeira Guerra Mundial (1914-1919), a Europa vivia uma crise econômica, política e social crescente. Como resultado, emergiu fortemente o pensamento autoritário ao mesmo tempo em que aumentava a descrença na democracia liberal.
Em terras brasileiras, essa tendência se juntou à insatisfação crescente em relação à forma como era conduzida a política nacional. Surgiu o Movimento Tenentista no mesmo ano de fundação do PCB, 1922. No meio intelectual, nomes como Francisco Campos e Oliveira Viana defendiam mudanças na Constituição e um Estado mais forte e centralizado, criticando aspectos do federalismo que, segundo eles, dividia os estados em disputas políticas que não contribuíam com o desenvolvimento nacional e para o progresso do país.
Eleições na Primeira República / Fatos e mitos:
Vimos nas linhas anteriores as muitas transformações e fatos históricos importantes ocorridos na Primeira República brasileira. De 1889 a 1930 cresceu o teatro, o cinema, o samba, o frevo e outras manifestações culturais. Da mesma forma, transformações urbanas, mobilização dos trabalhadores e revoltas rurais e urbanas marcaram e tornaram esse período tão importante para a história do Brasil.
Cabe agora abordar um ponto que talvez seja um dos mais conhecidos e falados: as eleições. “Coronelismo”, “voto de cabresto”... Enfim, a manipulação eleitoral é sempre colocada como um vício próprio deste período. Porém, mostraremos que, embora tenham de fato ocorrido fraudes em determinados momentos, a análise do sufrágio eleitoral até 1930 nos mostra outras características importantes, mas pouco relatadas pela historiografia.
A Política dos Governadores, criada pelo presidente Campos Sales, deu a direção do período republicano, mas não era infalível ou indefectível. De fato, o coronelismo foi a base para que os candidatos do governo obtivessem repetidas vitórias eleitorais, mas por diversas vezes ocorreram eleições competitivas. Para citar somente as presidenciais, podemos lembrar os pleitos de 1910 – Hermes da Fonseca vencendo Rui Barbosa –, 1922 – Artur Bernardes vencendo Nilo Peçanha – e de 1930 – Júlio Prestes vencendo Getúlio Vargas –, disputas motivadas por problemas políticos entre as elites, quando não houve consenso sobre o candidato que teria amplo apoio das oligarquias.
Estudos mais recentes mostram que, de fato, houve competitividade em diversos pleitos eleitorais e que havia outras estratégias para além da simples manipulação da contagem dos votos ou ameaça aos eleitores.
Jaqueline Zulini e Paolo Ricci destacam que as estratégias para direcionar uma eleição passavam também por prestar favores a eleitores, oferecer almoços, perdoar dívidas, ou seja, práticas para além da simples utilização do medo e da repressão – embora estas também existissem, é claro. Para esses pesquisadores, a disputa entre governistas e opositores começava já na busca pelo monopólio da máquina-eleitoral, desde o alistamento dos eleitores, até a decisão de quem iria compor as mesas e contar os votos nas Juntas Apuradoras.
Portanto, a “Primeira República” é muito mais complexa do que se pode imaginar e, cada vez mais, novos estudos mostram os múltiplos fatores políticos, culturais, econômicos e sociais deste período. Cada vez mais essa espécie de preconceito que a cerca vem se dissolvendo. Assim, a escrita e o ensino de História têm lançado novos olhares sobre essas primeiras décadas republicanas, de 1889 até 1930. Não como um momento a ser esquecido e relegado ao passado – visão perpetuada pelo governo Vargas –, mas como parte fundamental da vida de nosso país, que deve ser analisada em todos os seus detalhes para uma melhor compreensão da sociedade brasileira e do Brasil como um todo.