terça-feira, 10 de maio de 2022

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Chafariz, Praça Eufrásio Correia, Curitiba, Paraná, Brasil







Chafariz, Praça Eufrásio Correia, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia




Localizada no centro de Curitiba, a Praça Eufrásio Correia era o antigo Campo do Schimidlin. Passou a ser conhecida como Largo da Estação em 1885, após a inauguração da Estação Ferroviária. Recebeu o nome atual, em 1888, em homenagem ao político e abolicionista Manoel Euphásio Correia (1839-1888), natural de Paranaguá.
A partir de 1896, o antigo Largo abrigou a sede do poder legislativo estadual. O local foi urbanizado pela primeria vez em 1905, quando recebeu quiosques, iluminação e jardins.
Em 1916 foi reformada, com nova arborização, lampadário art-noveau e recebeu o chafariz confeccionado na Fonderies d'Art du Val d'Osne, na França. Na época era um dos mais concorridos logradouros da cidade.
O chafariz da Praça Eufrásio Correia é do mesmo modelo existente na cidade do Porto, em Portugal, nos jardins do antigo Palácio de Cristal, inaugurado em 1865.
A Fonderies d'Art du Val d'Osne oferecia seus produtos mundo afora por meio de catálogos, usando matrizes que podiam ser reproduzidas à qualquer tempo. Seus produtos eram de beleza impar, sendo encontrados no mundo todo, especialmente decorando praças e logradouros públicos.
Esse modelo de chafariz era originalmente fabricado pela empresa parisiense J.J. Ducel et fils, adquirida pela Val d'Osne em 1878, após a morte de seu fundador. O chafariz tem uma altura total de 4,69 metros. No topo, há uma ninfa no banho com uma criança. As três esculturas na base representam um tritão e duas nereidas. Texto do Guia Geográfico de Curitiba adaptado para o blog por mim.
Nota do blog: A primeira imagem mostra o chafariz de Curitiba. A segunda imagem mostra o chafariz no catálogo da J.J. Ducel et fils, na época já de propriedade da Fonderies d'Art du Val d'Osne, conforme carimbo acrescentado posteriormente. A terceira imagem mostra o chafariz existente na cidade do Porto, Portugal, "irmão" do existente em Curitiba.

 

Escultura "O Semeador", Praça Eufrásio Correia, Curitiba, Paraná, Brasil

 


Escultura "O Semeador", Praça Eufrásio Correia, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Fotografia


O nome da praça homenageia Manoel Eufrásio Correia, formado em Direito no Recife, promotor público, deputado provincial, presidente da Assembleia, além de chefe de polícia de Santa Catarina e, finalmente, presidente da província de Pernambuco.
Remonta ao final do século passado o desenvolvimento da área urbana ao sul da atual rua XV de Novembro, estabelecendo-se a praça Eufrásio Correia como núcleo dinamizador da cidade, a partir da construção da estação ferroviária.
É na gestão de Cândido de Abreu, na última década do século, que o “Largo da Estação”, com seus 11.500 metros quadrados, consolida-se como o novo centro político e comercial da cidade, com a construção da sede para a Assembleia Provincial no lado oposto ao da Estação Ferroviária e a concessão de licença municipal à instalação, na praça e nos seus arredores, de diversos tipos de comércio, como quiosques, botequins, bilhares e restaurantes.
O desenvolvimento do transporte rodoviário, a transferência da Assembleia para o Centro Cívico e, finalmente, a construção, em outro local, da Estação Rodoferroviária, foram fatores que, sucessivamente, marcaram o fim do papel polarizador da praça Eufrásio Correia.
A escultura "O Semeador", obra-prima do escultor do movimento paranista Zaco Paraná, foi um presente da colônia polonesa à cidade de Curitiba, por ocasião do centenário da independência do Brasil em 07/07/1922.

O Fim da Vila Operária da Rua João Migliari, Tatuapé, São Paulo, Brasil


































O Fim da Vila Operária da Rua João Migliari, Tatuapé, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


Texto 1:
Na última semana foi iniciada a demolição de mais uma vila operária, desta vez no bairro do Tatuapé, na rua João Migliari. O terreno deve se tornar um dos vários canteiros de obra da construtora Porte Engenharia e Urbanismo na região que compõe um plano urbanístico para todo o eixo da Rua Platina, paralelo à Avenida Radial Leste. Este, ao mesmo tempo que demole o casario operário da região mudando completamente a paisagem urbana, apagando a história, constrói edifícios para um número menor de famílias e de mais alta renda, expulsando população mais pobre e usos associados à ela, sem trazer adensamento populacional desejado para os eixos de transporte, nem tampouco debater com a população seus efeitos. Era esta a transformação que queríamos nos eixos de mobilidade de alta capacidade?
A substituição de casas por edifícios nos últimos anos tem impactado muito os bairros mais antigos, já consolidados. E, parece que apenas quando o imóvel é tombado pelo patrimônio histórico, que esta paisagem de edifícios para famílias de renda alta e média ganha alguns limites e não acontece (e às vezes nem mesmo o tombamento ajuda). Em bom estado de conservação e funcionamento, a vila não possuia nenhuma proteção por órgãos de preservação do patrimônio.
Mas não é apenas a substituição de uma paisagem histórica por edifícios que está em curso. Nos últimos anos, a Porte desenvolveu um plano urbanístico privado para toda a área, explorando uso misto e alta densidade em um trecho paralelo à Radial Leste, entre as estações Belém, Tatuapé e Carrão da Linha 03 – Vermelha do Metrô. O plano foi intitulado “Eixo Platina”, fazendo referência à rua que conecta todos os empreendimentos projetados. O plano foi apresentado em um estande da empresa, com uma maquete e não foi encaminhado como um Projeto de Intervenção Urbana – PIU para a Prefeitura. Apenas os parâmetros permissivos dos eixos de centralidade criados no Plano Diretor de São Paulo de 2014 já foram suficientes para a criação de uma nova frente imobiliária que demole e apaga um passado industrial, sem precisar passar por qualquer discussão pública. A construtora concentra sua atividade imobiliária há longa data na região do Tatuapé, desenvolvendo especialmente condomínios residenciais verticais de alto padrão que agora aproveita-se da proximidade dos novos empreendimentos com o transporte público e o incentivo ao uso dos espaços públicos.
E não parece ter nada de novo no projeto da construtora, mais dos mesmos edifícios encontrados em outras regiões da cidade. As alternativas para preservação criadas recentemente na legislação urbanística são insuficientes para controlar o avanço predatório do mercado: existem apenas duas ZEPECs (Zonas Especiais de Preservação Cultural) em toda a região. Mesmo a Lei de Zoneamento de 2016, que traz em seu artigo 64 dispositivos para preservação das vilas, seria suficiente para evitar esta demolição, por trazer uma definição vaga de “vila”. Ao contrário, é o zoneamento que inclusive permite que se aumente a área construída, neste caso sem necessariamente garantir a contrapartida que seria o adensamento populacional.
Não só a memória, mas também a moradia das classes baixas no bairro, está ameaçada. São novas habitações para renda média e alta, mas também ameaças às atividades econômicas que estavam voltadas para estas classes. Os diversos dispositivos urbanísticos do Plano Diretor e Lei de Zoneamento, por exemplo, permitiram que o segundo empreendimento lançado no Eixo Platina – o primeiro chamado de Vilela 62 já está de pé, próximo à Estação Carrão do Metrô -, chamado Platina 220, fosse composto por uma única torre com apartamentos, comércio, hotel, escritórios e lajes corporativas, a ser construído ao lado do Shopping Metrô Tatuapé. O empreendimento soma quase 58 mil m², dos quais 3,5 mil serão destinados a habitação. Os apartamentos residenciais obedecem aos critérios de densidade estabelecidas pelo PDE para os eixos de transformação, mas são projetados como estúdios de um único quarto. Por seu porte, o empreendimento deve se adequar à Cota de Solidariedade, mas optou-se por efetuar depósito no Fundo de Desenvolvimento Urbano (Fundurb) em vez de produzir habitação social no mesmo lugar. Para além disso, a ausência de ZEIS na área inviabiliza a implantação de uma política habitacional para rendas mais baixas na área. Ou seja, houve uma transferência da população mais pobre que vive e trabalha nesta região. Não era exatamente o contrário que se queria quando se planejou esta região?
As vilas constituem uma das primeiras tipologias habitacionais da cidade, construídas no período da industrialização para abrigar a classe operária, compondo parte da identidade de bairros que hoje abrigam, predominantemente, as classes média e média-alta. O avanço do mercado imobiliário leva ao apagamento da presença operária no bairro, com a demolição desta e de outras vilas da região. Mas as vilas não são um “passivo” histórico e tampouco são uma “barreira para o desenvolvimento” do bairro, muito pelo contrário. Uma condição muito particular de várias vilas operárias do Tatuapé e bairros vizinhos é que são muito usadas e, talvez por isso, ainda estejam razoavelmente conservadas. Neste caso fica claro como o adensamento construtivo incentivado pelo PDE nos eixos de estruturação urbana é insensível ao tecido urbano existente e a conflitos localizados.
Há muitas referências nacionais e internacionais de preservação e aproveitamento de espaços industriais, valorizados pela sociedade como símbolos que a representam e contam sua história na formação da cidade. A industrialização trouxe muitos ganhos para São Paulo em diversos aspectos e bairros dessa primeira porção da Zona Leste revelam essas dinâmicas de uso e transformações que devem ser preservadas para garantir identidade e referência para promover transformações positivas para o desenvolvimento.
Alternativas fundamentais às formas urbanas impostas pelo mercado imobiliário estão em propostas que nascem da organização da sociedade civil, criando grupos de trabalho e debate com os setores público e privados, a fim de garantir a democracia nos projetos a serem concebidos no território, além de elencar seus símbolos de representação. Isso se deu em alguns casos, como por exemplo na Vila Andrea Raucci, na Água Rasa, também um patrimônio habitacional-operário que foi preservado como reação à possibilidade de ser derrubado por uma construtora. Este é um exemplo de espaço de relevância arquitetônica e urbanística que foi protegido pelo órgão de patrimônio na Zona Leste.
Vê-se que é preciso trazer a público os conflitos gerados por esses processos, procurando evitar transformações que não simplesmente reproduzam o nosso padrão de desenvolvimento urbano, excludente e predatório. Este caso do Eixo Platina é exemplar de uma troca de população, apagamento da memória e alteração da paisagem, sem nenhum debate com a sociedade, debate democrático e que compreenda representatividade a todos os grupos sociais envolvidos.
Texto 2:
Observando a primeira fotografia do post, tirada em 2018, não fossem os prédios no centro, poderia até passar como uma cena dos anos 1960. Uma rua tranquila, sobrados impecáveis, um Fusca estacionado e jovens brincando na rua. Uma composição de cenário cada dia mais rara de ser ver em São Paulo, especialmente no bairro do Tatuapé, cada dia mais adensado.
A cena de um domingo de 2018 ensolarado contrasta totalmente com a cena de outro domingo, cinzento e chuvoso, de agosto de 2019, onde o que restava da vila foi quase que totalmente obliterado por tratores movidos à diesel e ganância.
Por que no Brasil herdeiros não dão valor ao legado de seus antepassados?
O que leva uma pessoa ou uma empresa esquecer toda a história de uma vila como essa, do legado de seu avô e bisavô e, principalmente, o legado que estes deixaram para a cidade? A resposta costuma ser uma só: dinheiro.
São pessoas pertencentes a uma elite acéfala, incapazes de enxergar a relevância de uma patrimônio histórico para si e para o restante da população, destruindo-os, mas que na primeira oportunidade – e não são poucas – pegam um avião para visitar as “antigas construções da Europa”.
A vila da Rua João Migliari abrigou por décadas uma enorme diversidade de moradores, posteriormente adaptando-se a realidade recente, onde cada vez menos pessoas moram em casas, com a abertura de vários estabelecimentos comerciais, como barbearia, doceria e escritórios diversos.
A vila quase chegou ao fim em sua totalidade no cinzento e chuvoso domingo de 01/09/2019, embora na verdade seu fim tenha sido anunciado lá atrás, em outubro de 2015, data que de acordo com o relato de ex-inquilinos, faleceu a pessoa que parecia ser a última a se importar com a vila: Bruno Lembi.
Entre o falecimento de Lembi e o fim quase que total da vila, foram apenas quatro anos, provavelmente o tempo de se resolver documentações, inventários, etc, para finalmente colocar abaixo o sonho de uma geração passada.
Em março de 2019 a primeira parte da demolição levou ao chão metade da vila, a rapidez foi tão grande que poucos dias depois, já com o terreno limpo, um estande da Porte Engenharia, velha conhecida no blog São Paulo Antiga por ter erguido o Lister Tower, um edifício horrível que parece uma estaca fincada no coração do bairro da Penha, ganhando o apelido carinhoso de “Monstro da Penha”.
A ideia por ali é construir um tal de "Eixo Platina", uma série de edifícios grandes e de arquitetura duvidosa em ruas que claramente não comportam o volume de tráfego que estes monstrengos trarão a região. Isso sem contar a ausência de investimentos na malha viária, nos ramais de esgotos e as demais necessidades esquecidas de sempre. Uma má ideia sem tamanho.
Dito isso, voltando à vila da Rua João Migliari, o que aconteceu nos últimos meses e especialmente na virada de agosto para setembro foi uma ode ao banditismo, com desrespeito à lei, truculência, ameaça a integridade de ativistas e até mesmo dos inquilinos dos charmosos sobradinhos.
Ameaças estas que surtiram efeito para a maioria dos inquilinos, já que a maioria deles deixou o local mesmo sabendo que com seus contratos de locação até poderiam continuar. Mas tiveram medo de seguir em frente e algo lhe acontecer. Estamos no Brasil, um país sem lei, onde dinheiro compra tudo. Nem todos tem disposição para enfrentar esse "sistema".
Mas alguns o fazem, e foi da iniciativa de um inquilino da vila, Ivan Vasconcelos, dono de uma barbearia, e de um morador do bairro, o arquiteto Lucas Chiconi, que surgiu um movimento inicialmente tímido, mas que rapidamente cresceu e agregou mais e mais pessoas preocupadas e com um único objetivo: salvar a Vila da Rua João Migliari.
E eles até teriam conseguido mais, não fosse a morosidade do Departamento de Patrimônio Histórico de São Paulo (DPH) em colocar na pauta de votação o tombamento da vila, que foi levado ao órgão em abril deste ano. A morosidade não é culpa de quem lá trabalha mas de quem governa, já que vão se anos e anos sem ocorrer a contratação de novos quadros, o que deixa o órgão deficitário e lento, do jeito que as construtoras e incorporadoras imobiliárias querem e gostam.
E a ocorrência da demolição no final de semana véspera da votação do tombamento, que seria na segunda-feira seguinte, mostra outra coisa triste: claramente há nestes departamentos públicos pessoas infiltradas pelas construtoras, pois o vazamento da votação levou os proprietários  a começarem a demolição às pressas, de forma similar às ocorridas na Avenida Paulista durante a década de 1980.
Se dizia que a área das casas demolidas desta vez também teria sido vendida para a Porte Engenharia, tal qual ocorrido com a outra metade demolida em março. A empresa, lógico, vem negando essa informação em suas redes sociais.
Por outro lado, uma pesquisa feita na base de dados do IPTU da cidade de São Paulo revelou que o local ainda está no nome da Bruno Lembi Empreendimentos, nome anterior da Voga Empreendimentos, cujos diretores são Bruno Lembi Neto e outros familiares.
Ao menos até o momento a pequena porção de sobrados da outrora grande vila está protegida. Não se sabe até quando os proprietários, que já desrespeitaram proibições anteriores, vão seguir o que a lei manda. O que se sabe é: a comunidade e os moradores do Tatuapé estão unidos pela proteção do pouco patrimônio arquitetônico que lhes restou.
O ideal seria, pelo desrespeito a lei e para dar exemplo para outras construtoras e incorporadoras, a desapropriação do terreno para a construção de uma praça, algo útil naquela área densamente ocupada do bairro, que constitui a próxima luta dos moradores da região. Já há vereadores e deputados estaduais interessados em auxiliar os moradores nesta proposição.
Não se tratava de uma vila abandonada: alguns até podem pensar “poxa, mas o cara tem direito de ganhar dinheiro e não ficar empacado com aquelas casas velhas”. O pensamento até faz sentido em um primeiro momento, mas basta olhar para as várias fotografias da vila e ver que isso não se aplica no presente caso.
Não se tratavam de casas moribundas, caindo aos pedaços ou de área ocupada ilegalmente por terceiros. Tratava-se, na verdade, de uma vila em excelente estado de preservação, com todos os seus sobrados ocupados em uma rica diversidade de atividades, com residências, lojas e escritórios.
Arrecadava-se ali um bom dinheiro em aluguel, lembrando que os imóveis estão em uma área valorizada do bairro do Tatuapé. Porém o dinheiro, sempre ele, parece nunca estar em quantidade suficiente nos bolsos da pessoas, a ponto do legado dos próprios antepassados tornarem-se irrelevantes.
A referida empresa ainda tem muitos imóveis históricos relevantes para a cidade: ao pesquisarmos o nome Bruno Lembi Empreendimentos foi possível constatar que o patrimônio imobiliário em nome deste grupo é muito grande. Isso preocupa as pessoas como nós, interessadas em preservar o patrimônio histórico de nossa cidade, pois vários desses imóveis são de arquitetura e história relevantes para cidade. Dois deles, por exemplo, estão localizados nas Ruas Marcos Arruda e Paulo Andrighetti, nos bairros do Belenzinho e Pari.
Ao menos essas duas vilas acima mencionadas estão protegidas pois foram incluídas no processo de tombamento em reunião do CONPRESP realizada em de 02/09/2019. Mas existem outras.
Agora o próximo passo é listar quais outros imóveis são igualmente relevantes e protegê-los.
Quem foi João Migliari: quem for até o Pari para conhecer a vila da Rua Paulo Andrighetti vai notar que há uma rua particular bem no meio do lote. E esta rua tem o seguinte nome: Travessa Maria Parente Migliari. O que esta mulher tem em comum com João Migliari? Eles eram marido e esposa.
Falecido em outubro de 1951, João Migliari foi figura bastante conhecida e importante no meio automobilístico paulistano. Durante anos presidiu a extinta Sociedade Beneficente dos Chauffeurs, criada em 1911, cuja sede era localizada na Rua do Carmo, no bairro da Sé. A instituição surgiu inicialmente para a defesa e apoio aos motoristas de São Paulo, numa época em que ainda não haviam direitos trabalhistas.
Migliari foi figura de destaque também no meio automobilístico, sendo conhecido por atuar como respeitável e disputado mecânico e preparador de carros de competição, mantendo oficina mecânica por vários anos no número 985 da Avenida Celso Garcia.
João Migliari faleceu em outubro de 1951.
Texto 3:
Na noite da segunda-feira (02/09/2019), ao longo da rua Airi, o ar cheirava a pó e a umidade. O odor emanava do que foi, até o fim de semana, a vila João Migliari.
O que restava do conjunto de casas na Vila Gomes Cardim, distrito do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, foi ao chão às vésperas da reunião, ocorrida na tarde de segunda, em que o Conpresp, conselho municipal do patrimônio, decidiria estudar o tombamento das construções.
Com a decisão, cinco casas ainda de pé ficam provisoriamente protegidas, até que se resolva por tombá-las, ou não.
O conjunto original tinha 60 casas, dispostas em 3 fileiras de 20 casas, geminadas de 5 em 5. Duas fileiras voltadas para a rua João Migliari, e uma para a rua Estevão Pernet, cobrindo a extensão da rua Airi até a rua Itapura.
Embora seja conhecida como vila operária João Migliari, tecnicamente se trata de uma vila de aluguel. Suas casas foram construídas nos anos 50 para ofertar moradia à classe trabalhadora do bairro.
Por meio século, preservaram seu aspecto praticamente inalterado, o que fazia com que a vizinhança pensasse que já faziam parte do patrimônio.
A descoberta de que não era assim veio em 20 de fevereiro. O arquiteto Lucas Chiconi, 25, estava saindo da terapia, em uma das casas da Estevão Pernet, quando sua psicóloga lhe perguntou por que, se a vila era tombada, parte dela estava sendo demolida.
Chiconi postou uma foto no Facebook e, a partir do que chama de “desabafo pessoal”, um movimento pelo tombamento foi se articulando.
A fila de casas derrubada em fevereiro era uma das que se voltavam para a João Migliari. Ela foi adquirida pela Porte Engenharia e Urbanismo, incorporadora responsável pelo conjunto de empreendimentos residenciais e comerciais batizado de Eixo Platina, a “Berrini da zona leste”.
Estavam na quadra que dará lugar a um empreendimento chamado Almagah 227, duas torres de uso misto com apartamentos que partem dos 20 m², por cerca de R$ 300 mil.
“O Eixo Platina conseguiu ali minha primeira objeção”, diz Chiconi. Até então, recorda, a iniciativa de promover adensamento e serviços, com arquitetura de qualidade e ampliando empregos na região, só lhe parecia elogiável.
“A Porte agiu de maneira legal, tinha os alvarás”, frisa. Mas, na sua opinião, não era preciso derrubar parte da vila.
“Aquela linha de casas não afetaria a construção das torres”, diz o arquiteto, lembrando o caso da Casa Bandeirista do Itaim Bibi (zona oeste), hoje envolta pelo arco de um enorme conjunto comercial.
No sábado começaram a vir abaixo as 40 casas remanescentes. Não por obra da Porte, mas por decisão do herdeiro dos construtores da vila, Bruno Lembi, de quem a empresa comprou o primeiro terço demolido.
Para Chiconi, a perspectiva da afluência na esteira do megaempreendimento pode ter fomentado em Lembi o desejo de transformar o que restava da vila em terreno livre para a exploração comercial.
Se sobram hoje cinco sobrados, é quase graças ao acaso.
Ivan Vasconcelos, 56, é dono do bar e barbearia Nostra Máfia, que funciona na casa na esquina da Airi com a Estevão Pernet. Investiu na reforma do local, aberto há cerca de três anos e meio, R$ 200 mil.
Segundo Vasconcelos, o conjunto era muito cuidado pelo avô do atual proprietário, morto no ano passado. “Ele tinha tanto amor que não deixava a gente mudar a fachada, dizendo que era tombado.”
Foi por isso que a vila preservou seu aspecto. “Todo mundo que tinha casa e comércio tinha que manter as janelas marrons, os vitrais, a cor.”
No começo do ano, ele foi informado de que teria de desocupar o imóvel. Lembrando-se do tal tombamento, foi ao Condephaat, órgão estadual do patrimônio, para saber o que poderia ou não acontecer. E descobriu, então, que não havia tombamento.
Todos os demais inquilinos começaram a sair, conta Vasconcelos, conforme venciam seus contratos, porque Lembi, neto do antigo proprietário, havia solicitado as casas.
O empresário afirma ter tentado uma indenização pelo que havia investido. Mudar dali significava também um risco de perda de clientela. Não houve acordo, e Vasconcelos bateu o pé. Com uma liminar, evitou o despejo.
No fim de semana, ao ver a demolição, acionou a polícia e a subprefeitura da Mooca — esta embargou a obra, que estava sendo realizada sem as devidas medidas de segurança, como tapumes.
A multa de R$ 40 mil prevista nesse caso não impediu que o desmanche fosse retomado assim que o fiscal se ausentou do local.
No domingo, 35 casas haviam se tornado uma pilha gigantesca de escombros.
Como a locada por Vasconcelos está ocupada e forma com outras quatro um bloco estrutural, foram poupadas das bolas de demolição. Mas não das marretas.
Na segunda, enquanto os membros do Conpresp ouviam o pleito pelo tombamento, as quatro casas de pé e desocupadas eram desmanteladas por dentro.
Logo após a decisão do órgão colegiado, por volta das 20h, um fiscal foi enviado pela subprefeitura da Mooca para notificar o impedimento à demolição.
Uma cópia da decisão do Conpresp foi também afixada à porta de uma das casas remanescentes.
Pelas janelas, era possível ver, dentro dos sobrados, os capacetes dos operários e os instrumentos da demolição.
Na manhã de terça-feira os homens voltaram. Foi preciso novamente a ação das autoridades para, por fim, segurar a destruição.
A Folha procurou Bruno Lembi para que ele comentasse suas intenções com a demolição do conjunto e por que ela prosseguiu, mesmo com o embargo, ao longo do fim de semana.
Por meio de seu advogado, a reportagem enviou perguntas a Lembi, não respondidas até a conclusão desta edição.
Ao abrir o processo de tombamento, na segunda, o Conpresp aceitou também incluir no estudo outras duas vilas construídas pelos antepassados de Lembi e a ele pertencentes.
Localizadas no distrito do Belém, também na zona leste, as vilas das ruas Marcos Arruda e Paula Andrighetti são mais antigas, da década de 1930, e, como sua irmã mais moça, são de aluguel.
Para Chiconi, é importante preservá-las como lembrança de que os distritos da zona leste, entre os que mais crescem e se valorizam na cidade, não foram sempre ricos, e para evitar o apagamento da memória da cidade.
Ele aponta o que vê como uma distorção trazida pelo Plano Diretor de 2014 ao propor o adensamento ao longo dos eixos de transporte, como na região da vila.
“A gente precisa ter mais espaços de trabalho e sobretudo de moradia perto do metrô, trem, transporte de massa”, diz. Mas pondera: “De onde os bairros partiram? Dos eixos”.
Então “quando a gente fala dos eixos, a gente fala de um embate com a parte histórica desses bairros”, completa ele, lembrando a expansão da zona leste ao longo da malha ferroviária.
Para Chiconi, esse embate precisa estar articulado dentro do poder público.
“O adensamento não tem que significar necessariamente o sacrifício da nossa história. Quando esses prédios completarem cem anos, qual vai ser a história que eles vão contar?”
Nota do blog: O tombamento da Vila Operária da Rua João Migliari se deu após a demolição. É algo inacreditável...

Demolição de Vila Operária, Rua João Migliari, Tatuapé, São Paulo, Brasil


 

Demolição de Vila Operária, Rua João Migliari, Tatuapé, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia

A Vila Operária acima, construída na década de 40/50, com residências de bom tamanho e em boas condições de conservação, foi demolida para a construção de prédios de apartamentos de 30 a 40 metros, verdadeiras casinhas de cachorro, vendidas a preço de ouro. Infelizmente, onde existiam 10 casas, vão existir 150 apartamentos, cada um tendo carro (muitos tendo mais de um), aumentando a quantidade de poluição, lixo, necessidade de serviços, problemas de relacionamento (os apartamentos são tão pequenos que a convivência entre vizinhos é péssima, se um espirra, incomoda o outro ao lado), etc. Além disso, as ruas, as escolas, o esgoto, os transportes, os serviços públicos, o policiamento, os postos de saúde, a quantidade de empregos disponíveis, vão continuar iguais, tornando a cidade, cada vez mais, difícil de habitar. A especulação imobiliária vai acabar com o que resta da cidade...

domingo, 8 de maio de 2022

Luís Ricardo, Um dos Intérpretes do Palhaço Bozo no SBT - Artigo

 







Luís Ricardo, Um dos Intérpretes do Palhaço Bozo no SBT - Artigo
Artigo


Quem vê Luís Ricardo, 59, sorteando a Tele Sena mal pode imaginar a vida cheia de peripécias por trás do terno alinhado e do cabelo engomado. Em parte de sua infância, ele foi criado pela avó, porque sua mãe foi a primeira Monga do país, excursionando como "a mulher gorila". Aos 16 anos, ele morava em um trailer de circo e pegava ônibus de madrugada para chegar antes das 7h, horário que começava a transmissão do Bozo.
Com 19 anos, foi escolhido como intérprete titular do palhaço televisivo e virou o brasileiro mais longevo no papel (nove anos). O sucesso do palhaço era tão grande que Luís Ricardo chegou a ficar ao vivo nove horas por dia. Na época, o SBT de Silvio Santos foi apelidado de "Sistema Bozo de Televisão". Hoje, de tanto que entrou na cultura pop do país, o personagem é até um dos apelidos do atual mandatário nacional.
Após ficar com calo na garganta em 1983 por excesso de trabalho e de maquiagem, Luís Ricardo recebeu a incumbência de selecionar seus substitutos. Um dos escolhidos foi Arlindo Barreto, ex-ator de pornochanchadas, que depois ganhou notoriedade por confessar publicamente que enquanto vivia o palhaço viciou-se em cocaína, inspirando o filme "Bingo: o Rei das Manhãs" (2017).
Luís Ricardo comandava a atração matutina, e Arlindo, a vespertina. Um dia, os dois, fantasiados, se cruzaram em uma escada dos bastidores da antiga sede do canal na Vila Guilherme, zona norte de São Paulo. Arlindo começou criticando e logo passou a xingar o companheiro. Luís ia em direção ao camarim para tirar a maquiagem, e Arlindo o seguiu, disparando palavrões. Luís se irritou e deu um soco. Arlindo tombou para trás e, na queda, quebrou uma parede divisória.
Na sequência, Luís foi até a sala da vice-presidência, pediu demissão para Luciano Callegari e foi embora. Dois dias depois, o executivo pediu para ele voltar. "As maquiadoras contaram a história toda e as provocações. No final, foi ele quem levou a culpa e ficou suspenso por 40 dias, mas quem se ferrou fui eu: tive que trabalhar dobrado. Conto a história, mas prefiro nem citar o nome dele", conta.
Luís Ricardo é a quarta geração circense de sua família no Brasil. "Fiz de tudo, só não fui trapezista", revela. Com chicote na mão, ele guiava leões por pedestais e rodas em chama — uma das aberturas do programa de TV mostrava uma cena dele vestido de Bozo domando os felinos.
Sua bisavó, a catalã Mercedes Corominas, ganhou reputação como "a rainha dos ares" por fazer manobras em um trapézio acoplado em um balão. O jornal "La Voz de Galicia" noticiou em 3 de outubro de 1909 que marinheiros salvaram a intrépida mulher quando o artefato caiu no mar diante de Vigo (Espanha). Em 1911, ela e o marido, o português Francisco Monteiro, migraram para o Rio, onde ganharam a vida fazendo essas demonstrações aéreas.
O próximo parente a fazer grande sucesso foi seu tio Romeu Del Duque, o criador da atração Monga. O cachê milionário no programa de Flávio Cavalcanti, na extinta TV Tupi, fez Romeu lembrar de um brinquedo de ilusionismo que transformava uma boneca em macaco. Era 1969, e ele decidiu montar um dispositivo suficientemente grande para que entrasse sua irmã Marly, a mãe de Luís Ricardo. O truque de luzes, vidros e reflexos arrebatou o público e a audiência.
Com o prêmio, ele bancou a construção da atração que fazia multidões correrem por circos e feiras pelo Brasil todo. Até que, em 1974, a Monga foi convidada para a festa junina que inaugurou o Playcenter, à época o maior parque de diversões da América Latina. Tamanho foi o êxito que a mulher gorila virou inquilina no local por 15 anos, entrando no imaginário de mais de uma geração.
"Quando tinha uns oito anos, eu comecei a participar também do número. Ficava bem na frente do palco e começava a gritar e correr quando minha mãe virava macaco. Aquele pavor contagiava as pessoas", lembra.
Marly Monteiro, hoje com 75 anos, diz que dava risada com os tropeções da plateia, mas foi se cansando do papel, apesar de só precisar ficar de pé atrás da jaula, afinal, era o integrante dentro da fantasia peluda que corria atrás dos pagantes. Mas por dia aconteciam dezenas de sessões, nos mais variados climas, e ela tinha que vestir sempre de biquíni de lantejoulas.
Naqueles tempos, só vedetes ou mulheres que trabalhavam em circo topavam ficar seminuas diante do "honorável público". Hoje em dia, o número da Monga é popular ainda em parques do interior do país, e não é difícil encontrar uma jovem para a função — o Beto Carrero World, por exemplo, tem um estande com a metamorfose.
Esse truque de ilusão de ótica existe há pelo menos 150 anos, e o cientista inglês John Henry Pepper (1821-1900) foi o maior divulgador, com um dispositivo inicial que transformava um lorde em fantasma. Aclimatado ao Brasil, a apresentação aterrorizante fez sucesso com uma beldade feminina se transformando em fera violenta.
Seus primos ainda trabalham em circo, mas Luís Ricardo deu uma guinada na sua família quando começou a aparecer diante das câmeras. "Meu pai era contra porque já tinha trabalhado na TV Record e na Globo e dizia que lá era muita droga e putaria para um adolescente frequentar. Foi minha mãe que liberou que trabalhasse na TV quando prometi que ia direto dos estúdios para casa", recorda o apresentador.
Último parceiro do icônico Piolin, Franco Monteiro, hoje com 82 anos, deu vida ao palhaço Xuxu, que trabalhou também com Carequinha e Arrelia e esteve no elenco de programas infantis dos anos 1970 como Zás Trás e Vila Sésamo. Franco teve também vários circos. Durante uma temporada no bairro paulistano de Santo Amaro, ele conheceu Marly, casaram e tiveram um único filho, que logo aos oito anos já ajudava vendendo algodão doce na plateia.
Luís Ricardo foi descoberto por Valentino Guzzo, produtor e comediante que incorporava a Vovó Mafalda no programa do SBT. Aproveitando a fama televisiva, Guzzo se apresentava em vários circos na periferia paulistana, como o Real Miami, de propriedade da família Monteiro. E lá testemunhou a versatilidade do garoto, que atuava de locutor até equilibrista de pratos.
No programa do Bozo, Luís Ricardo começou fazendo números circenses quando o Bozo era interpretado pelo gaúcho Wanderley Tribeck, mais conhecido como Wandeko Pipoka. Em 1982, porém, Silvio Santos decidiu que o programa se basearia em jogos com participação dos telespectadores por telefone. O Bozo sairia do palco e sentaria em uma banqueta para atender as ligações da criançada. Wandeco foi contra e saiu do ar. O espaço estava aberto para o novato ser chamado.
Na pandemia, Luís Ricardo substituiu no ar quase toda a família Abravanel, apresentando cinco programas, todos de sorteios ou jogos. "Não podem dizer que não fui corajoso", brinca.
Era o mesmo destemor necessário para atender telefonemas de gente imatura quando comandava competições como Jogo da Memória, Batalha Naval e Bozo Corrida — um brinquedo de cavalinhos com pista de 40 cm que Silvio comprou nos EUA e que ajudou o programa chegar a 45 pontos no Ibope, derrubando a programação feminina nas manhãs da TV Globo e trazendo Xuxa da TV Manchete para enfrentar a franquia circense dos EUA.
A maioria dos pimpolhos ligava atrás de um prêmio, mas havia quem trocasse uma bicicleta nova por uma ofensa televisionada. "Alô, amiguinho" precedia um silêncio. "É o Bozo?" se ouvia em tom inseguro do outro lado da linha. O entusiasmo ensaiado do "sim, amiguinho!" era logo correspondido com um "Vai para p... que te pariu". "Eu logo emendava: 'O que, amiguinho, uma ponte partiu?' Já tinha preparado algumas piadas porque era palavrão toda hora", lembra o apresentador.
Sempre negando que era o Bozo, Luís Ricardo foi ainda coadjuvante no último filme de Mazzaropi, "O Jeca e a Égua Milagrosa". E tentou a vida de cantor, gravando LP com temas românticos da novela "Sombras do Passado" (1983), a primeira do SBT a obter boa audiência, e o jingle do desenho "Duck Tales". "O Silvio Santos chegou pra mim e perguntou: 'Você quer ser apresentador ou cantor? Muita gente canta, mas apresentador mesmo há poucos.' Ali, ele me sinalizou o caminho", afirma.
Luís Ricardo foi jurado do Show de Calouros até 2009, quando passou a fazer os anúncios dos produtos Jequiti e os sorteios do Baú e Tele Sena. Adotou o paletó completo como fantasia e alguns cacoetes do patrão. "São 40 anos de SBT. Não tem como não seguir a linha dele. Eu até queria rejuvenescer o figurino, mas o terno, querendo ou não, dá mais credibilidade."

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Selo "Rio Grande de Pé Pelo Brasil / Nego", Brasil


 

Selo "Rio Grande de Pé Pelo Brasil / Nego", Correios, Brasil
Selo

Selo emitido em comemoração à revolução de 1930. Trata-se de propaganda de Getúlio Vargas e João Pessoa. Provavelmente foi emitido em 1931.