Alfa Romeo Stelvio, Itália - Jeremy Clarkson
Fotografia
Quem acorda pela manhã suando como um disléxico num teste de
soletrar só porque o novo Audi Q5 vai estrear nesse dia? Que adolescente vai
colar um pôster de um carro como esse na parede do quarto? Quem vai pensar o
quanto terá de trabalhar para pagar essa coisa e achar que o esforço vale apena? Ninguém.
Você compra um carro desses da mesma
forma que compra sabão em pó. E quem quer ler 1.200 palavras sobre o lançamento
de um sabão em pó com uma embalagem melhorada?
O que eu posso lhe dizer antes de sair do lugar foi que
detestei seu motor. O turbo de 2 litros pós-Dieselgate da Volkswagen é possivelmente o motor mais sem
graça instalado em um carro em todos os tempos.
É quase tão empolgante quanto o motor da sua máquina de lavar roupa. Quer dizer, você
só nota sua existência se alguma coisa der errado.
Vou ser honesto com você. Detesto toda a safra atual dos chamados SUV, exceto os que
eu detesto intensamente. Não consigo entender a razão
de dirigir um carro que é mais lento, mais caro e que consome mais combustível
que um sedã ou perua normal. Parece algo burro.
Mas recentemente eu tive de fazer uma viagem rápida à Toscana e, ao chegar ao estacionamento do
aeroporto de Pisa, encontrei um cara me oferecendo a chave do novo Stelvio da Alfa Romeo.
Batizado com o nome de uma rota alpina remota do norte da Itália, ele é um rival direto do Q5 e todas
as outras peruas médias anabolizadas cujos nomes nem me preocupo em me lembrar.
Resumindo, é um sedã Giulia em pernas de pau, e eu estava determinado a odiar cada pedacinho dele.
O cara fez questão de tirar uma foto comigo e dizer o quanto
gostava do programa Top Gear, mas eu não estava prestando muita atenção. O que estava
na minha cabeça era: “O que, em nome de tudo que é sagrado, a Alfa Romeo estava pensando?”
Se você tem uma tradição tão glamorosa e dolorosamente elegante
como a Alfa, por que iria fazer um carro
para levar as crianças para a escola?
É como a Armani resolver fazer
sacolas de compras.
Os engenheiros se esforçaram ao explicar que, embora o Stelvio
tenha o visual de um SUV, dirigi-lo não é como dirigir um. Eles dizem que
toda a potência do motor é mandada
para as rodas traseiras, mas se houver perda de tração, até metade da força é enviada instantaneamente para a dianteira.
Eles também falam sobre um eixo de transmissão de fibra de
carbono e muito alumínio leve na carroceria, e eu fiquei ali pensando: “Sim,
mas continua sendo uma maldita sacola de compras”.
Eu tive o mesmo sentimento de raiva de ranger os dentes quando
encontrei o Maserati Levante pela primeira vez, e ocorreu que ele era tão ruim
quanto eu temia. Mas, enquanto o cara trazia mais amigos para mais selfies, eu
comecei a observar o Stelvio com
mais cuidado, e não dá para ignorar
o fato de que ele é bem bonito.
Depois de eu posar com toda a força
policial, todos os funcionários da segurança
de fronteira e 3.000 motoristas de táxi, e todos amavam o Top Gear, era hora de
entrar no Stelvio, e não dá para
negar o fato de que ele é um lugar legal para se sentar. Muito, muito mais
legal do que o Audi.
Existe alguma escultura genuína no seu interior. Em um Q5, você
fica com a impressão de que o painel foi
construído com o cuidado de um tampo de cozinha. É só uma base para os
mostradores e botões.
Já a Alfa fez um que
vale a pena olhar. Acho que deve ser
coisa dos italianos. É por isso que Siena é um lugar melhor para se sentar e
ficar olhando as pessoas do que Dortmund.
Mas mexer no GPS foi um desafio. Porque cada cidadezinha
italiana tem 5.000 letras no nome, e quando você enfim consegue digitá-lo, o
GPS pergunta em qual Santa Lucia del Menolata di Christoponte você quer ir. Só
que há 5.000 cidadezinhas com esse nome.
Finalmente, achei a cidade
certa e liguei o motor. A diesel.
Deus do céu. Um SUV Alfa Romeo a diesel.
Como todos na Itália têm carro a diesel,
não pareceu tão estranho sair do estacionamento com o barulho típico desse
motor. Depois ficou tudo bem, pois logo estava na rodovia, onde se mostrou
muito potente.
Os números dizem que essa versão 2.2 de 210 cv vai de 0 a 100 km/h em 6,6 segundos, o que é bom. Mas
é a força em média rotação que mais
impressiona. É uma força que você não consegue num Audi Q5.
E não é como se você deixasse uma trilha de morte por onde
passa, porque, apesar da potência e
do torque, o motor do Stelvio é mais limpo do que o diesel do Porsche Macan.
E a Alfa diz que ele faz mais de 25
km/l.
Então, ele é tão rápido quanto o emblema sugere. Mas sua
dirigibilidade é tão boa quanto a Alfa
promete? Bom, já que é mais de 18 cm mais alto do que o sedã e possui molas
mais longas, ele é mais mole. Mas isso não seria um problema, se a Alfa não tivesse lhe dado uma direção tão
direta.
O menor movimento do volante causa uma enorme mudança de
direção, o que é ótimo quando você está em um automóvel baixo, mas quando está
na autoestrada e um caminhão que decidiu entrar na sua frente de repente,
porque o motorista está olhando o celular em vez de prestar atenção na estrada,
pode ser um pouco alarmante.
Leva tempo para aprender a planejar
como vai fazer as curvas, mas, quando você chega lá, tenho de dizer que é um
carro genuinamente empolgante de dirigir.
Ele não parece tão desajeitado como todos os outros SUVs, e
você tem a impressão de que ele foi
desenvolvido por pessoas que estavam envolvidas no projeto porque queriam. Não
como castigo.
E, por causa disso – porque ele é um carro grande e prático,
com um grande porta-malas, assentos dobráveis e um monte de compartimentos para
guardar objetos, e também é um Alfa Romeo -, é o único SUV que me é um tanto
quanto tentador. E pode ficar irresistível quando a Alfa lançar a versão
com motor a gasolina de 500 cv.



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