Lada, Pioneira da Abertura das Importações, Passa de "Mico" a "Colecionável" no Brasil, Artigo
Artigo
A reabertura das importações em 1990 foi marcada pela
trajetória de uma das marcas mais famosas da Rússia no Brasil. A Lada foi a
primeira empresa a trazer carros para cá e logo fez sucesso com modelos que
seduziram clientes muito mais pela relação custo-benefício do que por atributos
como o design.
A meta da Lada era ousada: vender cerca de 50 mil carros por
ano, o que representava 6,5% do mercado nacional. Logo no primeiro ano, 15 mil
veículos foram faturados e a rede de concessionárias chegou a 126 revendas.
"Eram carros com motor 1.6, espaçosos e que custavam US$ 5
mil, enquanto um Uno era vendido por US$ 6.500. A marca fez muito sucesso,
especialmente entre os taxistas, que viram no Laika um carro espaçoso e barato
para trabalhar", relembra o jornalista Flavio Gomes, um dos maiores
entusiastas da marca russa no Brasil.
Porém, problemas de qualidade nos carros (que vinham da Rússia
sem qualquer adaptação para as altas temperaturas do nosso país) fizeram as
vendas desabarem com a mesma rapidez. A queda foi de 66% em 1991 e os números
só pioraram até a marca sair do Brasil em 1995.
Desde então, pouca gente se aventura a comprar um Lada no
mercado de usados. A única exceção é o Niva, o robusto jipe que tem uma legião
fiel de fãs. Outros modelos, como o Samara (um dos primeiros modelos a vir para
o país, ao lado do Niva), são quase impossíveis de serem encontrados em estado
decente de conservação.
Mesmo assim, a marca ganhou espaço no universo do
antigomobilismo nos últimos anos. Alguns exemplares em estado impecável de
conservação já são vendidos por valores muito acima do usual, especialmente por
lojistas conhecidos por inflacionar preços.
Um dos motivos para a inflação acontece porque os carros da
Lada já podem receber placa preta neste ano. Uma perua Laika SW azul foi o
primeiro Lada a receber o sonhado atestado de originalidade.
Mas não é só no mercado de carros antigos que a Lada está
lentamente reconquistando espaço. Os modelos da marca estão sendo procurados
por pessoas que desejam um carro mais barato com tração traseira, inclusive fãs
de preparação.
"Até pouco tempo atrás o Laika era muito desvalorizado,
mas os preços subiram muito, especialmente pelo fato de ser um carro com tração
traseira. Conheço alguns carros que foram preparados, sendo um deles com 320 cv
na roda e o outro preparado para provas de track day", afirma Paulo
Gastaldo, fundador do Lada Clube SP.
O clube nasceu de forma tímida nas redes sociais, mas cresceu
rapidamente e hoje realiza até encontros mensais na Praça Charles Miller, em
São Paulo (SP).
"Nosso grupo tem por volta de 700 pessoas no Facebook e 300 carros. Já
fizemos alguns passeios, como viagens para Pedra Grande e Paranapiacaba, e uma
vez por mês fazemos um churrasco comunitário, normalmente às terças ou
quartas-feiras", declarou.
O engenheiro de produção conheceu a marca quando era criança,
já que seu pai foi dono de um Laika e sua mãe dirigia um Samara.
"Lembrei da Lada quando estava procurando um carro com
tração 4x4. Pesquisei um (Jeep) Cherokee, mas me assustei com o custo de
manutenção, e aí fui atrás de um Niva porque queria um carro pequeno e com
câmbio manual".
Depois de comprar algumas peças para seu Niva pela internet,
Paulo resolveu abrir um negócio para vender peças de reposição para carros da
marca. Faltava, porém, uma maneira de trazê-las de forma mais rápida, e foi aí
que Paulo viveu uma situação hilária que mudou sua vida.
"Resolvi ir até o Consulado da Rússia em São Paulo e fui
atendido muito bem até a hora em que descobriram o motivo da visita. Fui
expulso ouvindo palavrões de todos os tipos em russo (risos). Entrei em
comunidades de brasileiros na Rússia e encontrei um rapaz que morava em Moscou
e conhecia um amigo em Togliatti (cidade-sede da Lada). E esse cara conhecia um
amigo que trabalha na linha de montagem da Lada", revelou.
As conversas evoluíram e rapidamente a loja online de Paulo
cresceu. "Consegui o contato de algumas fornecedoras e hoje sou o
representante oficial de um deles aqui no Brasil".
Agora, Paulo está envolvido em um projeto ainda mais ambicioso.
Se tudo der certo, ele será o primeiro e único dono de um Niva 0km no Brasil.
"Estou trabalhando para importar um Niva da Rússia e
pretendo trazê-lo pronto de lá. O processo (de importação) é relativamente
fácil, mas a conversão direta de valores faz com que ele passe dos R$ 45 mil
que custa lá para R$ 125 mil. Poderia até trazê-lo de um dos países em que a
Lada vende carros na América do Sul (Peru, Chile ou Bolívia), mas aí precisaria
pagar dois impostos de importação, uma vez que o chassi do Niva é de origem
russa".
Nota do blog: O carro da foto é um Lada Samara.

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