Lamborghini Huracán Performante, Itália - Jeremy Clarkson
Fotografia
Hoje estamos acostumados a carros que bipam e apitam
constantemente.
Eles apitam quando você abre a porta, quando você não põe o
cinto de segurança de imediato, se você colocar uma sacola de compras no banco
do passageiro, quando você tenta dar a partida sem pisar na embreagem, se achar
que você vai bater num poste, quando você se esquece de desligar os faróis ou
mesmo se você deixar o celular no porta-luvas.
Alguns apitam até mesmo quando você cochila ao volante.
Mas, quando se trata de fazer sons irritantes o tempo todo sem
motivo algum, nada chega perto do Lamborghini Huracán Performante. Ele apitou
quando dei a partida numa manhã gelada de Londres.
Era porque a TSU estava falhando. Eu não tinha ideia do que era
uma TSU, mas ela falhou de novo momentos depois, com outro apito para me
alertar do fato. E, após mais ou menos um minuto, apitou de novo.
Então liguei para a Lamborghini, que disse que o carro que eu
tinha era de pré-produção e que a telemetria não estava instalada corretamente.
Levei-o então a uma concessionária, que o ligou a um notebook e disse que os
apitos iam parar.
E veio um novo apito quando voltava para o escritório. De novo
peguei os óculos, para ver o que estava errado. E, segundo uma pequena mensagem
no painel eletrônico, algo chamado MMI desativou-se.
Como a desativação da misteriosa MMI (acabei descobrindo ser a
interface multimídia) não estava fazendo diferença no meu percurso e só tinha
havido um apito, eu achei que podia viver com isso.
Naquela tarde, viajei para fora de Londres, e quando entrei na
rodovia principal o carro apitou de novo. Outra vez peguei meus óculos para ler
a mensagem, que desta vez dizia que eu devia desligar o motor e verificar o
nível do óleo. Eram 6 da tarde, eu estava em uma estrada e garoava. Então achei
que isso poderia esperar até o próximo posto.
Ao reduzir a velocidade para pegar o acesso para o próximo
posto, a luz de alerta desligou. Ela decidiu que, no fim das contas, havia óleo
suficiente no motor, por isso acelerei de novo. Só que, dez minutos depois,
mais um apito me informava que o nível de óleo estava baixo e deveria parar.
Mas não parei. Eu estava ocupado demais tentando ligar o GPS,
que não estava funcionando. E então a luz de alerta do óleo apagou de novo. E
tudo estava bem.
Só que não. Porque, a essa altura, eu estava tentando achar o
botão de acionamento dos limpadores de para-brisa. E a cada vez que você tenta
ligar os limpadores de para-brisa, acaba ouvindo a Classic FM com seu pisca
esquerdo ligado.
A coisa fica pior quando você está na estrada e precisa do
farol alto, porque quando solta o botão, o farol alto desliga. Então você tem
de apertá-lo de novo, exceto o fato de que nesse ponto você está fazendo uma
curva e acabou desligando os limpadores de para-brisa.
Em desespero, fiquei mexendo nos botões perto do meu joelho
direito, até que todas as luzes se apagaram. Então, estou a 80 km/h, está
escuro e chovendo e nem os faróis nem os limpadores de para-brisa estão
ligados.
Logo após resolver isso tudo – com uns bons xingamentos –
acabei atrás de um Audi que parecia estar sendo dirigido por uma lesma.
Eu precisava desesperadamente chegar em casa até as 7 da noite,
então coloquei o Huracán no modo Corsa (corrida), o que fez com que o painel de
instrumentos se transformasse em um enorme conta-giros, e quando encontramos
uma pequena reta cravei o pé no acelerador.
E o resultado foi um som diferente de tudo o que eu já tinha
ouvido. Claramente, o motor havia decidido que o óleo tinha acabado, e
explodiu.
Em pânico, eu desisti da manobra de ultrapassagem e tirei o pé
do acelerador. E então me dei conta de que era apenas o barulho que um Huracán
faz quando você o cutuca com uma vara.
Enfim, consegui ultrapassar o Audi, mas daí já era tarde
demais: perdi meu compromisso. Mas no Lambo isso não é problema, porque o carro
é tão barulhento que você não ouve mais nada. Nunca mais.
O som começa como uma britadeira e daí, quando se pisa fundo,
você tem bebês chorando, bombas improvisadas explodindo, o vulcão Krakatoa, The
Grateful Dead, um F-1 antigo com motor V10 em plena aceleração e um esquadrão
de caças F-15 em potência de combate. Tudo isso no seu carro. Ao mesmo tempo.
O que é extraordinário é que o carro não é grande. Sim, ele é
ornamentado com uns defletores estranhos na traseira e sua frente se parece
meio com um focinho. E meu carro de teste era laranja. Mas ele não é grande. É
o que torna o som que ele faz meio ridículo.
Porém, ao ouvir aquele motor naqueles quilômetros finais até
chegar em casa, acabei ficando totalmente apaixonado. O carro é maravilhoso. Um
carro brilhante. Uma joia absoluta.
A Lambo diz que é porque criou um jeito de fabricar fibra de
carbono, que pode produzir peças pequenas complexas, o que quer dizer que o
Performante é mais leve do que você esperaria. Só que não. Com quase 1,4
tonelada, ainda é gordinho.
E ele ainda tem um sistema de tração nas quatro rodas
desajeitado, e seu V10 de 5,2 litros – provavelmente o último da espécie – é
basicamente o mesmo motor que você encontra na versão padrão.
Porém, essa coisa é estupidamente rápida. Em linha reta, ele
deixa uma Ferrari 458 Speciale no chinelo. E em Nürburgring ele é mais rápido
do que hipercarros que custam 1 milhão de libras esterlinas. E não é só rápido.
É empolgante.
Ele pode fazer o som de um universo se formando e sua cabeça
pode ficar pregada no encosto, mas você ainda pode senti-lo soprando suavemente
nos pelos do seu braço. Este é um carro que ruge e ronrona ao mesmo tempo. É
como um tomatinho italiano – pequeno, brilhante e tão cheio de sensações que
fazem você ficar louco.
Sim, ele também é irritante. Meu modelo de teste de
pré-produção foi, de longe, o veículo mais irritante que já dirigi, mas isso
também faz parte do charme. É o que faz com que este carro pareça humano. É o
que lhe dá uma alma. E é o que torna um carro bom em excepcional.



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