Mercedes Benz AMG GT C Roadster, Alemanha - Jeremy Clarkson
Fotografia
Como sou extremamente classe média, a escola dos meus filhos
organizou viagens de intercâmbio com alunos de uma escola de Tóquio.
Isso quis dizer que meus filhos passaram umas semanas comendo
peixe que ainda estava vivo e depois tiveram de hospedar pequenos japoneses que
não tinham ideia do que fazer com uma colher.
Eu peguei uma dessas crianças no aeroporto e rapidamente ficou
evidente que a menina não falava inglês. Ela ficou vagando no saguão após 11
horas de vôo, sofrendo um jet lag terrível, e foi recepcionada por um homem
alto e gordo como nunca viu.
E ele se comunicou no que para ela deve ter soado como
grunhidos de um animal de fazenda. Algo realmente bem desorientador.
Coloquei sua bagagem no porta-malas e ela sentou atrás
segurando o que seria uma máquina tradutora maravilhosa. A ideia era que a
menina falasse para ela e então a máquina repetisse para mim em inglês.
Logo após entrarmos na rodovia,
eu podia ver pelo retrovisor que minha hóspede microscópica estava tentando
ligar a máquina. No meio do caminho, começou a ficar desesperada, pois estava
tendo dificuldades.
Bem mais tarde, ouvi o bipe revelador de que ela tinha tido
sucesso e logo ela falou algo em japonês para a caixinha eletrônica
maravilhosa. Ela então a colocou perto do meu ouvido enquanto a máquina falava,
com uma voz eletrônica: “Enjoo de carro”.
Nas duas semanas em que ficou conosco, ela passava mal depois
de comer atum enlatado, purê de batatas, sorvete e qualquer comida que
estivesse morta.
Mas aposto que se você perguntasse a ela hoje qual foi sua pior
experiência, diria que foi aquele dia na rodovia,
no carro, enquanto ela lançava o conteúdo do seu estômago nos matinhos ao lado
da estrada.
O enjoo de movimento é algo terrível. Você quer morrer. Uma vez
eu vi um cara deitado no chão do banheiro de um ferryboat que fazia a travessia
do Canal da Mancha.
A viagem foi a mais turbulenta que já vi. Todos ficaram tão
enjoados que o banheiro virou um lago de vômito. Que ficava sendo jogado sobre
pobres coitados como eu.
E tudo isso me leva ao Mercedes-AMG GT. Quando o vi pela
primeira vez, achei que fosse uma versão mais reduzida e realista do insano SLS
AMG, com sua trilha sonora louca e suas portas asa de gaivota.
Por isso, supus que ele também seria um modelo único, de
imagem. Mas não. A Mercedes o transformou em uma linha completa, que agora é
tão complexa que você pode escolher a potência do motor e a cor do banco.
Bom, como eu já tinha pilotado o superduro e barulhento GT R
cupê, sobre o qual tenho minhas dúvidas, pensei que, já que é verão aqui, eu
deveria experimentar o ligeiramente menos potente, mas ainda bem vitaminado, GT
C Roadster.
Assim como o “Sim, Eu Sou Um Carro de Corrida” GT R, ele tem
direção nas quatro rodas. Se você estiver buscando o recorde em Nürburgring
(que, por sinal, o GT R detém para carros de produção com tração traseira),
isso é sensacional.
Quando se dirige um carro com as quatro rodas direcionáveis,
você sempre fica espantado com a prontidão com que ele muda de direção. Mas eu
não estava em Nürburgring.
Estava em Oxfordshire, dirigindo de forma não muito rápida,
quando minha passageira pediu que parasse: ela estava com enjoo de carro. E a
última vez em que isso ocorreu foi quando eu a estava levando num Porsche 911.
Que também tem direção nas quatro rodas.
O problema é que quando você gira o volante, mesmo que só um
pouquinho, o carro vira num segundo. É muito instantâneo e, quando você é o
passageiro, não dá tempo de se segurar ou mandar um sinal para que seu estômago
aguente firme.
O motorista pode adorar essa sensação, mas acho que pode ser o
fim do relacionamento com quem estiver no banco do passageiro.
Uma pena, pois há muitas coisas legais nesse carro. Ele tem o
visual de um produto AMG tradicional: grande, agressivo e pesado.
Mas, de fato, ele é mais leve do que você poderia imaginar,
graças a um chassi feito de hélio e uma tampa de porta-malas fabricada com
feitiçaria. E também um pouco de magnésio.
O que significa que o grande V8 turbocomprimido, que responde
tão rapidamente quanto a direção, tem muito menos para empurrar do que você
poderia pensar. O que significa que o carro é rápido. Passando dos 315 km/h.
Ele também tem uma fabulosa arremetida, que levanta a frente e
agacha a traseira quando você crava o pé no acelerador.
Eu gostaria de dizer que essa velocidade é surpreendente, mas
você sabe desde o momento em que liga o motor, e os escapamentos acordam todo
mundo em um raio de 20km, que será uma loucura.
O surpreendente é que você pode aproveitar boa parte da
velocidade com a capota aberta. Uma vez que o interior se mantém silencioso e
sereno.
Já o banco do motorista é um lugar agradável para se sentar.
Claro, a alavanca de câmbio é montada mais perto do porta-malas do que da sua
mão e, sim, há um monte de botões para confundi-lo.
Uma vez eu desliguei o que achava que era o recurso start-stop
e então passei o dia inteiro em terceira, pois na verdade
eu tinha colocado a caixa automática de sete marchas no modo manual.
Minha única reclamação real é a aspereza da suspensão. Ela é
firme. Firme demais. O que é desnecessário, pois esse não é um carro de track
day.
É um carro de passeio bonito e chamativo. Ou um devorador de
rodovias. Ele deveria ter uma suspensão mais macia. E poderia dispensar essa
direção nas quatro rodas.
A Mercedes não deveria tentar fazer superesportivos. Isso é
para a Porsche. O que ela deveria fazer, em vez disso, seria levar esse veículo
de volta para a prancheta e transformá-lo, que já está quase lá, de novo em um
AMG Mercedes. Isso seria absolutamente genial.



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