Monumento do IV Centenário da Fundação de São Vicente, São Vicente, São Paulo, Brasil
São Vicente - SP
Fotografia - Cartão Postal
São Vicente, Cellula Mater da Nacionalidade, comemorou 450 anos de fundação oficial em 1982 (hoje, 2024, tem 492 anos).
Nas pesquisas que fizemos, não encontramos qualquer documento que nos revelasse como teriam sido as festividades de 22 de janeiro de 1832. Todavia, farta e copiosa documentação possuímos, em nosso arquivo particular, referente às solenidades por ocasião do IV Centenário da Fundação de São Vicente. Foi nesse ano de 1932 que se lançou a pedra fundamental do monumento (Coluna-Padrão), erguido sobre um ilhéu chamado Pedras do Mato, porque outrora estava ligado ao sopé do Morro dos Barbosas, mas as águas das marés o separaram, avançando pela terra dentro e formando afloramentos rochosos naquele recanto de praia de São Vicente.
Esse montículo de rochedos constituía baliza interna de pilotagem ou desembarque, enfrentando a barra em linha abrigada ao nascente pela Ilha do Mudo (atual Ilha Porchat) e no poente pelos morros do Paranapoãn ou Paranapuan - linha reta Noroeste-Sudeste que tangenciando a ponta da Ilha Porchat, poderia ter sido a divisória interior da donataria de Pero Lopes, encravada nas 100 léguas de Martim Afonso de Souza.
O 22 de janeiro de 1932 - Seria por demais extenso relatar as solenidades desse dia memorável. Contudo, deve-se ressaltar que a alvorada desse dia anunciou-se com alertadora salva de vinte e um tiros. Toda a população, vicentina e santista, despertou bem cedo e acorreu à Biquinha de Anchieta. Defronte à praça 22 de Janeiro e à direita da tradicional Biquinha, erguiam-se majestosos painéis alusivos ao desembarque de Martim Afonso de Souza em 1532, ladeando o altar pousado no sopé do Morro dos Barbosas.
Às dez horas chegou o bispo de Santos, dom José Maria Parreira Lara. Vinha pontificar a missa campal que se celebrou, ouvindo-se, nessa ocasião, o coro de Santa Cecília, da capital paulista. Depois, a comitiva dos governos estadual e federal, as autoridades locais, os representantes consulares, clericais, associativos e jornalísticos entraram no recinto da Exposição-Feira, que ocupava meia quadra de frente para a Praça 22 de Janeiro. Nela estavam armadas várias barracas de diversões e restaurantes, em volta do Pavilhão do Centenário, onde foram reunidas relíquias históricas e ricos mostruários de industriais e comerciantes.
A cerimônia nesse recinto iniciou-se com o lançamento simbólico da pedra fundamental da Coluna-Padrão, com que a colônia portuguesa de Santos prestava homenagem aos vicentinos pela comemoração do quadricentenário da fundação jurídica do primeiro povoado no Brasil. A pedra em forma de paralelepípedo foi destampada, mostrando a cavidade quadrilátera, onde colocaram depois a ata, moedas e jornais, selando-a, e amarrando-a com larga fita verde-amarela.
Então, o notável escritor e historiador dr. Ricardo Severo proferiu admirável oração. Em nome dos portugueses ofertava o padrão comemorativo da fundação da primigênia cidade de São Vicente. O monumento a ser erigido na ilhota, tão conhecido hoje pelos nossos cartões postais, deveria igualar-se aos modestos padrões quinhentistas que os colonizadores e navegantes plantaram nas terras descobertas.
Mais de um ano se passara do lançamento simbólico da pedra fundamental do monumento. Finalmente, na manhã de 19 de março de 1933, após a missa campal celebrada no Largo da Biquinha, foi inaugurada a placa de bronze com a inscrição: "1553 - Biquinha de Anchieta - 1578. Retive neste recanto, como luzeiro de suas tradições, Joseph de Anchieta, reitor do Colégio de São Vicente (1569-1576), Evangelizador da capitania de Martim Afonso, herói da fé e taumaturgo do Brasil".
Essa placa foi oferecida pelo Sr. Antônio Zuffo e descerrada pela sua própria filha. O padre Genésio Nogueira Lopes, vigário geral da Diocese e celebrante da missa no altar debaixo da pérgula ao lado da Biquinha, em nome do bispo de Santos, Dom Lara, agradeceu a homenagem póstuma a José de Anchieta, no dia de seu onomástico.
O povo ocupava todo o largo; e, à frente, viam-se as autoridades, os prefeitos municipais de Santos (Aristides Bastos Machado) e de São Vicente (José Monteiro), o escritor Carlos Malheiro Dias, o historiador Afonso de Taunay, o engenheiro Ricardo Severo e os membros da comissão portuguesa do quarto centenário vicentino.
Na Câmara Municipal, para onde todos se dirigiram, depois da missa, realizou-se a entrega da Coluna-Padrão erigida nas Pedras do Mato, pela Comissão, ao prefeito. Em seguida ao agradecimento do Dr. José Monteiro, leu o capitão Luiz Antônio Pimenta longo discurso sobre o significado da cerimônia da oferta do monumento pelos portugueses de Santos e São Vicente, como prova de amizade dos dois povos irmãos e como reminiscência da fulgurante colonização lusa no Brasil.
Em seguida, todos voltaram à Biquinha, em cujas proximidades ficam as Pedras do Mato, rentes à praia. No princípio da estrada que circunda o Morro dos Barbosas e leva à Ponte Pênsil (atual avenida Getúlio Vargas), armaram uma ponte (passarela) de madeira até a ilhota chamada "Pedras do Mato", onde se erguia o monumento, coberto com a bandeira do Brasil. Os convidados atravessaram a ponte, acercaram-se do padrão comemorativo, do qual descerraram a bandeira, sob revoada de palmas e ao som do Hino Nacional Brasileiro. Todos, como que extasiados, ficaram admirando a bela e alta coluna de pedra.
Com a inauguração dessa obra de arte, ideada pelo engenheiro e ilustre historiador Ricardo Severo, a Comissão Portuguesa do IV Centenário de São Vicente ofereceu a convidados e jornalistas, às autoridades e aos eminentes intelectuais, substancioso almoço no Restaurante da Ilha Porchat.
"A singela coluna de granito, ereta nas escarpas Pedras do Mato, assumirá monumentais proporções como símbolo", disse o eminente escritor Carlos Malheiro Dias, aduzindo: "Estas ilhas, estas praias, o remanso destas águas, se converterão em um santuário cívico, em um lugar de peregrinação". Lembrou ainda que o Brasil tem a suprema felicidade de saber que "aqui se iniciou a construção da Pátria, que aqui se improvisaram os rendimentos da sua organização social e política".
As pedras do singelo monumento compõem um alto fuste completamente liso, de forma cilíndrica, com seção circular que é símbolo da imortalidade, sem princípio nem fim; com geratrizes retas, paralelas, que sobem verticalmente para as alturas siderais, na estrada infinita do pensamento.
Tem por capitel um prisma quadrilátero, com os quatro escudos:
do Portugal quinhentista, como o trouxeram os navegantes d'além-mar;
de Martim Afonso de Souza, que foi o primeiro capitão-mor, donatário e fundador de São Vicente;
da Ordem de Cristo, signo augusto que marcou os feitos heróicos dos primeiros cruzados e os arquejantes seios das primeiras caravelas;
da atual Pátria brasileira, que estabelece triunfantemente a data atual e o epílogo glorioso de todo aquele passado, que não se fecha no ciclo quadricentenário destas datas, mas se prolonga na trajetória milenária de um povo que marcou na história da humanidade a mais brilhante das suas eras e das suas epopeias.
A cada um destes escudos correspondem verticalmente, no soco do primeiro pedestal, os seguintes lemas:
"Pola ley y pola grey";
"S. Vicente - 1532-1932";
"Talant de bien faire";
"Brasiliae cellula-mater".
Suporta esta coluna uma grande esfera armilar, que foi real e áurea divisa manoelina, figurando nas bandeiras desses primeiros navegadores, donde passou como distintivo heráldico para o Brasil-Colônia, depois para o Reino Unido, e por fim para os Estados Unidos do Brasil.
Encima-a a cruz de Cristo, que foi o espírito, o verbo, a visão, a estrela-guia daqueles heróicos cavaleiros do mar, e assenta nessa imagem geocêntrica do mundo solar, como símbolo sacrossanto do divino crucificado, no espaço celestial das ressurreições, com a sua auréola infinita de firmamentos, dominando o universo terrestre, como o vasto calvário da sublime doutrina cristã, e o reino temporal do Espírito onipotente criador de todos os universos.
Que os vicentinos de hoje olhem para aquele monumento das Pedras do Mato - e aquela arvorezinha (Guapé, da família das Pontederiáceas), que já estava ali antes da inauguração - com todo respeito e carinho, procurando, de todas as formas, preservá-lo do vandalismo. Enfim, foi um presente que ganhamos. Texto de Jaime Mesquita Caldas.
Nota do blog: Data e autoria não obtidas.
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