Vista do Interior da Ponte Marechal Hermes, Pirapora e Buritizeiro, Minas Gerais, Brasil
Pirapora / Buritizeiro - MG
Fotografia - Cartão Postal
A ponte
Marechal Hermes, (início 1912 - inauguração 10 de novembro de 1922) foi a
primeira a ser construída sobre o rio São Francisco. É feita com ferro da
Bélgica e madeira, sendo tombada pelos patrimônios municipal e estadual em
1995.
A construção
da ponte estava inserida no ambicioso projeto de expansão da Ferrovia Central
do Brasil que pretendia interligar a então capital do Brasil, Rio de Janeiro, a
Belém do Pará, no norte do País. A integração do litoral com o interior do
Brasil sempre foi vontade das administrações luso-brasileiras e foi planejada,
de diferentes formas, em outros momentos da história.
No caso das
ferrovias, desde o período imperial, mais especificamente em 1855, traçou-se um
projeto de integração do território, tendo como eixo principal a então Ferrovia
Dom Pedro II, que pretendia cruzar o País de sul a norte, passando pelo Brasil
Central. Após a proclamação da República em 1889, o projeto teve continuidade,
agora transformado na Estrada de Ferro Central do Brasil – EFCB.
Segundo o
relatório do Ministério de Viação e Obras Públicas de 1911, os primeiros
estudos para transpor o rio São Francisco indicavam que seria necessário uma
ponte com 835 metros de comprimento; no entanto, no mesmo relatório, tal
levantamento foi reavaliado e se escolheu um “outro local, a jusante da
cachoeira, reduzindo a ponte a 420 metros de extensão com uma economia de cerca
de um terço sobre o orçamento da obra d’arte primitivamente projetada”. A
mudança fez com que o local da construção da estação Pirapora também fosse
modificado. No entanto, as dificuldades encontradas para a construção da ponte
foram muitas e o projeto foi diversas vezes modificado, inclusive com alteração
da localização original, e com a paralisação das obras, como apontam os
relatórios do Ministério de Viação e Obras Públicas.
Os principais
problemas enfrentados estavam relacionados com as constantes enchentes do rio,
o que impedia a construção das fundações. Em 1912, o ministro da Viação e Obras
Públicas relatou a retomada das obras e informou que a “superestrutura metálica
estava encomendada, devendo o trabalho das fundações, já atacado, continuar por
ocasião da vazante do rio na estação da seca”. No ano seguinte, 1913, as obras
continuaram em ritmo mais acelerado, a nova estação de Pirapora já estava
concluída, assim como o assentamento dos trilhos até a margem direita do rio
São Francisco. O “encontro do lado esquerdo”, também chamado cabeceira, já
estava pronto e a as obras do “encontro”, cabeceira, do lado direito e dos
pilares já estavam iniciadas. Além disso, a superestrutura metálica, importada
da Bélgica, já estava em Pirapora. Tudo parecia caminhar bem quando, em
1914, todo o trabalho desenvolvido foi praticamente perdido. O relatório do
Ministro de Viação e Obras Públicas informava que naquele ano a construção da
Ponte foi abandonada “tendo as cheias do S. Francisco inutilizado o último
encontro e as ensecadeiras para a elevação dos pilares.” Não bastassem as
cheias do rio, os trabalhadores também sofreram com doenças e enfermidades. A
notícia foi que “todos os trabalhos de construção foram prejudicados pela
epidemia de gripe, da mesma forma dolorosa por que o foram todos os serviços de
trafego.”
Tais
inconvenientes fizeram com que o projeto fosse definitivamente abandonado e
novamente alterado o traçado. O rio São Francisco subiu muito durante a cheia,
“meio metro acima da soleira do encontro construído, o que determinou alteração
da grade da linha projetada.” A construção da ponte somente foi retomada em
1918, com uma nova concepção. Após tantos percalços, um novo projeto e um novo
traçado foram definidos. As obras dessa etapa ficaram sob a responsabilidade do
Engenheiro Demosthenes Roched e dos auxiliares Alvimar Carneiro de Resende e
José Paletta de Cerqueira, e a montagem das vigas metálicas foi realizada pelo
Engenheiro Charles Pitet da Empresa Saboia e Cia.
Assim, após
vários anos e muitas alterações, a ponte foi inaugurada em 10 de novembro de
1922 com uma grande festa que contou com a presença de diversas autoridades e
políticos, entre eles o Presidente da República Epitácio Pessoa e o Presidente
de Minas Gerais Raul Soares.
Como
características técnicas, a Ponte Marechal Hermes é uma ponte ferroviária
metálica, estruturada em treliça, com ligações rebitadas. A ponte se apoia em
13 pilares de concreto e tem uma extensão total de 694 metros em 14 vãos, sendo
dez centrais de 50 metros e os marginais de 35 metros cada um. Ele tem 8,40
metros de largura com dois passeios laterais para uso dos pedestres, que foram
colocados mais tarde. Estas passarelas são sustentadas por mãos francesas
metálicas engastadas no vigamento horizontal inferior. Possuem piso de tábuas
corridas assentadas sobre perfis de ferro e a proteção é feita por guarda-corpo
também metálico cujo desenho contrasta com a estrutura principal por seu frágil
aspecto. Na mesma época foram colocadas também, ao lado dos trilhos, peças de
madeira para trânsito de carros.
A ponte na
realidade é um conjunto de várias pontes metálicas com estrutura em treliça
tipo Pratt, com segmentos definidos por pares de pilares. A característica
estrutural desse tipo de ponte é apresentar os elementos da diagonal, peças com
maiores comprimentos, tracionados e os montantes comprimidos. A identificação
desse tipo de estrutura é fácil, pois os elementos diagonais, com exceção das
extremidades, apontam para o centro do vão.
Apesar da
grande expectativa criada com a inauguração da ponte e com o prolongamento da
Estrada de Ferro Central do Brasil, o projeto jamais foi completado. A
construção da ferrovia foi paralisada logo após a travessia do rio São
Francisco, na atual cidade de Buritizeiro/MG. Durante algum tempo a ligação de
Pirapora ao Rio de Janeiro foi bastante utilizada, principalmente, pela conexão
com a navegação do rio São Francisco até o nordeste brasileiro. A construção do
ramal ferroviário ligando Corinto/MG a Montes Claros/MG também contribuiu para
que a importância do trecho de Pirapora/MG fosse gradativamente diminuindo.
Atualmente, a
ponte liga os municípios de Pirapora a Buritizeiro e não funciona para fins de
transporte ferroviário, sendo utilizada apenas para a passagem de pedestres e
motos.
A ponte
tornou-se patrimônio cultural de Minas Gerais em 1983 e o parecer para o
tombamento trazia a seguinte consideração: “Testemunho histórico de relevância
nacional, quer por seu interesse público vinculado a fatos memoráveis da
história do Brasil, quer por sua excepcional solução estrutural, a Ponte
Marechal Hermes terá proteção assegurada com medida legal de tombamento, com
inscrição no Livro de Tombo Histórico”.
Embora não
tenha alcançado os objetivos para os quais fora planejada, e o projeto de ligação
entre o Rio de Janeiro e Belém não se tenha concretizado, a Ponte Marechal
Hermes permanece como um ícone do desenvolvimento industrial brasileiro e
elemento marcante na paisagem da região.
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