quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Vista do Interior da Ponte Marechal Hermes, Pirapora e Buritizeiro, Minas Gerais, Brasil



Vista do Interior da Ponte Marechal Hermes, Pirapora e Buritizeiro, Minas Gerais, Brasil
Pirapora / Buritizeiro - MG
Fotografia - Cartão Postal

A ponte Marechal Hermes, (início 1912 - inauguração 10 de novembro de 1922) foi a primeira a ser construída sobre o rio São Francisco. É feita com ferro da Bélgica e madeira, sendo tombada pelos patrimônios municipal e estadual em 1995.
A construção da ponte estava inserida no ambicioso projeto de expansão da Ferrovia Central do Brasil que pretendia interligar a então capital do Brasil, Rio de Janeiro, a Belém do Pará, no norte do País. A integração do litoral com o interior do Brasil sempre foi vontade das administrações luso-brasileiras e foi planejada, de diferentes formas, em outros momentos da história.
No caso das ferrovias, desde o período imperial, mais especificamente em 1855, traçou-se um projeto de integração do território, tendo como eixo principal a então Ferrovia Dom Pedro II, que pretendia cruzar o País de sul a norte, passando pelo Brasil Central. Após a proclamação da República em 1889, o projeto teve continuidade, agora transformado na Estrada de Ferro Central do Brasil – EFCB.
Segundo o relatório do Ministério de Viação e Obras Públicas de 1911, os primeiros estudos para transpor o rio São Francisco indicavam que seria necessário uma ponte com 835 metros de comprimento; no entanto, no mesmo relatório, tal levantamento foi reavaliado e se escolheu um “outro local, a jusante da cachoeira, reduzindo a ponte a 420 metros de extensão com uma economia de cerca de um terço sobre o orçamento da obra d’arte primitivamente projetada”. A mudança fez com que o local da construção da estação Pirapora também fosse modificado. No entanto, as dificuldades encontradas para a construção da ponte foram muitas e o projeto foi diversas vezes modificado, inclusive com alteração da localização original, e com a paralisação das obras, como apontam os relatórios do Ministério de Viação e Obras Públicas.
Os principais problemas enfrentados estavam relacionados com as constantes enchentes do rio, o que impedia a construção das fundações. Em 1912, o ministro da Viação e Obras Públicas relatou a retomada das obras e informou que a “superestrutura metálica estava encomendada, devendo o trabalho das fundações, já atacado, continuar por ocasião da vazante do rio na estação da seca”. No ano seguinte, 1913, as obras continuaram em ritmo mais acelerado, a nova estação de Pirapora já estava concluída, assim como o assentamento dos trilhos até a margem direita do rio São Francisco. O “encontro do lado esquerdo”, também chamado cabeceira, já estava pronto e a as obras do “encontro”, cabeceira, do lado direito e dos pilares já estavam iniciadas. Além disso, a superestrutura metálica, importada da Bélgica, já estava em Pirapora. Tudo parecia caminhar bem quando, em 1914, todo o trabalho desenvolvido foi praticamente perdido. O relatório do Ministro de Viação e Obras Públicas informava que naquele ano a construção da Ponte foi abandonada “tendo as cheias do S. Francisco inutilizado o último encontro e as ensecadeiras para a elevação dos pilares.” Não bastassem as cheias do rio, os trabalhadores também sofreram com doenças e enfermidades. A notícia foi que “todos os trabalhos de construção foram prejudicados pela epidemia de gripe, da mesma forma dolorosa por que o foram todos os serviços de trafego.”
Tais inconvenientes fizeram com que o projeto fosse definitivamente abandonado e novamente alterado o traçado. O rio São Francisco subiu muito durante a cheia, “meio metro acima da soleira do encontro construído, o que determinou alteração da grade da linha projetada.” A construção da ponte somente foi retomada em 1918, com uma nova concepção. Após tantos percalços, um novo projeto e um novo traçado foram definidos. As obras dessa etapa ficaram sob a responsabilidade do Engenheiro Demosthenes Roched e dos auxiliares Alvimar Carneiro de Resende e José Paletta de Cerqueira, e a montagem das vigas metálicas foi realizada pelo Engenheiro Charles Pitet da Empresa Saboia e Cia.
Assim, após vários anos e muitas alterações, a ponte foi inaugurada em 10 de novembro de 1922 com uma grande festa que contou com a presença de diversas autoridades e políticos, entre eles o Presidente da República Epitácio Pessoa e o Presidente de Minas Gerais Raul Soares.
Como características técnicas, a Ponte Marechal Hermes é uma ponte ferroviária metálica, estruturada em treliça, com ligações rebitadas. A ponte se apoia em 13 pilares de concreto e tem uma extensão total de 694 metros em 14 vãos, sendo dez centrais de 50 metros e os marginais de 35 metros cada um. Ele tem 8,40 metros de largura com dois passeios laterais para uso dos pedestres, que foram colocados mais tarde. Estas passarelas são sustentadas por mãos francesas metálicas engastadas no vigamento horizontal inferior. Possuem piso de tábuas corridas assentadas sobre perfis de ferro e a proteção é feita por guarda-corpo também metálico cujo desenho contrasta com a estrutura principal por seu frágil aspecto. Na mesma época foram colocadas também, ao lado dos trilhos, peças de madeira para trânsito de carros.
A ponte na realidade é um conjunto de várias pontes metálicas com estrutura em treliça tipo Pratt, com segmentos definidos por pares de pilares. A característica estrutural desse tipo de ponte é apresentar os elementos da diagonal, peças com maiores comprimentos, tracionados e os montantes comprimidos. A identificação desse tipo de estrutura é fácil, pois os elementos diagonais, com exceção das extremidades, apontam para o centro do vão.
Apesar da grande expectativa criada com a inauguração da ponte e com o prolongamento da Estrada de Ferro Central do Brasil, o projeto jamais foi completado. A construção da ferrovia foi paralisada logo após a travessia do rio São Francisco, na atual cidade de Buritizeiro/MG. Durante algum tempo a ligação de Pirapora ao Rio de Janeiro foi bastante utilizada, principalmente, pela conexão com a navegação do rio São Francisco até o nordeste brasileiro. A construção do ramal ferroviário ligando Corinto/MG a Montes Claros/MG também contribuiu para que a importância do trecho de Pirapora/MG fosse gradativamente diminuindo.
Atualmente, a ponte liga os municípios de Pirapora a Buritizeiro e não funciona para fins de transporte ferroviário, sendo utilizada apenas para a passagem de pedestres e motos.
A ponte tornou-se patrimônio cultural de Minas Gerais em 1983 e o parecer para o tombamento trazia a seguinte consideração: “Testemunho histórico de relevância nacional, quer por seu interesse público vinculado a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por sua excepcional solução estrutural, a Ponte Marechal Hermes terá proteção assegurada com medida legal de tombamento, com inscrição no Livro de Tombo Histórico”.
Embora não tenha alcançado os objetivos para os quais fora planejada, e o projeto de ligação entre o Rio de Janeiro e Belém não se tenha concretizado, a Ponte Marechal Hermes permanece como um ícone do desenvolvimento industrial brasileiro e elemento marcante na paisagem da região.




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