Resposta de Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes), ao Desembargador Rocha, no Ato da Comutação de Pena aos Seus Companheiros, Depois da Missa, Rio de Janeiro, Brasil (Resposta de Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes), ao Desembargador Rocha, no Ato da Comutação de Pena aos Seus Companheiros, Depois da Missa) - Leopoldino de Faria
Rio de Janeiro - RJ
Câmara Municipal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil
OST - 195x268 - 1880
Leopoldino de Faria é hoje um nome esquecido. Em vida, sem ter
conseguido atingir posição profissional de maior evidência, foi merecedor da
admiração de seus pares e contemporâneos, pela qualidade da sua obra, aliás,
numericamente reduzida. Obteve certo destaque inicial na Corte, devido ao seu
desempenho nas classes da Academia Imperial, e alcançou, finalmente, legítimo
reconhecimento como autor de pintura histórica, o que buscou com obstinação.
Após sua morte, em 1911, ainda que alguns de seus quadros se mantivessem em
coleções de relevo, observam-se cada vez mais raras as referências ao seu nome,
notadamente na literatura divulgada nas décadas mais avançadas do século. Ao
lado da linha declinante do prestígio do pintor, a marcha do tempo irá traçar,
em movimento paralelo, o percurso da sua obra mais representativa, Resposta de
Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes), ao Desembargador Rocha, no ato da
comutação de pena aos seus companheiros, depois da missa. A condição de ter
sido a primeira obra de arte a representar o episódio crucial da Inconfidência
Mineira, em pleno curso do Segundo Império, não impediu que ela deixasse de
figurar em importantes estudos da história da arte no século XX. Quais as
razões da omissão? Não se pode negar que o fato de ter sido o quadro
transportado pelo pintor, do Rio de Janeiro para Ouro Preto, em 1881, para em
seguida ser adquirido pelo Governo provincial, e de ali ter permanecido até os
dias atuais, hoje na Câmara Municipal de Ouro Preto, veio influenciar de forma
determinante sua pouca visibilidade. É patente, por exemplo, a atenção
diferenciada que sempre se dedicou ao pequeno esboço da obra, que, bem ao
contrário, acumula maior número de referências na historiografia, devido,
certamente, às suas sucessivas inserções em coleções de prestígio: Coleção
Laudelino Freire, Coleção Djalma da Fonseca Hermes e, finalmente, acervo do
Museu Histórico Nacional, sempre na capital do país. Desse ponto de vista, tendo
cada uma das versões construído sua identidade no próprio meio social,
desdobram-se dois distintos percursos biográficos a serem estudados. Leopoldino
Joaquim Teixeira de Faria nasceu a 27 de outubro de 1836, na cidade de Campos
dos Goytacazes, província do Rio de Janeiro; cursou a Academia Imperial das
Bellas Artes e teve por professor de desenho Jules Le Chevrel e de pintura
Victor Meirelles. Engenheiro civil e arquiteto, exerceu a profissão na
qualidade de funcionário da Prefeitura do Distrito Federal, tendo se aposentado
em 1909. A primeira referência que se tem da obra Resposta de Tiradentes,
encontra-se no Catálogo da Exposição Geral das Bellas Artes de 1876. Estando em
execução a versão principal do quadro, em tamanho natural, conforme texto explicativo
constante na publicação, o pintor decidira apresentar publicamente o esboço já
então elaborado. Por se tratar de assunto ainda não abordado pelos artistas e
professores vinculados à Academia Imperial, merece a iniciativa de Leopoldino o
devido registro na história da arte brasileira. Não deixou de mencioná-la o
historiador e crítico Gonzaga Duque no livro A arte brasileira, em 1888, ao se
referir à carreira de Leopoldino de Faria, dando lhe destaque de dois
parágrafos: A primeira vez que Leopoldino Faria se apresentou ao público foi
com o quadro histórico de maior interesse pátrio. Tomara por assunto a
condenação de Tiradentes, belíssimo assunto desprezado pelos pintores nacionais
que mais cuidam dos Davis e dos Vercingetorix que dos ainda não explorados
assuntos arrancados à nossa pobre história. O único que tem feito alguma cousa
nesse gênero é Firmino Monteiro. Leopoldino de Faria teve, pois, a glória de
ser o primeiro a se ocupar com este simpático assunto [...] Anteriormente,
somente um episódio isolado da Inconfidência Mineira fora abordado no contexto
da pintura histórica na Academia. Trata-se da tela Thomas Antonio Gonzaga, do
pintor João Maximiano Mafra, apresentada na Exposição Geral das Bellas Artes de
1843. A obra mostra a figura idealizada do poeta de Marilia de Dirceu,
conspirador “com outros ilustres filhos do Brasil em prol da sua
independência”, ao compor uma de suas liras, encerrado no cárcere. Após sua
participação na Exposição Geral de 1876, Leopoldino, sempre atuando
profissionalmente na cidade de Campos, como professor e retratista, continuará
a elaborar a grande tela Resposta de Tiradentes. Trabalha lentamente. Estima-se
que tenha dedicado ao projeto cerca de seis anos, consultando a literatura
histórica e em pesquisas de composição, até sua conclusão, em 1880. Como
resultado, diante da cena estabelecida na pintura, nota-se sua proximidade à
narrativa do historiador Joaquim Norberto de Souza Silva, no livro História da
Conjuração Mineira, publicado poucos anos antes, em 1873, obra que obteve funda
repercussão entre os estudiosos do movimento. Contudo, exatamente, no ponto
central do agrupamento de personagens postos em plano de destaque sobressai a
figura iluminada de Tiradentes, composta com muita independência por
Leopoldino, que a definiu por um tipo vigoroso, determinado, orgulhoso dos seus
ideais políticos de liberdade; um homem distante, portanto, do mártir cristão
que se entrega à morte, convicto de “ter offendido os direitos da realeza, e
quando muito consolado com a esperança da salvação eterna”, conforme sugere o
historiador. Em 21 de outubro de 1878, um artigo no Diario do Rio de Janeiro,
(transcrito do Diario de Campos, de autoria de Verissimo Bomsuccesso), deixa
entrever a popularidade que, pouco a pouco, alcançava o trabalho, ainda
inconcluso: Leopoldino de Faria foi o discipulo estremecido de Julio Le
Chevrel, o qual morreu lamentando no íntimo da sua alma, que a modéstia e o
acanhamento natural d’esse moço lhe servissem, como effectivamente serviram, de
collocal-o no segundo plano, quando pelas suas não vulgares aptidões só devia
caber-lhe o primeiro, em scena mais vasta e de maiores recursos do que na
obscuridade de uma cidade da provincia. Oxalá que o quadro que Leopoldino de
Faria, trabalho do qual temos ouvido dizer maravilhas, possa valer-lhe a
proteção do nosso governo, proporcionando-lhe os meios de visitar as obras dos
grandes mestres, de instruir-se, de corregir-se dos senões do seu laborioso e
entrecortado aprendizado. Finalmente, em julho de 1880, tem início na imprensa
a divulgação da inauguração próxima do quadro Resposta de Tiradentes,
programada para a data nacional de Sete de setembro. E, com efeito, no dia
comemorativo da pátria, Leopoldino franqueará, finalmente, aos cidadãos de
Campos, a exposição da tela, agora finalizada em grande formato, em sua versão
definitiva. Anúncios publicados no Monitor Campista, a partir de 2 de setembro,
dirigem convite ao público para a exposição do quadro, sob o título: “Festa
Popular. Inauguração do Quadro de Tira-dentes”. Adiciona-se ao texto a
reprodução integral do programa musical escolhido para compor o evento,
mediante a intervenção de cantores e instrumentistas, principiando pela
execução do Hino da Independência, composição de d. Pedro I, tendo a seguir a
apresentação de peças e trechos operísticos da autoria de Giuseppe Verdi,
Carlos Gomes, Gottschalk, Bellini e Gounod. No dia 7, o próprio pintor
dirige-se diretamente ao público de Campos, com o propósito de justificar a
composição da obra e criar maior expectativa para o grande momento da
inauguração oficial, em festa “patriótica e artística”, concebida em
comemoração ao aniversário da emancipação política brasileira: Bradou no
Ypiranga o grito da liberdade, do nosso continente, e surgio em todos os
angulos do megestoso Imperio de Santa Cruz o Brazil restituido a seus filhos,
herdeiros do primeiro martyr Tira-Dentes. Na magestade desse dia, movido pelos
sentimentos patrioticos, peço-vos que aceiteis, meus patricios, o quadro, que
hoje apresento à vossa illustrada apreciação, producto de meu afanoso trabalho,
e sem luzes da sciencia, foi-me inspirado pelo amor da patria. [...] Após
longas pesquizas, e tendo consultado a diversos autores sobre a nossa história,
me foi muito difficil improvisar na minha palheta as tintas para patentear a
vossos olhos a triste verdade historica. Fiquem, pois, gravados em vossa
memoria os martyres de 1792, e transmitti aos vindouros como dívida sagrada,
que no pó dos annos existia olvidada. Campos, 7 de setembro de 1880 Leopoldino
de Faria Realizou-se o evento em um dos salões do Hospital da Ordem 3ª de São
Francisco. Decorrida a cerimônia, lê-se, a 10 de setembro, o seguinte
comentário no Monitor Campista: De verdadeiro jubilo foi este dia para o
coração do campista que viu o grande anniversario da independencia do paiz
servir para a apresentação de um trabalho artistico que resgatou do olvido a
memoria dos primeiros martyres da liberdade brasileira. [...] Ao começar o
concerto pela execução do hymno da independencia [...] o Exmo. Sr. Juiz de
Direito Fernando Pinheiro levantou o véo que cobria o quadro e quando
terminou-se o hymno ergueu os vivas do estylo e um ao autor da téla [...].
Conforme narrativa, o ponto alto da festa esteve reservado para o momento
solene no qual se elevou o véu que guardava a pintura, diante de um público que
respeitosamente a circundava, ao ressoarem os acordes do Hino da Independência.
Carregado de simbolismo, esse gesto inaugurou o quadro Resposta de Joaquim José
da Silva Xavier (Tiradentes), ao Desembargador Rocha, no ato da comutação de
pena aos seus companheiros, depois da missa. A 21 de novembro, notícia
veiculada no Monitor, traz informações de interesse e acrescenta um novo dado
sobre a futura trajetória da obra: Quadro de Tiradentes – Consta-nos que o
nosso estimavel e talentoso artista Leopoldino de Faria, já recebêra do
distincto mineiro Sr. major Mizael Ribeiro de Paiva, pelo seu bello quadro
Tiradentes, a valiosa offerta de 25:000$ que recusou. O Sr. major Paiva que
esteve em Campos e retirou-se hontem para a côrte, foi um dos admiradores desse
quadro, que immortalisa o patriotismo dos mineiros, os primeiros sonhadores e
independencia do Brazil. A exposição do quadro termina-se hoje às 10 horas da
noite. Anos mais tarde, em 1916, Laudelino Freire irá afirmar ter sido a
realização da obra motivada por uma encomenda feita ao pintor pelo Governo de
Minas. Contudo, ainda não foi possível localizar documento que traga segurança
a essa assertiva, mantendo-se, portanto, a dúvida. Como se percebe, não há na
nota de imprensa qualquer comentário se o motivo da recusa da alta quantia
teria se baseado em comprometimento anteriormente firmado pelo artista. E a
questão ficará acrescida de mais uma variante, ao ser noticiada, em dezembro de
1881, a aquisição da obra pela Província de Minas pela quantia de 14:000$000,
valor bem inferior ao que se disse ter sido ofertado pelo major Paiva.
Encerrada a exposição em Campos, continuará o pintor sua movimentação buscando
organizar nova mostra da tela, desta feita na Corte. Realiza, preliminarmente,
uma breve exposição no salão do Conservatorio de Musica. A seguir, a 13 de
dezembro, o jornal O Mequetrefe antecipa a notícia de que a exposição do quadro
Tiradentes será levada a efeito, em data próxima, na Typographia Nacional. Na
oportunidade, informa o noticiário, o óleo estará o lado de trabalhos da esposa
de Leopoldino de Faria, a pintora e cantora Maria Teixeira de Faria. A 21 de
dezembro, às 11 horas da manhã, em evento solenemente assinalado pela presença
de Suas Majestades Imperiais, do conselheiro Nicolao Tolentino, e de membros do
gabinete e da imprensa, tem início a exposição no salão da Typographia
Nacional. O jornal Gazeta da Tarde, repercute o acontecimento. Tece elogios ao
trabalho e, como ressalva aos aspectos técnicos empregados na pintura, lembra
tratarse de um artista ainda em formação. Evidencia o tema escolhido para
compor o quadro, a Inconfidência Mineira, com o qual o pintor realiza,
finalmente, sua estreia perante o público da Corte, de forma elevada, sob a
proteção do imperador d. Pedro II: [...] deu-nos o esperançoso conterraneo
vivida e eloquente na téla a grande cena historica em que a voz do despotismo,
condemnando ás ignomias do patibulo o obscuro Tira-Dentes, circundou-o com a
fulgida aureola de precursor da independencia nacional [...]. Exaltou o artista
nessa figura, que o nobre orgulho da população mineira parece ver perpetuada
como gênio da liberdade nos altivos cerros da terra da “Inconfidencia”,
magnânima idéa, que um braço regio condenára, para outro braço régio levantar
triumphante entre as hosannas da população, redimida, de um grande império. Com
clareza, encontra-se na concepção da obra o propósito de interpretar o gesto do
alferes como expressão patriótica do verdadeiro protomártir da independência do
Brasil. A intenção do pintor é a de aproximar a atitude heroica assumida por
Tiradentes ao patamar vitorioso do episódio do rompimento político com Portugal
protagonizado por d. Pedro, em 1822. A 16 de março de 1881, veicula-se na
imprensa carioca a notícia da viagem próxima de Leopoldino a Minas Gerais, no
intuito de expor o quadro Resposta de Tiradentes em Ouro Preto. A 9 de
setembro, A Actualidade, periódico de Ouro Preto, anuncia a presença na cidade
do pintor Leopoldino de Faria, trazendo consigo vários retratos e o quadro
Tiradentes para serem exibidos. A 2 de outubro, A Provincia de Minas, órgão do
partido Conservador, publicado na capital mineira por seu proprietário e
redator José Pedro Xavier da Veiga, estampa matéria comentando a abertura da exposição
do quadro Resposta de Tiradentes, ocorrida a 25 de setembro, em uma das salas
do Paço da Câmara Municipal de Ouro Preto. No correr dos meses seguintes a
presidência da Província irá consolidar a aquisição da tela, conforme breve
nota na imprensa: “A presidência de Minas comprou ao distincto pintor
Leopoldino Joaquim de Faria o seu importante quadro histórico – Conjuração
Mineira – pela quantia de 14:000$000.” Passou então a Imperial Cidade de Ouro
Preto a contar com duas manifestações artísticas consagradas à memória da
revolta mineira: a Coluna em homenagem aos Inconfidentes, na praça da
Independência, em frente ao Paço da Assembleia Provincial, erigida a 3 de abril
de 1876; e a nova aquisição, o óleo de Leopoldino de Faria, destinado ao Salão
de honra do Palácio, trabalho voltado mais diretamente para a formação da
imagem do principal personagem da Inconfidência, o Tiradentes. Já no início do
período republicano, a 12 de dezembro de 1897, a sede do Governo de Minas
Gerais é transferida para a cidade de Minas, construída no arraial de Bello
Horizonte. O quadro de Leopoldino não seguirá em direção à moderna capital,
destino a que se submeteram todos os órgãos públicos e servidores do Estado.
Permanece em Ouro Preto. Assim, na nova condição da sua existência, não mais
havendo na cidade as repartições governamentais, a tela passará a integrar, em
1900, o acervo da Câmara Municipal, após ter sido restaurada pelo pintor
ouro-pretano Honorio Esteves. Em 1911, o historiador Diogo de Vasconcellos
teceu comentário sobre o quadro de Leopoldino, ao escrever o estudo “As obras
de arte”, destinado a integrar o volume Bicentenario de Ouro Preto, 1711-1911,
Memória Histórica. Debateu, então, a composição da cena histórica eleita pelo
pintor, momento “que apanhou a catástrofe no mais agudo de seu patético”, e
analisou a concepção das figuras dos inconfidentes representadas, sobretudo a
de Tiradentes, que julgou, particularmente, muito pouco convincente. Decorrido
um longo período em esquecimento durante o século XX, o quadro de Leopoldino de
Faria voltou a merecer atenção, em proposta recente, ao integrar, em abril de
2009, a Exposição Comemorativa do Ano da França no Brasil “A Inconfidência
Mineira no contexto da Revolução Francesa”, organizada na sala Manoel da Costa Athayde,
Anexo I, do Museu da Inconfidência. Na oportunidade, Resposta de Tiradentes
esteve ao lado de outras importantes obras consagradas ao tema, como o óleo
Tiradentes esquartejado, de Pedro Américo, e o bronze Busto de Tiradentes, de
Décio Villares. Em 2010, a Câmara de Ouro Preto promoveu integral restauração
da pintura de Leopoldino, bem como a recuperação da moldura original que a
guarnece, trabalhos executados pelo restaurador Silvio Luiz Rocha Vianna de
Azevedo, tendo como sítio de trabalho a própria sala adaptada da presidência da
Câmara de Ouro Preto, evitando-se maior deslocamento da peça. Em contraponto ao
destino do quadro transportado por Leopoldino para Ouro Preto em 1881, a
trajetória do pequeno esboço da obra percorre bem outro caminho. A principal
menção à sua existência, como já visto, encontra-se no Catálogo da Exposição de
1876. Sabe-se que, posteriormente, passou a integrar a coleção de Laudelino
Freire, tendo sido sua imagem fotográfica reproduzida no livro Um Século de
Pintura, em 1916, ao lado de outro estudo do pintor, Campanha do Paraguai:
tomada da Ponte de Itororó pelo intrépido Duque de Caxias, auxiliado pelos
valentes Generais Argolo e Gurjão, e pelo Coronel Fernandes Machado, também
apresentado na Exposição Geral de 1876. Em algum momento o esboço de Resposta
de Tiradentes passará à Coleção Djalma da Fonseca Hermes. Mais tarde, em 1941,
quando acontece a dispersão da Coleção Hermes, o quadro tem ingresso no acervo
do Museu Histórico Nacional, assim como inúmeras outras obras preciosas, dentre
as quais, o estudo Martyrio de Tiradentes, de Aurelio de Figueiredo e Villa
Rica, local onde esteve exposta a cabeça de Tiradentes, de Honorio Esteves.
Desde essa época, quase todas as referências feitas ao quadro Resposta de
Tiradentes, será ao esboço do Museu Histórico Nacional que comumente vai-se
recorrer, sendo raramente lembrada a versão principal da Câmara de Ouro Preto.
Com base nos levantamentos até aqui realizados, algumas observações podem ser
feitas sobre a obra Resposta de Tiradentes e sobre sua trajetória. Ordenados os
acontecimentos que marcaram o processo da sua criação, bem como as
circunstâncias particulares que cercaram a exposição inaugural em Campos, na
data nacional de 7 de setembro, fica francamente estabelecida sua vinculação ao
ideal da independência brasileira. Reforça essa concepção a própria presença do
imperador d. Pedro II, e de integrantes de seu gabinete, na exposição realizada
na Typographia Nacional, numa demonstração pública de interesse pela obra na
qual se via representado o episódio marcante da história colonial. Resposta de
Tiradentes significou a primeira manifestação artística fundada no propósito de
elevar o personagem Tiradentes à condição de herói nacional, assim reconhecido
e assimilado, naquele momento, pelo regime monárquico; uma expressão, portanto,
originariamente distante do pensamento republicano. Para concluir, não pode
deixar de ser lembrado que a imagem de Tiradentes, tal como vai ser debatida
por historiadores, foi ideada por Leopoldino de Faria. A figura do mártir,
apresentada nas versões de 1876 e 1880 (que guardam entre si alterações
significativas), será revisitada por outros artistas como Aurélio de
Figueiredo, Pedro Américo, Ângelo Agostini, Antônio Parreiras, Décio Villares e
Eduardo de Sá. Será ainda uma referência bem próxima para a escultura do mártir
feita pelo artista italiano Virgilio Cestari, em monumento erguido em 1894
pelos governantes republicanos mineiros, na praça da Independência, em Ouro
Preto. Texto de Ricardo Giannetti.
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