Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, Guarujá, São Paulo, Brasil
Guarujá - SP
Fotografia
A Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, também
referida como Fortaleza de São Miguel, Fortaleza da Praia Grande e Fortaleza
da Barra Grande, localiza-se a sudeste na ilha de Santo Amaro, entre a praia do Góis e
a praia de Santa Cruz dos Navegantes,
batendo a Barra Grande, canal de
acesso ao porto da vila (hoje cidade) de Santos, no atual município do Guarujá,
no litoral do estado brasileiro de São Paulo.
A fortaleza foi erguida a partir de 1584, no contexto da Dinastia
Filipina (1580-1640), após o ataque do corsário inglês Edward Fenton (dezembro
de 1583)
a Santos,
rechaçado por Andrés Higino, cuja frota
estava sob o comando do Almirante D. Diogo Flores de Valdés no sul do
Brasil, quando encontrou uma nau atacada por Edward Fenton, Diogo Flores de Valdés tinha a missão
de navegar pela costa brasileira até a entrada do Estreito de Magalhães em
busca de corsários como Sir Francis
Drake conhecido como El Dragon, sabendo das notícias Valdés
designa Higino como comandante de três Galeões para retornar à Vila de Santos e
atacar os corsários. A sua planta original é atribuída ao arquiteto militar italiano Giovanni Battista Antonelli, integrante
dessa armada (1582-1584), e foi artilhada com algumas peças de um galeão capturado
a corsários na ocasião. SOUZA (1885) entende que essa fortificação era de fraca
construção, não tendo oferecido resistência ao ataque do corsário
inglês Thomas Cavendish (1590). Rechaçou a
tentativa de reabastecimento do almirante neerlandês Joris van Spielbergen (3 de
fevereiro de 1615), e posteriormente a tentativa de assalto do corsário francês Jean-François Duclerc (agosto
de 1710),
que se dirigiu em seguida ao Rio de Janeiro.
Passou a comandar a praça em 1702, o Capitão Luiz da Costa de Siqueira (Carta
Patente de 23 de julho de 1702), e sua guarnição
compunha-se de um alcaide e de cem soldados. A Carta-régia de 11 de
setembro de 1709 mandou aumentá-la, e que do Rio de Janeiro se
remetesse artilharia de grosso calibre para sua defesa. Manuel de
Castro de Oliveira, um particular residente em Santos, propôs
em 1711 à Coroa Portuguesa reconstruir e armar
a fortaleza às suas custas, em troca de algumas mercês. A Coroa, pela
Carta-régia de 26 de janeiro de 1715, aceitou o
oferecimento daquele particular residente em Santos "para reconstruí-la e
armá-la, mediante a mercê do foro de fidalgo,
o Hábito [da Ordem] de Cristo, tença anual de 80$000 e um ofício nas Minas
[Gerais], que tivesse de rendimento 400$000, para seu filho". São
deste período o projeto assinado por Manuel Pinto de Villa
Lobos (Fortaleza que se há de fazer na praia grande de Santos,
1712. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa)
e outros (Planta da Fortaleza desenhada de novo na barra grande de Santos, c.
1712; Planta da Fortaleza projetada na barra da vila de Santos, c. 1712.
AHU, Lisboa). Essas obras foram iniciadas sob a orientação do engenheiro
francês Brigadeiro Jean Massé (Planta de uma Fortaleza
desenhada de novo na vila de Santos, c. 1714. AHU, Lisboa), com o auxílio
do argento-mor Antônio Francisco Lustosa.
Em 1717 o então governador de Santos designou Luiz Antônio de Sá
Queiroga para adicionar à fortaleza parapeitos, reduto,
cortina, casa de pólvora e outras obras, orçadas à época em 4.000 cruzados. Durante o governo do Vice-rei e
Capitão General de Mar e Terra do Estado do
Brasil, D. Vasco Fernandes César de Meneses (1720-1735),
foi terminada a muralha (1721), sendo a praça finalmente artilhada com trinta e duas
peças (1723-1725). Novas reformas foram efetuadas em 1731-1732. Por volta
de 1739 aqui
esteve o Brigadeiro José da Silva Pais, com a missão de examinar
esta e outras defesas no litoral santista. Este oficial foi o responsável pelo
projeto da nova Casa da Pólvora e de uma capela, erguida no local da antiga
Casa da Pólvora e inaugurada em 1742. ("Fortaleza de
Santo Amaro da Barra Grande". In: Patrimônio: 70 anos em São Paulo).
Uma nova campanha de obras teve lugar em 1765, sendo governador
da capitania de São Paulo o
capitão-general D. Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão -
quarto morgado de Mateus (1765-1775), que mandou
repará-la e ampliá-la devido ao seu estado precário. Cruzando fogos com o Forte da
Estacada, para complemento deste sistema defensivo, mandou ainda
edificar a Bateria da praia do Góis (1766), para servir como
posto avançado à fortaleza. Data deste período ainda o chamado "Portão
Espanhol" que a liga àquela fortificação. Em Relatório à Coroa, acerca das
fortificações da Capitania, datado de 30 de junho de 1770, este governador
informou que a praça estava artilhada com vinte e oito peças: três de 24, oito
de 18, três de 12, três de 8, e onze de 6.
Um relatório manuscrito descreve o estado da
fortificação, entre o final do século XVIII e
o início do século XIX:
"Na Barra Grande achei as portas podres e
despedaçadas, o Quartel arruinado e parte dele a cair, a Casa da Pólvora por
acabar; na bateria de baixo achei algumas peças
montadas em carretas podres e outras no chão, muito maltratadas, de sorte que
toda esta bateria está impossibilitada de fazer fogo, sendo a melhor que tem
esta fortaleza por serem os seus tiros quase horizontais, e pela curta
distância a que chegam os navios pode esta bateria servir de balas ardentes, de
balas fixas, de balas encadeadas de plaqueta, além de ter velas e cartuchos de
pinha, e até pelo ângulo que forma o canal, por onde necessariamente passam os
navios, oferecem ao inimigo nove bocas de fogo reto e duas em cada flanco, que
sendo bem providos, podem fazer grande dano.
Na bateria superior achei quatorze peças montadas em
carretas novas, cuja bateria é inferior nas suas vantagens à de baixo por serem
os seus tiros mergulhantes e só podem ser bons em maior distância, ficando
incertos pela falta de bons artilheiros. Pelo prolongamento da cortina, até à
porta, que dá saída para o forte da praia do Goes, se acham três peças montadas
em carretas novas e nove desmontadas, algumas destas muito maltratadas, de
sorte que não poderão fazer fogo por se acharem cheias de escaravelhos e
uma encravada.
Na bateria baixa há um telheiro encostado à muralha
superior, o qual se pode acrescentar unindo a este a casa de um índio que serve
à fortaleza; em cujo telheiro se pode ter recolhida a maior parte da artilharia,
com seus reparos, para se livrar dos grande sóis e imensas chuvas que há de
ordinário neste país, e porque a plataforma está móvel com o terrapleno da
praça e com facilidade vem esta artilharia ao seu lugar na bateria em todo e
qualquer lugar.
Na mesma circunstância se pode por a bateria superior,
poupando Sua Majestade por este modo a imensa despesa que continuamente está
fazendo com o carretame, devendo ser este pintado a óleo de linhaça [ou]
na falta deste com azeite de mamona, e uma terra que há em Cananéia que
é semelhante ao roxo-terra da Itália (...)."
Ao longo da sua história, as instalações da fortaleza
foram utilizadas como presídio político. O Mapa das Fortificações de 1847 aponta-lhe
apenas vinte e duas peças. Novamente reparada em 1885, durante a Revolta da
Armada (1893-1894), as suas baterias trocaram tiros com o Cruzador República e o Cruzador Palas, a caminho
do Sul (20 de setembro de 1893), tendo sofridos
danos nas muralhas.
Passou para a jurisdição do Ministério da Marinha (Aviso do Ministério da
Guerra de 28 de agosto de 1889). Em 1894 teve lugar a
última obra nesta fortificação: a reforma inacabada do quartel (MORI,
2003:155).
No século XX foi
desarmada e o seu material entregue ao 3º Batalhão de Artilharia,
a fim de aquartelar um Destacamento do 24º Batalhão de Infantaria que
iria trabalhar nas obras do Forte de
Itaipu (Aviso nº 484, de 17 de março de 1905), dentro do
projeto de reforma da defesa do Porto de Santos.
À medida que as obras do Forte de Itaipu evoluíram, perdeu
importância estratégica, até ser finalmente desativada (1911). Durante a Revolução Constitucionalista de 1932,
aquartelou a 3ª Companhia do Batalhão de
Engenharia de Santos, servindo como Posto Angular (Posto de
Paralaxes): recebeu aparelhos telefônicos e alto-falantes, a fim de manter
comunicação constante entre a defesa minada da barra de Santos e os oficiais
engenheiros de plantão que as comandavam. Em uma das guaritas da
fortaleza, assim como em pontos estratégicos do canal, foram instaladas
baterias acumuladoras para a detonação das minas. Ao final da década de
1940 abrigou instalações da extinta Polícia Marítima e Aérea, e
a partir de 1956 passou
a ser utilizada como sede náutica do Círculo Militar de Santos.
O imóvel, de propriedade da União, e o entorno do fortaleza foram tombados
pelo Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional em 23 de abril de 1964, e pelo Conselho de
Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT),
órgão do Governo do estado de São Paulo, em 1981.
Em 1990, a comunidade estudantil do Guarujá se movimentou em
defesa deste patrimônio, e finalmente, em 2 de setembro de 1993, foi assinado um
Protocolo de Intenções entre o IPHAN, a Prefeitura
Municipal de Guarujá e a Universidade Católica de Santos (UNISANTOS),
visando a restauração do conjunto. A reinauguração teve lugar em 21 de abril de 1997, tendo como padrinho
o professor Élcio Rogério Secomandi,
assim homenageado pelo entusiasmo e dedicação do trabalho desenvolvido.
Destaca-se no processo a doação para a capela do conjunto, do mural "Vento
Vermelho", de vinte metros quadrados, pela família do artista
plástico Manabu Mabe.
Homenageada pela ECT com a emissão de
uma bonita peça filatélica e carimbo comemorativo (21 de abril de 1999), o acesso à
fortaleza pode ser feito por Santa Cruz dos Navegantes ou, de
barco, com saída pela Ponte Edgard Perdigão, em Santos.
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