Várzea do Carmo, 1900, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
Várzea do Carmo em São Paulo/SP em 1900. Foto feita da
rua Paula Souza em direção ao centro. Na margem oposta do rio Tamanduateí, o
Mercado Caipira e a rua 25 de Março. Na linha do horizonte, da esquerda para
direita, destacam-se: Convento do Carmo, Casa da Marquesa de Santos e Pátio do
Colégio, frontão Boa Vista, igreja do Rosário e Mosteiro de São Bento. Várzea
do Carmo era a denominação de uma das zonas centrais da cidade de São Paulo,
adjacente ao Convento do Carmo e frequentemente atingida pelas cheias do rio
Tamanduateí, inicialmente conhecido como Piratininga. Em 1821, o Major de
Engenheiros Pedro Arbues Moreira apresentou ao governo uma proposta de
desaguamento da Várzea do Carmo, com a abertura de um canal de 40 palmos de
largura. Por ser uma obra muito cara não foi executada. Durante a presidência
do Padre Dr. Vicente Pires da Mota foram feitas muitas melhoras no local, entre
elas a mudança no curso do rio Tamanduateí. Na administração dos presidentes
João Teodoro Xavier e João Alfredo Correia de Oliveira, foram realizadas várias
obras com o objetivo de preservar o local das inundações. O saneamento integral
e a recuperação da Várzea do Carmo foi um processo lento. Após a canalização do
rio, que só foi concluída na segunda década do século XX, o topônimo caiu em
desuso e, hoje a zona é - grosso modo - equivalente ao Parque Dom Pedro II. Na
Várzea do Carmo, em São Paulo, em 14 de abril de 1895, foi realizada uma
partida de futebol entre ingleses e anglo-brasileiros, formados pelos
funcionários da Companhia de Gás e da Estrada de Ferro São Paulo Railway. Essa é
considerada a primeira partida de futebol do país. O amistoso terminou em 4 a
2, com vitória do São Paulo Railway. A Companhia Mecânica, que havia efetuado
grande parte da canalização do rio Tamanduateí, recebeu a proposta da
Prefeitura para realizar a urbanização da Várzea. Tratava-se de executar o
projeto então elaborado para o parque. Como o Tesouro Municipal não dispunha de
recursos, o prefeito Washington Luís Pereira de Sousa propôs que o serviço
fosse pago com os terrenos remanescentes, que pertenciam ao Município. A
Companhia Mecânica, por ser uma poderosa organização empreiteira, não achou
vantajosa essa troca de terras por serviços e desistiu. O prefeito tinha como
secretário o Sr. Antônio Almeida Braga, que se propôs a conseguir os recursos
necessários para a urbanização por meio de uma companhia a ser construída.
Assim surgiu a Companhia da Várzea do Carmo, que tinha como presidente o
Visconde de Moraes. Para o Conselho Fiscal foi nomeado o engenheiro Ricardo
Severo da Fonseca e Costa, sócio do escritório de Engenharia e Construções
Ramos de Azevedo. Os escritórios dessa nova Companhia ficavam no prédio do
Banco Português do Brasil, na rua XV de Novembro. Em 1921 o canal do
Tamanduateí foi concluído, junto com o ajardinamento da área, atraindo multidões
à procura de trabalho. Dois anos depois o serviço estava completamente
terminado e teve início a venda de lotes, que eram em média de duzentos metros
quadrados com sete metros de frente. Os dois maiores lotes foram adquiridos
pela Prefeitura para a construção do Mercado Central (atual Mercado Municipal
de São Paulo). Com os trabalhos de urbanização do parque e canalização do rio,
mudava-se o leito antigo para transformar-se na rua 25 de Março. Ali existia um
movimentado porto, com grandes e rústicos armazéns. Dessa extinta atividade
restou a denominação Ladeira Porto Geral. Também desapareceram os portos do
Tamanduateí, denominados Beco das Barbas, na atual Ladeira Porto Geral, da
Figueira, na foz do Anhangabaú; da Tabatinguera, diante da rua de mesmo nome.
Já o rio estava difícil de navegar devido aos bancos de areia, entulhos e
aguapés. Antes de se tornar o Parque Dom. Pedro II, toda região era denominada
Várzea do Carmo, várzea por ser uma área que se inunda pelas cheias do rio
Tamanduateí e rio do Carmo , este que se encontrava próximo a igreja do Carmo,
que também nomeava a ladeira e ponte ao final dela (região hoje conhecida como
avenida Rangel Pestana). O rio Tamanduateí teve por anos suas margens
utilizadas para banhos, pelas lavadeiras e também para o despejo de lixos. As
recorrentes enchentes se tonaram um problema para a população, pois foi
responsável por trazer doenças às pessoas, por conta da insalubridade da
Várzea. Com a intenção de resolver este problema, em 1810, uma vala foi
construída no centro da Várzea para barrar os alagamentos. Em 1822, ao visitar
a cidade de São Paulo o botânico francês Auguste Saint-Hilaire, caracterizou a
Várzea de Carmo como uma “planície sem acidentes que apresenta uma encantadora
alternativa de pastagens rasteiras e de capões de mato pouco elevados […] nas
partes em que há mais água, o solo é entremeado de montículos cobertos de
espessos tufos de relva.” e o rio Tamanduateí como quem ia serpenteando a
região com suas sete voltas. Beco das Sete Voltas era denominada essa pequena
parte que margeava o rio. Em uma das setes voltas ficava o Porto Geral, que
recebeu esse nome por ser o mais movimentado dos portos do rio. Eles duraram
até 1849, quando se iniciaram obras para a retificação do rio. O Beco virou uma
rua, que hoje é conhecida por 25 de Março. No fim do século XIX, a obra ganhou
força para ser terminada. João Theodoro, em sua gestão, com o objetivo de
transformar o rio em uma reta, especialmente na região do Brás e Luz, realizou
a canalização da primeira parte do rio. Ainda, Theodoro foi responsável por
colocar jardins e projetar a Ilha dos Amores, o que o transformou como um dos
primeiros urbanistas do país. Em 1890, além de tentar encontrar novas soluções
para as enchentes que ainda atingiam a população, o poder público discutia um
plano de "embelezamento" da Várzea do Carmo. Para que uma decisão
fosse tomada, pelo executivo paulistano, sobre a situação das enchentes, foram
30 anos de discussões e debates. Em 1910, então, foi decido erguer um parque,
onde participariam a iniciativa privada, o poder público municipal e estadual.
Ideia que foi aprovada em 1914 e entregue a população em 1922. Assim, deixa de
existir a Várzea do Carmo e surge o Parque Dom. Pedro II que se torna um dos
mais importantes espaços públicos de São Paulo, por conter grande variedade de
árvores. Em 1924, considerando a ideia do poder paulistano e a importância de
transformar a região, foi contemplado o Palácio das Indústrias. Com o
crescimento demográfico e econômico da cidade, na década de 30, a maioria das
construções dos tempos coloniais e do império foram destruídas e a cidade foi
deixando de possuir característica "europeia". Além disso, nesse
período surge o Plano das Avenidas que mudaria totalmente a estrutura do
parque. A primeira proposta voltada para à cidade de São Paulo foi feita pelo
engenheiro Prestes Maia que, ao se tornar prefeito em 1938, começou a executar
seu plano. A principal característica de sua ideia era a tentativa de fazer uma
"cópia" das metrópoles americanas, e ter uma política voltada para o
transporte rodoviário. O parque sofreu intervenções e teve sua estrutura
alterado, no final dos anos 50, como a pavimentação da Avenida do Estado no
trajeto do Tamanduateí, a criação de cinco viadutos e diversas outras obras. A
propósito, a concepção da Avenida do Estado, foi o marco para o início da
degradação do parque. A estação do metrô Pedro II, o terminal de ônibus,
surgido em 1971, e outras ideias do poder público, foram de gradando e
destruindo o espaço do parque, que resultou no que temos hoje: apenas um espaço
de transição e não mais de interação com a cidade.

Nenhum comentário:
Postar um comentário