domingo, 17 de janeiro de 2021

História do Avião Espião Lockheed U-2, Estados Unidos








 

História do Avião Espião Lockheed U-2, Estados Unidos
Fotografia

Em uma época em que as imagens de satélite se tornaram comuns (vide Google mapas), é difícil imaginarmos como eram as operações de espionagem aérea antes de seu surgimento. No começo da década de 1950, os Estados Unidos precisavam manter sob vigilância as atividades militares em zonas que eram inacessíveis, em um mundo cada vez mais instável, e num período em que os satélites-espiões ainda não passavam de um sonho.
Em março de 1953, a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) e a Agência Central de Inteligência (a agência de espionagem CIA), emitiram um pedido em comum a Lockheed Martin, solicitando uma aeronave com as seguintes características: monoposto, desarmado, capaz de voar sem ser detectado sobre qualquer espaço aéreo hostil, com alcance mínimo de 2.400 km e capaz de carregar até 320 kg de sensores. Apesar da grande autonomia, o único equipamento de comunicação seria um simples rádio UHF e o radar não era permitido, nem mesmo como equipamento auxiliar de navegação.
O projeto ficou a cargo do lendário departamento “Skunk Work” (“Oficina de Inutilidades”) da Lockheed, conhecidos por criarem alguns dos aviões mais incríveis do passado e atuais. O primeiro protótipo do U-2 combinava a fuselagem do caça F-104 Starfighter a asas de planador. A ideia foi rejeitada no início, mas após uma série de adaptações o projeto foi aprovado.
Para esconder a verdadeira finalidade da aeronave, foi-lhe atribuída a designação U-2 (U de “Utility”, utilitário) e o apelido “Dragon Lady”. O voo inaugural do modelo aconteceu na base aérea de Groom Lake, no estado de Nevada nos EUA, em 1 de agosto de 1955, apenas oito meses após o início de seu desenvolvimento. Pouquíssimas testemunhas acompanharam o evento, todas envolvidas de alguma forma no projeto.
Quando foi declarado operacional, em 1956, o U-2 recebeu a falsa designação de 1º Weather Reconnaissance Squadron (1º Esquadrão de Reconhecimento Meteorológico). No entanto, as primeiras missões da aeronaves, que partiram da Inglaterra e Alemanha Ocidental (ainda dividida), levantou a suspeita sobre suas reais intenções. Outros esquadrões ficavam na Turquia, Japão, Formosa (China nacionalista), Filipinas e Alasca, indicando sem deixar dúvidas que o destino dos voos do avião-espião dos EUA eram a China e a antiga União Soviética (URSS).
Devido ao perfil “invasor” do U-2, pelo menos cinco aeronaves foram abatidas em espaço aéreo não autorizado da China e URSS. O primeiro abate aconteceu em 1 de maio de 1960, quando uma aeronave a serviço da CIA foi atingida por um míssil soviético sobre Sverdlovsk. O incidente gerou um escândalo diplomático e determinou o final dos voos sobre o então território soviético.
Um segundo U-2 da CIA também foi abatido sobre Cuba, durante a Crise dos Mísseis em 1962. A lista de abates ainda inclui cinco aviões da “Força Aérea de Formosa”: três sobre a China e outros dois na URSS, todos na década de 1960. O U-2 também serviu na Guerra do Vietnã.
A única defesa do U-2 é sua capacidade de voar muito alto, a cerca de 24 mil metros de altitude. Para alcançar esse teto, a aeronave foi equipada com asas com uma envergadura de 25 metros e geralmente era pintada totalmente de preto e em alguns casos até mesmo sem insígnias de identificação, uma prática proibida na aviação. Além disso, outro meio de proteção do avião é um sistema que dispersa os gases de escape, evitando ser denunciado por sensores infravermelho de mísseis guiados por calor.
Já as “armas” do U-2 eram câmeras fotográficas e antenas especiais para interceptar comunicações e retransmiti-las a postos de comando em terra a 600 km de distância. Segundo relatos da USAF, o aparelho, que possui apenas um motor turborreator de 7000 kg de empuxo, realizou mais de 50 “voos profundos” sobre a ex-URSS.
O formato do U-2 era ótimo para sua missão de espionagem, mas péssimo para tarefas básicas, como pouso, decolagem e manobras em terra. O avião não possui um trem de pouso convencional e para decolar utiliza rodas estabilizadoras descartáveis. A aterrissagem era particularmente delicada, pois o avião só podia se apoiar em pequenas rodas nas pontas das asas. Aproximadamente 18 aeronaves foram perdidas em pousos mal sucedidos.
Mesmo com o surgimento dos primeiros satélites militares de reconhecimento na década de 1960, o U-2 seguiu na ativa, mas com performances muito superiores. Nos anos 1970 a aeronave passou por um processo de modernização que ampliou seu alcance para até 10 mil km e o trem de pouso evoluiu para aumentar a segurança durante os pousos. O novo aparelho recebeu a designação TR-1 (sigla para “Reconhecimento Tático”).
Foi criada também uma versão para operar a partir de porta-aviões, algo que foi pouco divulgado. A Marinha dos EUA teve dois U-2, mas suas missões são desconhecidas, apesar de existir uma série de vídeos mostrando as operações navais da aeronave.
O novo U-2 também foi adquirido pela NASA, que o utilizou em pesquisas sobre voos em altitudes estratosféricas, radiação e reentrada na atmosfera. Esses dados serviram mais adiante para idealizar uma série de missões espaciais.
A aposentadoria do U-2, ao menos para uso militar, já foi cogitada diversas vezes, mas o avião-espião continua eficiente. Ainda nos anos 1960 foi sugerido trocar o modelo pelo novíssimo SR-71, outro produto da Lockheed, que é até hoje a aeronave operacional mais rápida de todos os tempos, capaz de voar a 3.600 km/h. Nem mesmo o advento dos satélites e drones serviram para substituir o Dragon Lady.
O último U-2 foi produzido em 1989, alcançando um total de 104 unidades. Com a USAF, o avião ainda mantém a mesma utilidade de espionagem, enquanto a NASA segue utilizando o aparelho para obter dados sobre voos em grandes altitudes. Suas atividades militares atuais, no entanto, continuam sendo confidenciais.
Nota do blog: Data e autoria das imagens não obtidas.


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