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domingo, 24 de janeiro de 2021
Largo da Sé, São Paulo, Brasil
Largo da Sé, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
N. 38
Fotografia - Cartão Postal
Praça da Sé, na década de 1920. Ao fundo a Rua Benjamin Constant. À esquerda da rua o Edifício Gazeau e à direita o Palacete São Paulo.
O Palacete São Paulo é um dos edifícios antigos de São Paulo que se encontram em melhor estado de conservação. Foi construído em 1924 por Nestor Caiuby e pertencia a Hildebrando Cantinho Cintra.
Em 1946 o edifício foi adquirido pelo Estado de São Paulo que para lá transferiu a Secretaria da Educação. Tempos depois, o edifício ficou abandonado por algum tempo até se tornar a sede da reitoria da UNESP. Atualmente é a sede da Fundação Editora da UNESP que lá instalou a Universidade do Livro, o braço educacional da Fundação que oferece cursos livres sobre toda a cadeia produtiva e comercial do livro.
É uma interessante coincidência, pois o local teve um hóspede famoso, Monteiro Lobato, o grande escritor que aí se instalou quando o prédio estava novo em folha. Praça da Sé n. 34, 1o andar, conforme a numeração antiga, era o endereço de sua empresa Companhia Graphico-Editora Monteiro Lobato, que acabou tornando-se a maior editora do País.
Apesar de a economia nacional estar passando por um período difícil que atingia o setor livreiro, Monteiro Lobato, com todo seu idealismo e otimismo, investia em sua empresa e tinha planos de crescimento. Não contava, porém, com duas fatalidades que se revelaram desastrosas.
A primeira foi a eclosão da Revolução de 1924, que bombardeou a cidade e acabou paralisando a indústria de Monteiro Lobato, assim como outras empresas de São Paulo.
A outra adversidade foi causada pela natureza. Uma das piores secas da história de São Paulo ocorreu nos anos de 1924 e 1925, causando racionamento de água para consumo particular e industrial, além de gerar também racionamento de energia, devido o esvaziamento dos reservatórios da Light. Inclusive, provavelmente exagero, relatos da época dizem que era possível atravessar o rio Tietê a pé em alguns pontos. Houve até redução dos serviços de bondes elétricos.
Lobato havia montado seu novo parque industrial na Rua Brigadeiro Brás Machado, no Brás, com cinco mil metros quadrados de área coberta e maquinário moderno. Mas com o racionamento de energia não havia jeito de a empresa funcionar. Lobato tentou contornar a situação importando um gerador diesel, porém este tampouco pode funcionar por falta d’água para o resfriamento.
O golpe final em sua empresa ocorreu após a mudança da política econômica do governo que desvalorizou a moeda e suspendeu o redesconto de títulos do Banco do Brasil. Em 24 de julho de 1925, Monteiro Lobato e o jurista Waldemar Ferreira requereram a autofalência da empresa.
Apesar de ter saído da empreitada com dívidas, inclusive de dinheiro que nunca utilizou, Lobato não se deu por vencido. Ele e seu sócio, Octales Marcondes Ferreira, possuíam uma pequena casa lotérica na Rua Direita, e com a venda do negócio apuraram 100 contos de réis. Com este dinheiro compraram uma parte do espólio da massa falida da antiga editora, o estoque dos livros e os direitos autorais por 300 contos. Deram os cem contos de entrada e acertaram que o restante seria pago em prestações.
E assim Lobato continuou com a Companhia Editora Nacional.
Texto de Edison Loureiro adaptado por mim.
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