quinta-feira, 22 de julho de 2021

Prédio do Jornal "O Paiz", Rio de Janeiro, Brasil


 



Prédio do Jornal "O Paiz", Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Édition de la Mission de Propagande
Fotografia - Cartão Postal




O Paiz foi um jornal diário de grande circulação lançado em 1º de outubro de 1884, no Rio de Janeiro (RJ), por João José dos Reis Júnior, o conde de São Salvador de Matozinhos. Conservador e de grande expressão, considerado o mais robusto órgão governista da República Velha, foi um dos maiores formadores de opinião na política e na sociedade brasileiras entre o fim do século XIX e o começo do século XX. Durou até 18 de novembro de 1934, quando foi fechado pela Revolução de 1930.
A trajetória de O Paiz começou nos últimos anos da Monarquia no Brasil. Na ocasião, com o seu primeiro redator-chefe Rui Barbosa, o jornal se destacava por sua participação nas campanhas abolicionista e republicana, envolvendo-se em algumas polêmicas contra a Gazeta de Notícias – segundo Nelson Werneck Sodré em “História da imprensa no Brasil”, este jornal e O Paiz eram os dois grandes periódicos da corte no fim do Segundo Reinado. Rui Barbosa, no entanto, não ficou por muito tempo na chefia da redação de O Paiz, sendo logo substituído por Quintino Bocaiúva.
Quintino Bocaiúva acabou sendo uma das figuras mais importantes na história de O Paiz. Sendo um dos fundadores do Partido Republicano, figura eminente na imprensa brasileira de então, foi responsável por consolidar o tom editorial que caracterizaria o jornal em suas campanhas e posicionamentos mais marcantes. Inicialmente, através do diário, Bocaiúva se colocou ao lado dos militares na chamada Questão Militar de 1884, combatendo a prisão do tenente-coronel Sena Madureira, fazendo eco a Saldanha Marinho na Revista Federal e aplaudindo o artigo “Arbítrio e inépcia”, publicado por Madureira no jornal gaúcho A Federação. Neste contexto, O Paiz via com bons olhos a figura do marechal Deodoro da Fonseca.
Ainda durante os primeiros anos de Bocaiúva n’O Paiz, o jornal teve uma guinada no seu caráter republicano: a partir de 1888, o diretor apoiou uma importante série de artigos assinados por Silva Jardim, onde o autor se exprimia veementemente contrário à Monarquia. Da tiragem inicial de cerca de 11 mil exemplares, em 1884, Bocaiúva alavancou este número para 16 mil em meados de 1885, 22 mil no início de 1886, 26 mil em 1889 – até que, após a Proclamação da República, o jornal veio a lançar pelo menos algumas edições especiais com tiragem de mais de 60 mil exemplares. Por anos a fio o cabeçalho de cada edição vinha com o slogan: “O Paiz é a folha de maior tiragem e de maior circulação na América Latina”.
Com a República, O Paiz se consolidou como uma das maiores influência na vida política nacional. Quintino Bocaiúva foi nomeado o primeiro ministro das relações exteriores do período republicano, no Governo Provisório, ao passo que a folha que conduzia ia se firmando como um dos periódicos mais vendidos na capital federal, certamente um dos maiores jornais do país. Suas antes quatro páginas por edição eram agora seis, sempre em formato standard e com alta vendagem.
Nesta auspiciosa nova fase de O Paiz, no entanto, um escândalo envolvendo a vida familiar do proprietário do jornal ocasionou uma mudança em sua administração. Numa época em que “libelos infames”, de ataques anônimos a figuras públicas, proliferavam na imprensa, denotando a instabilidade política nos primeiros momentos da República, o chefe de polícia da capital, Sampaio Ferraz decidiu reprimir certos jornais. Para tanto, a 8 de abril de 1890 chegou a prender José Elysio dos Reis Júnior, irmão de João José dos Reis Júnior, por sua atuação “desordeira” na imprensa. Dada a influência de Quintino Bocaiúva, então ministro, o problema repercutiu no Ministério e a autoridade de Sampaio Ferraz se manteve. Com isso, O Paiz acabou sendo vendido a novos proprietários, que naturalmente mantiveram Quintino Bocaiúva em seu cargo de direção. O jornal passou a ser gerido por uma sociedade comanditária identificada em expediente a partir de 27 de abril de 1890 como Antônio Pereira Leitão & Cia.
Apenas alguns meses após mudar de propriedade, em 14 de novembro de 1890, a sociedade que mantinha O Paiz foi desfeita. A edição do dia 15 de novembro trazia um editorial assinado pelos até então sócios solidários da empresa, Antônio Pereira Leitão e Bellarmino Carneiro, que se desligaram do grupo gestor. Em boas condições financeiras, o jornal era então passado a uma sociedade anônima capitaneada pelo conselheiro Francisco de Paula Mayrink. Possivelmente este grupo era o restante da sociedade comanditária anterior.
Durante o mandato de Floriano Peixoto, o segundo governo republicano, Quintino Bocaiúva voltou O Paiz para uma campanha pela realização de eleições presidenciais, contra a prorrogação do mandato de Peixoto. A rigor, Bocaiúva via diante de si grandes oportunidades na escalada pelo poder político, mas, de todos os modos, em 1895, as direções do jornal acabaram mudando consideravelmente. Após atrito com as bases florianistas e com o início da presidência de Prudente de Morais, Bocaiúva reconduziu o diário ao florianismo, reconciliando-se com o grupo político ligado ao presidente anterior. Isso ocorreu a partir do momento em que o periódico se pôs a combater a política de pacificação do Rio Grande do Sul, conduzida pelo governo Prudente de Morais. A conexão de O Paiz com Floriano Peixoto, na ocasião, fez com que sua sede sofresse um ataque popular, o primeiro em sua história, como represália a um atentado sofrido por Prudente de Morais.
Em sua rejeição ao terceiro presidente da República, no final do governo deste, O Paiz foi um dos principais jornais no combate à candidatura de Davi Campista, o nome selecionado pelo grupo político de Prudente de Morais, que dava continuidade ao seu mandato. Com a vitória de Campos Sales nas urnas, o jornal acabou recuperando seu status de governista sem restrições, sendo extremamente servil ao novo mandatário. Nesse sentido, esta época foi marcada por embates de O Paiz contra o Correio da Manhã, a folha de oposição ao governo. O situacionismo subsequente do jornal de Quintino Bocaiúva acabou rendendo a si uma série de polêmicas e acusações, onde normalmente O Paiz era tido como “balcão de negócios”: elogiando-se governos e gestões, em troca, negócios vantajosos surgiam para seus diretores. Nelson Werneck Sodré aproxima esta conduta à figura do então gerente da folha, o capitalista português João de Sousa Laje, apontado como amigo incondicional de todos os governos, com olhos voltados aos cofres públicos: “Laje tipificou, realmente, o jornalista corrupto, de opinião alugada, conluiado com o poder, dele recebendo benefícios materiais em troca da posição do jornal”.
Após chegar à Presidência do Rio de Janeiro em 1900, pelo Partido Republicano Conservador (PRC), Quintino Bocaiúva se desligou da direção d’O Paiz em 1901. Sua influência se fez presente no periódico por longo período após o seu período de atuação na direção, mas, de toda maneira, sua saída abriu caminho a João de Sousa Laje. Segundo Werneck Sodré, Laje havia subido ao posto de diretor aproveitando-se de uma crise financeira que havia atingido O Paiz, pois, “senhor da sua arte”, sabia “o caminho da salvação”. Na ocasião, o autor destaca ainda os nomes que compunham a redação do periódico, à época: "(...) o secretário é Jovino Aires; na redação, trabalham Gastão Bousquet, Oscar Guanabarino, Eduardo Salamonde; na reportagem, Jarbas de Carvalho, Virgílio de Sá Pereira, Gustavo de Lacerda; entre os colaboradores, brilha Arthur Azevedo".
Após uma década de governismo irrestrito, ao chegar à década de 1910, O Paiz de João Laje se opôs enfaticamente à Campanha Civilista. Começou então uma das maiores parcerias articuladas por Laje: o diário passou a defender a candidatura do marechal Hermes da Fonseca na disputa pela presidência, e, por tabela, se alinhava com o senador Pinheiro Machado e com o Partido Republicano Conservador. Com o desenrolar dos fatos e com a sublevação da esquadra após a posse de Hermes da Fonseca, naturalmente, O Paiz condenou a Revolta da Chibata e João Cândido, apontado como “um homem que violentou a História” na edição de 27 de novembro de 1910. De acordo com uma citação de Afonso Arinos de Melo Franco retirada da “História da imprensa no Brasil”, de Werneck Sodré, O Paiz nesta época foi mais do que um simples diário governista: João Laje chegou a ser o mentor intelectual do governo. No calor da luta política em torno do turbulento início do mandato de Hermes da Fonseca, Laje "(...) redigiu e submeteu a Hermes, que a aprovou, uma entrevista em que eram traçados os lineamentos gerais do partido. Publicada a entrevista, pôs-se em movimento a máquina das adesões oficiais, impulsionadas por Pinheiro, que prestigiava incondicionalmente o jornalista português".
Como na época de Campos Sales, novamente o Correio da Manhã se colocava como principal jornal de oposição ao governo; portanto, era novamente o maior rival de O Paiz. Excluindo-se as questões ligadas à defesa do hermismo, o restante das edições do diário de João Laje refletiam seus interesses em outro plano: de acordo com Gilberto Amado, em citação a Werneck Sodré, o jornal, de resto, ocupava-se mais de Portugal do que do Brasil, visto como nada mais do que um pedaço de Portugal.
Durante o governo de Hermes da Fonseca, a cobertura dos cofres públicos garantia a O Paiz a manutenção de um bom grupo de funcionários e colaboradores. O hermismo, no entanto, acabou trazendo também consequências ruins: como os índices de popularidade de Hermes da Fonseca estavam em baixa ao fim de seu governo e com as agitações nas ruas, o periódico acabou sendo depredado por populares no dia 16 de novembro de 1914. A atuação do jornal durante o governo do marechal acabou sendo retratada por Lima Barreto, então colaborador literário da folha, no romance “Numa e a ninfa” – ali, João Laje inspirou o personagem “Fuas Bandeira”.
Apesar de seu conhecido situacionismo, O Paiz se desencantou com Epitácio Pessoa durante seus últimos anos na Presidência da República. Isso ironicamente o alinhava, mesmo que com restrições, à posição tomada pelo Correio da Manhã e por outros jornais, como a Gazeta de Notícias, A Noite, O Imparcial e a Vanguarda.
O Paiz enfrentou momentos mais difíceis durante o mandato de Arthur Bernardes na Presidência da República. Como de costume, o jornal apoiava o presidente rigorosamente em todos os seus atos, ficando ao seu lado mesmo durante a decretação do estado de sítio. No entanto, no desenrolar do meio político da época, em face às suas relações com as oposições e com a censura à imprensa, O Paiz acabou tendo sua credibilidade comprometida. Como reflexo, sua circulação caiu. O jornal, mesmo mantendo a sua lealdade ao governo, acabou por sentir os efeitos indiretos do estado de sítio. Segundo Gilberto Amado, citado por Werneck Sodré, Arthur Bernardes, nos últimos suspiros da República oligárquica, ironicamente contribuía para a aniquilação da própria imprensa governista:
(...) O Paiz estava morto. Mas não porque sua colaboração literária tivesse baixado de qualidade ou porque o seu noticiário já não fosse tão bem arranjado. O Paiz morrera (...) e quem o matou (...) foi o estado de sítio (...). Com os adversários cancelados da vida cívica, na cadeia, ou de boca tapada pela censura, não tendo a quem responder, não há órgão defensor de situação que se possa aguentar. O Paiz não morreu de morte morrida, mas de morte matada, estrangulado pelas mãos sufocadoras do capangão constitucional do quatriênio. Vivia dos ataques do Correio da Manhã, de O Imparcial, de outros periódicos da oposição, que, descompondo o presidente, os ministros, e investindo contra o “regime” nos seus violentos artigos de fundo, tópicos vivazes e sueltos ferinos, lhe forneciam assunto, despertavam a verve dos redatores para os revides e represálias interessantes ao leitor. O carioca mesmo hostil à situação gostava de correr os olhos n’O Paiz, para ver “até onde ia o português”. A diatribe, o insulto de Edmundo Bittencourt dava leitor ao Laje. Bittencourt calado, Laje morria. E morreu. Devemos ao Bernardes essa perda.
Por conta do estado de sítio e da falta de assunto, as edições do jornal iam focando variedades internacionais e amenidades. Nesta fase difícil, até 12 de setembro de 1924 João Laje ia dirigindo O Paiz com Álvaro de Campos como gerente. A partir do dia seguinte, o gerente passou a ser o interino A. de Azevedo Branco. Até que em 21 de setembro de 1924, João Laje deixava a direção do diário a Alves de Souza. A mudança não tirou a folha do governismo, que ia sendo mantido até o governo de Washington Luís.
O golpe fatal sobre O Paiz não tardou a aparecer. Totalmente submerso na estrutura de poder da República Velha, o jornal passou a atacar sem restrições a formação da Aliança Liberal e suas lideranças. Antônio José Azevedo do Amaral, seu redator-chefe, à época, chegou a publicar um editorial intitulado “Arcaísmo político”, em 4 de setembro de 1929, onde alertava contra a “ação agressiva de forças que, por serem efêmeras, não são menos perigosas na sua maleficência dissolvente”. Com a vitória da Revolução de 1930 e a chegada das tropas de Getúlio Vargas ao Rio de Janeiro no fim daquele ano, a sede de O Paiz acabou sendo invadida, depredada, saqueada e, por fim, incendiada.
Totalmente desarticulado e vigiado por forças da Junta Governista Provisória, O Paiz esteve com circulação suspensa entre 24 de outubro de 1930 e 22 de novembro de 1933. Sob o governo de Getúlio Vargas, sua reestreia em 1933 se deu sob nova direção, encabeçada por Alfredo Neves. No entanto, este nova fase significou apenas uma sobrevida de cerca de um ano ao diário; sem ter conseguido se manter, O Paiz acabou sendo suspenso definitivamente em 18 de novembro de 1934.
Além dos já citados, ao longo de sua história, O Paiz contou com o trabalho de diversas personalidades da política, das letras e do jornalismo brasileiros: Joaquim Serra, Silva Jardim, Joaquim Nabuco, Arthur Azevedo, Aluízio Azevedo, Afonso Arinos (sob o pseudônimo “Affar”), Coelho Netto, Corina de Vivaldi, França Júnior, Euclides da Cunha, Fernando Lobo, Anésia Pinheiro Machado, Urbano Duarte, Valério Mendes, Pinheiro Chagas, Guiomar Torrezão, Ângelo do Amaral, Cunha e Costa, Domingos Olympio, Medeiros e Albuquerque, Alcindo Guanabara, Gilberto Amado, Emília Moncorvo Bandeira de Melo (sob o pseudônimo “Carmen Dolores”), João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, entre outros. Um peculiar funcionário de O Paiz foi ainda o repórter Gustavo de Lacerda, que fundou a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) na sala da Caixa Beneficente dos Empregados de O Paiz (por um tempo, a entidade funcionou na sobreloja do jornal).

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