quarta-feira, 16 de março de 2022

O Triste Fim do Avião Vickers Viscount da VASP do Salão da Criança, São Paulo, Brasil

 




O avião na década de 70 no Aeroclube de São Paulo/SP.


Publicidade do Salão da Criança em 1972.


Pessoas admirando o avião na década de 70 em São Paulo/SP.


O avião no Campo de Marte no ano de 1975, São Paulo/SP.


O avião no Aeroclube de São Paulo/SP.


O avião no Aeroclube de São Paulo/SP.


O avião destruído no Morro do Cristo em Pedreira/SP.


Aeronaves Viscount da VASP em Congonhas no ano de 1970.



O Triste Fim do Avião Vickers Viscount da VASP do Salão da Criança, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia

Já vimos em outros artigos que os monumentos de São Paulo têm a característica única de se movimentarem pela cidade, de serem desmembrados, de até sumirem, como o caso do “sequestro” – ainda não solucionado – do busto de Henry Ford.
Mas não são somente os monumentos esculturais que têm esta dinâmica, pois os aviões que se tornaram monumentos também adquiriram esta característica e literalmente “saíram voando” por aí. Alguém se lembra do caça da FAB que ficava na Praça 14 bis? Mas esta é outra história…Mas existia outro avião exposto na cidade que ficou bastante conhecido por fazer parte de um dos programas familiares de final de semana e dos estudantes que, durante a semana, podiam conhecer de perto a máquina voadora.
Vamos voltar um pouco no tempo para que possamos sentir melhor o prazer de voar nesta história.A VASP – Viação Aérea São Paulo – era a empresa paulista de aviação que desde 1933 levava o nome de São Paulo pelos ares do Brasil. Operou diversos tipos de aeronaves, entre elas os primeiros turboélices em operação no Brasil, os Vickers Viscount de fabricação inglesa.
A VASP operou 16 Viscounts, sendo seis do modelo 827 com capacidade para 56 passageiros comprados novos e cuja chegada se deu a partir de novembro de 1958 e 10 usados do modelo 710, menores, com capacidade para 44 passageiros. Carinhosamente e para diferenciarem uns dos outros, os aviões passaram a ser conhecidos como “Vaiquinho”, o 710 e “Vaicão” o 827.
Os aviões eram muito confortáveis e faziam sucesso entre os passageiros, porém, um acidente ocorrido com um Viscount 710 da empresa australiana M.M.A. em 31 de dezembro de 1968, demonstrou que havia fadiga de material no suporte das asas. Diante disso, as autoridades britânicas proibiram o voo destas aeronaves e o custo dos reparos necessários tornariam a volta das operações financeiramente inviável.
Imediatamente, no início de 1969, a VASP decide pela desativação, de quase todos seus modelos 710, uma vez que também seria necessário efetuar caríssimos reparos estruturais nas longarinas das asas de seus aparelhos com mais horas de voo por recomendação do fabricante, depois do acidente na Austrália.
Entre os primeiros a saírem de serviço está o personagem principal desta história, o Viscount 701, prefixo PP-SRN, que deixou a operação em 27 de janeiro de 1969 com 24.981 horas voadas.
Muitos dos aparelhos desativados passaram a ser cedidos para entidades diversas, mas poucos sobreviveram, mesmo que o intuito fosse preservá-los como monumentos.
O nosso personagem, porém, ainda faria história quando, na madrugada de 25 de setembro de 1972, num verdadeiro acontecimento, foi transportado do aeroporto de Congonhas para o Parque Anhembi, onde foi inteiramente montado bem no centro do pavilhão de exposições para fazer a alegria das crianças; tudo isso porque no dia 7 de outubro daquele ano seria aberto o XII Salão da Criança.
Aqui vale uma ressalva: só quem viveu um Salão da Criança sabe o espetáculo que era aquele encontro com tudo o que fazia a alegria da criançada, atrações diversas, fabricantes de brinquedos, doces… Uma festa para toda a família em uma São Paulo muito diferente de hoje.
Mas voltando ao avião, no espaço onde ele estava, foi montada uma área de embarque e desembarque, um verdadeiro miniaeroporto dentro do Anhembi. Conhecer um avião por dentro naquele tempo era um sonho! Não é preciso dizer qual era a principal atração do salão…
A ida da aeronave para o Salão da Criança daquele ano foi uma feliz (ou programada) coincidência, pois o PP-SRN havia sido cedido para o Aeroclube de São Paulo e, depois do salão, ficou exposto em frente ao hangar principal. Como o aeroclube fica bem em frente ao pavilhão do Anhembi, a operação acabou sendo facilitada, daí se concluir que foi uma operação planejada.
O Viscount ficou exposto no Aeroclube durante muitos anos e foi, em 1974, sublocado para um particular que deveria respeitar o contrato entre a VASP e o aeroclube onde, entre outras coisas, teria que adaptar aparelhagem e todo material necessário à realização de voos simulados, com exibição de filmes educativos, entre outras ações, que visavam despertar o interesse pela aviação entre os visitantes.
Segundo duas reportagens na revista Flap (especializada em aviação), publicadas a partir de outubro de 1978, havia problemas entre o explorador da atração e o aeroclube, apesar de que, pelo que se entende, o avião estava em perfeito estado de conservação uma vez que a matéria termina com o seguinte parágrafo: “…Perfeito mesmo resta somente o PP-SRN que foi cedido ao Aeroclube de São Paulo. Conservá-lo no lugar onde está nas cores da VASP, senão uma obrigação, seria, pelo menos, uma questão de honra para os filhos do Estado mais rico deste País.”
Em fins de 1981, o avião foi retirado do espaço do Aeroclube de São Paulo e levado para ser atração turística na cidade paulista de Pedreira, mais exatamente num local chamado Complexo Turístico do Morro do Cristo, na administração do prefeito Gino Bellix (Hygino Amadeu Bellix, que cumpriu dois mandatos, 1977-82 e 1989-92).
Apesar de ser uma importante atração turística da cidade, não havia qualquer esquema especial de segurança o que culminou em uma triste situação, quando em 16 de maio de 1993 dois jovens “por brincadeira”, segundo um site da cidade, atearam fogo nas cortinas do avião. O resultado trágico foi a propagação do fogo que em poucos minutos destruiu a aeronave.
Assim termina a triste história de mais um monumento da cidade de São Paulo. Desta vez, longe da cidade e reduzido a cinzas.
Observação 1: PP-SRN: Viscount V701C – c/n 62. Entregue à BEA – British European Airways em 20/11/1954, como G-ANHB, batizado de “Sir Henry Stanley”. Vendido à Vasp em 30/08/1962, voou para o Brasil em 24/04/1963, junto com o PP-SRO. Voou na Vasp por quase 6 anos, e foi desativado e estocado em Congonhas/SP, em 27 de janeiro de 1969, com 24.981 horas de voo. Em 20/10/1972, foi cedido para o Aeroclube de São Paulo/SP, no Campo de Marte. Foi levado depois, em 1981, para Pedreira/SP, onde foi incendiado e destruído por vândalos em 16/05/1993.
Observação 2: O XII Salão da Criança aconteceu entre 7 e 22 de outubro de 1972. Texto de José Vignoli.
Nota do blog: Aproveitando o gancho desta matéria, a não utilização de aviões retirados de serviço da FAB como atração em praças, parques, aeroportos, canteiros de rotatórias e avenidas, além de outros dispositivos públicos, é uma das coisas que não entendo nesse País. Me parece uma completa idiotice o governo preferir vender essas aeronaves desativadas a preço de banana, aeronaves essas que pagaram milhões de dólares quando compraram, ao invés de colocarem as mesmas nos lugares que citei (a título de exemplo, recentemente a FAB vendeu um lote de 9 caças franceses Mirage 2000 desativados por US$ 452 mil, caças esses que o governo comprou, já usados, por US$ 22,5 milhões cada). Uma vez desativados, seria muito mais inteligente expor para que a população as conheça, tirem fotos, torná-las uma espécie de atração turística do local. Isso é uma coisa que o mundo inteiro faz, só aqui é diferente...

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